Amilton Aquino 2812

 Preparem-se: 2025 será um ano decisivo na geopolítica. Vamos começar pelo melhor dos cenários: o congelamento das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Embora, no curto prazo, esse seja o desfecho mais desejável, no longo prazo pode representar a perda de grandes oportunidades para uma resolução mais eficaz desses conflitos.  


No caso do conflito árabe-israelense, encerrar a guerra agora, no momento em que os israelenses estão desmantelando os proxies do Irã que os circundam, pode dar a chance de os grupos terroristas recuperarem o fôlego para novas investidas. Já na Ucrânia, um fim da guerra com a cessão de 25% do território para a Rússia, como propõe Trump, pode ser um estímulo para Putin continuar com seus planos expansionistas.  


No cenário intermediário, o mais provável, veremos mais do mesmo: Israel continua enfraquecendo os proxies do Irã e tentando derrubar o regime dos aiatolás nos bastidores (como na Síria), o que enfraquece também a Rússia, principal aliada do maior financiador do terrorismo mundial e fornecedor de drones. Na Ucrânia, diante do apoio limitado do Ocidente, Zelensky faz o que pode: vende caro cada pedaço de território, elimina mais de mil soldados russos por dia e atinge refinarias e bases militares russas.  


No pior cenário, as guerras se intensificam, envolvendo diretamente outros países, incluindo a Coreia do Norte, já presente no campo de batalha com pesadas baixas. Embora este seja o desfecho menos provável, ele não deve ser descartado, considerando que Reino Unido e França têm acenado com a possibilidade de enviar tropas para “treinar” os ucranianos. Paradoxalmente, o cenário mais perigoso é também o mais coerente, dadas as circunstâncias criadas pelo bloco autoritário.  


Em todos os cenários, a grande incógnita é Trump, cuja postura isolacionista reconfigura todo o jogo geopolítico. Na Europa, os países já começam a se movimentar para garantir o apoio à Ucrânia, caso os EUA decidam reduzir sua ajuda. Para Israel, a situação melhora com Trump, embora ele já pressione por um acordo de paz.  


Mesmo antes de assumir, Trump já causa barulho ao alfinetar seus vizinhos Canadá, México, Panamá e até a Groenlândia, sob domínio da Dinamarca.  


No caso do Canadá, além de criticar o baixo investimento proporcional ao PIB na OTAN, Trump ameaça sobretaxar produtos canadenses e cobra uma postura mais firme no controle das fronteiras, que têm sido usadas como rota de entrada de imigrantes nos EUA.  


Em relação ao México, além da questão migratória, Trump ameaça intervir militarmente para combater os cartéis de drogas, que agora operam com opióides oriundos da China.  


Quanto ao Panamá, Trump mencionou recentemente a possibilidade de recorrer a uma cláusula que prevê o uso da força no tratado que cedeu o controle do canal ao país na década de 1970. A crescente influência chinesa no Panamá incomoda os EUA, já que o país foi o primeiro do continente a aderir ao projeto chinês da Nova Rota da Seda, lhes concedendo o controle de dois portos estratégicos. Ou seja, os EUA, que gastaram bilhões de dólares e perderam 38 mil vidas na construção do canal, hoje pagam as mesmas taxas que a China, que amplia sua presença na infraestrutura panamenha. Sim, isso tem cheiro de confusão. 


No caso da Groenlândia, Trump tensiona ainda mais as relações com a Europa ao propor a compra da ilha à Dinamarca. Embora não sugira uma invasão, como Putin, a ideia contraria o consenso de que o Ocidente havia encerrado sua fase expansionista. Na prática, Trump ajuda a “normalizar” a Nova Ordem Mundial que o bloco autoritário, liderado pelos BRICS, tenta estabelecer.  


Entre a retórica e a realidade há uma longa distância. No entanto, é clara a direção isolacionista de Trump em um mundo onde as democracias liberais, especialmente as europeias, dependem muito mais dos EUA do que os EUA dependem do resto do mundo.  


Assim, é inevitável uma nova corrida armamentista. O Japão está se rearmando, pois não se sente mais seguro sob o escudo norte-americano. O mesmo acontece com a Coreia do Sul, que já considera produzir suas próprias armas nucleares, assim como a Ucrânia, incomodada com a ajuda a conta-gotas do Ocidente e o descumprimento do acordo do início dos anos 90 que lhe concedia proteção da Otan em relação à Rússia em troca da entrega do seu arsenal nuclear. Nesse novo cenário, até países pacíficos e neutros como Finlândia, Suécia e Suíça não só abandonaram a neutralidade como estão se armando e se preparando para uma nova grande guerra.  


A favor de Trump está sua experiência em negociações. Contra ele, pesa sua retórica belicista, que tanto pode inflamar ainda mais os ânimos quanto abrir brechas no Ocidente para o bloco autoritário expandir sua influência, como já ocorre na Venezuela e, potencialmente, no Panamá. No melhor dos cenários, sua posição mais firme que a de Biden, pode dissuadir um pouco o bloco autoritário. Torçamos.


Infelizmente, nem mesmo o pacífico Brasil não está imune a este complicado contexto geopolítico. Além de se aliar ao bloco autoritário, o Brasil experimenta em suas fronteiras com a Venezuela uma tensão crescente, já com tropas em prontidão de ambos os lados. Pouco provável, mas algo a se acompanhar. 


No contexto econômico, o mundo segue uma trilha perigosa de endividamento, fruto de políticas keynesianas que, embora mais palatáveis para políticos, acabam jogando a conta para as futuras gerações. Até mesmo a China, que até pouco tempo ameaçava destronar os EUA como maior economia mundial até 2030, enfrenta um momento delicado, com níveis de endividamento tão altos que economistas começam a questionar se o país não está entrando em um processo de “japanização”, semelhante à estagnação vivida pelo Japão desde os anos 1990.  


E, nesse contexto de Estados gigantes e endividados, surge uma grata surpresa na Argentina. Em menos de um ano, Javier Milei, o primeiro libertário a chegar ao governo de um país, reverteu os principais indicadores macroeconômicos que levavam a Argentina ao colapso, reduzindo até mesmo a pobreza, que agora está em um patamar inferior ao que ele herdou.  


Enquanto a Argentina atrai os holofotes como solução, o Brasil segue ladeira abaixo, acumulando notícias negativas tanto na política externa quanto no cenário doméstico, com uma clara deterioração institucional e macroeconômica.  Apertem os cintos, 2025 não será fácil, infelizmente.

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