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Leitura de sábado 2

 *Leitura de Sábado:Tarifa dos EUA pode afetar preços no Brasil de 3 formas, 2 são inflacionárias*


Por Daniel Tozzi Mendes e Anna Scabello


São Paulo, 11/7/2025 - Economistas de instituições do mercado financeiro divergem sobre quais serão os principais efeitos da nova tarifa de 50% dos Estados Unidos para o Brasil sobre a inflação doméstica.


Há, por um lado, temor de que a diminuição das compras de produtos brasileiros pelos Estados Unidos  provoque enfraquecimento do real, justamente em um momento em que o câmbio jogava a favor do combate à inflação. Fontes da área econômica do governo já relataram à Broadcast que, se aplicadas, a tarifa de 50% jogaria um "balde de água" fria na desaceleração da inflação.


Ao mesmo tempo, o virtual fechamento do mercado dos EUA cria a possibilidade de itens que originalmente seriam exportados, como café, aço e carne bovina, permanecerem no mercado interno, o que aumenta a oferta e, em tese, diminui os preços domésticos.


Há ainda um terceiro efeito previsto, de aumento na pressão inflacionária, caso o governo brasileiro decida retaliar os EUA elevando tarifas de bens importados dos Estados Unidos.


Em relatório, economistas do Bradesco calculam que, se a tarifa de 50% for confirmada, haveria acréscimo de 0,35 ponto porcentual à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025.


Nos cálculos do banco, o tarifaço levaria a uma redução de US$ 15 bilhões nas exportações do Brasil - o equivalente a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Assim, para manter a conta corrente estável, o câmbio poderia ter uma depreciação da ordem de 6%, o que acarretaria uma inflação mais alta. "Os impactos seriam percebidos ainda neste ano, com IPCA pouco abaixo de 5,5%", dizem.


O economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, reconhece que o anúncio das tarifas traz o risco de real mais depreciado frente ao dólar, mas ressalta que até o momento a moeda nacional acumula valorização de aproximadamente 10% em relação à americana em 2025.


"O efeito principal até agora é de apreciação do real em relação ao início do ano. Evidentemente, o episódio das tarifas adicionou um risco, mas se o ambiente continuar a ser de dólar majoritariamente fraco, isso atenua o impacto de desvalorização do real", detalha ele, que prevê IPCA com alta de 5,4% e dólar a R$ 5,7 no fim deste ano.


Efeito oferta


Para a estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Ângelo, as tarifas, a princípio, traz viés de baixa à projeção de inflação da casa, de 5% no final de 2025, dada a possibilidade de crescimento da oferta no mercado doméstico.


"Parte expressiva da nossa produção de carne bovina é exportada para os Estados Unidos, teríamos mais oferta de carne internamente, contribuindo para reduzir os preços", explica ela. O cenário traçado pela casa contempla câmbio de R$ 5,50 no final do ano, estimativa que também ganhou grau de incerteza por conta do tarifaço.


O economista do Santander Brasil Adriano Valladão acrescenta que, além da carne bovina, o aço e o café são outros itens que podem ter oferta aumentada no País com o fechamento do mercado dos EUA. Ele avalia, porém, que o impacto de alívio sobre o IPCA será pouco relevante. Primeiro porque, no caso do café e da carne bovina, não deve haver dificuldade para que o Brasil encontre novos mercados consumidores, redirecionando essas exportações.


Em relação ao aço, Valladão observa que se trata de um item que afeta a cadeia produtiva de diversos setores da indústria, mas cujo impacto no preço tende a demorar a ser repassado para os bens. "Por isso é difícil imaginar algum efeito desinflacionário que vá além de 0,1 ponto no IPCA. No cenário de hoje, o repasse do aumento da oferta tende a ser zero", diz.


Já o economista João Fernandes, da gestora Quantitas, considera que com as novas tarifas, o câmbio se estabilizaria em uma faixa de R$ 5,6 a R$ 5,8, o que mais do que compensaria qualquer efeito de melhora nos preços internos por aumento da oferta. "O efeito líquido seria um IPCA 0,40 ponto porcentual mais alto", calcula.


O cenário, diz ele, pode se agravar ainda mais em caso de retaliações por parte do Brasil, já que aproximadamente 50% das importações provenientes dos EUA são máquinas e equipamentos, cujos preços afetam bastante o custo de produção local. Esse efeito, contudo, seria mais difuso no tempo, de acordo com o economista. "No pior dos cenários, as tarifas podem aumentar o IPCA entre 0,60 e 0,70 ponto porcentual em um horizonte de 12 meses", calcula.


Contato: daniel.mendes@estadao.com; anna.araia@estadao.com


Broadcast+

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