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Estadão: Com incertezas no câmbio, 'dolarização' de carteira entra no radar de especialistas
São Paulo, 12/01/2025 - A alta do dólar chamou a atenção em 2024, com um salto de 27% sobre o real e uma cotação de R$ 6,19 no fechamento do ano. E, por ora, nada indica uma reversão nesse movimento. Na primeira edição do boletim Focus (uma compilação feita pelo Banco Central com as principais projeções de mercado) deste ano, publicada na segunda-feira, 6, a mediana para o câmbio no fechamento deste ano continuava em pelo menos R$ 6 - um mês antes, estava em R$ 5,77. Novas estimativas serão divulgadas na segunda-feira, 13, pelo BC.
A piora das perspectivas tem dois vetores de peso. Em primeiro lugar, a situação doméstica, já que os investidores seguem preocupados com o crescimento da dívida do País. Sem grandes sinalizações em relação a corte de gastos - dado que o pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi considerado tímido para garantir maior estabilidade do arcabouço fiscal -, as incertezas tomam conta dos cálculos sobre a inflação e os juros.
“O dólar é um termômetro de risco. Quanto maior o risco que o mercado percebe no País, mais o real se desvaloriza frente ao dólar”, afirma Daniel Haddad, diretor de investimentos da Avenue. “O que vai ditar o caminho no curto prazo serão as ações do governo em relação a acalmar ou não o mercado”, completa ele, que, apesar do mesmo sobrenome, não tem parentesco com o ministro.
No cenário externo, as políticas a serem implementadas por Donald Trump nos Estados Unidos devem mexer com a moeda em nível mundial. Se o líder republicano cumprir as promessas de taxação de produtos estrangeiros e deportação de imigrantes, a tendência é de que haja uma alta global do dólar. É que, se implementadas de fato, as políticas propostas por Trump devem provocar mais inflação nos EUA, o que diminuiria o espaço do Federal Reserve (o banco central americano) para cortar os juros. Juros americanos altos atraem capital que poderia ir para economias consideradas mais arriscadas, como é o caso da brasileira.
Ainda que essas promessas fiquem apenas no “discurso”, no curto prazo é esperada volatilidade no mercado. Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, acredita que o dólar deve continuar em patamares elevados ao longo de 2025, oscilando entre R$ 5,70 e R$ 6,30. “Reflexo de uma postura mais dura no combate à inflação por parte do Federal Reserve, assim como uma visão ainda incerta sobre o direcionamento fiscal no Brasil”, diz o especialista.
OPÇÕES. Com o cenário esperado de alta do dólar no ano, os analistas reforçam as recomendações para os investidores. Além de comprar diretamente a moeda, é possível dolarizar a carteira por meio de outros instrumentos. Se a ideia é apenas acompanhar a variação da moeda, os fundos cambiais podem ajudar nesse processo. Dependendo da composição da aplicação, é possível ganhar até mesmo acima da oscilação da divisa. Já para quem quer ganhar algum rendimento na moeda forte, os ETFs vinculados às Bolsas americanas são apontados como um caminho mais simples.
Para quem não conhece, os ETFs são fundos que acompanham a variação de índices do mercado e são negociados na forma de ações comuns. Por exemplo, o ETF “IVVB11” é atrelado ao S&P 500, indicador das 500 maiores empresas americanas de capital aberto.
“Existem ETFs que buscam acompanhar a variação da Bolsa americana com a exposição ao câmbio. Ou seja, é semelhante a comprar essas empresas em dólar”, diz Gabriel Tossato, analista da Ágora Investimentos. “É uma forma de estar exposto tanto à variação das ações quanto ao dólar.”
Fundos multimercados de investimento no exterior também podem ser uma forma de ter exposição ao dólar e ao mercado americano. Há uma diversidade deles, com estratégias mais conservadoras (em renda fixa dos EUA) a opções mais arrojadas (com alocação em ações e crédito privado). Atualmente, a Ágora Investimentos indica uma exposição de até 11% da carteira em dólar para investidores arrojados.
Haddad, diretor de investimentos da Avenue, tem uma sugestão de alocação maior - de até 30% da carteira em ativos vinculados ao dólar, com base no perfil de risco de cada investidor. “Se é uma pessoa mais conservadora, não sugerimos mercado acionário, apenas renda fixa americana. Se é uma pessoa mais agressiva, aí recomendamos um pedaço grande em mercado acionário”, afirma ele.
“Os Estados Unidos têm mais de 8 mil ativos, enquanto no Brasil você consegue comprar cerca de 380 ativos. Nos EUA, existem ETFs de todo tipo de setor, de todo tipo de indexador e todo tipo de empresa”, diz o diretor de investimentos da Avenue.
Belitardo, da Hike Capital, destaca a compra de papéis direto na Bolsa dos EUA. O especialista recomenda ações de grandes bancos e holdings diversificadas, como Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, JPMorgan, Morgan Stanley e Bank Of America.
“Caso o investidor opte por dolarizar o seu patrimônio via compra de ações da Bolsa americana, deverá priorizar empresas com baixo nível de endividamento, assim como setores resilientes e que não sejam intensivos em capital (empresas que gastam enormes quantias de recursos para a manutenção e expansão de sua base de ativos)”, diz ele. (Jenne Andrade, E-Investidor)
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