segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Não foi a Alemanha que humilhou o Brasil

 NÃO FOI A ALEMANHA QUE HUMILHOU O BRASIL! Raul Holderf Nascimento, Conexão Política, 18.11.2025

A fala do chanceler alemão foi dura, direta, quase cruel para quem ainda insiste em acreditar na fantasia de país potência. Mas foi verdadeira. E verdade, no Brasil, sempre dói mais do que deveria. Quando Friedrich Merz disse em Berlim que nenhum dos jornalistas alemães quis ficar no Brasil e que todos estavam felizes por ter voltado para a Alemanha, o incômodo não está na frase. O incômodo está na realidade que a frase traz.

O Brasil se tornou uma caricatura de si mesmo por causa dos seus próprios políticos. Uma casta que vive distante do povo, blindada em gabinetes, protegida por seguranças, movendo-se entre jatinhos, assessores e palácios. Uma elite institucional que olha para o país como quem observa um território estranho, habitado por gente descartável. O brasileiro comum vive como rato em um labirinto mal planejado, tentando sobreviver aos esgotos a céu aberto, ao transporte público sucateado, às escolas sem estrutura e aos hospitais que funcionam à base de improviso.

Enquanto isso, quem deveria ser responsabilizado pela tragédia cotidiana vive de marketing e de slogans, maquiando a miséria estrutural com campanhas coloridas, promessas recicladas e narrativas de 4 em 4 anos. O ciclo se repete como metástase. A cada eleição o tumor cresce, ganha novos braços, novos rostos, novas justificativas. E o corpo do país continua necrosando.

Os mesmos políticos que entregam o pior de si à população são os que correm para posar como vítimas quando uma crítica internacional detona o óbvio. Tentam sempre a mesma encenação patriótica: somos todos Brasil. Mas não são. Nunca foram. Quando o chanceler alemão critica Belém, a vergonha não é da população paraense, não é do povo honesto e pagador de impostos. A vergonha é exclusivamente dos governantes que entregam, ano após ano, indicadores de país colapsado.

Belém coleta apenas cerca de 20 por cento do seu esgoto. O resto vai parar nos rios, nos igarapés e na porta das casas das famílias que vivem com renda inferior ao mínimo. O Brasil, como um todo, trata menos de 50 por cento do esgoto gerado. São mais de 100 milhões de pessoas sem coleta adequada. Há escolas em que alunos estudam em contêineres, cidades em que metade das ruas não é asfaltada, hospitais onde pacientes dividem macas e esperam meses por uma consulta simples. O país investe menos de 2 por cento do PIB em infraestrutura, enquanto a média de países desenvolvidos supera os 4 por cento. Somos um território gigante com estrutura de república improvisada.

A elite política ignora esses números porque ignora a vida real. E quando confrontada com a verdade, corre para o discurso sentimental, tentando transformar crítica em ataque ao Brasil, como se os brasileiros e seus políticos fossem a mesma coisa. Não são. O povo carrega um fardo que não escolheu. Os políticos carregam privilégios que nunca largam.
No fundo, o país vive um estado permanente de abandono institucional. E o Brasil oficial ensina o Brasil real a sobreviver com migalhas. É por isso que o paralelo com ‘Maior Abandonado’, uma clássica canção de Cazuza, é inevitável. O Estado brasileiro alimenta a população com raspas, restos, migalhas dormidas do pão. E faz isso com a mesma lógica da canção: pequenas porções de ilusão. Mentiras sinceras que interessam. Mentiras sinceras que mantêm o sistema funcionando. Mentiras sinceras que sustentam um país onde a população continua pedindo apenas um pouquinho de proteção, como o maior abandonado.

A política brasileira transformou o cidadão em pedinte de sua própria nação. E enquanto houver um país que aceita viver de migalhas, haverá um estado que entrega apenas raspas e restos. É isso que o chanceler alemão enxergou em poucos dias no Brasil. É isso que os brasileiros conhecem desde que nasceram. O escândalo não está na fala dele. O escândalo está no fato de ele ter dito em voz alta o que o Brasil finge não ver.

Os ultrajantes supersalários

 Os ultrajantes supersalários


O topo do funcionalismo brasileiro é campeão mundial de privilégios. O País jamais será uma democracia decente enquanto se deixar saquear por uma elite estatal predatória

Notas e Informações · 30 nov. 2025
Estadão Edittorial

Em qualquer democracia madura, o relatório do Movimento Pessoas à Frente e República.org com dados comparados sobre o teto salarial no setor público produziria um choque capaz de abalar ministros, presidentes de tribunais e chefes do Ministério Público. No Brasil, passou quase despercebido como mais um capítulo da pornografia fiscal que sustenta a casta que sequestrou o Estado. O documento funciona como biópsia de um organismo tomado por tumores patrimonialistas tão virulentos que já não é possível distinguir a doença da instituição.

Cada número é um tapa na cara do contribuinte. O País gasta R$ 20 bilhões por ano com supersalários. Cerca de 53,5 mil servidores – sendo 31 mil juízes e procuradores – ganham acima do teto constitucional de R$ 46,3 mil, contra zero na Alemanha e menos de 2 mil na França, Itália, Portugal, México, Chile ou Colômbia. O Brasil tem mais superassalariados que os outros dez países analisados somados. A Argentina, segunda no ranking, tem 27 mil, mas enquanto eles consomem US$ 381 milhões (no critério de paridade de poder de compra), o Brasil torra US$ 8 bilhões com seus nababos – mil vezes mais que boa parte das nações europeias.

A perversão é endêmica. Está em todos os indicadores. Em nenhum dos outros países existem retroativos ilimitados, indenizações indiscriminadas ou folgas convertidas em dinheiro. Em todos, as remunerações são definidas ou pelos Parlamentos ou por comissões independentes. Aqui, corporações predatórias se autoconcedem privilégios e ainda posam de vítimas quando chamadas a prestar contas.

Um juiz brasileiro pode ganhar até quatro vezes mais que ministros das Supremas Cortes da Alemanha, da França ou dos EUA. Em um ano, 11 mil magistrados embolsaram mais de R$ 1 milhão – um patamar de remuneração inexistente em sete dos outros dez países. Muitos receberam isso num único mês – cerca de 20 tetos, mais de 300 vezes a média salarial do funcionalismo e um monumento à depredação moral da República. Cerca de 40 mil servidores estão no 1% mais rico do País, o maior contingente entre todos os países analisados.

Nada disso é acidente. É engenharia. É a corrupção institucionalizada por quem deveria defender a lei. Quando o mecanismo remuneratório é desenhado pelos próprios beneficiários, parcelas retroativas acumulam anos de passivos fictícios, e verbas “indenizatórias” – que deveriam ser excepcionais e ressarcir gastos adiantados pelo profissional – são fraudulentamente manipuladas para camuflar subsídios permanentes, burlando não só o teto constitucional, mas também o Imposto de Renda. Os Conselhos do Judiciário e do Ministério Público, que deveriam conter abusos, subverteram-se em usinas de penduricalhos. Não contentes com 60 dias de férias – fora os recessos –, tribunais fabricam “acúmulos de função” que rendem dez dias de folga mensais – que, por sua vez, se transmutam em mais verbas. A Suprema Corte posa de “salvadora da democracia”, mas lidera a corporação na vanguarda da delinquência institucional.

A bestialidade moral é ainda mais violenta que a fiscal. Mais da metade dos servidores ganha até R$ 3,3 mil. Professores, policiais e enfermeiros sobrevivem a pão e água, enquanto o pouco mais de 1% do funcionalismo que acumula R$ 20 bilhões acima do teto opera como senhores feudais impermeáveis ao País real. São justamente as carreiras que engendram suas próprias regras, intimidam parlamentares e obliteram reformas. O teto virou ficção; a exceção, método; o privilégio, “direito adquirido”. O Estado perverteu-se em uma máquina de transferência de renda às avessas; um Moloc regular, previdente e obeso que devora o dinheiro do Brasil que trabalha e produz: pobre paga imposto regressivo, a oligarquia estatal extorque retroativos multibilionários.

Não há espaço para evasivas. Ou a sociedade civil empareda seus representantes eleitos para que extirpem o tumor – redefinindo regras, eliminando penduricalhos, impondo transparência ao abrigo do teto constitucional – ou será asfixiada pela hipertrofia parasitária das corporações estatais. O Brasil jamais se tornará uma democracia decente enquanto tolerar que sua elite burocrática viva como dona do Estado e não como servidora dos cidadãos. •

Bankinter Matinal Portugal

 Análise Bankinter Portugal 


NY +0,5% US tech +0,8% US semis +1,8% UEM +0,3% Espanha +0,1% VIX 16,4% Bund 2,70% T-Note 4,04% Spread 2A-10A USA=+54pb O10A: ESP 3,18% PT 3,01% FRA 3,41% ITA 3,40% Euribor 12m 2,209% (fut.2,306%) USD 1,159 JPY 180,5 Ouro 4.240$ Brent 63,6$ WTI 59,7$ Bitcoin -5,4% (86.242$) Ether -6,4% (2.828$).


SESSÃO: Prováveis dias de transição e com pouca força, após uma sequência prévia rotundamente alcista (Nova Iorque com 5 sessões consecutivas de recuperação) e até chegarem as referências mais potentes da próxima semana. Arrancamos esta semana com a Cyber Monday e teremos inflação europeia amanhã (previsão de manter em +2,1%) e o PCE americano na sexta-feira (+2,8% vs +2,7%) como referências principais. Mas teremos também alguma orientação sobre o emprego (embora não sejam os dados oficiais: Relatório de Emprego ADP +10k vs +42k) e a Produção Industrial nos EUA (previsão de manter em +0,1%), ambos na quarta-feira. Hoje, às 16h, sai o ISM Industrial americano, provavelmente mais lateral e ainda sem atingir a zona de expansão (49,0 vs 48,7).


O mais relevante, contudo, não será tanto o que sairá esta semana, mas sim na próxima, que conta com 3 dias chave: Terça-feira 9: Resultados da Oracle; Quarta-feira 10: Reunião da Fed (atualmente desconta-se um corte de 25pb para o intervalo 3,50%/3,75%, mas veremos, porque os últimos dados de emprego não foram maus); Quinta-feira 11: Resultados da Broadcom (não tão importantes como os da Nvidia, mas muito relevantes).


Depois disso, no dia 18 teremos as reuniões do Banco de Inglaterra (não é impossível que corte taxas, mas é improvável; taxa atual em 4,00%) e do BCE (manterá em 2,00%/2,15%). No dia 19, será a vez do Banco do Japão (BoJ), que não se espera que suba taxas (atualmente em 0,50%), embora há poucas horas Ueda (Governador) tenha dito que considerarão os prós e contras, deixando o mercado desorientado e levando a uma ligeira apreciação do iene (155,6/$ vs 156,7/$). Isto dará alguma dinâmica a um mercado cambial sem movimentos significativos ultimamente.


Os primeiros números de vendas da Black Friday parecem boas, mas seria prematuro tirar conclusões: +9,1% segundo a Adobe e +10,4% segundo a Mastercard. Parecem melhores do que o esperado para toda a campanha de Natal, para a qual a National Retail Federation espera +3,7%/+4,2% (vs +4,3% em 2024)... mas esta estimativa cobre apenas vendas físicas, não online.


CONCLUSÃO: Hoje espera-se uma sessão suavemente em baixa (¿-0,5%?), mas se a correção fosse mais do que suave, seria melhor. Enfrentamos uns dias mornos, com o mercado numa atitude de cautela e espera, até superarmos a Fed no dia 10 e a Broadcom no dia 11. A partir desse momento, o tom seguramente voltará a melhorar porque se imporá uma atitude geral de reposicionamento para 2026.

Pode surgir algum momento de frustração quando a Rússia voltar a deixar claro que não pensa parar, o que deixará Trump especialmente tenso, já que aspira fechar quase qualquer acordo de paz que possa favorecer a sua figura política para as eleições intercalares de novembro de 2026. No entanto, o mercado posicionar-se-á geralmente em posições longas (compradoras) em bolsa e risco geral para 2026, assumindo que a guerra na Ucrânia será de desgaste e longo prazo, pelo que terá de se habituar a conviver com ela. Outra questão é o que possa suceder a muito curto prazo com a Venezuela… que deveria ser iminente e provavelmente negativo para o mercado, embora o seu desenlace se apresente muito arriscado.


FIM

Abertura

 *Abertura: Galípolo e Powell concentram atenções hoje*


São Paulo, 01/12/2025 -


Por Luciana Xavier e Maria Regina Silva


OVERVIEW. Dezembro começa com as atenções no presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que participa de palestra da XP Investimentos em São Paulo, e no presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, em evento nos EUA. A semana traz ainda, no Brasil, a divulgação do PIB do terceiro trimestre e produção industrial de outubro. No exterior são esperados o PCE dos EUA e produção industrial do país, enquanto na Europa saem dados de inflação e PIB da zona do euro.


NO EXTERIOR. As bolsas internacionais operam no vermelho nesta segunda-feira. Na Europa, índices de gerentes de compras (PMI) da indústria  da zona do euro, Alemanha, China e Japão ficaram abaixo de 50 em novembro, apontando contração da atividade. O PMI industrial do Reino Unido, no entanto, subiu de 49,7 para 50,2, como previsto. O petróleo sobe ao redor de 2%, após a Opep+ confirmar planos para manter a produção no primeiro trimestre do próximo ano. O dólar cai ante o iene após o presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, afirmar que o banco discutirá detalhadamente a possibilidade de um aumento da taxa de juros em sua próxima reunião. O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou ontem que escolheu quem será o próximo presidente do Federal Reserve e fará o anúncio em breve. Segundo probabilidades feitas pelo mercado de previsão Kalshi, Kevin Hassett, atual diretor do Conselho Nacional de Economia do governo americano, tem 72% de chance de ser nomeado. Hassett disse que aceitaria o convite e ficaria feliz em servir.


POR AQUI. A cautela das bolsas no exterior pode limitar o fôlego do Ibovespa, embora a alta do petróleo seja favorável. O presidente Lula afirmou ontem a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil deve injetar R$ 28 bilhões na economia, resultando em aumento do consumo. O mercado fica atento com os riscos para inflação desse dinheiro a mais que deve ser injetado na economia. No Congresso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-PP), deve pedir a presidência do Banco do Brasil em troca do favorecimento de Jorge Messias no Senado, onde será sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no próximo dia 10 de dezembro. Messias foi  indicado por Lula a uma cadeira no STF. Com a piora da relação entre o governo Lula e lideranças do Congresso, uma série de projetos com impacto fiscal pode ir à votação e agravar o desequilíbrio das contas públicas. Somente quatro medidas em tramitação na Câmara e no Senado, se aprovadas, poderiam gerar impacto aos cofres públicos acima de R$ 100 bilhões em 2026 e 2027.


NA POLÍTICA. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região determinou na sexta-feira a soltura do empresário Daniel Vorcaro e de outros quatro investigados pela Polícia Federal no caso envolvendo o Banco Master. Os governadores de direita Tarcísio de Freitas (Republicanos - SP), Ratinho Junior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo - MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil - GO) se manifestaram contra a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e indicaram que concederiam anistia a ele caso ocupem a cadeira de presidente, como resultado do próximo pleito, em 2026. Tarcísio escolheu o delegado Osvaldo Nico Gonçalves como novo secretário estadual de Segurança Pública, no lugar de Guilherme Derrite (PP). A defesa de Bolsonaro ajuizou embargos infringentes no Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira para tentar reverter sua prisão mesmo após a decretação do trânsito em julgado.


AGENDA.


PIB E PRODUÇÃO INDUSTRIAL EM DESTAQUE - Nesta segunda-feira, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que participa de palestra da XP Investimentos em São Paulo. Saem o IPC-S de novembro (8h), o Boletim Focus (8h25) e o PMI da indústria de transformação (10h). Ao longo da semana, a terça traz como destaque a produção industrial de outubro. Na quarta, serão divulgados o PMI de serviços e o PMI composto da S&P Global. Na quinta, saem o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre e a balança comercial de novembro. Na sexta-feira tem o IGP-DI de novembro.


POWELL E PCE DOS EUA NO FOCO - A agenda internacional tem a divulgação, nos EUA, do PMI industrial pela S&P (11h45 e pelo ISM (12h), ambos de novembro. É esperado ainda o PMI industrial global de novembro pela S&P (13h). O presidente do Fed, Jerome Powell discursa em evento do Hoover Institution (22h). Os EUA assumem a presidência do G20. A terça traz dados de inflação da zona do euro, taxa de desemprego e indicadores industriais da Ásia e Oceania. A quarta-feira reúne PMIs de serviços e compostos da zona do euro, Alemanha e Reino Unido,  relatório ADP de emprego e produção industrial dos EUA. Na quinta, saem vendas no varejo da zona do euro, pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos e discursos de dirigentes do Banco Central Europeu e do Federal Reserve. A sexta-feira concentra o PIB da zona do euro, indicadores do Reino Unido, PCE  dos Estados Unidos e índice de sentimento do consumidor pela Universidade de Michigan.


O QUE SABEMOS.


RESULTADO OPERACIONAL DA AZUL SOMA R$ 484,4 MILHÕES EM OUTUBRO - A Azul apresentou à corte de Nova York o seu relatório operacional mensal com informações financeiras, referentes ao período de 1º a 31 de outubro deste ano, exigidas no contexto do processo voluntário de Chapter 11. No mês passado, a aérea apresentou receita líquida total de R$ 1,9 bilhão. O resultado operacional ajustado, descontando itens não recorrentes relacionados à reestruturação, foi de R$ 484,4 milhões, correspondendo a uma margem operacional de 25,5%.


EM TESE: Os investidores vão se debruçar sobre os números da Azul, cujos papéis fecharam com perdas de 9,65% em novembro na B3. Além dos dados acima, o Ebitda ajustado atingiu R$ 716,4 milhões, com margem Ebitda ajustada de 37,7%. Em outubro, a Azul possuía R$ 1,848 bilhão em caixa e equivalentes de caixa e aplicações financeiras de curto prazo. As contas a receber totalizavam R$ 2,817 bilhões.  Os dados são preliminares e não auditados têm por objetivo manter o mercado informado sobre a evolução da posição financeira e operacional da Azul durante todo o seu processo de reestruturação, informou a companhia.


OVERNIGHT.


ISENÇÃO DO IR - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a população terá até janeiro para se planejar em relação à isenção do Imposto de Renda. Segundo disse em entrevista ao Jornal da Record, espera-se que essa medida traga alívio financeiro, permitindo melhor planejamento para o ano seguinte.


BRB - O Banco de Brasília (BRB) pedirá à Justiça Federal de Brasília para ingressar como assistente de acusação na ação movida contra o Banco Master.  A decisão, que partiu do conselho de administração da estatal na sexta-feira, foi revelada pelo jornal Folha de S. Paulo e confirmada pelo Estadão/Broadcast.


DE SAÍDA - As empresas Liqi, GCB, Coinbase e Avenia confirmaram a saída da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto). Para a ABCripto, trata-se de uma “dinâmica natural”. Porém, a informação vem em meio a uma crise interna tornada pública após a diretoria da entidade decidir processar quatro de seus conselheiros sob a acusação de conspiração para tentar destituir o presidente Bernardo Srur.


INADIMPLÊNCIA - Estudo da Serasa Experian aponta que 65% da inadimplência no consignado privado é devido a falhas sistêmicas, afetando uma em cada três empresas, enquanto 35% são por problemas de pagamento.


BLACK FRIDAY - As vendas no varejo brasileiro cresceram 1,9% na Black Friday, puxadas por alta no e-commerce de 16,1%. Embora menor que 2019, o resultado se deve à base elevada e coincidência com pagamento do 13º, segundo o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA).


CORREIOS - A crise nos Correios levou o governo a aumentar a previsão de déficit de estatais para R$ 9,2 bilhões. Outras empresas estatais também despertam preocupação no Tesouro Nacional devido à situação financeira. E o empréstimo de R$ 20 bilhões para socorrer os Correios, aprovado no sábado, terá juros a 136% do CDI.


CONTENÇÃO ORÇAMENTÁRIA - O governo publicou decreto com bloqueio de R$ 7,7 bilhões no orçamento após avaliação do 5º bimestre fiscal. A contenção inclui R$ 2,6 bilhões em emendas parlamentares para garantir regras fiscais. Os Ministérios da Saúde e Cidades são os que mais foram influenciados.


TÍTULOS - O Conselho Monetário Nacional alterou regras para operações compromissadas com renda fixa. Segundo pessoas com conhecimento do assunto, trata-se de um esforço para melhorar a precificação dos títulos.


RESOLUÇÃO DO BC -  A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) avaliou como "positivas" as novas normas do Banco Central para o "Banking as a Service" (BaaS) e o Open Finance, anunciadas na sexta-feira. Para a entidade, a regulamentação de BaaS fortalece a segurança jurídica, a previsibilidade e a transparência para bancos, fintechs, plataformas digitais e clientes que usam serviços financeiros integrados por tecnologia. A resolução afeta nomes de fintechs como Nubank e PagBank.


ENERGISA - A Energisa informa que a Rede Energia incorporará Rede Power e realizará aumento de capital superior a R$ 2,3 bilhões. A estratégia envolve capitalização da Energisa Mato Grosso, reforçando o setor elétrico.


BANDEIRA AMARELA - A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou na sexta-feira que o último mês do ano terá o acionamento da bandeira amarela, um alívio em relação às tarifas adicionais de cor vermelha que vigoravam desde junho. A classificação para dezembro representará um custo adicional de R$ 1,88 para cada 100 kWh consumidos - ante os R$ 4,46 de novembro. O anúncio vem em linha com as expectativas de especialistas do setor elétrico. Como era algo esperado, não altera projeções para a inflação, segundo especialistas.


AMBIPAR - Credores da Ambipar se reunirão nos EUA para discutir dívidas. Após a empresa entrar no Chapter 11, há queixas sobre transparência e pedidos para justiça não ampliar prazos para a companhia.


BCE/NAGEL - O dirigente do Banco Central Europeu (BCE) e presidente do BC da Alemanha (Bundesbank), Joachim Nagel, disse que as taxas de juros da zona do euro estão próximas do nível "neutro" e descreveu a postura de política do BCE como "amplamente adequada" à medida que as projeções de inflação se estabilizam.


E NOS MERCADOS.


FUTUROS DE NY E EUROPA - Os índices futuros de ações de Nova York e as bolsas europeias caem em um sinal de cautela. Os investidores estão à espera de indicadores sobre a atividade industrial e de serviços, além dos dados mais recentes da ADP sobre a vagas do setor privado nos EUA para validarem se o Federal Reserve (Fed) poderá reduzir as taxas de juros em sua próxima reunião. Relatos sobre desempenho das vendas do varejo durante o fim de semana após a Black Friday também ficam no radar ao longo da sessão. Em Londres, a Fresnillo subia 5,5%, renovando máximas históricas, diante das projeções para os preços do ouro e prata. Outras mineradoras também tinham uma sessão de ganhos, como a Endeavour e Antofagasta, que subiam 2,01% e 1,20%, respectivamente. Às 7h17, os futuros do Dow Jones e S&P 500 cediam 0,41% e 0,55%, respectivamente. O Nasdaq futuro recuava 0,69%. Na Europa, a bolsa de Londres tinha alta de 0,01%, a de Paris recuava 0,39% e a Frankfurt cedia 0,93%.


TREASURIES - Os juros dos Treasuries têm leve alta hoje na retomada dos negócios após sessão mais curta na sexta-feira. A agenda de indicadores da semana e o petróleo em alta também fica no radar como vetor de sustentação para avanço dos rendimentos dos títulos, assim como relatos preliminares indicando resiliência do consumo no início da temporada de pico de vendas nos EUA. Às 7h19, o juro da T-note de 2 anos subia a 3,494%, ante 3,493% no fim da tarde de sexta-feira e o da T-note de 10 anos avançava a 4,040% (de 4,014%), enquanto o rendimento do T-bond de 30 anos tinha alta a 4,699% (de 4,664).


MOEDAS FORTES - O dólar opera em queda ante o iene após o presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, afirmar que o banco discutirá detalhadamente a possibilidade de um aumento da taxa de juros em sua próxima reunião. A moeda americana segue ainda pressionada pela expectativa de alívio monetário nos EUA. Já o euro tem leve alta ante o dólar, após o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, reiterar que a taxa de juros atual é "adequada. Às 7h19, o índice DXY, que mede a variação da moeda ante uma cesta de pares fortes, cedia 0,16%, a 99,29 pontos, após fechar em queda de 0,11%, a 99,459 pontos, na sexta-feira. O dólar recuava a 155,24 ienes, de 156,10 ienes no fim da tarde de sexta-feira em Nova York. O euro subia a US$ 1,1620 (US$ 1,1605) e a libra recuava a US$ 1,3223 (de US$ 1,3245).


PETRÓLEO - Os contratos futuros do petróleo avançam, após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) confirmar planos para manter a produção no primeiro trimestre do próximo ano. A declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, de que o espaço aéreo da Venezuela deveria ser considerado "totalmente fechado" ainda gera insegurança, mesmo após notícias de que o chefe do Executivo americano conversou com o presidente venezuelano Nicolás Maduro. A Venezuela pediu ainda apoio da Opep+ para conter agressão do governo americano. Às 7h21, o petróleo WTI para janeiro avançava em 1,88%, a US$ 59,65 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex). Já o Brent para fevereiro, negociado na Intercontinental Exchange de Londres (ICE), subia 1,76, a US$ 63,48.


BOLSAS DA ÁSIA- As bolsas asiáticas fecharam sem rumo único nesta segunda-feira, com Tóquio em baixa de quase 2% em meio a declarações do presidente do Banco do Japão (BoJ), Kazuo Ueda, indicando possibilidade de alta da taxa de juros ainda neste ano. Ações de empresas ligadas a moedas digitais cederam em Hong Kong após alerta do Banco do Povo da China. O índice Nikkei caiu 1,9% em Tóquio. As ações da Tokyo Electric despencaram 9,7%, seguidas pela Fujikura (-8,9%) e Mitsui Kinzoku (-6,8%). Ueda disse que o BoJ discutirá cuidadosamente um possível aumento das taxas de juros em sua próxima reunião de política monetária, em 18 e 19 de dezembro, o que reforçou as apostas de um aperto ainda este ano. As ações de empresas listadas em Hong Kong com exposição a ativos digitais despencaram depois que o Banco do Povo da China alertou sobre atividades ilegais ligadas a moedas digitais e o ressurgimento da especulação, segundo comunicado. Ações da Yunfeng Financial, empresa apoiada por Jack Ma, derreteram 11%. A Bright Smart Securities caiu 5,9%. O índice Hang Seng terminou o pregão em alta de 0,7% em Hong Kong. Na China continental, o Xangai Composto apresentou alta de 0,65% e o menos abrangente Shenzhen Composto computou ganho de 1%. Em Seul, o índice de referência Kospi caiu 0,2%. O índice Taiex de Taiwan cedeu 1%. Na Oceania, o S&P/ASX 200 fechou em baixa de 0,57% em Sydney.

BDM Matinal Riscala

 *Bom dia Mercado*


Segunda Feira, 1.o de Dezembro de 2.025.


 *Powell e Galípolo abrem a semana*


… A Opep+ correspondeu às expectativas e manteve os níveis de produção do petróleo no 1SEM/26, nesse domingo, enquanto a China e o Japão iniciaram no fim de semana a série de índices PMI que medem a atividade global. Ainda no domingo, o BoJ sinalizou possível alta do juro japonês na reunião desse mês (19). Hoje, os investidores acompanham as falas de Powell e de Galípolo, também com o foco das atenções na política monetária do Fed e do Copom. No Brasil, a semana ainda tem como destaques o PIB/3TRI e a produção industrial, enquanto nos Estados Unidos a grande expectativa é para a divulgação do PCE de setembro, na sexta-feira, às vésperas do Fomc no dia 10.


POWELL FALA HOJE À NOITE –O discurso do presidente do Fed em evento do Hoover Institution (22h de Brasília) pode ser decisivo para levar à unanimidade as apostas em novo corte de 25 pontos-base do juro americano na reunião da próxima semana.


… Na plataforma do CME Group, essas chances se mantêm projetadas em quase 88%, contra 12% para a manutenção entre 3,75% e 4%.


… Em Wall Street, as elevadas expectativas de mais uma queda do juro sustentam o entusiasmo das bolsas, enquanto os investidores se desfazem dos Treasuries e corrigem o dólar em baixa. Na semana passada, os índices de ação americanos subiram mais de 3%. 


… Muitas casas abandonaram a perspectiva de uma pausa em dezembro, após comentários de alguns Fed boys que sinalizaram sua inclinação pelo corte, apesar da imprevisibilidade imposta pela atraso na divulgação de dados suspensa durante o longo shutdown.


… Falta Powell ajustar a sua mensagem, que ainda veio bastante cautelosa na entrevista do último Fomc, quando ele destacou que o Comitê de Política Monetária está dividido. De lá para cá, no entanto, os membros mais dovish ganharam maior expressão.


… A iminente sucessão no Fed, com a possibilidade de Trump antecipar sua escolha, também pode estar influenciando. Neste domingo, ele disse que já escolheu quem ficará no lugar de Powell e anunciará “em breve”.


… Horas antes, em entrevista à Fox News, Kevin Hassett disse que ficará “feliz em servir”, se for indicado para a vaga.


… A repercussão da fala de Powell só virá amanhã e parte do mercado pode preferir a espera pelo PCE de setembro, na sexta-feira, para firmar posição. O índice preços de gastos com consumo é a medida de inflação preferida do BC e em agosto o núcleo anualizado estava em 2,9%.


… Também na sexta, sai a preliminar do sentimento do consumidor medido pela Universidade de Michigan, com as expectativas de inflação para daqui a um ano e cinco anos, que projetavam em novembro 4,5% e 3,4%, respectivamente.


… Hoje, dois índices da atividade americana em novembro serão conhecidos: o PMI industrial da S&P Global (11h45), com previsão de recuo de 52,5 em outubro para 51, e o PMI industrial do ISM (12h), que pode melhorar de 48,7 para 49,2, ainda assim, em território contracionista.


… Também são esperados à primeira hora os índices PMI industrial da S&P Global/HCOB na Alemanha, Zona do Euro e Reino Unido.


ÁSIA HOJE – Na China, o PMI industrial medido pelo setor privado recuou de 50,6 em outubro para 49,9 em novembro. A leitura abaixo de 50 indica a primeira contração no setor manufatureiro chinês desde julho.


… Já o dado oficial subiu de 40,0 em outubro para 49,2 em novembro, em contração pelo oitavo mês seguido.


… Já no Japão, o PMI/S&P Global industrial avançou de 48,2 pontos em outubro para 48,7 pontos em novembro.


BOJ – Ainda ontem à noite, o presidente do BoJ, Kazuo Ueda, em discurso a líderes empresariais, deu os indícios mais claros até agora de um possível aumento da taxa de juros na reunião de política monetária de dezembro.


… O BC “considerará os prós e os contras de um aumento na taxa básica de juros e tomará as decisões apropriadas.” O iene repercutia em alta os comentários de Ueda no início do pregão asiático.


OPEP – Confirmou neste domingo que manterá os níveis de produção de óleo atuais no primeiro trimestre de 2026. Também foi decidido que o cartel definirá um mecanismo para avaliar a capacidade máxima de produção de cada integrante.


… No final da noite de ontem, o petróleo respondia em alta de 1,5% às decisões tomadas pela Opep+.


UCRÂNIA – O presidente da França, Emmanuel Macron, receberá hoje Volodymyr Zelensky em Paris, em meio à mais grave turbulência política enfrentada pelo líder da Ucrânia desde o início da guerra e a uma ofensiva acelerada dos Estados Unidos para um acordo de paz.


… A viagem ocorre enquanto Kiev tenta reorganizar sua equipe de negociações após a renúncia do chefe de gabinete Andrii Yermak, investigado por corrupção e peça central no diálogo com Washington, que abriu espaço para duras críticas de Moscou.


… O Conselho de Segurança russo afirmou que o “governo corrupto ao redor do palhaço de Kiev” teria “desmoronado”.


… Nesse domingo, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, afirmou que as conversas realizadas com uma delegação da Ucrânia sobre o plano de paz americano para o país foram “muito produtivas”, mas ainda não chegaram a um resultado final.


… Washington prepara para esta semana a viagem do enviado especial Steve Witkoff a Moscou para novas conversas com Putin. Segundo o jornal britânico The Telegraph, Witkoff pode reconhecer o controle russo sobre a Crimeia e outros territórios ucranianos ocupados.


VENEZUELA – Trump afirmou, em postagem na rede social, que o espaço aéreo da Venezuela está fechado. Na prática, os Estados Unidos só podem restringir operações de empresas americanas e reforçar alertas de segurança.


… Mas a escalada da tensão indica que Trump avalia opções militares contra o governo de Nicolás Maduro.


BLACK FRIDAY – As vendas no varejo norte-americano registraram alta de 4,1%, excluindo automóveis, em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo dados preliminares do Mastercard SpendingPulse.


… O desempenho do indicador de comércio foi impulsionado, sobretudo, pelo comércio eletrônico, que registrou um avanço de 10,4% na comparação anual, enquanto as vendas presenciais cresceram 1,7% nos Estados Unidos.


… No Brasil, o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) apontou crescimento anualizado de 1,9% nas vendas. Foi a menor alta desde 2019, mas ocorre sobre uma base excepcionalmente elevada. No ano passado, avançou 16%.


… As vendas e-commerce subiram 16,1% na Black de 2025, com recorde em transações. Já o varejo físico caiu 1,9%.


AGENDA NO BRASIL – O presidente do BC, Gabriel Galípolo, fala hoje às 10h, mas ninguém precisa acompanhar para saber que ele defenderá juro elevado pelo tempo que for necessário para atingir o centro da meta de inflação de 3%.


… Mais cedo (8h25), a pesquisa Focus atualiza as novas projeções do mercado para o IPCA. E, às 10h, sai o PMI industrial de novembro.


… A produção industrial de outubro será divulgada amanhã, terça-feira, e o PIB/3TRI na quinta-feira, junto com as vendas e produção de veículos e a balança comercial de novembro. Na sexta, saem o IGP-DI de novembro e os preços ao produtor (IPP) de outubro.


BC PROTEGE+ – O Banco Central lançará hoje novas medidas de segurança para o sistema financeiro, que vai permitir que clientes informem em área logada no site “Meu BC” se deseja ou não abrir novas contas bancárias.


… O objetivo é evitar a abertura de contas fraudulentas, com o uso de identidade falsa, por exemplo, ou ainda a inclusão de um novo titular em contas conjuntas ou responsáveis em contas de pessoas jurídicas.


… Para abrir uma conta, as instituições financeiras deverão consultar esse sistema. A novidade passa a funcionar a partir de dezembro.


BANDEIRA AMARELA – A Aneel anunciou no final da tarde de sexta-feira que dezembro terá o acionamento da bandeira amarela, um alívio em relação às tarifas adicionais de cor vermelha que vigoravam desde junho.


… A classificação para dezembro representará um custo adicional de R$ 1,88 para cada 100 kWh consumidos, contra os R$ 4,46 de novembro. O anúncio vem em linha com a expectativa de especialistas do setor elétrico e do mercado.


… A corretora Warren Rena calcula que, com a confirmação da bandeira amarela, diante das condições de geração de energia mais favoráveis, a previsão é de 4,2% para o IPCA em 2025, fechando o ano abaixo do teto da meta (4,5%).


CONGRESSO – Em meio ao ambiente conflagrado no Legislativo, o governo tenta articular nesta semana a votação da agenda econômica, dando andamento aos projetos que visam arrecadar R$ 30 bilhões no próximo ano.


… Trata-se da proposta de corte linear nos benefícios tributários, que pode render R$ 20 bilhões em arrecadação, e da taxação das fintechs e bets, com estimativa de arrecadação de R$ 10 bilhões. Está também nesse esforço o projeto do “devedor contumaz”.


… Além disso, segundo o Valor, a equipe econômica também acompanha o julgamento no Tribunal de Contas da União, que deve definir se o governo poderá mirar o limite inferior da meta fiscal ou se será obrigado a mirar o centro para cálculo do contingenciamento.


… Para amanhã, terça-feira, está marcada a votação da LDO na Comissão Mista do Orçamento, que pode ir ao plenário do Congresso na quarta.


E A GUERRA CONTINUA –Em nota divulgada neste domingo, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, criticou a demora por parte do Executivo para enviar a mensagem oficial com a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal.


… Segundo ele, a demora causa “perplexidade” e, com isso, o governo Lula “parece buscar interferir no calendário do Senado”.


… O recado foi duro: “Nenhum Poder deve se julgar acima do outro, e ninguém detém o monopólio da razão. (…) Se é certa a prerrogativa do Presidente da República indicar ministro ao STF, também é prerrogativa do Senado escolher, aprovando ou rejeitando o nome.”


… O governo atrasou o envio da mensagem com a indicação de Jorge Messias ao Senado após Alcolumbre marcar a sabatina na CCJ para dia 10, sem dar tempo de o AGU conseguir mais apoio entre os senadores. Messias foi indicado no dia 20 de novembro.


… Alcolumbre, que queria Rodrigo Pacheco para a vaga de Barroso no STF, não se conforma de ter sido preterido, e tem dito a interlocutores que Messias não tem os votos para ser aprovado, e que vai “mostrar ao governo o que é não ter o presidente do Senado como aliado”.


LULA – Em pronunciamento no domingo à noite, em rede nacional de televisão, o presidente afirmou que a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, e descontos graduais para a faixa de até R$ 7.350, “é a maior conquista do seu terceiro mandato”.


… A um ano das eleições, ele disse que a mudança no IR vai injetar R$ 28 bilhões na economia em 2026, chamou a isenção de “quase um 14º salário” e sugeriu que os beneficiados comprem uma TV nova para ver a Copa do Mundo.


… A reforma do IR era uma promessa de campanha do presidente Lula e é uma das principais apostas para sua reeleição em 2026.


A SEGUNDA ONDA – Mal o Ibovespa atravessou um curto período de realização moderada de lucro e já embarcou em uma nova temporada de picos históricos, impulsionado pelo otimismo em Nova York com os cortes do Fed.


… Com recorde duplo, o índice à vista da bolsa doméstica superou os 159 mil pontos no pregão da sexta-feira.


… Com alta de 0,45%, fechou aos 159.072,13 pontos. Na máxima intraday, investiu aos 159.689,03 pontos, sugerindo uma ofensiva aos 160 mil pontos. No Valor, estrategistas e gestores avaliam que há espaço para ir mais longe.


… Um profissional não descarta um rali até os 165 mil pontos entre este final de ano e o início de 2026, bancado desta vez por investidores locais, que ainda não entraram na festa promovida na bolsa pelos estrangeiros.


… Apesar do meio-feriado nos Estados Unidos na sexta-feira, o mercado doméstico exibiu boa liquidez: R$ 25 bi.


… O mês virou com ganho acumulado de 6,37% do Ibovespa em novembro, melhor desempenho desde agosto (+6,54%). No ano, o índice à vista registra valorização superior a 30%, dando a medida do bom momento da bolsa.


… O anúncio de dividendos bilionários repercutiu bem no último pregão para a Vale (+1,61%; R$ 67,40) e o Itaú (+2,28%; R$ 41,64). Destaque também para Bradesco PN (+0,87%, a R$ 19,65) e BB ON (+1,40%, a R$ 22,47).


… Já frustrado pelo plano estratégico de negócios da Petrobras para os próximos cinco anos e pelo cenário difícil traçado pela companhia para o petróleo ano que vem, o mercado derrubou os papéis da petrolífera na sexta-feira.


… Com o terceiro maior peso da carteira teórica do Ibovespa, ON perdeu 2,45%, a R$ 33,38; e PN -1,88%, a R$ 31,79. O barril do Brent não ajudou, em baixa de 0,77%, a US$ 62,38, com o acordo entre a Rússia-Ucrânia no radar.


… O mercado aguarda a oferta direta que o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, fará para Putin esta semana.


… No ranking negativo do Ibovespa, os papéis do Assaí levaram um tombo de 6,06% e fecharam valendo R$ 9,45, depois de o Brazil Journal ter noticiado que a família Muffato montou uma posição de 10% na companhia varejista.


PORTA DE ENTRADA – Do mesmo jeito que o mercado especula até onde a bolsa pode ir no curto prazo, também lança apostas sobre as chances de o dólar voltar a furar os R$ 5,30, surfando no fluxo positivo de capital externo.


… No último pregão do mês, a moeda americana caiu 0,32%, cotada a R$ 5,3348, acumulando queda de 0,85% em novembro e de quase 14% neste ano marcado pelo diferencial de juro (carry trade) muito vantajoso ao Brasil.


… O Fed se vê em córner para relaxar a política monetária este mês e, de outro lado, não há o que faça Galípolo abrir mão de seu tom superconservador, esvaziando as esperanças de um corte antecipado (janeiro) da taxa Selic.


… A curva a termo dos juros futuros ainda provoca o BC e mantém elevada, em quase 75%, a chance de o juro cair na primeira reunião de 2026. Mas o fôlego destas apostas continua sendo testado pelo Copom e pelos indicadores.


… Dados da Pnad reforçaram que o ritmo do mercado de trabalho segue aquecido, apesar da Selic lá em cima. Após passar 3 meses em 5,6%, a taxa de desemprego atingiu em outubro (5,4%) um novo patamar mínimo recorde.


… A força da mão de obra e a cautela explícita de Galípolo impediram o DI curto de aproveitar a melhora do câmbio.


… No fechamento, o contrato de juro para Jan/27 subiu a 13,590% (de 13,537% no pregão anterior); e Jan/29, a 12,740% (12,710%). Já a ponta longa exibiu viés de queda: Jan/31, 12,990% (12,996%); e Jan/33, 13,155% (13,174%).


ESTÁ DADO? – Entre os Treasuries, as taxas realizaram lucro e avançaram, mas o mercado segue convencido do Fed dovish. O yield da Note-2 anos subiu a 3,493%, de 3,475% antes do feriado, e de 10 anos foi a 4,014%, de 3,991%.


… No câmbio, o índice DXY caiu 0,11%, a 99,459 pontos, e fechou a semana com a maior queda (-0,72%) desde julho, apostando firme que o desaperto do Fed vem aí. Na Europa, Lagarde (BCE) disse que o juro está “adequado”.


… O euro (+0,04%), a US$ 1,1601, e a libra (+0,06%), a US$ 1,3243, tiveram alta marginal. O iene subiu a 156,10/US$.


… No sábado, em nova advertência verbal contra a volatilidade do iene, a ministra das Finanças do Japão, Satsuki Katayama, afirmou que “está claro” que a moeda japonesa não está se movendo com base em fundamentos.


… Em Nova York, onde os mercados operaram em horários reduzidos na Black Friday, o S&P subiu 0,59%, aos 6.849,09 pontos; o Nasdaq avançou 0,65%, aos 6.849,09 pontos; e o Dow Jones ganhou 0,61%, a 47.716,42 pontos.


… Em novembro, os índices acionários acumularam ganhos, com exceção do Nasdaq, que perdeu 1,5% com o medo da bolha das techs. O S&P 500 avançou 0,12% em novembro e o índice da Nyse, +0,32%.


CIAS ABERTAS NO AFTER – O conselho de administração do BRB decidiu que pedirá à Justiça para atuar agora como assistente de acusação no processo relacionado à operação com o Banco Master, de Daniel Vorcaro. (Folha)


AZUL apresentou Ebitda ajustado de R$ 716,4 milhões em outubro, segundo informações mensais preliminares entregues pela empresa à Corte de Falência de Nova York, no âmbito da recuperação judicial…


… Companhia teve receita líquida de R$ 1,9 bilhão no mês; resultado operacional totalizou R$ 484,4 milhões e margem operacional ficou em 25,5%…


… Resultados foram ajustados por itens não recorrentes relacionados à reestruturação da empresa…


… Companhia ainda apurou um valor de cerca de R$ 1,85 bilhão em caixa, equivalentes de caixa e aplicações financeiras de curto prazo ao final de setembro; já as contas a receber somaram cerca de R$ 2,82 bilhões.


OI informou que recebeu a liberação de R$ 517,4 milhões que estavam depositados em uma conta vinculada (“escrow”) junto ao banco Bradesco, em benefício da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)…


… Valor tem origem em acordo celebrado no âmbito do processo administrativo em trâmite perante o TCU, no qual Oi e Anatel pactuaram a previsão de liberação de valores depositados em ação judicial relacionada ao Fust…


… Liberação foi autorizada por decisão judicial no processo de recuperação da companhia, confirmada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.


WEG aprovou a distribuição de dividendos complementares e JCP no valor total de R$ 1,9 bilhão…


… Serão pagos dividendos complementares no valor de R$ 1,433 bilhão, correspondentes a R$ 0,3417 por ação, com pagamento em 12 de dezembro…


… Além disso, a empresa distribuirá JCP no valor total de R$ 466,96 milhões, equivalente a R$ 0,1112 por ação, com pagamento também em 12 de dezembro…


… Conselho de Administração também decidiu antecipar para 12 de dezembro o pagamento de JCP anunciado em 23 de setembro, que estava originalmente previsto para 11 de março de 2026…


… Adicionalmente, decidiu convocar AGE para o dia 19 de dezembro para apreciação de proposta para pagamento de dividendos calculados sobre saldo das reservas de lucros, no valor de R$ 5,19 bilhões.


AMERICANAS. Conselho de Administração elegeu Sebastien Durchon para os cargos de diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, com mandato que se inicia em 1º de dezembro…


… Adicionalmente, Camille Loyo Faria, atual ocupante do posto, permanecerá assessorando a Americanas em temas relacionados à recuperação judicial, entre outros assuntos. 


ENERGISA. Conselho de Administração da controlada Rede Energia aprovou a convocação de uma assembleia geral extraordinária (AGE) para deliberar, dentre outros assuntos, sobre a incorporação da Rede Power…


… Adicionalmente, a assembleia tratará do aumento de capital da Rede Energia no valor de R$ 2,344 bilhões.

domingo, 30 de novembro de 2025

Nuremberg

 Bruno Astuto

O que esperar de 'Nuremberg', filme com estreia prevista para fevereiro no Brasil

'O desafio não era entender as doenças dos réus, mas sua normalidade'

30/11/2025 04h31  


"Nuremberg”, que tem estreia prevista para fevereiro no Brasil, volta a colocar no centro do debate um tema que sempre assombra a Humanidade: o esforço de explicar o mal. O filme, estrelado por Russell Crowe e Rami Malek, é baseado no livro “O nazista e o psiquiatra,” de Jack El-Hai, e acompanha o capitão e psiquiatra americano Douglas Kelley (Malek) encarregado de avaliar a sanidade mental de 22 oficiais nazistas capturados logo após o fim da Segunda Guerra. Um deles era Hermann Göring (Crowe), talvez o mais sedutor, vaidoso e manipulador entre os homens do alto escalão do Terceiro Reich. Kelley tentou descobrir se havia uma anomalia, um traço clínico, um sinal neurológico que explicassem tamanha crueldade. E, para seu próprio horror, a resposta foi não. Os réus de Nuremberg, do ponto de vista psiquiátrico, eram “comuns”, fanáticos, racionais, ambiciosos, eficientes. Pessoas capazes de amar os filhos ao mesmo tempo em que assinavam ordens que matavam os filhos dos outros.


É justamente essa normalidade que torna “Nuremberg” tão perturbador. O tribunal não mostrou monstros biológicos, mas monstros morais, homens que fizeram escolhas conscientes e se beneficiaram delas. Não havia doença que justificasse aquele projeto de extermínio. Havia método. Havia cálculo. Havia adesão. E talvez por isso tenha me chamado tanta atenção o documentário exibido recentemente no canal britânico Channel 4, “Hitler’s DNA: Blueprint for a Dictator” (O DNA de Hitler: o mapa genético de um ditador). Ele tenta insistir no caminho que Kelley já provara ineficiente: explicar o mal por exames.


O programa apresenta resultados genéticos obtidos a partir de um suposto fragmento de sangue sobre o sofá em que Hitler se suicidou em 1945, um material cuja autenticidade nunca foi comprovada historicamente. Mesmo assim, sob a direção da geneticista Turi King, da Universidade de Bath, do Reino Unido, esse DNA atribuído ao ditador foi sequenciado e analisado como se fosse um material indiscutível. A partir daí, veio o malabarismo metodológico criticado por especialistas, o de transformar dados de ancestralidade e predisposição populacional em diagnósticos retrospectivos individuais. Tudo apareceu no laudo televisivo: predisposição ao autismo, esquizofrenia, transtorno bipolar, uma salada neurodivergente servida como explicação para a origem do mal.


Então volto ao trabalho minucioso do psiquiatra que conviveu com os homens que realmente tomaram as decisões. Kelley disse que o desafio em Nuremberg não era entender as supostas doenças dos réus, mas sua normalidade. Ali ele não encontrou danos cerebrais, traços patológicos ou síndromes raras, mas convicção, estratégia, frieza, escolhas. E é nesse ponto que o documentário e o filme se chocam. Enquanto o primeiro tenta colocar a responsabilidade no laboratório, o filme — e os fatos — a colocam onde ela sempre esteve: na ação humana.


Sei que a palavra “maldade” soa quase antiquada em tempos que celebram vulnerabilidades como se fossem medalhas espirituais, que transformam traumas em passaportes morais e pedem compreensão infinita para tudo. Sei que é dever da História e da Ciência apresentar nuances. Mas oferecer novos pontos de vista não significa distribuir desculpas. Se não houve doença, houve liberdade. Se houve liberdade, houve culpa. Portanto, responsabilidade e crime.


E mais: se o ditador era prisioneiro das próprias síndromes, qual era a síndrome dos milhões que o seguiram? Que anomalia genética explica a multidão que marchou, denunciou, participou, aplaudiu, colaborou?


Nada disso pede laudo. Exige memória.


Porque o mal não se espalha por mutação; ele se espalha por adesão.

Woody Allen 90

 Quem está ao lado de Woody Allen no seu aniversário de 90 anos?


INÁCIO ARAUJO


Às vésperas dos 90 anos que Woody Allen completa neste domingo (30), é quase impossível não indagar como será a comemoração. Viver 90 anos é sempre uma glória, quanto mais para alguém que proclamou publicamente seu medo da morte. Ou por outra, que disse textualmente: "Não tenho nada contra a morte. Só quero não estar presente quando ela chegar." Um desses oximoros que fizeram a sua fama, sem dúvida.


O problema que se impõe hoje é outro. Quem estará a seu lado no dia dos seus 90 anos? Sua imagem foi seriamente manchada desde que sua enteada, Dylan, o acusou de tê-la abusado sexualmente. A discussão sobre o caso durou décadas, tanto a jurídica como a midiática. Seria verdade ou a jovem teria sido influenciada por sua mãe, Mia Farrow, ex-mulher de Allen?


Em tempos de MeToo, ele foi cancelado. Atores que tiveram belos momentos trabalhando com ele, como Michael Caine, acharam melhor se afastar. Atrizes, idem. As que ficaram com ele, sobretudo Scarlett Johnasson, não foram bem-vistas. Falavam de sua relação profissional com o cineasta e comediante. Nunca foram incomodadas por ele.


Com Diane Keaton era um pouco diferente —nem valia a pena criticá-la. Viveu com Woody Allen, fez oito filmes com ele, e basta ver o que ele disse quando ela morreu. Por exemplo, ele não se importava nada, nada mesmo, com o que pudessem dizer de seus filmes. Só o que Keaton dissesse contava.


O escândalo arrefeceu, mas não quer dizer que não volte agora, nos seus 90 anos. Sempre haverá quem se lembre de um filme, "Manhattan", em que um homem maduro —ele mesmo— se apaixona loucamente por uma adolescente. E essa história Allen viveu ao menos uma vez na vida real, com Kristine Engelhardt, então uma jovem de 16 anos. O namoro inspirou o filme.


Nos Estados Unidos dos puritanos do Mayflower, isso seria por si um escândalo. Engelhardt, já senhora, disse que com Allen tudo bem, não se arrependia de ter estado com ele, que não lhe fez mal nenhum, foi muito bom.


A favor dele, contava apenas, a rigor, o fato de Mia Farrow também não ser um primor de equilíbrio. Tanto que, no meio da polêmica, passou a dizer que Ronan, filho dela e de Allen, talvez não fosse filho dele, mas de Frank Sinatra, de quem se divorciou em 1968, mas com quem continuou a manter um caso amoroso. "Caso clandestino", como pontuou o cineasta.


Isso não impediu que ele fosse cancelado. Várias decisões judiciais contrárias não ajudaram o seu caso. O problema, porém, não para aí. Porque é muito mais difícil cancelar uma obra que o coloca entre os grandes comediantes do século 20 do que cancelar, digamos, Harvey Weinstein, o produtor.


O que fazer com tudo o que Allen produziu de relevante nesta vida? Jogar ao mar? É o mesmo que jogar fora boa parte da inteligência americana, do humor judaico, do mito de Manhattan, apenas para começar.


Com comédias, dramas ou comédias dramáticas, Allen foi quem melhor esquadrinhou a complexidade da vida sexual e amorosa —nesta ordem— nas grandes cidades da segunda metade do século passado. Anotou, compreendeu, mas também soube rir da adesão, muitas vezes apenas fingida, às modas intelectuais que se sucediam na época.


Naquele momento, ao contrário de hoje, o movimento era de libertação da sexualidade, com tudo o que isso pode trazer de prazer ou desgosto. Os tempos são outros, não há dúvida. Ainda assim, há algo de irônico no fato de que, ao longo da vida, Allen nunca foi um personagem controverso.


Desde os tempos que escrevia para a TV, nos anos 1950, seu humor já se destacava. Outro comediante célebre, Mel Brooks, lembra que já na época o teor cômico dos dois já era diferente. Allen dava um tiro só, sempre na mosca, lembrou Brooks, enquanto o humor dele mesmo seria do tipo "chumbo grosso" —atirava para todo lado e uma das balas havia de chegar ao alvo.


O primeiro filme Allen que escreveu, "O Que É Que Há, Gatinha?", de 1964, de certo modo confirma essa ideia. Mas o filme era de Peter Sellers e Peter O’Toole e de uma série de atrizes ilustres, a começar por Romy Schneider, sem contar o diretor, Clive Donner. Mas ali ele já introduzia um objeto-chave de sua escrita —a psicanálise.


A história posterior dos dois no cinema confirma essa ideia. Desde "Um Assaltante Bem Trapalhão" (1969), sua primeira direção, Allen impôs o tipo do judeu fraco, feio, esforçado, perseguido e, ainda assim, capaz de ser bem-sucedido.


No filme seguinte, "Sonhos de um Sedutor" (1970), seu primeiro trabalho com Diane Keaton, foi apenas roteirista e ator, mas já o ator principal —trapalhão, sem dúvida, mas também trazia ali o característico traço autoirônico. Em "O Dorminhoco" (1973), como em "A Última Noite de Boris Gruchenko" (1975), entre outros, Keaton já estava de novo ao lado de Allen. O título original do filme seria "Amor e Morte" —os dois temas que mais inquietaram o cineasta ao longo dos anos.


Desses trabalhos nasceu a parceria, a amizade e mesmo o amor entre ambos. A química entre eles pareceu absolutamente perfeita em "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", de 1977, onde Allen atingiu um dos pontos altos de seu humor em parte pela maneira discretamente sarcástica como olhava para a gente culta e um tanto esnobe de Nova York, que a ele nem sempre parecia tão culta quanto apregoava. Essa comédia dramática —se assim é possível definir— recebeu quatro troféus no Oscar, sendo três para ele —filme, roteiro, direção— e um para Keaton —melhor atriz.


Pouco depois, com "Interiores", de 1979, começa a fase, digamos, bergmaniana de Allen. Mesmo que houvesse alternâncias com filmes menos pesados, demorou um tanto para o cineasta atingir um equilíbrio entre a aproximação com os temas de Ingmar Bergman e a sua própria maneira bem menos grave de estar no mundo. É possível que o equilíbrio entre o que Allen era e o que gostaria de ser tenha sido atingido no belo "Hannah e Suas Irmãs", de 1986.


Quanto ao sexo, ninguém se preocupou em 1979 quando "Manhattan" abordou a paixão fulminante de um homem maduro por uma adolescente. Ao contrário, a publicidade logo mitificou Mariel Hemingway, a neta do escritor Ernest Hemingway. O tempo acabou demonstrando que tantos os publicitários como Allen haviam errado —Mariel não era uma atriz muito talentosa.


Os filmes bem-sucedidos não pararam. Eram quase sempre provocativos no setor vida amorosa, e nele a fluência verbal fazia lembrar Groucho Marx, que se articulava a uma mímica muito pessoal, em que euforia, depressão, mau jeito e sedução se acumulavam.


E inteligência, também. Assim vieram "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985), "A Era do Rádio" (1987), "Tiros na Broadway" (1994), "Meia-Noite em Paris" (2012), entre outros. Ora existe evocação do passado, ora dos mistérios da criação. Ora mesmo, como em "Zelig" (1983), da capacidade de adaptação às situações que se apresentam.


E, diga-se, Allen soube adaptar-se como um mestre ao tiroteio que veio no momento em que chegava ao fim o relacionamento com Mia Farrow e ele se preparava para casar com sua enteada (adolescente) Soon-Yi Previn. Tudo começa em 1992. Vários processos judiciais ainda aconteceriam, Allen ainda ganharia um Oscar de roteiro original por "Meia-Noite em Paris" e um Globo de Ouro honorário em 2014.


"Blue Jasmine", em 2013, já traz um quê sombrio e evoca o teatro de Tennessee Williams, com mais humor. O sombrio se manifestaria plenamente em "Roda Gigante", de 2017. Daí por diante, não havia Zelig capaz de contornar os processos perdidos, os cancelamentos, a impossibilidade de produzir.


Não importa que suas atrizes se recusassem, de modo geral, a dizer uma palavra contra ele. As portas fecharam-se. Mesmo a Amazon, que produzira "Um Dia de Chuva em Nova York" (2019), decidiu não distribuir o filme e cancelou um contrato para mais quatro filmes com Allen.


Atropelado pelo MeToo nos Estados Unidos, restou-lhe a Europa, a França em especial, que sempre o acolheu, e onde filmou o estranho "Golpe de Sorte", de 2023, onde aplica em Paris o espírito de Nova York. Tem humor, mas Paris não é Nova York, como aliás lembrou Caetano Veloso em um belo samba —o humor saiu chocho, melancólico.


Com tudo isso, o certo é que Woody Allen chega aos 90 anos sem brilhos e bolhas, firme no casamento com Soon-Yi, com uma bagagem invejável no cinema e na literatura e com o peso da acusação de assédio sexual sempre sobre sua cabeça.


Ele pode dizer que não merecia isso, como Gene Hackman em "Os Imperdoáveis". Mas o outro pistoleiro do filme, vivido por Clint Eastwood, respondia na lata: "Merecer não tem nada a ver com isso." E bam!


Onde ver os principais filmes de Woody Allen no streaming


Bananas (1971)

Onde ver: Disponível no Prime Video


Tudo o que Você Sempre Quis Saber sobre Sexo, Mas Tinha Medo de Perguntar (1975)

Onde ver: Disponível no Prime Video


Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Onde ver: Disponível no Prime Video e no Oldflix


Manhattan (1979)

Onde ver: Disponível para aluguel nas plataformas digitais


A Rosa Púrpura do Cairo (1985)

Onde ver: Disponível no Prime Video


Hannah e Suas Irmãs (1986)

Onde ver: Disponível no Prime Video


A Era do Rádio (1987)

Onde ver: Disponível no Prime Video


Match Point (2005)

Onde ver: Disponível no Prime Video


Scoop: O Grande Furo (2006)

Onde ver: Disponível no Prime Video


Tudo Pode Dar Certo (2009)

Onde ver: Disponível no Prime Video


Meia-Noite em Paris (2011)

Onde ver: Disponível para aluguel nas plataformas digitais


Para Roma com Amor (2012)

Onde ver: Disponível para aluguel nas plataformas digitais e no canal Diamond Films+ do Prime Video


Blue Jasmine (2013)

Onde ver: Disponível no PlutoTV e para aluguel nas plataformas digitais


Magia ao Luar (2014)

Onde ver: Disponível no Prime Video


Homem Irracional (2015)

Onde ver: Disponível na Netflix


Um Dia de Chuva em Nova York (2019)

Onde ver: Disponível na Netflix


Golpe de Sorte em Paris (2023)

Onde ver: Disponível no Prime Video


Inácio Araujo

Crítico de cinema da Folha


Foto: O cineasta Woody Allen em foto de 2014 - Damon Winter - 9.jul.14 / The New York Times.


FSP 28.11.2025

BDM Matinal Riscala

 *Bom Dia Mercado.* Sexta Feira, 26 de Dezembro de 2.025. *Bolsonaro oficializa Flávio e mantém crise* ​ BC divulga nota de crédito de novem...