FÁBIO ALVES: COM OS ‘HAWKS’ SUMIDOS, É INEVITÁVEL OUTRO CORTE DE JUROS PELO FED?
Com o mercado precificando quase 90% de probabilidade de um corte de 0,25 ponto porcentual dos juros na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), na próxima quarta-feira, fica muito difícil pensar que o Federal Reserve (Fed) irá tentar surpreender os investidores ao manter a taxa básica inalterada na faixa de 3,75% e 4%. Isso porque nas últimas duas semanas, os dirigentes mais “dove” do Fed foram para o contra-ataque, verbalizando o apoio para um corte de juros já nesta reunião de dezembro do Fomc. Por outro lado, os dirigentes da ala “hawk”, que vinham fazendo barulho em favor de uma pausa no ciclo de corte de juros, ficaram calados e ausentes nas últimas duas semanas, sem desautorizar o movimento daqueles que começaram a advogar em favor da continuidade do afrouxamento monetário pelo Fomc em dezembro. E essa ofensiva fez efeito, empurrando a precificação de um corte de volta como a esmagadora probabilidade na curva de juros. Foi mais o efeito do “Fedspeak” do que propriamente os dados recentes de atividade. Como pretexto, o mercado agarrou-se ao fato de que a taxa de desemprego subiu para 4% em setembro, conforme o último relatório do mercado de trabalho (“payroll”) que foi divulgado pelo Bureau of Labor Statistic (BLS). Entre os dirigentes do Fed que estão em campanha jogando seu apoio a um corte de juros em dezembro estão: os diretores Stephen Miran e Christopher Waller; a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly; o presidente do Fed de Nova York, John Williams; e a vice-presidente de Supervisão do Fed, Michelle Bowman. Já na ala “hawk”, estão: os presidentes distritais do Fed de Boston, Susan Collins; de Kansas City, Jeffrey Schmid; de St. Louis, Alberto Musalem; e de Chicago, Austan Goolsbee. É importante destacar que, desde as suas declarações na entrevista coletiva a jornalistas, após a decisão do Fomc de outubro, quando disse que um corte em dezembro não era “uma conclusão inevitável”, o presidente do Fed, Jerome Powell, não se posicionou tão claramente sobre em qual lado se encontra no racha do Fomc: se apoia um novo corte de juros ou se votará a favor da manutenção da taxa. “Acredito que os diretores [Michael] Barr, [Lisa] Cook e [Philip] Jefferson votariam em linha com Powell, que não declarou sua visão claramente sobre [a reunião] de dezembro”, diz o economista para EUA do banco JPMorgan, Michael Feroli, em nota a clientes. Feroli voltou a colocar um corte de 0,25 ponto de juros no seu “call” oficial para a decisão do Fomc da próxima semana, diante da ausência de “pushback” (oposição ou rejeição) da ala mais “hawkish” do Comitê. É muito provável que os dados de atividade e as pesquisas de sondagem de sentimento nos Estados Unidos com divulgação prevista nesta semana não acabem mudando muito o patamar de precificação do mercado em relação ao desfecho do Fomc na semana que vem. Como o foco das declarações dos dirigentes do campo “dove”, a favor de um corte de juros em dezembro, tem sido a preocupação com o mercado de trabalho, os únicos dados que eles terão para se guiar serão a criação de vagas no setor privado (elaborado pela ADP), que sai logo mais, e os números de pedidos de auxílio-desemprego, que serão divulgados amanhã. A questão que fica é: por que os dirigentes “hawkish” cruzaram os braços e ficaram calados assistindo aos seus colegas da ala “dove” guiar as expectativas do mercado para uma precificação quase irresistível de um corte de juros na semana que vem? Teriam todos eles chegado a um acordo velado sobre a decisão do Fomc na semana que vem? E com a anuência tácita de Powell? Saberemos essas respostas em breve. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista da Broadcast
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