"CONVERSANDO" COM UM GRANDE GURU DO MERCADO

“CONVERSANDO” COM UM GRANDE GURU DO MERCADO

Tenho feito um exercício intelectual diário, lendo muito, escrevendo sobre os mais diversos temas, refletindo sobre esta terrível pandemiam, seus efeitos na economia, o ambiente político açodado...Tento filtrar muitas coisas. Não tem sido fácil. No momento político em que vivemos, nem sempre fácil de interpretar os fatos, até porque a polarização é uma constante. Ou voce está num lado, ou no outro. Não dá para ser crítico ao que é errado, sem recair na "politização".

No "caos de pandemia", se torna essencial um "olhar mais atento" aos avanços na busca da vacina, a opinião dos médicos, dos vários ramos desta área, suas vinculadações, a indústria farmacêutica, os grandes laboratórios. É um esforço multidisciplinar na busca de um olhar mais isento e completo. Mas não tem sido fácil.

Talvez nem também para os profissionais do mercado, os gestores, os economistas, os "players", os acadêmicos, etc.

Neste artigo tentaremos um "debate fictício" com o gestor Luis Stuhlberger, um dos gurus do mercado, responsável pelo fundo VERDE. Vamos ao que interessa.

PANDEMIA E VACINAÇÃO


Vivemos o caos pandêmico. Estamos, neste momento, no "olho do furacão", a pior fase da pandemia no Brasil. São 2,8 mil mortes por dia, devem passar de 3,0 mil por estes dias, o total passa de 300 mil em breve (se não já passou) e a urgência é por salvar vidas e obter vacinas. Tudo é um caos e me vem o presidente preocupado em saber se nas UTIs as pessoas estão morrendo por Covid ou outras comorbidades. As pessoas estão morrendo, simplesmente isso! O que tem q pensar agora é como frear isso? A solução mais imediata é o lockdown, mesmo que mais curto, pelo prazo das vacinas chegarem. E estas precisam chegar logo. Uma vantagem é que nem tudo precisamos importar. Parece que o Instituto Butantã e a Fiocruz já estão a plena produção. Isso deve impactar na retomada da economia, já que sem as vacinas permanecemos isolados e receosos. Stuhlberger acha que cresceremos 3,5% no que chamamos de "tempestade perfeita". As únicas saídas neste momento são, pelo "lado negativo, mais inevitável", o isolamento absoluto, pelo lado positivo, uma campanha de vacinação em massa mais rápida. Os SUSs podem responder a isso. Somos considerados (ou éramos) um padrão internacional em campanahs de vacinação (Zé Gotinha, lembram?). Não somos mais. O gestor da VERDE prevê que "os abaixo de 50 anos devem começar a ser vacinados a partir de junho".

Não vou contar para voces para não parecer implicância, mas os EUA de Joe Biden está numa velocidade fantástica de vacinação, o Chile é outro exemplo, o Reino Unido...nós estamos lá na rabeira. Por culpa de quem? Começa com B...termina com O.

INFLAÇÃO

Naturalmente, a retomada da economia global, em especial da China, vem pressionando as commodities (aumento em mais de 25%, segundo o CRB), com especial destaque para petróleo, se refletindo num repasse pesado ao Brasil. Os reajustes da gasolina e o do diesel, neste ano, já acumulam, respectivamente, 46,2% e 41,6% (Importante observar que neste dia 20 foi sancionada uma redução nestes preços, dado o recuo do barril). Com isso, o IPCA foi a 0,83% em fevereiro e agora em março deve repetir este patamar, devendo passar de 3,75%, centro da meta, ao fim deste ano. A Focus estima 4,6%, mas não será surpresa se passar de 5,0%.

Isso acabou forçando o BACEN a elevar o juro Selic, por estar "atrás da curva", já que o juro real está negativo em mais de 2%. Há, claramente, um desbalanceamento no mercado, com a rolagem de dívida se tornando um desafio, dados os "prêmios" mais elevados, exigidos pelo mercado, diante da piora da dívida pública. Na reunião da semana, o juro Selic foi elevado em 0,75 ponto percentual e deve repetir o mesmo em maio.

Stuhlberger vê este novo caminho do Copom como inevitável, até porque o IPCA anualizado projetado para junho estava beirando os 8,0%. Por outro lado, vê nisso uma vantagem. Segundo ele, o "teto do orçamento será melhor cumprido, pelo governo ter mais folga para gastar". Outro efeito positivo, do juro mais elevado, recai sobre o dólar, frente ao real, em processo de ajuste, dado o maior ingresso de recursos externos na arbitragem de juro. Uma boa notícia no front inflacionário.

AMBIENTE POLÍTICO

É neste front que as dúvidas são mais evidentes. Difícil saber como deve encaminhar a cena política até as eleições de 2022. Bolsonaro, em tese, tem o apoio do Centrão, mas não se pode afirmar que é garantido, dado seu comportamento negativo na administração da pandemia. Negar o lockdown, com recordes de mortes e o pior mês do ano de pandemia no Brasil? Indicar um ministro da Saúde, apenas subserviente ao presidente? Falar em tratamento preventivo, cloroquina (?), quando a comunidade científica já provou não a ter eficácia comprovada?

Tudo isso pode ter sido um golpe fatal às suas pretensões eleitorais. Vamos aguardar o início mais intenso das vacinações, mas o que se tem até o momento é ''ladeira abaixo". E se acontecer um embate Lula x Bolsonaro? Ambos possuem muita rejeição, mas alguém tem dúvida como seria um debate entre ambos? O gestor Stuhlberger acha que "dificilmente alguém do Centrão passará para o segundo turno". Acredita "que Lula tenha mais rejeição que Haddad". Considera também que "se o quadro de vacinação der certo, a tendência é que tenhamos um 2022 de recuperação, e isso deve beneficia o presidente". Por outro lado, considera que Bolsonaro "ressuscitou uma esquerda que já tinha morrido, e acha pouco provável uma 3ª via nas eleições de 2022".

MUNDO


Finalmente, aos falarmos do mundo, chama atenção o embate entre o mercado e o Fed no balizamento da taxa de juros Fed Funds.

Na semana que passou, os treasuries de 10 anos passaram de 1,7%, taxa que acreditam se coadunar com a inflação à médio prazo. Com o pacote Biden surtindo efeito, assim como o ritmo da vacinação intensa, a América deve começar a voar por este meses, o que, inevitavelmente trará como efeito colateral, a inflação.

O Fed nega isso por achar haver ociosidade na economia do País. Stuhlberger não vê apenas o problema da pressão inflacionária em si, "mas a velocidade de alta". Para ele, "não é razoável imaginar que numa economia como a americana, o título público atrelado à inflação (TIIPs) de 10 anos opere com taxas negativas. A explicação está no fato de a inflação projetada ser de 2.7%. Ele vê uma recuperação ainda muito desigual, com os pobres ainda mais frágeis, e a produtividade do capital, na educação e na saúde, como fator a amenizar este quadro inflacionário. Preocupa o grande desemprego estrutural na Europa e o juro real negativo de aproximadamente -1,6 para 10 anos. Acha também que em algum momento, "a abertura das treasuries deve fazer o S&P cair". Podem ocorrer "bolhas setoriais".

Bom fim de semana a todos !

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