segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Coaf sob pressão

 *Decisão sobre Coaf cria risco para operações contra facções e lavagem*


 


 


BRASÍLIA


 


Uma decisão do ministro Alexandre de Moraes que tinha o objetivo de frear a anulação de operações contra organizações criminosas criou o temor entre investigadores de que o efeito seja o contrário—e provoque anulações em massa de apurações da polícia e do Ministério Público em todo o país. Moraes determinou, na quarta-feira (20), a suspensão em todo o Brasil de processos que usam relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) requisitados pelo Ministério Público sem autorização judicial. Também foram suspensos processos que usam esses relatórios sem a abertura de um procedimento formal de investigação. A suspensão determinada por Moraes é válida até que o plenário do Supremo decida a respeito do tema. Atualmente, a expectativa é que o Supremo forme maioria para determinar que o compartilhamento desses dados é válido. Moraes decidiu suspender as ações a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), porque a falta de entendimento consolidado sobre o assunto tem feito tribunais como o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidirem que a polícia e o Ministério Público não podem solicitar diretamente relatórios de inteligência sem prévia autorização judicial. Embora a suspensão determinada por Moraes tivesse a intenção de aguardar que o STF uniformizasse o entendimento sobre o assunto em todo o país, a amplitude causou a possibilidade de que diversas investigações possam ser prejudicadas. O Ministério Público de São Paulo pediu nos autos que o ministro delimite sua decisão com urgência. A peça assinada pelo procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Óliveira e Costa, diz que, logo após a decisão, várias defesas pediram a suspensão de processos que tratam de operações complexas sobre lavagem de dinheiro e corrupção. Em outra petição, a PGR pediu para que Moraes suspenda apenas decisões que anularam as provas oriundas de relatórios de inteligência financeiros, enão “decisões que reconheceram a validade das requisições de relatórios pelas autoridades investigatórias”. Advogados discordam da visão do Ministério Público. Gustavo Mascarenhas, que atuou em processos criminais que questionaram a solicitação desses relatórios fiscais sem decisão judicial, diz que o Coaf “não deve ser órgão acessório das autoridades encarregadas da persecução penal”. “O Coaf deve ser uma unidade de inteligência financeira, que fornece ativamente dados que devem ser investigados”, diz ele. “O que se está fazendo, caso RIFs [relatórios financeiros] possam ser encomendados, é tornar o Coaf um mero órgão de assessoramento do Ministério Público e das polícias.” O que se está fazendo, caso RIFs [relatórios financeiros] possam ser encomendados, é tornar o Coaf um mero órgão de assessoramento Gustavo Mascarenhas advogado criminalista

Semanal

 *MERCADOS REAGEM A POWELL E MIRAM INFLAÇÃO NO BRASIL – MC 25/08/25*

*Por Anderson Nunes – Analista Político*


O sinal do presidente do Fed, Jerome Powell0 para um corte na taxa de juros nos EUA já em setembro acendeu o otimismo global e abriu espaço para o Banco Central Brasileiro antecipar a queda da Selic.


*POWELL SINALIZA CORTE E ANIMA MERCADOS*


O presidente do Fed indicou que os riscos ao emprego aumentam, elevando para 90% as apostas de corte do juro americano em setembro. A mudança de discurso derrubou os rendimentos dos títulos públicos e o dólar globalmente, impulsionando as bolsas em Wall Street a novos recordes.


*BRASIL PEGA CARONA NO OTIMISMO*


O cenário externo favorável, com a perspectiva de juros menores nos EUA, atrai capital estrangeiro para o Brasil em busca de retornos mais altos. Isso fortaleceu o real, derrubou as taxas de juros futuros e levou o Ibovespa a uma alta expressiva, com todas as ações do índice no azul.


*AGENDA DOMÉSTICA DECISIVA*


A semana é crucial para a política monetária local, com a divulgação do IPCA-15 e dos dados de emprego do Caged. Números favoráveis podem reforçar as apostas de que o Copom consiga reduzir a taxa Selic ainda em dezembro, antecipando o ciclo de cortes.


*ORÇAMENTO DE 2026 SOB PRESSÃO*


A equipe econômica corre contra o tempo para fechar o projeto orçamentário até o fim do mês, mas ainda depende de medidas indefinidas no Congresso para equilibrar as contas. A negociação da Medida Provisória 1.303, que pode render R$ 20 bilhões, é a principal aposta do governo.


*A NOVA REGRA DO JOGO DA MP 1.303*


A Medida Provisória 1.303 instituiu uma nova tributação sobre os rendimentos de debêntures incentivadas. Rendimentos de pessoas jurídicas agora enfrentam uma alíquota que pode chegar a 25%, eliminando a isenção anterior e desestimulando o principal mecanismo de financiamento privado para a infraestrutura nacional. 


*O IMPACTO IMEDIATO*


A reação do mercado foi rápida e negativa, com uma forte queda no apetite dos investidores. Emissões recentes para projetos de rodovias e ferrovias captaram apenas 48,40% e 24,20% dos valores pretendidos, respectivamente, um forte contraste com o sucesso de 100% em uma operação de saneamento antes da nova regra. 


*RISCO FUTURO*


A mudança torna mais caro o financiamento de novos projetos, o que tende a diminuir o interesse em futuros leilões de concessão. O efeito prático pode chegar ao bolso do consumidor, com potencial aumento nas tarifas de serviços essenciais como energia e transportes. 


*DESAPROVAÇÃO PERSISTE*


Apesar de um cenário econômico com inflação em queda e empregos em alta, a popularidade do governo não decola. Pesquisa recente mostra que a gestão do presidente Lula é desaprovada por 53,60% dos brasileiros, contra 42,90% de aprovação, mantendo um quadro de estabilidade negativa ao longo de 2025. 


*CENÁRIO ELEITORAL ACIRRADO*


Para 2026, as simulações de segundo turno apontam empates técnicos entre Lula e seus principais adversários. O presidente aparece numericamente empatado com Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, dentro da margem de erro da pesquisa. 


*AGENDA POLÍTICA AQUECIDA*


A semana começa com eventos políticos importantes que devem movimentar Brasília e o mercado. Os destaques são o início dos trabalhos da CPI mista que investigará fraudes no INSS e o seminário da Esfera Brasil, que reúne seis governadores e ministros em São Paulo. 


*RADAR CORPORATIVO*


1. GPA: A família Diniz eleva sua participação para 24,6% e solicita a convocação de assembleia para destituir todo o conselho de administração da companhia.

2. Petrobras: A estatal atinge a marca recorde de 50 milhões de metros cúbicos de processamento de gás, segundo a presidente Magda Chambriard.

3. Braskem: A S&P rebaixa o rating da empresa para BB- após resultados fracos, mas a petroquímica reforça seu compromisso com a saúde financeira.

4. Banco Master: A aquisição de uma fatia pelo BRB foi reduzida pela metade, com o volume de ativos envolvidos na operação caindo de R$ 48 bilhões para R$ 23,9 bilhões.

5. EZTEC: A construtora anuncia dois novos lançamentos em São Paulo que, somados, possuem um valor geral de vendas de R$ 475 milhões.

6. Cemig: O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, afirma que a estatal pode ser leiloada para o pagamento de dívidas do estado com a União.

7. Copel: Acionistas aprovam a unificação das ações da companhia e sua migração para o Novo Mercado da B3, o mais alto nível de governança corporativa.

8. Eneva: A gestora BW Investimentos informa que seus fundos detêm, em conjunto, uma posição acionária relevante na empresa de energia.


O Canal Auxiliando usa as seguintes fontes de notícias: ‘Monitor do Mercado, BDM, Broadcast, Valor Econômico, Folha de São Paulo, Estadão, O Globo, BM&C, B3, Revista Oeste, Poder 360, Money Times, Agência CMA, Agência Brasil, Bloomberg, Infomoney, CNN, The Washington Post, The Wall Street Journal, Fox Business, Reuters, Oil Price, Investing e Yahoo Finance’.

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: Agenda forte tem inflação nos EUA e no Brasil*


… O PCE nos Estados Unidos, medida favorita do Fed para a inflação, pode confirmar as expectativas do primeiro corte do juro em setembro, sinalizado por Powell em Jackson Hole. As apostas saltaram para 90% no CME Group quando ele afirmou que “os riscos de queda para o emprego estão aumentando” e que “os efeitos das tarifas deverão ser relativamente curtos”. A virada no discurso estimulou o risk-on e a esperança de que o Copom possa antecipar para dezembro a redução da taxa Selic. Nesse contexto, deve influenciar a agenda doméstica desta semana, com destaque para o IPCA-15 de agosto e os números do emprego do Caged.


SEMANA CHEIA – Desde hoje, a pesquisa Focus (8h25) pode reforçar essa possibilidade, se as projeções do mercado para o IPCA de 2026 e 2027 aprofundarem o recuo, após a queda mais acentuada da inflação de 2025 na última edição.


… A desancoragem das expectativas, que permanecem bem acima da meta de 3%, é a grande preocupação do Copom, sustentada pela trajetória ascendente da dívida pública, mesmo com a arrecadação federal em níveis recordes.


… Na sexta-feira, saem os resultados do setor público de julho, que deve trazer superávit acumulado de R$ 25,7 bilhões em 12 meses (1,2% do PIB), mas déficit primário de R$ 60 bilhões, segundo cálculos do UBS BB, citados pelo Investing.com.


… Já o IPCA-15, amanhã, deve recuar 0,21% em agosto (mediana Broadcast) com a entrada do bônus de Itaipu nas contas de luz, após subir 0,33% em julho. Para 12 meses, o índice tem previsão de forte desaceleração, de 5,30% no mês anterior para 4,88%.


… Ainda nesta terça, as contas externas de julho merecem atenção, já que o ingresso de recursos via Investimento Direto Produtivo (IDP) pode não cobrir o déficit de transações correntes. Na quarta-feira, o Banco Central divulga os dados de crédito.


… Também nesta semana (na quinta-feira), saem o IGP-M de agosto, que teve deflação de 0,77% em julho, e os dados do Caged, considerados inflacionários, com a criação de vagas formais em julho. No mesmo dia, o Conselho Monetário Nacional realiza reunião.


… As divulgações do BC – notas do setor externo, de crédito e política fiscal – todas de julho, serão publicadas às 8h30, com coletiva às 10h30.


HOJE – Além da Focus, saem o IPC-S semanal e a Sondagem do consumidor da FGV em agosto (ambos às 8h), a Sondagem da Indústria da Construção da CNI (10h) e os dados semanais da balança comercial da Secex (15h).


… Às 14h, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, participa de seminário do Banxico, no México.


PLOA 2026 – Em meio à agenda cheia da semana, a equipe econômica quer concluir o Projeto de Lei Orçamentária de 2026, que deve ser enviado ao Congresso até o próximo domingo, dia 31. O governo ainda depende de medidas importantes para fechar as contas.


… Permanecem indefinidas a Medida Provisória 1.303/2025, que busca compensar a perda de receita causada pelas mudanças no decreto que elevou o IOF, e o projeto de lei complementar que prevê corte de 10% nos benefícios fiscais.


… Até agora, só estão certos o aumento da alíquota do IOF, os ganhos com leilões de petróleo, dividendos e transações tributárias.


… A MP, uma das principais apostas, pode acrescentar R$ 20 bilhões à arrecadação em 2026 e segue em negociação entre a equipe econômica e o Congresso. No Estadão, o texto recebeu 678 emendas, ou seja, sugestões de alteração apresentadas por parlamentares.


… O ponto central da proposta, responsável por um potencial de R$ 10 bilhões no próximo ano, estabelece limites à compensação de tributos administrados pela Receita. O governo tem enfatizado que a medida busca evitar fraudes, sem restringir direitos.


FIAGRO E CRA – A revogação da isenção de títulos, como as letras de crédito, é outro ponto em debate. A equipe econômica estima que a medida possa gerar R$ 2,6 bilhões em 2026, mas já admite possíveis alterações, como a manutenção da isenção para o Fiagro e o CRA.


… O avanço das discussões também poderia abrir espaço para o setor imobiliário pedir o mesmo benefício para os FII e CRI, argumentando que a maior parte dos recursos está concentrada nas LCI (Crédito Imobiliário) e LCA (Crédito do Agronegócio).


PEC 66 – No âmbito das despesas, o governo também aguarda a ampliação do limite de gastos em R$ 12,4 bilhões no próximo ano, que depende da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 66, já analisada pela Câmara e pendente de votação no Senado.


… No Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, o governo trouxe previsão de R$ 37 bilhões de receitas com dividendos das estatais.


PRÉ-SAL – No caso dos leilões de petróleo, parte dos recursos de áreas leiloadas em 2025 podem ser aproveitadas em 2026. O governo estima arrecadar R$ 14,8 bilhões com a venda dos direitos da União sobre o Pré-Sal – valor já incorporado à receita prevista para 2025.


ISENÇÃO DO IR – Ministra Gleisi Hoffmann espera que votação do projeto de isenção do IR até R$ 5 mil aconteça nesta semana.


EMENDAS PIX – Ministro Flávio Dino (STF) determinou, neste domingo, abertura de inquérito da Polícia Federal para investigar R$ 694,7 milhões das chamadas “emendas Pix”, que permite o repasse direto de dinheiro para prefeitos e governadores.


… Por essa modalidade, o parlamentar pode transferir os recursos sem necessidade de vincular a um projeto ou obra específicos.


… Segundo Dino, 964 planos de trabalho relacionados a essas emendas não estão cadastrados, o que indica “parcial descumprimento de decisão judicial”. Ao TCU, o ministro deu 10 dias úteis de prazo para que as emendas sejam identificadas.


O RISCO DE NOVAS SANÇÕES – Na Folha, integrantes do governo Lula e do STF consideram real a possibilidade de Trump aplicar novas sanções econômicas contra o Brasil e outras restrições a autoridades com o julgamento do ex-presidente Bolsonaro.


… Embora todos esses personagens afirmem que não há possibilidade de o Supremo se curvar às pressões, o início do julgamento marcado para 2 de setembro e a eventual condenação de Bolsonaro são citados como elementos de maior tensão.


… Uma pequena ala do governo, no entanto, alimenta a esperança de que o presidente americano reveja a imposição de sobretaxa ao Brasil, aposta que ganhou adeptos após o vazamento de diálogos entre Eduardo e o pai.


… Em algumas conversas, Eduardo Bolsonaro fala do receio de que Trump, em algum momento, desista da ofensiva.


BANCOS SE PRESERVAM – No Globo, Lauro Jardim revela que grandes bancos não aceitaram sondagem de ministros do Supremo para que entrassem em cena nas negociações com o governo americano e evitassem a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes.


BB REAGE A FAKE NEWS – O Banco do Brasil denunciou à AGU uma série de postagens feitas na última semana nas redes sociais com informações falsas sobre o banco e incitando a retirada maciça de recursos por correntistas.


… Entre eles, cita um vídeo feito por Eduardo Bolsonaro no dia 20, no qual o deputado afirma que “o Banco do Brasil será cortado das relações internacionais, o que o levará à falência”. Eduardo tem mais de 1,7 milhão de seguidores em seu canal no Youtube.


… No sábado, os ministros Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann atribuíram essa campanha nas redes sociais a bolsonaristas.


MORAES – Em Fórum da Lide, sexta-feira à noite, no Rio, disse que o respeito do Judiciário se dá pela independência. “Um Judiciário vassalo, covarde e que quer fazer acordo para que um país momentaneamente deixe de estar perturbado não é um Judiciário independente.”


GOVERNO COMPRARÁ ALIMENTOS – Ministério de Desenvolvimento Agrário anunciará, nesta segunda-feira, detalhes de compra de alimentos atingidos pelo tarifaço dos Estados Unidos, que serão destinados à merenda escolar, hospitais e Forças Armadas.


… A lista publicada no Diário Oficial da União inclui açaí, água de coco, castanha de caju, castanha do Brasil, manga, mel, uva e pescados.


AGENDA LÁ FORA – Após Powell mudar a mensagem e sinalizar em Jackson Hole o corte do juro já em setembro, as atenções nos Estados Unidos estarão concentradas nesta semana no índice de preços PCE de julho, a medida de inflação usada pelo Fed.


… O dado sai na sexta-feira, mas só uma grande surpresa será capaz de abalar as apostas em uma queda de 25pbs no próximo Fomc, que já beira a unanimidade em Nova York. No mesmo dia, sai a confiança do consumidor de Michigan, com as expectativas inflacionárias.


… Na véspera (quinta), será divulgada a segunda prévia do PIB do segundo trimestre nos Estados Unidos, que na leitura preliminar surpreendeu com alta de 3% em taxa anualizada, revertendo a queda de 0,5% do primeiro trimestre. Foco nos gastos dos consumidores.


… Depois de Powell, também será importante acompanhar os Fed boys, que tendem a relaxar a cautela observada até a virada em Jackson Hole. Falam Lorie Logan (16h15) e John Williams (20h15) hoje; Tom Barkin (amanhã e quarta) e Christopher Waller (quinta).


NVIDIA – Na quarta-feira, destaque para o balanço da Nvidia, após o fechamento.


… Na sexta-feira, as ações da Nvidia, principal fabricante de chips de IA, subiram 1,72%. Diversas reportagens afirmaram que a empresa havia solicitado a alguns de seus fornecedores que interrompessem a produção de seus processadores H20, fabricados para o mercado chinês.


GUERRA – Em discurso neste domingo, Dia da Independência da Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelensky prometeu continuar lutando pela liberdade do país, afirmando que, após 1.278 dias de guerra com a Rússia, não aceitará “compromissos vergonhosos”.


… “Precisamos de uma paz justa. Nosso futuro será decidido somente por nós. E o mundo sabe disso. E respeita a Ucrânia.”


… Zelensky ressaltou que a guerra é pela soberania plena e pela reunificação de territórios ocupados, como Donetsk, Luhansk e Crimeia. O líder ucraniano ainda defendeu garantias de segurança duradouras para evitar novos ciclos de guerra.


… O discurso ocorreu logo depois que autoridades russas informaram que ataques de drones ucranianos na madrugada deste domingo atingiram diversas instalações de energia na Rússia, forçando a redução da capacidade da Usina Nuclear de Kursk.


… Em Washington, Trump renovou a ameaça de impor sanções à Rússia caso não haja progresso em busca de paz na Ucrânia. “Vou tomar uma decisão sobre o que faremos e será uma decisão muito importante, seja com sanções massivas, tarifas massivas ou ambos.”


EXPECTATIVA X REALIDADE – 100% dovish, Powell não veio. Tanto é que fez o hedge, ao advertir que a política monetária não está em um “curso predeterminado” e que ainda é possível agir com “cautela” em relação aos juros.


… Mas o discurso despertou euforia coletiva no mercado, que se preparava para o pior, já que um dia antes de Jackson Hole, três Fed boy haviam vestido o figurino dos falcões e esvaziado as chances de corte do juro em setembro.


… Na frase mais marcante de sua participação no simpósio na sexta, Powell disse que, “com a política em território restritivo, a perspectiva básica e o equilíbrio cambiante dos riscos podem justificar o ajuste de nossa postura”.


… Manteve o alerta sobre o choque tarifário do protecionismo de Trump, mas contrabalançou:


… “É possível que a pressão ascendente sobre os preços, motivada por tarifas, possa estimular uma dinâmica inflacionária duradoura, mas é improvável, dados os riscos de queda no mercado de trabalho americano.”


… Além de ter abordado o risco crescente do esfriamento do emprego, observou que a inflação, embora ainda um pouco elevada e acima do ideal, diminuiu consideravelmente em relação aos picos registrados no pós-pandemia.


… Até a próxima reunião de política monetária, entre os dias 16 e 17 de setembro, faltam sair ainda pelo menos três indicadores de primeira linha: o PCE (esta semana), o payroll de agosto (semana que vem) e o CPI de agosto (dia 11).


… Sem querer esperar, no entanto, o mercado já voltou a jogar lá para cima as apostas de queda de 25 pontos-base do juro em setembro, que estavam próximas de 70% antes de Powell falar e voltaram a superar 90% na sexta-feira.


… A dúvida que permanece no ar é se o corte será o primeiro de uma série ou se o Fed vai optar por quebrar o ciclo com pausas. Tudo vai depender se os efeitos sobre o emprego e a inflação serão transitórios ou mais duradouros.


… Por enquanto, o cenário principal no mercado é de uma redução acumulada de 50 pontos-base no juro no ano.


… Entre os grandes bancos, o Barclays, Deutsche Bank e Santander, que antes de Powell falar previam um corte do juro só em dezembro, agora revisaram os seus cenários e passaram a contar com uma queda também em setembro.


… O JPMorgan disse que Jackson Hole endossou a aposta de quatro alívios seguidos de 25 pontos-base.


 … Já na avaliação da consultoria Oxford Economics, o discurso sugere que o próximo corte não é o início de uma bateria, especialmente porque Powell enfatizou que a política não está pré-programada desde já.


EUFORIA – Na medida em que Powell não se opôs na sexta-feira a uma flexibilização da política monetária no curto prazo, as taxas da Note de 2 anos (3,692%, de 3,787% no dia anterior) e 10 anos (4,257%, de 4,326%) se ajustaram em baixa.


… Também o dólar partiu para a correção firme, com o índice DXY em queda de 0,92%, aos 97,716 pontos. O euro subiu 0,97%, a US$ 1,1722, a libra esterlina ganhou 0,81%, a US$ 1,3522, e o iene avançou para 146,94 por dólar.


… Em Wall Street, a porta aberta para corte do Fed mês que vem renovou o recorde histórico do Dow Jones (+1,89%, a 45.631,74 pontos). O S&P 500 ganhou 1,52%, a 6.466,91 pontos, e o Nasdaq avançou 1,88%, a 21.496,53 pontos.


… Intel saltou 5,53%, após Trump afirmar que o governo assumirá uma participação de 10% na empresa. Depois do fechamento, a companhia confirmou que os Estados Unidos farão um investimento de US$ 8,9 bilhões em ações ON.


LAGARDE – No sábado, durante a sua participação em Jackson Hole, Lagarde (BCE) afirmou que a inflação caiu drasticamente na Zona do Euro e que o mercado de trabalho superou os choques recentes de uma forma “inesperadamente boa”.


… Segundo a Reuters, o BCE tende a manter as taxas de juros inalteradas em setembro, mas discussões sobre um novo afrouxamento na política monetária provavelmente serão retomadas nas reuniões de outubro e dezembro.


“CAÇA JUROS” – No jogo do mercado financeiro de correr risco, a Selic de 15% contra a perspectiva de corte da taxa do Fed em setembro ou dezembro (no máximo) coloca o Brasil com seu high yield na rota do fluxo estrangeiro.


… Como disse Reginaldo Galhardo (corretora Treviso) ao Broadcast, em busca de ativos mais rentáveis em mercados emergentes, como o brasileiro, exportadores se anteciparam na sexta-feira na venda de dólar no mercado à vista.


… Mas ele pondera que a apreciação do real é limitada pela escalada da tensão com Trump e capital eleitoral de Lula.


… Sob o carry trade atraente, o dólar à vista fechou em baixa firme de 0,97%, negociado a R$ 5,4258. O JPMorgan informa que segue com viés otimista em relação ao real e avalia montar posições compradas na moeda brasileira.


… O banco lembra que o dólar ainda não conseguiu furar de forma decisiva o nível de R$ 5,40, após várias tentativas. 


… O mercado espera pelos próximos capítulos da relação entre o STF e os Estados Unidos. Na teoria, um câmbio favorável ajudaria a aliviar as pressões sobre as expectativas de inflação, podendo antecipar o corte da Selic.


… Na curva do DI, a chance de um desaperto monetário pelo BC já antes de o ano acabar, em dezembro, subiu de 35% para 40%, pelos cálculos do economista-chefe do banco BMG, Flávio Serrano, para a Agência Estado.


… A Warren Investimentos, que esperava que o Copom só agisse em abril de 2026, adiantou a aposta para janeiro.


… A revisão de cenário considera cinco mudanças, que vieram de junho para cá: 1) inflação de curto prazo melhor; 2) atividade mostrando sinais mais claros de moderação; 3) expectativas para 2026 recuando, ainda que lentamente;


… 4) câmbio se comportando bem mesmo após o tarifaço; e 5) os Estados Unidos dando sinais de corte nos juros.


… Sob o impacto combinado do recuo do dólar e dos rendimentos dos Treasuries, o DI queimou prêmio de risco.


… No fechamento, o contrato para Jan/26 marcou 14,895% (14,910% no ajuste anterior); Jan/27 caiu abaixo de 14%, a 13,955% (de 14,086%); Jan/29, 13,280% (13,425%); Jan/31, 13,640% (13,769%); e Jan/33, 13,820% (13,929%).


IMPORTANDO FLUXO – A esperança de que um corte do juro pelo Fed em dezembro abra o apetite dos investidores estrangeiros pelo Brasil embalou o Ibovespa. Não houve sequer uma baixa nas ações negociadas pelo índice à vista.


… O volume financeiro retomou as melhores marcas recentes e encostou nos R$ 23 bilhões. Em alta expressiva de 2,57%, colado ao entusiasmo nas bolsas em Wall Street, o Ibovespa flertou com os 138 mil pontos (137.968,15).


… Os papéis da Vale ignoraram a queda de 0,71% do minério de ferro e registraram ganho de 2,51% (R$ 54,79). As ações da Petrobras encerraram o pregão nas máximas do dia: ON +3,03%, a R$ 33,02; e PN +2,63%, a R$ 30,47.


… A força destoou da apatia do petróleo Brent para novembro, que subiu apenas 0,14%, para US$ 67,22 por barril, monitorando a desconfiança de que Putin e Zelensky não estejam se empenhando para um encontro de cúpula.


… Apesar da exposição mais direta à polêmica da Lei Magnitsky, os papéis dos bancos testaram um rali, mas ainda não zeraram o tombo do pregão de terça-feira passada, quando perderam R$ 41,3 bilhões em valor de mercado.


… Por enquanto, só recuperaram R$ 23,4 bilhões. Na sexta-feira, Bradesco PN subiu 3,29%, à máxima intraday de R$ 16,31. Bradesco ON avançou 2,95%, para R$ 13,96, Itaú registrou alta de 2,80% (R$ 37,39) e BB, +4,11% (R$ 20,50).


CIAS ABERTAS – GPA informou que a família Coelho Diniz passou a deter 24,6% do total de ações ON e pediu a convocação de AGE para deliberar sobre destituição integral do conselho de administração e nova eleição…


… O colegiado aprovou, por unanimidade, a eleição de Rodolfo Costa Neves Francisco a membro do Comitê Financeiro e de Auditoria da companhia. Seu mandato coincidirá com o do conselho de administração.


PETROBRAS. A presidente, Magda Chambriard, afirmou neste domingo, em publicação no LinkedIn, que a petroleira superou a marca de 50 milhões de metros cúbicos de processamento de gás no sábado.


BRASKEM. A S&P Global Ratings rebaixou a recomendação do rating para BB- e colocou a nota em observação para rebaixamento após resultados do segundo trimestre “muito mais fracos do que o esperado”…


… Em comunicado ao mercado, a petroquímica reagiu, reforçando o compromisso com a sua “higidez financeira”…


… O BofA informou ter recomendação neutra para a ação, com preço-alvo de R$ 12; recomendação do Departamento de Defesa Comercial por medidas antidumping em polietileno beneficiam a empresa, diz o banco.


BANCO MASTER. A fatia que o BRB vai comprar caiu pela metade desde o anúncio da operação, no final de março…


… Segundo o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, em entrevista ao Estadão, o banco levaria R$ 48 bilhões de ativos inicialmente e, agora, esse número foi reduzido para R$ 23,9 bilhões.


EZTEC anunciou o lançamento do empreendimento Blue Marine Home Resort, na zona sul de SP, com valor geral de vendas (VGV) de R$ 365 milhões, e do empreendimento POP, em Osasco (SP), com VGV de R$ 110 milhões.


CEMIG. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), comentou que, se a União não tiver interesse em federalizar a empresa, a companhia pode ser leiloada para o pagamento integral de dívidas do Estado com a União.


COPEL. Acionistas aprovaram em Assembleia Geral Extraordinária a unificação das ações e a migração da companhia para o Novo Mercado da B3.


ENEVA informou que a BW Gestão de Investimentos, na qualidade de gestora dos fundos Eneva FIA e Monterey FIA, mantém, em conjunto, 182.53

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: A semana passada manteve-se morna até sexta-feira à tarde, quando Powell transmitiu a partir de Jackson Hole uma abordagem mais próxima de dovish (suave) — ou, pelo menos, não hawkish (agressiva) — o que animou Nova Iorque, com subidas na ordem de +1,5%, deixando um balanço semanal mais positivo do que se antecipava. Consequentemente, as obrigações valorizaram e o dólar depreciou, favorecendo a recuperação das matérias-primas. Esta semana poderá ter um tom de continuidade até quarta-feira, momento em que se fará sentir a tensão habitual antes da divulgação de resultados da Nvidia, ao fecho de Nova Iorque nesse mesmo dia.


Hoje deverá predominar um clima de relaxamento (eventualmente uma sessão plana), cenário que poderá repetir-se amanhã, beneficiando do desfecho favorável de sexta-feira, o que permite voltar a centrar atenções no essencial e não apenas no imediato: a redução, ainda que provisória, da perceção de risco geoestratégico; a resiliência dos resultados empresariais, praticamente intactos apesar das tarifas (+12,9% no LPA do 2T das empresas americanas face a +5,8% esperado; vs +13,6%/+6,7% no 1T e +14,3%/+7,5% no 4T 2024); e a expectativa de que a Fed venha a reduzir mais os juros… ainda que seja impossível antecipar o rumo em 2026, quando Powell terminar o seu atual mandato (maio) e alguém eventualmente mais favorável a cortes, como Trump exige, assuma a liderança do banco central.


Na quarta-feira, ao fecho de Nova Iorque (21h30), serão publicados os resultados do 2T da Nvidia (BPA esperado: 1,009 USD; +48%), o que sugere que a tensão deverá crescer ao longo da sessão até se conhecer a reação do mercado. Depois, na sexta-feira, as publicações de inflação (ALE, FRA, ITA, ESP, PT e o PCE nos EUA) deverão mostrar ligeiros acréscimos, destacando-se o PCE Subjacente americano (+2,9% vs +2,8%). Contudo, a postura serena de Powell em Jackson Hole acerca da inflação deverá reduzir o impacto dessas leituras.


GEOESTRATÉGIA: O Irão descartou qualquer possibilidade de negociação com os EUA/Israel. O BoE, BoJ e BCE alertaram em Jackson Hole que as economias desenvolvidas enfrentarão escassez estrutural de mão de obra nas próximas décadas, caso não sejam implementadas políticas ativas de imigração.


CONCLUSÃO: O pior cenário razoável para a sessão de hoje seria uma modesta realização de lucros, reação natural após o forte movimento de sexta-feira à tarde em Nova Iorque. Para já, este início de semana não deverá oferecer muito mais do que isso.


S&P500 1,5% Nq-100 +1,5% SOX +2,7% ES50 +0,5% IBEX +0,6% VIX 14,2% Bund 2,72% T-Note 4,27% Spread 2A-10A USA=+56pb O10A: ESP 3,30% PT 3,13% FRA 3,42% ITA 3,55% Euribor 12m 2,084% (fut.2,186%) USD 1,170 JPY 172,4 Ouro 3.364$ Brent 67,8$ WTI 63,7$ Bitcoin -0,6% (112.432$) Ether +9,8% (4.710$).

domingo, 24 de agosto de 2025

Leitura de domingo

 *Leitura de Domingo: Setores ligados à economia doméstica têm bom desempenho, mas juro é alerta*


Por Ana Paula Machado, Beth Moreira, Caroline Aragaki, Isabela Mendes e Mateus Fagundes


São Paulo, 19/08/2025 - A temporada de balanços do segundo trimestre de 2025 teve como destaque positivo as empresas ligadas à economia doméstica e os bancos. Esses segmentos apresentaram crescimento expressivo nas receitas e boas margens, salvo algumas exceções pontuais - como o Banco do Brasil.


No levantamento feito pela reportagem a partir do compilado do Prévias Broadcast, 60% das empresas apresentaram números em linha ou acima do esperado no segundo trimestre.


O setor de varejo foi um dos destaques da temporada, na opinião do head de Equity Research para América Latina do Citi, André Mazini. O profissional ressalta que o segmento registrou alta de dois dígitos nas vendas no conceito mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês), impulsionado pelo clima mais frio.


Nessa lista de companhias com as melhores performances no segundo trimestre estão o varejo e as construtoras; entre elas, segundo Mazini, do Citi, figuram Lojas Renner, C&A, Alpargatas e Petz.


"Inclusive a C&A é a nova queridinha eu diria. A empresa teve um turn around nos últimos tempos e está rodando muito bem", afirma. Mazini avalia, no entanto, que o terceiro trimestre deve ser mais difícil para o segmento, principalmente por causa da base de comparação forte de 2024.


Entre as varejistas que não foram tão bem, segundo o Citi, estão a Natura, que ainda enfrenta dificuldades com a Avon Internacional, e o Magazine Luiza.


Bancos


Os bancos brasileiros também tiveram um trimestre positivo, segundo Mazini, do Citi, com inadimplência sob controle apesar da desaceleração do crédito. Como destaques, ele cita Itaú e BTG, com retorno sobre o patrimônio (ROAE) acima das expectativas.


O Inter, por sua vez, apresentou boa expansão do ROAE, sólido patrimônio e lucro acima do esperado. Ainda entre os digitais, o Nubank entregou ROAE de 27%, nível que o analista considera elevado.


Já o Bradesco mostrou recuperação, com ROAE em alta e ganho de margem financeira. O BB, no entanto, continua a mostrar pressão do segmento agro, o que tem deixado o mercado cético, segundo o profissional.


Juros


Apesar das surpresas positivas, os balanços do segundo trimestre mostraram de forma mais concreta os efeitos do aperto monetário feito pelo Banco Central. Com a Selic a 15%, as despesas financeiras passaram a consumir ainda mais os recursos operacionais das companhias, especialmente as mais alavancadas, pontua Mazini, do Citi.


Há, contudo, uma esperança para as empresas e para os investidores: com os primeiros sinais de desaceleração da atividade doméstica, o debate se desloca para o momento em que o BC vai cortar os juros.


O estrategista-chefe de ações de Brasil e LatAm do Itaú BBA, Daniel Gewehr, lembra que o mercado antecipa a precificação da política monetária entre três e cinco meses, o que pode trazer otimismo em breve.


"O primeiro trimestre estava com a economia forte, mas os juros ainda não tinham pesado, no segundo vimos uma economia ainda forte, mas influenciada pelos juros. Para o terceiro trimestre, a perspectiva é de desaceleração da economia, com juros altos, mas com perspectivas de corte em breve", diz.


Contatos: ana.machado@estadao.com, beth.moreira@estadao.com, caroline.aragaki@estadao.com, isabela.mendes@estadao.com e mateus.fagundes@estadao.comCS


Broadcast+

Paulo Baía

 A crosta sígnica da existência humana **


      * Paulo Baía 


“Compreender, interpretar é traduzir um pensamento em outro pensamento num movimento ininterrupto”, escreve Lucia Santaella, em um de seus trechos mais luminosos sobre a semiótica. E prossegue: “É porque o signo está numa relação a três termos que sua ação pode ser bilateral: de um lado representa o que está fora dele, seu objeto, e de outro lado, dirige-se para alguém em cuja mente se processará sua remessa para um outro signo ou pensamento onde seu sentido se traduz”. Santaella, nesse gesto de precisão conceitual e lirismo poético, revela o que somos: seres aprisionados e libertos por signos, criaturas que respiram significados, que só existem porque habitam símbolos que, ao mesmo tempo, nos aproximam e nos afastam do real.


Essa formulação ecoa o núcleo da semiótica de Charles Sanders Peirce. O signo, em sua concepção, é triádico: há sempre um objeto, um signo e um interpretante. E não há fim no processo. Cada interpretação conduz a outra, num encadeamento infinito de semiose. O mundo, portanto, não é dado em sua nudez, mas sempre envolto por representações, como uma pele que recobre o sensível. Santaella lembra: a palavra “mesa” não é a mesa em si, mas remete a um outro signo, a outro conceito, a uma cadeia de significações. Esse deslocamento incessante constitui, ao mesmo tempo, a miséria de nossa condição, pois jamais tocamos o real puro, e sua grandeza, pois é esse movimento que nos permite construir ciência, poesia, memória, política, religião.


Claude Lévi-Strauss, em sua antropologia estrutural, mostrou que o signo é mais do que mediador: é a própria estrutura do mundo social. O mito, para ele, não é simples relato, mas gramática de pensamento, linguagem condensada que organiza o caos e institui o sentido. A crosta sígnica, que em Santaella é camada que nos afasta do contato direto com o sensível, em Lévi-Strauss é matriz simbólica, condição de inteligibilidade, a arquitetura invisível que nos permite dar forma à experiência. A leitura estruturalista da cultura mostra como os signos classificam, ordenam e estabilizam, tornando o real habitável.


Clifford Geertz levou esse raciocínio adiante ao definir cultura como “teias de significados que o homem mesmo tece e nas quais está suspenso”. A análise cultural, disse ele, não é ciência experimental em busca de leis, mas ciência interpretativa em busca de significados. A metáfora do dicionário usada por Santaella, cada palavra se explica por outra palavra, é o exemplo mais simples dessa condição. Para Geertz, o etnógrafo deve produzir uma “descrição densa”, captar não apenas o gesto visível, mas o campo de significados que o envolve, porque o humano nunca é apenas ação, mas sempre interpretação.


Pierre Bourdieu acrescenta outra dimensão ao problema: os signos são também instrumentos de poder. O capital simbólico estrutura a vida social tanto quanto o econômico, porque títulos, rituais, estilos de linguagem e marcas de distinção produzem hierarquias, naturalizam desigualdades e legitimam a dominação. A crosta sígnica de Santaella, sob a lente de Bourdieu, é campo de luta: um espaço onde se disputam sentidos, onde se define o legítimo e o ilegítimo, o culto e o vulgar, o válido e o descartável.


Roland Barthes, por sua vez, alerta que o mito moderno transforma o contingente em eterno, o histórico em natural. Para ele, os signos são sempre políticos, porque nunca são neutros: já carregam ideologias, já transmitem interpretações mascaradas de obviedade. Santaella fala da miséria da condição simbólica; Barthes lembraria que é nessa miséria que se instala a ideologia, que se naturalizam narrativas, que se legitima o poder. O signo, ao designar, já interpreta, e ao interpretar, já oculta.


Jacques Derrida radicalizou essa percepção ao falar da différance, esse jogo incessante em que o sentido nunca se fixa, mas se adia, sempre remetido a outro signo. O que Santaella chama de fuga interminável do significado encontra, em Derrida, sua formulação filosófica mais extrema: não existe presença plena, apenas vestígios e rastros que se diferem e se diferenciam. A condição humana é, assim, ser habitante de um campo de adiamentos, condenada à tradução interminável.


Se olharmos para Michel Foucault, o problema se transforma em arqueologia do saber. Os signos não apenas traduzem o real, mas constituem regimes de verdade, sistemas discursivos que delimitam o que pode ser dito, visto e pensado em determinada época. O signo é dispositivo, e como tal, é também prática de poder e saber. A crosta sígnica de Santaella, lida com Foucault, é a episteme: o campo invisível de regras que organizam discursos e determinam a inteligibilidade de uma sociedade.


Durkheim, no nascimento da sociologia, também compreendeu a centralidade dos símbolos. Para ele, as representações coletivas eram a alma das sociedades, e os ritos eram momentos de efervescência nos quais os indivíduos experimentavam o poder do coletivo simbolizado. O totem não era apenas um objeto, mas a materialização do grupo, a condensação simbólica da força social. Nesse sentido, a crosta sígnica não é apenas obstáculo, mas experiência de sacralidade, mediação necessária entre indivíduos e sociedade.


George Herbert Mead, precursor da escola interacionista, destacou que o self humano só emerge no campo da linguagem e da interação simbólica. A identidade não é algo dado, mas algo produzido no jogo de signos, na constante interpretação do olhar e da fala dos outros. A crosta sígnica, aqui, é condição de subjetividade: só nos tornamos sujeitos porque somos atravessados por signos.


Norbert Elias, em sua análise da civilização, mostrou como os processos sociais se traduzem em códigos simbólicos de comportamento: etiquetas, modos de falar, formas de vestir e comer. A sociedade se escreve sobre os corpos por meio de signos e símbolos que disciplinam gestos e regulam interações. O indivíduo, imerso nessa rede, internaliza regras como se fossem naturais. O signo, nesse caso, é o próprio mediador da civilidade.


Max Weber também ofereceu contribuições importantes. Para ele, a ação social é sempre orientada por significados. O sociólogo deve interpretar o sentido que os atores atribuem às suas ações, e é esse sentido, sempre simbólico, que organiza as condutas sociais. O mundo humano não se define apenas pela causalidade, mas pelo tecido de interpretações que atribuem finalidade às práticas.


Erving Goffman, com sua sociologia dramatúrgica, revelou como a vida cotidiana é estruturada em encenações simbólicas. Cada interação social é uma performance de signos: gestos, expressões, modos de vestir, posturas, que transmitem significados e produzem identidades diante de plateias sociais. A crosta sígnica é, então, o próprio palco da vida, onde se encenam papéis e se negociam legitimidades.


Victor Turner, estudando ritos de passagem e símbolos em sociedades tradicionais, mostrou como os signos condensam múltiplos significados e atuam como operadores de transformação. O símbolo, para Turner, é polissêmico, processual, capaz de organizar transições de estado social e de produzir momentos de comunhão. A linguagem simbólica não é apenas representação, mas força de transformação.


No presente, percebemos que nunca vivemos de maneira tão intensa a condição descrita por Santaella. Nas redes digitais, nos algoritmos, na circulação vertiginosa de imagens, memes, palavras, slogans e narrativas, a semiose infinita se torna experiência cotidiana. Cada enunciado é já outro enunciado, cada sentido se multiplica, cada narrativa se contradiz, cada símbolo se volatiliza em mil versões. A crosta sígnica se torna oceano de signos, sem centro nem borda, onde cada interpretação é provisória e cada significado é disputado com ferocidade.


Esse é o paradoxo essencial: somos seres condenados a nunca alcançar o real em sua nudez, mas também seres agraciados pela possibilidade infinita de criação. A crosta sígnica, que ao mesmo tempo nos aprisiona e nos liberta, é a superfície onde se inscrevem nossas práticas sociais, nossas instituições, nossas artes, nossas religiões, nossas ciências, nossas lutas políticas.


Ler Santaella, ao lado de Peirce, Lévi-Strauss, Geertz, Bourdieu, Barthes, Derrida, Foucault, Durkheim, Weber, Mead, Goffman, Turner e Elias, é compreender que o humano não existe fora da linguagem, que não há sociedade fora dos signos, que não há cultura fora das redes de significados. Nossa miséria é nunca estar diante das coisas mesmas. Nossa grandeza é poder reinventar incessantemente os mundos que habitamos. Talvez seja nesse intervalo, nesse hiato entre signo e coisa, entre sentido e real, entre palavra e corpo, que resida o núcleo mais belo e mais doloroso da experiência humana: a certeza de que o real nunca se oferece puro, mas também a esperança de que, ao transformar os signos, possamos transformar o próprio real.


             * Sociólogo , cientista político e professor da UFRJ 

            

             ** Este texto foi apresentado em uma palestra na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em outubro de 2018.

Amilton Aquino

 Hora de superar Lula e Bolsonaro: lições e desafios para 2027


O editorial do Estadão deste domingo, intitulado “Hora de acordar, Brasil”, faz coro a uma demanda cada vez mais urgente: precisamos nos livrar dos populismos que nos dividem. O problema é: como?

A teoria dos jogos, infelizmente, nos diz que ainda teremos de conviver por um bom tempo com a odiosa polarização que nos impede de chegar a consensos mínimos sobre o que é melhor para o país.


Ao que tudo indica, porém, o eleitor chegará à urna menos empolgado e mais desconfiado do que está por vir, temendo inclusive uma vitória de pirro. E sim, isso já representa um avanço — um primeiro passo rumo à contagem regressiva para a superação de Lula e Bolsonaro, cada dia mais envelhecidos e mais expostos diante das contradições que se acumulam.


O certo mesmo é que 2027 será um ano difícil. A dívida pública, que em proporção ao PIB recuou de 88,6 % em 2020 para 76,1% % em 2022, voltou a se expandir rapidamente a partir da nova temporada de estímulos artificiais do governo Lula. Isso compromete boa parte dos recursos públicos com o pagamento de juros. 


Como sair dessa enrascada? Aumentando ainda mais a carga tributária — já muito acima da média dos emergentes e comprometendo nossa competitividade no mercado internacional, como aposta o governo Lula? Ou reduzindo gastos e apostando na eficiência da máquina pública, como têm feito alguns governadores de direita que sonham herdar o espólio de votos bolsonaristas?

Não tenho a menor dúvida de que a segunda opção seria a melhor para o país — caminho trilhado, sobretudo, pelos estados governados pela direita nas regiões Sul e Centro-Oeste. 


Naturalmente, por estar à frente do estado mais rico da federação, Tarcísio de Freitas é visto como o principal candidato anti-PT na próxima eleição. Mas não descartaria Ratinho Jr., que, até o final do seu segundo mandato, terá elevado o PIB do Paraná em cerca de 63 %, passando de aproximadamente R$ 440 bilhões para R$ 718 bilhões em 2024, apostando não apenas no agronegócio, mas também na diversificação da economia. Confesso que fiquei bem impressionado com uma entrevista que vi recentemente. Se Tarcísio desistisse e Ratinho Jr. herdasse o espólio bolsonarista, acredito que suas chances aumentariam significativamente ao longo da campanha. Arrisco dizer até que teria mais potencial de crescimento que Caiado ou Zema.


O que me preocupa mesmo, no entanto, é 2027. Se Lula for reeleito, a parte positiva será a lição que o povo brasileiro aprenderá sobre o custo das políticas expansionistas, abrindo caminho para um pós-Lula mais duradouro. Se, por outro lado, um candidato da oposição mais moderado vencer, como reagirá diante da pressão dos bolsonaristas radicais e da fúria petista diante dos cortes necessários? Se for bem-sucedido, ótimo para o Brasil. Se fracassar, o PT volta com força para repetir a dose, voltando a raspar o tacho — como agora.


O mais provável, infelizmente, é que o Brasil continue crescendo abaixo da média mundial, sustentado pelo agronegócio, pela mineração e por algumas ilhas de excelência industrial. No mais, seguirá sendo beneficiado pela evolução tecnológica, que reduz custos de forma geral na economia e, claro, torna a Receita Federal ainda mais eficiente em extrair recursos do setor produtivo para sustentar o elefante estatal.

Anatomia de uma fraude

 *Anatomia de uma fraude* Como um desconhecido boêmio mineiro, com um histórico de fracassos empresariais, conseguiu liderar a maior fraude ...