BOM DIA MERCADO
CIRO CRESCE E PODE ASSUSTAR MERCADO
Por ROSA RISCALA (@rosa_riscala) *
... Na véspera do feriado, os mercados devem operar hoje na
defensiva, refletindo não só a cautela com a tensão externa, mas também os resultados
do Ibope divulgados ontem à noite, no Jornal Nacional. Entre todos os dados, o
crescimento de Ciro acima da margem de erro, de 9% para 12%, é o que gera maior
preocupação, junto com as simulações do segundo turno, onde Bolsonaro perde
para todos os candidatos, por ampla diferença.
... Oscilando de 20% para 22% das intenções de voto, Bolsonaro
tem lugar garantido na disputa final. O que está em jogo agora é quem vai com
ele para essa briga. E seja quem for, tem muitas chances de levar.
... Com rejeição de 44%, a campanha radical de Bolsonaro está
perdendo apoio de forma irremediável. O risco de uma frente anti-Bolsonaro
parece ser maior do que uma frente contra um candidato da esquerda.
... Bolsonaro perderia hoje para Ciro (44% X 33%), Marina (43% X
33%), e mesmo com Haddad, que ainda nem assumiu como cabeça de chapa do PT no
lugar de Lula, ele apenas empataria (37% X 36%).
... Em um segundo turno contra Alckmin, Bolsonaro perderia por
41% X 32%, confirmando o teto de pouco mais de 30% no segundo turno. Todos os
outros candidatos, à exceção de Haddad, já fazem mais de 40%.
... Se Bolsonaro tem o eleitorado mais fiel, os seus
concorrentes têm a baixa rejeição como maior vantagem: Ciro com 20%, Alckmin,
22%, e Marina, 26%. Ou seja, todos estão aptos a crescer mais do que Bolsonaro.
... Na eleição pulverizada, os votos da esquerda e do
centro-esquerda se dividem entre Haddad (6%), Ciro (12%) e Marina (12%), os
três em condições de descarregar o voto útil contra Bolsonaro em um segundo
turno.
... Note que Marina, estabilizada em 12% nesse Ibope, indica
vantagem para Ciro, que cresceu três pontos.
... Já o eleitor mais afinado aos nomes do centro-direita,
apostando que Bolsonaro já está lá, pode fazer voto útil contra a esquerda logo
no primeiro turno, com a migração para o candidato mais competitivo.
... Hoje, esse candidato é Alckmin, que passou de 7% para 9%, e
que, se continuar crescendo, pode herdar parte dos votos de Meirelles (2%),
Álvaro Dias (3%) e Amoêdo (3%). A eleição está, finalmente, tomando forma.
SEGUNDA TEM MAIS - Tanto o Ibope quanto Datafolha realizarão
novas pesquisas na próxima 2ªF, dia 10, para divulgação na mesma noite. Essas
pesquisas já refletirão os primeiros dez dias do horário eleitoral.
... Pela manhã, na 2ªF, já sai a BTG Pactual/FSB, que, na semana
passada, captou o crescimento de Ciro. Ele ficou em segundo, com 12%, atrás de
Bolsonaro (26%), seguido por Marina (11%), Alckmin (8%) e Haddad (6%).
... Já no feriado de amanhã, está confirmada mais uma XP/Ipespe,
que, na semana anterior, mostrou Bolsonaro com 21%, seguido de Haddad
"indicado por Lula" (13%), Marina e Ciro (ambos com 10%) e Alckmin
(8%).
ALCKMIN - A Folha informou, ontem à noite, que o tucano entrou
com ação no TSE para tentar impedir que nova pesquisa Datafolha seja divulgada
antes da substituição de Lula na chapa do PT.
LULA - Fachin indeferiu monocraticamente, ontem à noite, o
pedido de urgência feito pela defesa de Lula ao STF para afastar os efeitos da
condenação no TRF-4, que enquadrou o ex-presidente na Lei da Ficha Limpa.
... No despacho, Fachin ainda afastou a plausabilidade de
provimento do próprio recurso extraordinário, o que complica a situação de
Lula, já que a Segunda Turma muda o perfil com Cármen Lúcia, após o dia 13.
... Mesmo se Dias Toffoli pautar a prisão em segunda instância
em 2019, Lula não seria beneficiado, porque a sua proposta é manter o réu em
liberdade até o STJ, que deve julgar o recurso especial de Lula até o fim do
ano.
... Tudo isso significa que Lula poderá ficar preso por muito
tempo, a não ser que Celso de Mello acate pedido de liminar para suspender a
decisão do TSE e permita ao ex-presidente disputar a eleição sub judice.
... Um terceiro recurso, ao TSE, está com Rosa Weber, que
analisará a admissibilidade e o encaminhamento ao Supremo Tribunal Federal,
depois de ouvir o MP e os autores das contestações do registro de Lula.
... A defesa corre contra o tempo, porque o PT pode ficar fora
da eleição, se não registrar até a próxima 3ªF, 11, um novo candidato para
substituir Lula, enquanto vai ficando sem espaço para manobras jurídicas.
HOJE TEM IPCA - Às 9h, pode desacelerar a pressão de julho
(0,33%) e voltar a zero, na mediana do Broadcast. O teto da previsão é de
0,29%. Já o piso (-0,06%) representaria a primeira deflação para o mês desde
1998.
... Antes, às 8h, sai o IGP-DI de agosto, que já pode começar a
acusar a disparada recente do dólar, avançando de 0,44% para 0,76%. A agenda do
dia reserva ainda os dados da Anfavea relativos ao mês passado, às 11h.
... Ilan viaja no fim de semana para a reunião do BIS, domingo,
na Basileia.
NOS EUA - Dados da ADP sobre o setor privado (9h15) devem
apontar a criação em agosto de 190 mil vagas, abaixo de julho (219 mil). Podem
antecipar a expectativa para o payroll, amanhã, durante o feriado aqui.
... A previsão em NY para o payroll é de abertura de 190 mil
postos, contra 157 mil no mês anterior. A taxa de desemprego deve recuar de
3,9% para 3,8% e o salário médio por hora tem estimativa de alta de 0,2%.
... Ainda hoje, saem produtividade da mão de obra no 2TRI e
auxílio-desemprego (9h30), além das encomendas à indústria em julho (-0,6%),
ISM de serviços em agosto (11h) e estoques de petróleo (11h30).
ZONA DO EURO - Alemanha divulga as encomendas à indústria em
julho. Prosseguem as negociações do Brexit.
E LÁ VAMOS NÓS... - O Ibope já pode colocar à prova hoje o
respiro momentâneo dos negócios ontem, quando o dólar veio abaixo de R$ 4,15 e
a bolsa retomou os 75 mil pontos, nas brechas da volatilidade eleitoral.
... Se tem alguém que põe medo no mercado, além do PT, esse
alguém é Ciro, que está subindo nas pesquisas.
... Sobre a volta da esquerda ao poder, o diretor para a AL da
Moody´s, Alfredo Coutino, disse ao Broadcast que a vitória do PT provocaria um
rali do dólar até R$ 5 em dezembro e dispararia a Selic para 10% em 2019.
... Nesta 4ªF, sem novidades eleitorais e com o alívio da
pressão sobre os emergentes (abaixo), o dólar fechou em leve baixa de 0,23%, a
R$ 4,1425. O investidor não comprou mais, mas também não vendeu forte.
... O processo eleitoral, associado à recente turbulência nos
emergentes, já deixa as suas marcas no câmbio.
... Além da rápida escalada do dólar para perto de R$ 4,20,
houve em agosto uma inversão do fluxo financeiro, com saída líquida de US$
9,802 bilhões, contra entrada de US$ 4,774 bilhões em julho.
... O resultado é o pior desde março, quando Temer engavetou a
Previdência e US$ 10,5 bilhões deixaram o País.
... Profissionais ouvidos pelo Broadcast avaliam que o dado
marca uma mudança de postura do investidor e representa uma nova tendência de
curto prazo, pelo menos até o desfecho da corrida eleitoral.
... No cenário de indefinição, falta coragem para tomar risco.
No DI, os juros de médio e longo prazo pararam de cair, perto do fechamento,
quando começou a circular que o Ibope havia sido liberado para divulgação.
... O contrato para jan/23 subiu a 11,77%, de 11,75%, e jan/25
foi a 12,49%, de 12,47%. Já os demais, menos sensíveis ao risco político, ainda
recuaram: jan/21 a 10,10%, de 10,11%, e jan/20 a 8,82%, de 8,86%.
... Em resposta às incertezas eleitorais e externas, Tesouro
informou, após o fechamento, que assumirá mais risco ligado à Selic em 2018,
emitindo mais títulos que flutuam com a taxa básica que o inicialmente
previsto.
... Na revisão do Plano Anual de Financiamento (PAF) deste ano,
foi ampliada a fatia fixada como meta para a participação de títulos atrelados
à Selic na dívida pública federal para 33% a 37%, contra 31% a 35% antes.
GANHOU TEMPO - Na Bovespa, o atraso do Ibope abriu compras de
oportunidade, embora a alta de ontem não represente tendência. O mercado vive
um dia de cada vez. Às vezes vive dois, num dia só.
... Atrativo após furar na véspera o suporte gráfico dos 74.900
mil, o Ibovespa subiu 0,51%, a 75.092,27 pontos, recuperando uma pequena parte
da perda nos dois primeiros pregões de setembro (-2,56%).
... Mas a falta de fôlego comprador foi evidenciada pelo giro
fraco, que não chegou a R$ 8 bilhões.
... Entre as blue chips, Petrobras PN ficou estável (R$ 18,65) e
ON subiu 0,98% (R$ 21,73). Vale ON (R$ 52,15) avançou 0,29%. Entre os bancos,
Bradesco PN (+0,62%, R$ 27,65) e Itaú PN (+0,58%, R$ 41,55) se recuperaram.
... Smiles se destacou no negativo (ON, -7,57%), após o fim da
parceria da Latam com a Multiplus (ON, +4,51%).
O TRUNFO DE TRUMP - O déficit comercial recorde dos EUA com a
China em julho (US$ 36,8 bilhões) coincide com as ameaças de novas tarifas
sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses, entre hoje e amanhã.
... Precisar, Trump nunca precisou de argumentos para fazer
valer os seus impulsos protecionistas. De qualquer maneira, o rombo na balança
fortalece o arsenal de Washington na guerra contra Pequim.
... Apesar desta carta na manga, que potencializa a percepção de
risco com uma nova rodada de retaliação, não houve corrida ontem para ativos de
segurança, como dólar e Treasuries, que anteciparam um soft Brexit.
... Relatos sobre exigências mais flexíveis por parte da
Alemanha e do Reino Unido para um entendimento com a UE valorizaram a libra
(US$ 1,2906) e o euro (US$ 1,1632), que exibiu alívio adicional com a Itália.
... O premiê italiano disse que o governo trabalha por um plano
financeiro que "mantenha as contas em ordem". Ainda entre as moedas
fortes, o dólar praticamente não oscilou contra o iene (111,50/US$).
... Também fechou praticamente estável (-0,06%) contra o dólar
canadense (1,3185/US$), após Trump dizer que vai chamar o primeiro-ministro do
Canadá, Justin Trudeau, para negociar o acordo do Nafta "em breve".
... Já contra as moedas emergentes, o dia foi de correção, com o
peso argentino (38,6190/US$) testando uma melhora (+0,88%) com um único leilão
no câmbio. A oferta de US$ 100 milhões foi integralmente absorvida.
... O investidor recobrou alguma confiança com o andamento das
negociações da delegação argentina com o FMI para antecipar créditos de um
empréstimo de US$ 50 bilhões ao país, aprovado no início do ano.
... O ministro da Fazenda busca financiamento apenas junto ao
FMI para estancar a crise. Desmentiu notícias de que negocia uma linha com o
Tesouro ou outros organismos. Ele espera uma solução até o fim do mês.
A ROCHA - O sentimento de que o divórcio dos britânicos do bloco
europeu possa acontecer de forma amigável com a EU foi resgatado e somou-se a
mais um indicador forte nos EUA para ampliar a alta dos yields.
... O retorno da Treasury de dez anos superou 2,90%, a 2,901%,
de 2,893% na véspera, no ambiente que atesta a saúde da economia americana e
contrata dois apertos monetários adicionais do juro até dezembro.
... O índice de condições empresariais da região de NY (ISM)
investiu à máxima em 12 anos: a 76,5 em agosto, de 75 em julho. A perspectiva
para os próximos seis meses avançou ao maior nível em oito meses (79,9).
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