*Abertura: dados de emprego e da indústria dos EUA ajustam apostas para Fed*
São Paulo, 03/12/2025
Por Luciana Xavier e Silvana Rocha*
OVERVIEW. O relatório ADP de empregos no setor privado e a produção industrial de setembro dos Estados Unidos concentram as atenções a uma semana da decisão sobre juros do Federal Reserve. São esperados ainda os índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) composto e de serviços no Brasil e nos EUA. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, testemunha no Comitê de Assuntos Econômicos e Monetários do Parlamento Europeu.
NO EXTERIOR. O sinal positivo prevalece nas bolsas antes dos indicadores americanos que devem ajustar as apostas para a política monetária, com decisão do Fed na próxima quarta-feira. A União Europeia acaba de anunciar um acordo histórico para proibir importação de gás russo a partir de 2027. O euro e a libra aceleraram ante o dólar após os PMIs da Europa de novembro. O PMI de serviços da zona do euro superou a previsão, o do Reino Unido caiu menos que o previsto e o da Alemanha desacelerou, mas todos mostram expansão da atividade. O PMI de serviços da China caiu e aponta que a atividade segue em ritmo fraco, diz a Capital Economics. O petróleo sobe após uma reunião entre Rússia e enviados americanos terminar sem acordo para o fim da guerra na Ucrânia. A rupia indiana rompeu o patamar de 90 por dólar pela primeira vez, em meio a atrasos na conclusão de um acordo comercial com os EUA. Em evento ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, se referiu ao assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, como presidente do Fed "em potencial".
POR AQUI. Com a agenda local esvaziada os olhares ficam nos dados dos EUA e o tom positivo das bolsas pode ajudar o Ibovespa. Além disso, a conversa por telefone ontem entre os presidentes Lula e Trump tende a ser bem recebida pelos mercados. Trump disse que eles tiveram uma conversa "muito produtiva" e que "gosta" do presidente Lula. Segundo Trump, foi conversado também que os dois países "poderiam trabalhar juntos para combater o crime organizado" e "sanções impostas a vários dignitários brasileiros". Trump disse estar "ansioso" para ver Lula em breve. O presidente Lula teria dito ao americano que o Brasil espera uma saída diplomática e política para o contencioso entre Washington e Caracas o mais rápido possível. O Senado marcou para quinta-feira a sessão conjunta do Congresso para votação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026. Ao mesmo tempo, o mercado também segue atento aos ruídos entre o Planalto e o Congresso.
NA POLÍTICA.O mercado segue atento a uma nova data para a sabatina do advogado-geral da União, Jorge Messias, indicado para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal após a que estava marcada para 10 de dezembro ter sido cancelada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), alegando uma omissão "grave e sem precedente" do governo ao não enviar as informações que compõem a mensagem da indicação. O PL suspendeu as negociações com uma aliança com o ex-presidenciável Ciro Gomes no Ceará após uma reunião convocada para colocar panos quentes na briga pública entre a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e os enteados Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro. Antes disso, Michelle pediu desculpas aos enteados por ter rejeitado a articulação para apoio a Ciro no Ceará.
AGENDA.
PMIS E RELATÓRIO ADP NOS EUA - As atenções nesta quarta-feira ficam a agenda dos EUA, com o relatório ADP de empregos no setor privado (10h15) e a produção industrial de setembro (11h15). A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, testemunha no Comitê de Assuntos Econômicos e Monetários do Parlamento Europeu (10h30). São esperados ainda os índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) composto e de serviços no Brasil (10h) e nos EUA (11h45 e 12h).
O QUE SABEMOS.
CORREIOS - O Tesouro Nacional recusou aval a um empréstimo de R$ 20 bilhões aos Correios após bancos oferecerem juros de 136% do CDI, acima do teto de 120% fixado pelo Comitê de Garantias. Com a Selic a 15%, a taxa chegaria a 20,4% ao ano, vista pelo governo como excessiva para uma operação com garantia da União. A decisão trava a negociação enquanto os Correios enfrentam crise severa, com prejuízo de R$ 6,05 bilhões até setembro. O empréstimo seria usado para quitar dívidas, pagar fornecedores, financiar um PDV e investir para recuperar receitas.
EM TESE: A decisão do Tesouro deve ser bem recebida, pois indica disciplina e defesa das garantias da União, evitando operações consideradas caras e arriscadas, mas pode ter pouco efeito nos ativos financeiros. O relator do PLDO de 2026, Gervásio Maia, vai manter o contingenciamento pelo limite inferior da meta e diz não haver pedido para alterar a meta das estatais por causa dos Correios. A Warren avalia que o empréstimo aos Correios elevaria o risco fiscal e defende vender ativos e preservar só serviços essenciais. Analistas alertam que o socorro à estatal pode gerar desgaste ao presidente Lula se a crise se aprofundar, com impacto eleitoral dependente do desfecho e da narrativa em 2026.
OVERNIGHT.
INSS - O presidente Lula afirmou que 3,9 milhões de aposentados já receberam de volta R$ 2,6 bilhões descontados indevidamente por associações envolvidas em fraude no INSS. Ele cobrou punição aos responsáveis. A devolução refere-se a descontos não autorizados feitos entre 2019 e 2024, hoje investigados pela PF.
LICENCIAMENTO AMBIENTAL - A Câmara aprovou a MP 1308, que cria o Licenciamento Ambiental Especial para projetos “estratégicos”, mantendo o modelo trifásico e exigindo EIA/Rima. O Conselho de Governo definirá os empreendimentos abrangidos. A MP inclui obras de rodovias estratégicas e garante assessoria técnica independente a comunidades. Também amplia restrições ao uso da LAC, vedando-a em casos como mineração, supressão relevante de vegetação, remoção de populações, áreas indígenas e regiões de risco. O Greenpeace criticou a aprovação “a toque de caixa” e classificou o LAE como perigoso e favorável a interesses privados.
MASTER - O colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) rejeitou propostas de acordo que somavam R$ 21,3 milhões feitas por Banco Master, Viking Participações, Daniel Vorcaro, Entre Investimentos e seu diretor Antônio Carlos Freixo Junior. A Entre destacou que o caso ainda não teve decisão de mérito. Auditoria do TJ-AM apontou que o fundo de pensão do Amazonas violou regras internas ao investir R$ 50 milhões em letras financeiras do Banco Master. Já o BRB contratou o escritório Machado Meyer para investigação independente ligada à Operação Compliance Zero, que apura fraudes envolvendo o Banco Master.
AÇÚCAR - A Jalles Machado fechou contrato com o BNDES para acessar crédito de US$ 200 milhões do Programa BNDES Brasil Soberano Crédito Emergencial, anunciou a companhia nesta terça-feira em comunicado. Esse crédito emergencial tem como objetivo apoiar empresas exportadoras de bens que foram diretamente afetadas pela imposição de tarifas adicionais pelos Estados Unidos. Segundo a Jales, os recursos serão destinados à produção e exportação de açúcar orgânico. O empréstimo tem juros de 3,53% ao ano e prazo de carência de 12 meses, disse a Jalles.
IRB - O Colegiado da CVM aceitou o acordo, no total de R$ 3,5 milhões, proposto por sete ex-conselheiros do IRB, para encerrar processo sancionador relacionado a falhas no dever de diligência, especialmente quanto aos atos praticados pela diretoria no exercício social de 2019. Os executivos são Alexsandro Broedel Lopes, Marcos Bastos Rocha, Maria Elena Rocha, Pedro Duarte Guimarães, Roberto Dagnoni, Vinicius José de Almeida Albernaz e Werner Romera Süffert, que deverão pagar R$ 500 mil cada.
FENABRAVE - As vendas de veículos caíram 5,9% em novembro ante 2024, maior queda interanual em 3,5 anos, para 238,6 mil unidades. Na margem, houve recuo de 8,5% por efeito de calendário. No ano, o mercado cresce só 1,4%, abaixo da previsão da Fenabrave (2,6% para 2025). As vendas de motos tiveram crescimento de 22,8% na comparação com novembro de 2024. No total, 180,6 mil motocicletas foram comercializadas, conforme balanço da Fenabrave, a associação que representa as concessionárias. Já as vendas de tratores tiveram crescimento de 13,1% em outubro, frente ao mesmo mês de 2024, somando 5 mil unidades. Na comparação com setembro, o número corresponde a uma queda de 17,4%.
PRIO - A Prio reportou que a produção total da companhia em novembro atingiu 138,819 mil barris de óleo equivalente por dia (boed), 54,95% a mais do que em outubro, quando a Prio atingiu 89,584 mil barris. A melhor performance foi a do campo de Frade, com 31,419 mil boed, seguido por Peregrino, com 84.125 mil boed.
J&F - A holding dos irmãos Wesley e Joesley Batista contratou o Citigroup para vender uma fatia minoritária da LHG Mining e busca um sócio estratégico "com conhecimento no setor", segundo fontes. Já há ofertas não vinculantes de grandes mineradoras, fundos de private equity, tradings e siderúrgicas, mas o processo restringe a participação a investidores estrangeiros. A conclusão é esperada no 1º trimestre de 2026.
OI - A Pimco afirmou à Justiça que sempre atuou apenas como gestora, sem controlar a Oi, após ter virado sua maior acionista via conversão de dívidas. A manifestação ocorre após a falência decretada e revertida da operadora e da determinação do TJ para apurar a responsabilidade da gestora. A V.tal apontou a Pimco como corresponsável pela crise, e a firma teve contas bloqueadas. A Pimco diz que nunca deteve ações diretamente, que os fundos foram os acionistas e já venderam tudo, e pede que seja reconhecida sua ausência de responsabilidade.
MARVELL - As ações da empresa de semicondutores Marvell Technology subiam mais de 9% em Nova York, após o fabricante de chips apresentar um guidance dentro das estimativas dos analistas para o trimestre atual. Os papéis chegaram a cair 5% em reação inicial ao balanço.
ZONA DO EURO - O índice de preços ao produtor (PPI) da zona do euro caiu 0,5% na comparação anual de outubro, segundo a Eurostat. O resultado veio em linha com a previsão de analistas consultados pela FactSet. No confronto mensal, o PPI do bloco subiu 0,1% em outubro, também em linha com o consenso da FactSet.
JAPÃO - O PMI composto do Japão subiu de 51,5 para 52,0 em novembro, mantendo-se acima de 50 e indicando expansão. O PMI de serviços avançou de 53,1 para 53,2, também em território expansivo. Segundo Annabel Fiddes, da S&P Global, a alta do setor de serviços continua compensando a leve queda da produção industrial, sustentando a expansão moderada da atividade privada.
AUSTRÁLIA - O PIB da Austrália cresceu 2,1% na comparação anual, em linha com a previsão da FactSet. No terceiro trimestre, avançou 0,4% frente ao trimestre anterior. Segundo Grace Kim, do escritório de estatísticas do país (ABS), o resultado indica estabilidade, com a economia crescendo no mesmo ritmo da população.
COREIA DO SUL - O PIB da Coreia do Sul avançou 1,8% no terceiro trimestre, em comparação com igual trimestre de 2024, de acordo com leitura final do Banco da Coreia (BoK). O resultado veio acima da estimativa de analistas consultados pela FactSet, que previam alta de 1,7%. Na comparação trimestral, o avanço foi de 1,3%.
KREMLIN - Algumas propostas americanas para a resolução do conflito ucraniano, contidas em documentos previamente enviados a Moscou, suscitaram críticas do presidente russo, Vladimir Putin, mas ele concordou com algumas delas, afirmou o assessor presidencial Yuri Ushakov à Interfax.
E NOS MERCADOS.
FUTUROS DE NY - Os índices futuros das bolsas de Nova York operam em alta, com os investidores tentando resgatar um rali de Natal. Agenda do dia traz relatório ADP de vagas criadas no setor privado dos EUA, o que pode trazer ajuste nas expectativas de alívio monetário, já que o relatório do payroll só será divulgado no dia 12, após o encontro do BC americano. Uma reunião no Kremlin entre o presidente russo Vladimir Putin e enviados americanos terminou sem que se chegasse a um acordo para o fim da guerra na Ucrânia. Às 7h13, o futuro do Dow Jones subia 0,22% o do S&P 500 +0,19% e o do Nasdaq ganhava 0,14%.
BOLSAS DA EUROPA - A maioria das bolsas europeias sobe em meio à avaliação de que as negociações sobre a guerra na Ucrânia no Kremlin foram “construtivas”, embora sem avanços concretos. A União Europeia fecha "acordo histórico" para proibir importação de gás russo a partir de 2027. Ações da Merck e Rheinmetall subiam mais de 2% e lideravam o DAX em Frankfurt. Em Madri, a Inditex, dona das redes de vestuário Zara, Bershka e Oysho, avançava mais de 8% após fortes vendas no início do trimestre. Às 7h13, Londres caía 0,11%, enquanto Paris subia 0,23% e Frankfurt ganhava 0,29%. A bolsa de Madri ganhava 1,55%.
TREASURIES - Os juros dos Treasuries voltam a recuar na madrugada desta quarta-feira. Mercado assimila notícia de que o governo de Donald Trump cancelou uma série de entrevistas, previstas para esta semana, com finalistas ao cargo de próximo presidente do Federal Reserve (Fed), ao mesmo tempo em que o presidente voltou a sugerir já ter escolhido quem comandará o banco central americano, segundo o The Wall Street Journal. Falta de acordo para colocar fim na guerra da Ucrânia também está no radar. Na sessão, levantamento ADP de vagas no setor privado, índices de atividade medidos pelos gerentes de compra e produção industrial nos EUA podem render ajustes na curva dos Treasuries, enquanto mercado embute 87% de chance de alívio monetário pelo Fed na próxima semana, segundo a ferramenta FedWatch. Às 7h15, o juro da T-note de 2 anos cedia a 3,500% (de 3,514% no fim da tarde ontem), o rendimento da T-note de 10 anos tinha baixa a 4,083% (de 4,090%), enquanto o T-bond de 30 anos estava estável, a 4,747% (de 4,747%).
MOEDAS FORTES - O dólar recua ante o iene e principais pares europeus, em meio à notícia de que de que o governo de Donald Trump cancelou uma série de entrevistas, previstas para esta semana, com finalistas ao cargo de próximo presidente do Federal Reserve (Fed), ao mesmo tempo em que o presidente americano voltou a sugerir já ter escolhido quem comandará o banco central americano, segundo o The Wall Street Journal. Nome do conselheiro Kevin Hassett segue como o favorito para o posto. Às 7h16, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, tinha queda de 0,32%, a 99,03 pontos. O dólar cedia a 155,58 ienes (de 155,82 ienes), enquanto o euro subia a US$ 1,1659 (de US$ 1,1626) e a libra avançava a US$ 1,3287 (de US$ 1,3212).
PETRÓLEO - Os futuros do petróleo sobem após uma reunião no Kremlin entre o presidente russo Vladimir Putin e enviados americanos terminar sem acordo para o fim da guerra na Ucrânia. Mas as conversas foram "úteis" e "construtivas", disse um alto funcionário russo. Além disso, a União Europeia fechou "acordo histórico" para proibir importação de gás russo a partir de 2027. Às 7h16, o petróleo WTI para janeiro subia 1,59%, a US$ 59,57 o barril, negociado na New York Mercantile Exchange (Nymex). Já o Brent para fevereiro, negociado na Intercontinental Exchange de Londres (ICE), ganhava 1,35%, a US$ 63,29 o barril.
BOLSAS DA ÁSIA - As bolsas asiáticas fecharam mistas. Em Tóquio, o Nikkei subiu 1,1%, puxado por ações de semicondutores após o megadeal da Marvell com a Celestial AI, com destaque para os avanços de SCREEN e Lasertec. Em Seul, o Kospi ganhou 1% com o alívio tarifário anunciado pelos EUA, e a HD Hyundai avançou 5,3%. Em Hong Kong, o Hang Seng caiu 1,3%. Na China continental, o Xangai Composto recuou 0,50% e o Shenzhen Composto caiu 0,3%. A China National Uranium disparou 280% em sua estreia na Bolsa de Shenzhen. Em Taiwan, o Taiex subiu 0,8%. Em Sydney, o S&P/ASX 200 fechou em alta de 0,18%.
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