terça-feira, 15 de julho de 2025

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: CPI e balanços nos EUA, IOF e tarifa no Brasil*


Na Câmara, Hugo Motta indicou que pode votar nesta semana a urgência de um projeto de lei que altera a Lei de Responsabilidade Fiscal, de autoria do deputado bolsonarista Carlos Jordy (PL)


… O PIB da China cresceu 5,2%/2T, desacelerando pouco na margem (5,4%/1T), mas acima do consenso (+5,1%). Já a expansão da produção industrial superou as estimativas em junho. Nos Estados Unidos, a inflação do CPI (9h30) deve subir, reforçando a cautela do Fed para os juros, enquanto Wall Street abre a temporada de balanços do 2Tri com JPMorgan, Wells Fargo e Citi, sob o impacto das tensões da guerra tarifária. No Brasil, sem indicadores, são destaques hoje a audiência de conciliação do IOF no Supremo Tribunal Federal e as reuniões de empresários com o Comitê interministerial formado pelo governo para decidir propostas de negociação da tarifa de 50% anunciada por Trump.


… O grupo, liderado pelo vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, consta do decreto de regulamentação da Lei de Reciprocidade Econômica, que já foi assinado por Lula e será publicado hoje no Diário Oficial da União.


… O comitê é composto pelos ministros Rui Costa (Casa Civil), Mauro Vieira (Ministério das Relações Exteriores), e Fernando Haddad (Ministério da Fazenda). Outros ministros poderão ser chamados para reuniões temáticas.


… Como primeira missão, o Comitê terá o objetivo de ouvir os setores empresariais atingidos pela tarifa de Trump aos produtos importados do Brasil. A primeira reunião acontecerá nesta terça-feira, às 10h, com setores da indústria.


… Às 14h, uma segunda rodada de conversas do Comitê será feita com os empresários do setor de agronegócios.


… Alckmin tem defendido o diálogo com o governo dos Estados Unidos para reforçar a complementariedade entre os países, fortalecer nossas empresas e contribuir para as boas práticas comerciais entre os dois países.


… Segundo ele, um acordo sobre tarifas foi enviado aos Estados Unidos em maio, mas o Brasil não obteve resposta.


… A orientação de Lula ao Comitê foi para agir com “firmeza e serenidade” e avançar nas negociações com os Estados Unidos. Mas o presidente não descarta adotar medidas de reciprocidade se as possibilidade se esgotarem.


EMPRESÁRIOS QUEREM ADIAR PRAZO – No Estadão, em reunião de emergência ontem, presidentes das federações das indústrias defenderam um adiamento de 90 dias na aplicação das novas tarifas, previstas para 01/08.


… Em formato virtual, o encontro foi convocado por Ricardo Alban, presidente da CNI, que divulgou nota:


… “Esse prazo é considerado essencial para que a indústria brasileira possa analisar de forma mais aprofundada os efeitos da medida, além de buscar soluções diplomáticas para evitar perdas mais amplas.”


… A estimativa preliminar apresentada na reunião aponta para uma possível perda de pelo menos 110 mil postos de trabalho, se a tarifa de 50% entrar em vigor, além do impacto negativo no PIB, ainda não calculado.


… Os empresários defenderam ainda que a negociação seja conduzida “com prudência, equilíbrio e diálogo técnico, pelos canais institucionais, reforçando a necessidade de manter relações comerciais estáveis e previsíveis”.


… A secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, foi convidada a participar da reunião.


… No meio da tarde, Geraldo Alckmin negou especulações de que o governo estudava pedir a extensão do prazo para negociar com os Estados Unidos, assim como negou a ideia de pedir a redução da tarifa de 50% para 30%.


… “Primeiro vamos ouvir o setor produtivo para definir a estratégia.”


A REUNIÃO DO TARCÍSIO – Ao mesmo tempo em que o governo se movimentava para marcar as reuniões hoje com empresários, o governador de São Paulo, marcava a sua, para o mesmo dia e mesmo horário.


… Operando ativamente para se livrar da imagem que passou ao culpar Lula pela tarifa e defender Bolsonaro, Tarcísio reunirá representantes de indústrias hoje, às 9h30, no Palácio dos Bandeirantes.


… O empresário Paulo Skaf, ex-presidente da Fiesp, ligou diretamente para empresários para formalizar o convite.


… A reunião terá a participação do chefe da embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, com quem o governador conversou na sexta-feira, quando foi a Brasília e postou vídeo nas redes sociais de um almoço com Bolsonaro.


TRAMA GOLPISTA – No final da noite de ontem, a PGR pediu a condenação de Bolsonaro por cinco crimes:


… 1) organização criminosa armada; 2) tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito…


… 3) golpe de Estado; 4) dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima; e 5) deterioração de patrimônio tombado.


… O parecer de Paulo Gonet também pediu a condenação de outros sete réus: Alexandre Ramagem, Mauro Cid, Anderson Torres, Augusto Heleno, Walter Braga Netto, Paulo Sérgio Nogueira e o almirante Garnier Santos.


… No documento, Gonet disse que Bolsonaro é o “líder da organização criminosa” denunciada.


TRUMP ABRE O DIÁLOGO – O presidente dos Estados Unidos informou, nesta segunda-feira, que deverá anunciar em breve “novas tarifas amigáveis”, acrescentando que está “aberto a conversas” sobre as tarifas definidas nas cartas.


… Em coletiva de imprensa ao lado do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, Trump ressaltou que a União Europeia “quer conversar” sobre um acordo comercial e que “ter uma Europa forte é uma coisa muito boa”.


… Após a tarifa de 30% sobre o México e a União Europeia, que piorou o humor dos mercados, o principal negociador comercial da UE, Maros Sefcovic, disse em Bruxelas que ainda vê espaço para um entendimento com os EUA.


… Alertou, no entanto, que, se as conversas fracassarem, medidas de retaliação estão no radar.


… Na Bloomberg, a UE finalizou uma segunda lista de contramedidas para atingir os produtos americanos no valor de 72 bilhões de euros, ou US$ 84 bilhões, incluindo aeronaves da Boeing, automóveis e bebidas alcoólicas.


… Enquanto mantém o canal de diálogo com Washington, a União Europeia busca diversificar seus mercados. O bloco está em “negociações intensas” com a Índia, segundo Sefcovic, e também conversa com a Arábia Saudita.


… A União Europeia também promete ampliar a cooperação comercial com Canadá, contemplado com tarifa de 35%.


… Em comunicado ontem, a Comissão Europeia informou que Ursula von der Leyen e o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, discutiram por telefone “como tornar o Canadá e a UE mais fortes e competitivos”.


… A nota destaca que ambos prometeram aprofundar a parceria estratégica e reforçar a cooperação entre a Europa e o Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP), que inclui Japão, Austrália e México.


… Já a presidente do México (30%), Claudia Sheinbaum, disse que o país está fazendo sua parte no combate ao fluxo de fentanil, mas que os Estados Unidos também precisam fazer a parte deles para reduzir o tráfico de armas.


A BRIGA COM A RÚSSIA – Chateado com Putin, que fura todas as promessas com relação à Ucrânia, Trump ameaçou nesta segunda-feira impor uma “tarifa severa” de 100% sobre a Rússia, se Moscou não parar a guerra em 50 dias.


… Trump disse estar “muito infeliz com a Rússia e desapontado com Putin”, a quem chamou de “cara difícil, não um assassino”. “Ele já enganou muita gente, Bill Clinton, George Bush, Barack Obama, Joe Biden, mas não a mim.”


… O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, tentou esclarecer a ameaça de “tarifas severas” para a Rússia, dizendo que seria uma sanção econômica, não uma tarifa, se Moscou não aceitar um cessar-fogo.


… Para a Capital Economics, se Trump cumprir a ameaça, levará a uma queda acentuada nos fluxos de energia russos, que resultaria em preços globais mais altos, com impacto maior no gás natural do que no petróleo.


MORAES E O IOF – Está marcada para as 15h a audiência de conciliação entre Governo e Legislativo sobre o impasse do IOF, no STF, presidida por Alexandre de Moraes, relator da ação que quer manter o decreto presidencial.


… O presidente do Congresso, David Alcolumbre, não irá, mas será representado pela advocacia do Senado. Também não consta da agenda do ministro Fernando Haddad o compromisso no Supremo Tribunal Federal.


… Nesta segunda-feira, o ministro Rui Costa disse que o governo insistirá no decreto de Lula que elevou as alíquotas do IOF para cumprir o arcabouço. “O decreto está regular e o governo não fará negociação sobre esse tema.”


… No Globo, líderes da Câmara discutem um meio-termo para o IOF, defendendo que as operações em que o tributo já é cobrado podem ter aumento de alíquota, desde que o imposto seja descartado para operações isentas hoje.


… O governo abriria mão da cobrança do IOF para VGBL e para o chamado risco sacado.


… Segundo o Broadcast, a saída já estaria sendo negociada entre parlamentares e a Fazenda, embora o discurso em público seja outro. Nos bastidores, aliados de Lula reconhecem que a anulação parcial do decreto é provável.


PERIGO À VISTA – Na Câmara, Hugo Motta indicou que pode votar nesta semana a urgência de um projeto de lei que altera a Lei de Responsabilidade Fiscal, de autoria do deputado bolsonarista Carlos Jordy (PL).


… Pela proposta, a LRF passaria a “incluir a redução permanente das despesas como uma medida de compensação à concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária”.


… O líder do governo, José Guimarães (PT), já disse que o governo era contra a matéria e ouviu de Motta que “é só urgência”, que “o projeto, que tem relação com isenções fiscais, só vai para votação se houver consenso”.


IMPOSTO DE RENDA – Relator do projeto de isenção do IR, Arthur Lira quer votar parecer na comissão especial e no plenário da Câmara amanhã, quarta-feira, noticiou o colunista Lauro Jardim/O Globo.


CHINA HOJE – PIB cresceu 5,2% no 2Tri, pouco acima da previsão (+5,1%), enquanto a produção industrial subiu 6,8% em junho, superando a projeção de 5,5%. Já vendas no varejo aumentaram 4,8%, perto do consenso (5%).


… Ainda nesta terça-feira, o PBoC chinês anunciou a injeção de 1,4 tri de yuans (US$ 195 bilhões) no sistema bancário por meio de operações de recompra reversa, para garantir que a liquidez permaneça “razoavelmente ampla”.


… No fim de semana, o PBoC chinês se reúne para decidir sobre as taxas de juro para um ano e cinco anos.


MAIS AGENDA – Índice ZEW de sentimento econômico na Alemanha em julho e a produção industrial na Zona do Euro em maio (6h) abrem o dia dos mercados ocidentais, ambos com estimativas de melhora.


… Ainda na Europa, o presidente do BC da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey, discursa no Reino Unido às 17h.


… Nos Estados Unidos, o CPI de junho (9h30) pode acelerar na margem de 0,1% em maio para 0,3% no índice cheio, com a taxa anual subindo de 2,4% para 2,7%, segundo consenso apurado pelo Trading Economics.


… Para o núcleo, a estimativa é de acelerar de 0,1% em maio para 0,3%, com a taxa anual indo de 2,8% para 3%.


… Também às 9h30, o índice Empire State de atividade pode reduzir a queda a -8 em julho, de -16 (junho).


… Quatro dirigentes do Fed falam hoje e podem comentar os números da inflação e o impacto nas expectativas para os juros: Michelle Bowman (10h15), Michael Barr (13h45), Susan Collins (15h45) e Lorie Logan (20h30).


… O mercado de petróleo acompanha hoje o relatório mensal da Opep (8h) e os estoques da API (17h30), enquanto a pressão de Trump para acabar com a guerra entre Rússia e Ucrânia derrubou os preços da commodity (abaixo).


TRUMP – Anunciará hoje US$ 70 bilhões em investimentos em IA e energia, segundo fontes da Bloomberg. Diversas empresas incluirão novos data centers, expansão da geração de energia e atualizações da infraestrutura da rede.


BALANÇOS EM NY – Veja a projeção de lucro por ação da FactSet para JPMorgan (US$ 4,48), Wells Fargo (US$ 1,41) e Citigroup (US$ 1,61), que divulgam balanços do segundo trimestre hoje, antes da abertura do mercado.


… Também a BlackRock reporta seu resultado nesta manhã, com projeção de lucro de US$ 10,8 por ação.


… Ainda no noticiário corporativo, a Nvidia informou que vai retomar as vendas do chip de inteligência artificial H20 para a China, após o governo Trump ter concordado em conceder a licença que estava proibida desde abril.


NA DEFENSIVA – Ficou difícil de esconder ontem o frio na barriga, antes da rodada de negociações do governo Lula e o empresariado, com as tarifas na pauta, além da expectativa pela audiência de conciliação sobre o IOF.


… Dando a medida da cautela, o dólar completou quatro pregões seguidos em alta e voltou às máximas desde junho, enquanto o Ibov caiu pela sexta vez consecutiva, pior sequência em mais de um ano, anotou o Broadcast.


… Foi importante que a moeda americana tenha respeitado a marca psicológica de R$ 5,60 no pico intraday (R$ 5,5937), mas é desconfortável ver o câmbio mais estressado, quando bem pouco tempo atrás andava tão bem.


… Nada está perdido ainda. Com Selic a 15%, não é fácil apostar contra o fluxo. O ajuste do dólar com o tarifaço, no entanto, tem sido inevitável e foi potencializado ontem não só pelo IOF no radar, mas ainda pelo petróleo.


… A ameaça de Trump de taxar a Rússia em 100%, caso um acordo de paz com a Ucrânia não seja celebrado em 50 dias, derrubou o contrato do barril do tipo Brent para setembro (-1,63%), que fechou cotado a US$ 69,21.


… “Assuntos de comércio são ótimos para resolver guerras”, resumiu o presidente americano, deixando claro que vai botar pressão para acabar com o conflito, que está custando caro aos EUA. “Já gastamos US$ 315 bi.”


… Na escalada gradual dos últimos dias, o dólar vale agora R$ 5,5842 (+0,66%), no patamar mais elevado desde o início do mês passado. No acumulado de julho, registra valorização de quase 3%, sob o ambiente mais tenso.


… Pegando o gancho do câmbio, a ponta longa do DI subiu com Trump e o IOF, enquanto a ponta curta operou perto dos ajustes, porque o IBC-Br de maio (-0,7%) veio mais fraco que o esperado pelo mercado (-0,02%).


… É mais um dado que entra para a coleção dos sinais de desaceleração gradual da atividade econômica, provando que começa a ter eficácia a postura conservadora do Copom, que não pretende relaxar até 2026.


… O contrato de juro para Jan/26 fechou a 14,940% (de 14,945% no ajuste anterior); Jan/27, a 14,285% (contra 14,327%); Jan/29, a 13,470% (de 13,465%); Jan/31, a 13,650% (de 13,592%); e Jan/33, a 13,740% (de 13,645%).


TATEANDO NO ESCURO – O protecionismo de Trump vai mantendo os grandes BCs em compasso de espera.


… Entra mês, sai mês, e a política monetária global segue sem previsibilidade sobre os impactos inflacionários da guerra tarifária, com pouca segurança se Trump está mesmo falando sério ou se pode “amarelar” (TACO trade).


… Em stand-by, o BCE se prepara para manter o juro na reunião da semana que vem (dia 24) e adiar a discussão sobre um corte para setembro. O UBS desistiu da aposta de que uma flexibilização da taxa já pudesse vir agora.


… Quanto ao Fed, as tarifas sobre a UE e o México podem reduzir chance de cortes de juros neste ano nos EUA e “a estratégia [de Trump] de escalar para desescalar só valoriza da opção do Fed de esperar”, avalia o BofA.


… Não passa um dia sem que Trump reclame dos juros altos: “Cada ponto da taxa custa US$ 360 bilhões.”


… O impulso tarifário de Trump, renovado pela ofensiva lançada contra a União Europeia e o México, acelerou o ritmo do dólar lá fora ontem e levou o índice DXY a romper os 98 pontos, em alta de 0,23%, aos 98,081 pontos.


… Especialistas notam que, diante do tombo de 10% desde fevereiro, a moeda americana pode testar alguma reversão técnica. O euro caiu 0,18% ontem, a US$ 1,1670; a libra, -0,46%, a US$ 1,3428, e o iene, a 147,75/US$.


EFEITO COLATERAL – Além de a queda do petróleo ter depreciado o real, também cobrou o preço das ações da Petrobras (PN, -1,32%, a R$ 32,20; e ON, -1,07%, a R$ 35,09), arrastando o Ibovespa abaixo dos 136 mil pontos.


… Descolado das leves altas em NY, o índice à vista da bolsa doméstica caiu 0,65%, aos 135.298,99 pontos, com giro de R$ 18,7 bi. Vale não colaborou (-1,14%, a R$ 55,36), devolvendo quase tudo o que subiu na 6ªF (+1,30%).


… Entre os bancos, só Bradesco PN se salvou (+0,37%; R$ 16,11). Bradesco ON ficou estável (-0,07%; R$ 13,82); Itaú recuou de leve (-0,17%, a R$ 34,90); e BB (-2,18%; R$ 20,68) e Santander (-2,05%; R$ 27,18) caíram forte.


… A pior baixa do dia foi da BRF, que afundou 4,55%, para R$ 21,00, depois de a Previ ter zerado a posição na empresa, por R$ 1,9 bi, antecipando possíveis impactos negativos decorrentes da futura fusão com a Marfrig.


… Em comunicado ao mercado, o fundo de pensão do BB disse que a relação de troca proposta na incorporação não reflete adequadamente o valor da BRF, o que poderia resultar em perdas para os acionistas minoritários.


… À noite, a Marfrig informou que, após ter elevado a fatia na BRF a 58,87%, recebeu carta de acionistas controladores (MMS, Marcos Molina e Marcia Marçal), que passaram a deter 75,33% das ações ON da Marfrig.


… Em NY, as bolsas quiseram descontaram ontem os riscos de Trump, resolvendo apostar que ele vai negociar. Além disso, a esperança com a safra dos balanços nos EUA ajudou a preservar Wall Street em leve alta.


… O Nasdaq terminou o dia com ganho de 0,27% e marcou nova máxima histórica de fechamento, a 20.640,33 pontos. O Dow Jones avançou 0,20%, aos 44.459,65,51 pontos, e o S&P 500 subiu 0,14%, aos 6.268,56 pontos.


… À espera do CPI, os juros dos Treasuries subiram, com a taxa da Note-2 anos a 3,901%, contra 3,887% no pregão anterior, e a de 10 anos avançando para 4,428%, de 4,416% na sessão de sexta-feira passada.


EM TEMPO… TIM informou que leilão realizado para alienar 22.059.698 ações ON, formadas a partir da aglutinação das frações de ações resultantes da operação de grupamento e desdobramento, somou R$ 455,691 milhões…


… Esse total, correspondente a R$ 20,6571 por ação ON, será disponibilizado aos titulares das frações, nas devidas proporções, até 23/7


TELEFÔNICA aprovou a distribuição de R$ 330 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1022 por ação, com pagamento até 30/4/26; ex em 26/7.


MRV. Segmento de incorporação do grupo, que reúne operações de MRV e Sensia, somou R$ 3,45 bilhões em valor geral de vendas (VGV) de lançamentos no 2TRI, crescimento anual de 54,2%, segundo prévia operacional.


RAÍZEN anunciou a emissão de R$ 850 milhões em debêntures; Conselho de Administração da empresa aprovou a contratação de até R$ 1 bilhão em empréstimos de curto e longo prazos.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Aspeto de deslizamento (-0,5%?) após Trump anunciar unilateralmente um imposto alfandegário de 30% sobre a UE e o México, porque considera que as negociações “estão muito lentas”. Mas esta semana arranca a temporada de publicação de resultados do 2T, que poderá converter-se num fator bastante pró-mercado enquanto passam algumas horas e se digere o assunto dos 30%. Porque o mercado já sabe que Trump costuma fazer declarações irreflexivas. Os impostos alfandegários afetam cada vez menos e entramos numa etapa caracterizada pela progressiva diminuição sazonal da atividade, por um lado, e pelos resultados empresariais 2T, pelo outro.


Em relação aos resultados empresariais 2T, saem a partir de amanhã. Não serão especialmente bons, mas não absolutamente maus. Irão oscilar entre +2,9% BoA e +11,8% Goldman. E para o conjunto de empresas americanas espera-se +5,8%... que, estimamos, terminará a ser, em números reais, entre +11% e +13%, como aproximação. Porque as empresas americanas costumam bater expetativas. No 1T 2025 expandiram lucros +13,6% vs. +6,7% esperado e +7,5% no 4T 2024. Aumentos duas vezes superiores aos previstos, em grandes números. Por isso, consideramos provável que o eixo principal sobre o qual o mercado passará a girar seja os resultados 2T e não os impostos alfandegários. E isso será bastante bom, embora seja apenas porque serão resultados objetivos e não declarações mutáveis.


A referência macro desta semana será a inflação americana de amanhã, terça-feira, porque se espera que volte a aumentar (até +2,6% desde +2,4%), como em maio (+2,4% desde +2,3%). Será o segundo mês consecutivo de agravamento, situando-se já mais próxima de +3% do que de +2% de objetivo, principalmente a Taxa Subjacente, e isso arrefecerá as expetativas de cortes de taxas de juros por parte da Fed (estimamos apenas mais um corte este ano, em setembro).


CONCLUSÃO: Embora a semana arranque fraca devido ao imposto alfandegário de 30% anunciado por Trump, é provável que se reconduza para positivo em breve… embora sem demasiada força, porque já se nota a decadência de “lucros” típica do verão. A tecnologia acresce o empurrão dominante, particularmente semis, enquanto os impostos alfandegários ficarão em segundo plano. Esta semana e na próxima, as bolsas tenderão a subir, mais apoiadas nos resultados empresariais. O interessante chegará a partir dos últimos dias de julho e primeiras 2 semanas de agosto com a diminuição da atividade: com os riscos a moverem-se em baixa, consideraríamos qualquer corte relevante mais como uma oportunidade para comprar a preços melhores. Principalmente tecnologia – particularmente semicondutores – e Índia como ideia singular.


S&P500 -0,3% Nq-100 -0,2% SOX -0,2% ES50 -1% IBEX -0,9% VIX 16,4% Bund 2,69% T-Note 4,42% Spread 2A-10A USA=+53pb B10A: ESP 3,32% PT 3,16% FRA 3,42% ITA 3,60% Euribor 12m 2,089% (fut.2,153%) USD 1,167 JPY 172,0 Ouro 3.357$ Brent 70,5$ WTI 68,6$ Bitcoin +3,4% (122.140$) Ether +0,4% (3.024$). 


FIM

Dan Kawa

 *Dan Kawa: Tarifas Voltam a Pauta*


O tema das tarifas voltaram definitivamente a pauta de curto-prazo dos mercados, com Trump ameaçando regiões comercialmente e economicamente importantes, como o México e, no final de semana, a União Europeia.


Neste momento, a reação dos ativos de risco tem sido tímida, fora do Brasil, as ameaças de Trump de novas tarifas após 1 de agosto.


Tudo indica que teremos um mês de julho de volatilidade e baixa visibilidade, com uma "corrida de bastidores" para evitar que as tarifas entrem em vigor no dia primeiro de agosto.


Além das tarifas, a semana marca o início da temporada de resultados corporativos nos EUA, com o setor financeiro sendo o destaque deste início de temporada.


Um outro tema que merece atenção nos próximos meses é a dinâmica das taxas longas de juros no mundo desenvolvido, com o debate em relação a situação fiscal de alguns desses países se intensificando.


Em um momento que o Bitcoin atinge novo pico histórico (agora pela manhã acima de $123mil), o ETF $IBIT ultrapassou a marca de US$ 80 bilhões ontem à noite, tornando-se o ETF que atingiu esse valor mais rapidamente na história: em apenas 374 dias


— cerca de 5 vezes mais rápido que o recorde anterior, do $VOO, que levou 1.814 dias. Com US$ 83 bilhões, o $IBIT já é o 21º maior ETF do mundo (via @JackiWang17):


Na bolsa dos EUA, será que as Mag7 estão "caras"?


Continuamos a ver um forte fluxo de entrada de recursos para fundos dedicados a ações emergentes, o que tende a dar suporte a classe:


Sempre vale lembrar, segundo dados do passado: É mais seguro investir quando o S&P 500 está em sua máxima histórica.


https://x.com/DanKawa2/status/1944680067529158964

BDM Matinal Riscala

 _Caros amigos, bom dia!_

_Iniciamos as transmissões do BDM Online com o BDM Morning Call, que traz as expectativas da pré-abertura._


*BDM Morning Call: Trump taxa México e União Europeia em 30%*


[14/07/25] Divulgada hoje, a balança da China trouxe recuperação das importações em junho, após forte queda em maio. Nos Estados Unidos, novas cartas de Trump definiram tarifa de 30% para o México e a União Europeia, no sábado, desvalorizando o euro e os futuros das bolsas americanas. A agenda da semana é cheia de indicadores da economia americana, enquanto grandes bancos abrem a temporada de balanços do segundo trimestre em Wall Street. Aqui, o único destaque é o IBC-Br, nesta segunda-feira, que deverá vir negativo em maio. Na política, o Congresso faz esforço concentrado antes do recesso, o Judiciário realiza a audiência de conciliação sobre o IOF e o Planalto regulamenta a Lei de Reciprocidade. *(Rosa Riscala)*


_Leia o BDM Morning Call na íntegra acessando o link_

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domingo, 13 de julho de 2025

Leitura de sábado 2

 *Leitura de Sábado:Tarifa dos EUA pode afetar preços no Brasil de 3 formas, 2 são inflacionárias*


Por Daniel Tozzi Mendes e Anna Scabello


São Paulo, 11/7/2025 - Economistas de instituições do mercado financeiro divergem sobre quais serão os principais efeitos da nova tarifa de 50% dos Estados Unidos para o Brasil sobre a inflação doméstica.


Há, por um lado, temor de que a diminuição das compras de produtos brasileiros pelos Estados Unidos  provoque enfraquecimento do real, justamente em um momento em que o câmbio jogava a favor do combate à inflação. Fontes da área econômica do governo já relataram à Broadcast que, se aplicadas, a tarifa de 50% jogaria um "balde de água" fria na desaceleração da inflação.


Ao mesmo tempo, o virtual fechamento do mercado dos EUA cria a possibilidade de itens que originalmente seriam exportados, como café, aço e carne bovina, permanecerem no mercado interno, o que aumenta a oferta e, em tese, diminui os preços domésticos.


Há ainda um terceiro efeito previsto, de aumento na pressão inflacionária, caso o governo brasileiro decida retaliar os EUA elevando tarifas de bens importados dos Estados Unidos.


Em relatório, economistas do Bradesco calculam que, se a tarifa de 50% for confirmada, haveria acréscimo de 0,35 ponto porcentual à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025.


Nos cálculos do banco, o tarifaço levaria a uma redução de US$ 15 bilhões nas exportações do Brasil - o equivalente a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Assim, para manter a conta corrente estável, o câmbio poderia ter uma depreciação da ordem de 6%, o que acarretaria uma inflação mais alta. "Os impactos seriam percebidos ainda neste ano, com IPCA pouco abaixo de 5,5%", dizem.


O economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, reconhece que o anúncio das tarifas traz o risco de real mais depreciado frente ao dólar, mas ressalta que até o momento a moeda nacional acumula valorização de aproximadamente 10% em relação à americana em 2025.


"O efeito principal até agora é de apreciação do real em relação ao início do ano. Evidentemente, o episódio das tarifas adicionou um risco, mas se o ambiente continuar a ser de dólar majoritariamente fraco, isso atenua o impacto de desvalorização do real", detalha ele, que prevê IPCA com alta de 5,4% e dólar a R$ 5,7 no fim deste ano.


Efeito oferta


Para a estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Ângelo, as tarifas, a princípio, traz viés de baixa à projeção de inflação da casa, de 5% no final de 2025, dada a possibilidade de crescimento da oferta no mercado doméstico.


"Parte expressiva da nossa produção de carne bovina é exportada para os Estados Unidos, teríamos mais oferta de carne internamente, contribuindo para reduzir os preços", explica ela. O cenário traçado pela casa contempla câmbio de R$ 5,50 no final do ano, estimativa que também ganhou grau de incerteza por conta do tarifaço.


O economista do Santander Brasil Adriano Valladão acrescenta que, além da carne bovina, o aço e o café são outros itens que podem ter oferta aumentada no País com o fechamento do mercado dos EUA. Ele avalia, porém, que o impacto de alívio sobre o IPCA será pouco relevante. Primeiro porque, no caso do café e da carne bovina, não deve haver dificuldade para que o Brasil encontre novos mercados consumidores, redirecionando essas exportações.


Em relação ao aço, Valladão observa que se trata de um item que afeta a cadeia produtiva de diversos setores da indústria, mas cujo impacto no preço tende a demorar a ser repassado para os bens. "Por isso é difícil imaginar algum efeito desinflacionário que vá além de 0,1 ponto no IPCA. No cenário de hoje, o repasse do aumento da oferta tende a ser zero", diz.


Já o economista João Fernandes, da gestora Quantitas, considera que com as novas tarifas, o câmbio se estabilizaria em uma faixa de R$ 5,6 a R$ 5,8, o que mais do que compensaria qualquer efeito de melhora nos preços internos por aumento da oferta. "O efeito líquido seria um IPCA 0,40 ponto porcentual mais alto", calcula.


O cenário, diz ele, pode se agravar ainda mais em caso de retaliações por parte do Brasil, já que aproximadamente 50% das importações provenientes dos EUA são máquinas e equipamentos, cujos preços afetam bastante o custo de produção local. Esse efeito, contudo, seria mais difuso no tempo, de acordo com o economista. "No pior dos cenários, as tarifas podem aumentar o IPCA entre 0,60 e 0,70 ponto porcentual em um horizonte de 12 meses", calcula.


Contato: daniel.mendes@estadao.com; anna.araia@estadao.com


Broadcast+

Leitura de sábado

 *Leitura de Sábado: Fatia da China no mercado brasileiro passa de 10% e indústria cobra reação*


Por Eduardo Laguna


São Paulo, 10/07/2025 - Pedra no sapato da indústria nacional, a China avança rápido e já é a origem de mais de 10% dos produtos comprados pelos brasileiros. Diante da ameaça de uma nova onda de importações, sobretudo de produtos chineses, decorrente das tarifas comerciais anunciadas nos Estados Unidos, setores industriais pedem proteção ao governo, enquanto também absorvem o choque da taxa de 50% prevista aos que exportam para a maior economia do mundo. Entre os argumentos apresentados, principalmente ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, estão os prejuízos representados pela China a investimentos, empregos e, até mesmo, à arrecadação de impostos.


Segundo levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) a pedido da Broadcast, a participação dos produtos importados da China no mercado brasileiro mais do que dobrou no período pós-pandemia. Em apenas cinco anos, subiu de 4,6%, parcela de antes da crise sanitária, para 10,9% do total consumido no País em 2024 (veja a evolução no gráfico abaixo).


Os números, para muitos industriais, retratam uma invasão de produtos "made in China". A crise imobiliária no país, que reduziu a absorção desses produtos no mercado interno, em paralelo aos incentivos à produção concedidos por Pequim para atingir a meta de crescimento econômico, levou a uma enxurrada de produtos chineses pelo mundo. Quando passaram a encontrar barreiras para entrar em dois de seus principais destinos - Estados Unidos e Europa -, as empresas chinesas tiveram de buscar novos mercados para desovar as exportações, sendo o Brasil um deles.


  


A preocupação da indústria brasileira é que a situação piore com as tarifas do presidente americano, Donald Trump, uma vez que produtos barrados nos Estados Unidos podem ser deslocados para o Brasil e mercados vizinhos. Para o consumidor, a "invasão chinesa" significou maior acesso a novas tecnologias, como os carros elétricos. Mas, para as empresas brasileiras, a China representa um competidor que, apoiado por subsídios, controle de câmbio e práticas de comércio consideradas muitas vezes desleais, consegue ganhar mercados a preços inviáveis a quem arca com os custos de produção do Brasil.


Ainda que de forma não coordenada, diversos setores industriais estão mobilizados para fechar portas e obter do governo medidas que corrijam desequilíbrios na competição com os chineses. O alerta é de que a indústria está vulnerável aos desvios de comércio em um mundo de maior protecionismo, com o "tarifaço" de Trump e as possíveis retaliações de países atingidos pela política comercial americana.


Na indústria automotiva, montadoras e fornecedores de autopeças trabalham em conjunto na tentativa de barrar um pedido levado pela BYD à Câmara de Comércio Exterior (Camex) para trazer, com imposto de importação mais baixo, os carros que terão montagem final na fábrica da marca chinesa em Camaçari, na Bahia.


A BYD quer reduzir a 10% as alíquotas de importação nos subconjuntos de veículos que trará pré-montados da China. O pedido provocou uma carta enviada no fim de maio pelo Sindipeças, a associação da indústria de autopeças no Brasil, ao vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin. No ofício, a entidade expressa "inconformismo" com o pleito da BYD, que, conforme o Sindipeças, representa, além de forte impacto na cadeia automotiva, uma "magnífica renúncia fiscal injustificada".


A marca chinesa sustenta que precisa de imposto mais baixo para assegurar a competitividade da operação industrial em Camaçari enquanto avança gradualmente em direção a produtos com maior conteúdo nacional. Já os executivos de montadoras dizem, nos bastidores, que a fábrica de Camaçari servirá apenas para "apertar parafusos".


A Anfavea, associação que representa as montadoras, vem atacando o pedido da BYD tanto publicamente como nas interações com o governo. Conforme previsões da entidade, o Brasil deve importar cerca de 200 mil carros da China neste ano, volume que equivale a uma fábrica que gera por volta de 5 mil empregos. Ao abordar o caso da BYD na última segunda-feira, na apresentação dos resultados do setor à imprensa, o presidente da Anfavea, Igor Calvet, disse que sistemas de produção com baixos índices de nacionalização - como o SKD da BYD em Camaçari - vão na direção contrária à industrialização e à geração de empregos. Incentivos solicitados pela montadora chinesa podem inviabilizar investimentos em linhas de produção completas, conforme Calvet.


Além da batalha com a BYD, montadoras e fabricantes de autopeças insistem na antecipação das alíquotas cheias (35%), ainda previstas para julho do ano que vem, do imposto sobre as importações de carros híbridos e elétricos. A Anfavea também finaliza um estudo que apura se as marcas chinesas estão entrando no Brasil com dumping ou subsídios ilegais.


Tsunami


Nos últimos cinco anos, as importações de produtos da indústria de transformação cresceram 70%, passando de US$ 285 bilhões em 2024, conforme dados da balança comercial. Um quinto do total (22%) é fornecido pela China, que mantém comércio diversificado com o Brasil: de pneus a carros elétricos; de brinquedos a smartphones e eletrodomésticos, além dos componentes desses produtos montados no Brasil.


No setor de vestuário, onde os marketplaces abriram uma grande porta de entrada a produtos importados, a indústria age em duas frentes. De um lado, reivindica que mais Estados elevem de 17% para 20% a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre compras em plataformas de comércio eletrônico. Por enquanto, nove Estados elevaram a alíquota. De outro, o setor pede a elevação de 20% para 35% do imposto de importação que ajudou a conter as pequenas encomendas - compras de até US$ 50 - em sites como Shein, Shopee e AliExpress.


Diretor-superintendente da Abit, associação que representa as empresas do setor têxtil, Fernando Valente Pimentel conta que, após as barreiras de Trump, o governo tem sido alertado pela indústria sobre o "tsunami" que pode vir com o deslocamento de produtos até então fornecidos ao mercado americano. "Se a invasão chinesa chegar aos níveis que podemos ter, apenas cotas [de importação] podem segurar", comenta o executivo.


Segundo Pimentel, os Estados Unidos compram por volta de US$ 20 bilhões em produtos têxteis da China. Se parte desse volume for direcionada ao Brasil, estima, os importados, que já mordem um quarto do mercado de vestuário no País, ganharão ainda mais espaço, colocando em risco 200 mil postos de trabalho.


"Estamos monitorando [a entrada de importados] e informando o governo. O quadro pode piorar a depender do que fizermos em relação a nossa competitividade e do que ocorrer nas relações entre Estados Unidos e China", afirma Pimentel. "O quadro é altamente preocupante porque temos uma nova situação geopolítica e econômica, com desvios que podem trazer prejuízos. Toda a indústria brasileira está sob ataque", acrescenta o superintendente da Abit, citando previsões que apontam a um déficit - ou seja, importações superiores às exportações - de US$ 130 bilhões nas trocas de produtos manufaturados do Brasil com o resto do mundo neste ano.


A pressão da indústria já teve alguns frutos, como a elevação gradual do imposto cobrado de carros híbridos e elétricos e o programa Remessa Conforme, que ajudou a inibir a sonegação em compras pela internet. Os setores beneficiados observam, porém, que essas medidas foram insuficientes para colocar os produtos brasileiros em igualdade de condições com os concorrentes asiáticos.


Contato: eduardo.laguna@estadao.com


Broadcast+

Leitura de fim de semana

 *Leitura de Sábado: Brasil será o mais endividado dos grandes emergentes, diz Martinez, da Fitch*


Nova York, 11/07/2025 - O Brasil está à mercê da falta de consenso entre o Executivo e o Congresso para solucionar o seu dilema fiscal, o que o mantém distante do grau de investimento, perdido há dez anos. A janela política apropriada para endereçar a questão só virá depois da eleição de 2026, diz o co-chefe de títulos soberanos da América Latina da Fitch Ratings, Todd Martinez. Mas, a situação fiscal do Brasil deve piorar antes de melhorar.


"Projetamos que o Brasil será, entre os maiores mercados emergentes, o mais endividado do mundo nos próximos anos, superando a África do Sul e a Índia", diz Martinez, em entrevista exclusiva ao Broadcast. A Fitch estima que a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB) do País deve bater os 79,3% em 2025 e subir a um ritmo anual de 3 pontos porcentuais à frente. A mediana de outros países com mesmo rating é de 53%.


A agência de risco avalia que a baixa exposição comercial do Brasil aos EUA deve limitar possíveis danos das tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No entanto, monitora eventuais efeitos colaterais. Abaixo, os principais trechos da entrevista:




Broadcast: Qual o impacto das tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil?


Todd Martinez: É difícil saber quão seriamente devemos levar a ameaça de Trump de uma tarifa de 50% sobre o Brasil. Se for implementada, a baixa exposição comercial do País aos EUA, menos de 2% do PIB, deve limitar os danos. E, mesmo que não seja implementada, a própria ameaça pode ter algumas ramificações financeiras e políticas que estaremos observando. O Brasil é uma economia muito fechada quando se medem exportações e importações como parcela do PIB. É uma das economias mais fechadas do mundo - tradicionalmente uma fraqueza, mas tem sido, sem dúvida, também uma de suas forças.


Broadcast: A Fitch afirmou o rating do Brasil em BB, com perspectiva estável. Quais fatores foram cruciais nessa decisão?


Martinez: O País tem finanças externas muito robustas, um déficit em conta corrente que aumentou, mas permanece administrável, um investimento estrangeiro direto (IED) forte e estável e um mercado de capitais local desenvolvido. O Banco Central, embora enfrente alguns ventos contrários da política fiscal, é muito forte e crível, sendo uma forte âncora para a confiança. O Brasil é um dos poucos países com classificação BB que pode se financiar quase inteiramente no mercado doméstico, em vez de recorrer ao exterior. Essas são as forças duradouras do Brasil que permanecem intactas.


Broadcast: Quais são as fraquezas?


Martinez: As fraquezas duradouras são o crescimento lento e as finanças públicas fracas. O Brasil tem apresentado uma história mais positiva em termos de crescimento. Revisamos novamente nossa projeção e prevemos uma expansão de 2,5% este ano, ante alta de 1,9%. Isso pode indicar um potencial de crescimento maior, apoiado por esforços de reforma contínuos, em vez de resultar apenas de estímulos políticos. Mas, mesmo assim, o crescimento brasileiro é fraco em comparação ao de outros mercados emergentes. É uma fraqueza que talvez não seja tão fraca quanto costumava ser, mas ainda não é uma força.


Broadcast: E o fiscal?


Martinez: As finanças públicas continuam sendo o calcanhar de Aquiles do Brasil. O País tem um déficit fiscal muito grande e uma dívida alta, que aumenta rapidamente. Projetamos que o Brasil será, entre os maiores mercados emergentes, o mais endividado do mundo nos próximos anos, superando a África do Sul e a Índia.


Broadcast: A Fitch vê reversão à frente?


Martinez: O governo merece crédito por reconhecer o problema e tentar avançar com medidas para melhorar a situação fiscal, mas a política atrapalha, e muitas das iniciativas são paliativas e temporárias, não estruturais. É improvável vermos muito progresso até depois das eleições do próximo ano. Como se viu no fim de 2024, o problema fiscal pode gerar repercussões negativas para o resto da economia, ser uma fonte de volatilidade no câmbio e forçar o Banco Central a manter uma política monetária mais rígida do que o necessário.


Broadcast: Há alguma política recém-aprovada ou aguardando análise do Congresso que possa minar a estabilidade macroeconômica ou a perspectiva de crescimento?


Martinez: Há muito barulho no Brasil em torno do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que o Congresso derrubou; esperamos algo semelhante em relação ao limite de isenção do Imposto de Renda, à forma de compensar essas medidas; as emendas parlamentares e o aumento no número de congressistas. Elas ressaltam a difícil situação das finanças públicas, evidenciando fadiga em torno de aumentos de impostos e rigidez quando se tenta conter as pressões de gastos. São importantes, mas não devem gerar grandes decepções macroeconômicas nem levar a explosão fiscal antes das eleições.


Broadcast: Como a Fitch vê a judicialização do aumento do IOF? É um sinal de fragilidade institucional? Pode afetar o rating?


Martinez: O fato de a questão ser levada aos tribunais indica que as instituições fazem o que devem, não que haja fraqueza institucional. Falta consenso sobre a melhor forma de melhorar as finanças públicas. O Executivo está interessado em consolidação fiscal mais orientada para a receita, e o Congresso insiste em uma estratégia voltada para o corte de gastos, mas não ajuda nesta direção. Quando o governo tenta conter despesas, surgem as emendas parlamentares. O Congresso diluiu as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e há propostas para aumentar o número de congressistas.


Broadcast: Qual seria a consequência para o rating da revisão da meta fiscal para 2025 e 2026?


Martinez: Projetamos que o governo pode cumprir o mínimo exigido por sua regra fiscal este ano, o que significa um déficit primário de 0,6% do PIB, após toda a margem de tolerância e exclusões. Para 2026, prevemos um déficit primário também de 0,6%, acima do permitido pela meta. Não vemos o Brasil atingindo sua meta fiscal no próximo ano.


Broadcast: E uma mudança da meta?


Martinez: Manter a meta, sem alcançá-la, ou revisão não está incorporado em nossas expectativas para 2026. Portanto, isso não deve ser fonte de más notícias para o rating. Seria preciso uma deterioração significativa do fiscal no próximo ano, em vez de apenas não atingir as metas, com repercussões negativas no câmbio, na curva de juros e na confiança. Esse não é o nosso cenário base.


Broadcast: Quais seriam as evidências de melhora na perspectiva de crescimento e na economia do Brasil monitorada pela Fitch? A agência considera a pesquisa Focus?


Martinez: Consideramos nossas próprias projeções de médio prazo, mas também olhamos para a Focus. Conversamos com muitos economistas e analistas que acompanham a economia brasileira de perto. No momento, projetamos expansão de 2% no médio prazo. São necessárias taxas de crescimento acima de 3% para que esse fator sozinho leve a um rating melhor. O que é mais provável e mais importante é a melhora na situação fiscal.


Broadcast: É sempre sobre o fiscal...


Martinez: Sim, mas o fiscal e o crescimento estão muito interligados. É positivo que a economia do Brasil continue superando as expectativas, mas não vemos isso se traduzir em um desempenho fiscal muito melhor. Nosso rating não se baseia apenas na situação fiscal, mas em quão bem posicionado estaria o País suportaria um choque inesperado no crescimento. Uma situação fiscal fraca enquanto a economia do Brasil é forte representa vulnerabilidade.


Broadcast: No começo do governo Lula, as principais agências, incluindo a Fitch, melhoraram o rating, a visão sobre o Brasil, abrindo esperanças de retorno ao grau de investimento. Como isso evoluiu desde então?


Martinez: Continuamos bastante confiantes na nossa decisão de melhorar o rating do Brasil há dois anos. Na época, projetávamos que a dívida em relação ao PIB seguiria trajetória ascendente. Não fizemos o upgrade porque achávamos que o governo havia resolvido a situação fiscal, mas porque o Brasil se recuperou muito bem da pandemia, e tínhamos confiança suficiente de que o governo Lula pelo menos moveria as contas públicas gradualmente em uma direção positiva.


Broadcast: O Brasil está mais longe do grau de investimento desde então?


Martinez: Está na mesma posição. As projeções de dívida/PIB estão próximas das nossas projeções há dois anos atrás. O País cresce mais rápido do que qualquer grande mercado emergente, em linha com o esperado. O que não prevíamos, no entanto, era que o Banco Central precisaria elevar juros novamente, uma das razões para o déficit fiscal tão grande.


Broadcast: O que o Brasil precisa fazer para recuperar o grau de investimento?


Martinez: Há tempos dizemos que queremos ver a dívida/PIB se estabilizar, e estamos longe disso. Isso exige melhora significativa no resultado primário, provavelmente com reformas difíceis no lado dos gastos, mudanças em mecanismos de indexação de programas sociais e alguma reforma administrativa. São ações possíveis, mas politicamente difíceis. No momento, é difícil enxergar um caminho para as reformas fiscais necessárias antes das eleições.


Broadcast: Quais impactos podemos esperar da eleição de 2026 para a economia? Por exemplo, mais estímulo fiscal?


Martinez: Esse sempre será um risco, seja com governo de esquerda ou de direita. No último ciclo eleitoral, houve incentivo para ampliar o Bolsa Família e, no próximo ano, veremos estímulos semelhantes. Nossa perspectiva estável considera que podem surgir medidas populistas, mas sem deterioração fiscal significativa. O mercado é exerce disciplina no Brasil. Isso não garante resultados perfeitos nem melhorias estruturais, mas limita o tipo de medida populista a que qualquer governo poderia recorrer antes das eleições, pois poderia ser contraproducentes.


Broadcast: Se, após a eleição de 2026, não houver perspectiva de corte ou desvinculação de benefícios sociais, isso seria um elemento negativo para o rating?


Martinez: Somos agnósticos quanto à forma de consolidação fiscal. Queremos uma estratégia crível o bastante para gerar superávits primários que estabilizem a dívida/PIB. O País atingiu um ponto de fadiga tributária; parece cada vez mais inevitável reformar gastos com benefícios sociais. Se, após as eleições, esse caminho se mostrar politicamente muito difícil e não houver um plano de receita viável, haverá déficits fiscais grandes e dívida crescente, com reação negativa do mercado. Esse não é nosso cenário base. Parece haver um consenso político crescente de que o Brasil precisa de reforma fiscal mais profunda, e a janela apropriada virá depois das eleições.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


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