Amilton Aquino 1901

 Que semana, amigos! A semana do Nikolas. Para os governistas, a semana das fake news. Para qualquer pessoa normal, apenas mais uma semana que atesta a falta de credibilidade do governo, verdadeiro motivo do sucesso estrondoso do vídeo. Mais do que furar a bolha, o vídeo teve o mérito de mostrar que o rei está nu, que esse papinho de fake news já não cola e que, quanto mais o governo insiste nessa estratégia, mais expõe sua hipocrisia.


Mas o assunto fake news não ficou restrito ao caso do Nikolas. Já começamos a semana com a repercussão negativa do artigo do “iluministro” Barroso, que criticou o Estadão pelos editoriais corretos sobre a nefasta escalada autoritária do STF “em defesa da democracia”, baseada no inquérito sem fim das fake news. Esse foi o primeiro tiro no pé do consórcio Governo-STF-Globo sobre o tema. No artigo, o ministro tentou confundir sua figura com a instituição STF, chegando ao cúmulo de orgulhar-se de que o Brasil ostenta o maior grau de judicialização do mundo! 


Sim, ele disse isso. Ou seja, o ministro não percebe que nossa imensa judicialização é resultado direto da falta de segurança jurídica, fruto das interpretações convenientes que se sobrepõem ao texto constitucional. Um exemplo claro disso é a tentativa do grupo de advogados Prerrogativas (Prerrô, para os íntimos) de articular deputados para cassar Nikolas Ferreira por “desinformação”, ignorando completamente a imunidade parlamentar garantida por lei, inclusive para especulações sobre intenções do governo. 


Aliás, como sempre fez o PT. Na oposição, quando acusava o governo FHC dos mais variados absurdos; ou no governo, quando alarmava que a oposição no poder acabaria com o Bolsa Família, que os banqueiros aliados de Marina Silva iriam tirar o prato de comida dos pobres… Aí a fake news estava liberada. Como estava liberado o discurso de ódio que dividiu o país entre “nós e eles” desde que o PT chegou ao poder.


O segundo tiro no pé do consórcio veio da turma engajada da Globo, em polvorosa desde o anúncio de Zuckerberg de que substituirá seus checadores de cabelo azul pelas notas da comunidade, seguindo a bem-sucedida experiência do X. Otávio Guedes, por exemplo, tomou uma nota da comunidade ao afirmar, erroneamente, que seria necessário pagar para ser colaborador no sistema. Ou seja, mais um exemplo de alguém indignado com fake news... cometendo fake news.


Se já estava divertido acompanhar os ataques histéricos das “tias do zap” da Globonews (com suas “fontes inquestionáveis”) e as saias justas com Merval Pereira, que discordou além da conta de suas engajadas colegas, eis que chegamos à super quinta-feira.


Minha primeira surpresa do dia foi a bolsa de valores subindo quase 3%. Já sabia desde cedo que a inflação norte-americana, abaixo das expectativas, estava impulsionando as bolsas globais, mas o efeito aqui estava muito além do observado lá fora.


Procurei na imprensa alguma notícia de corte de gastos que justificasse tal otimismo, mas não havia absolutamente nada. Tudo parecia girar em torno do vídeo do Nikolas. Foi então que caiu a ficha: como na ocasião da cirurgia de Lula, risco para o governo = otimismo na bolsa. Bingo!


Agora, como explicar um vídeo que tem mais visualizações do que o número total da nossa população?


Primeiramente, o tom de Nikolas. Que o jovem deputado tem talento para se comunicar, ninguém duvida, mas, diferentemente de outras ocasiões em que aparece lacrando no estilo bolsonarista, desta vez ele estava sóbrio, concatenando bem as ideias e, assim, conseguiu furar bolhas.


E não, não há fake news ali. No máximo deduções lógicas sobre o que pode vir a ocorrer, conectando lé com cré. De um lado, a fome do governo por arrecadação. Do outro, sua dificuldade em reduzir gastos e dar o exemplo cortando na carne. E aqui, ao citar o gosto da primeira-dama pelos gastos excessivos (para dizer o mínimo), Nikolas marcou um golaço, expondo a hipocrisia de um governo que decretou sigilo de 100 anos nos gastos do cartão corporativo (quebrando mais uma promessa de campanha), enquanto coloca a Receita na cola da imensa parcela da população que se vira na informalidade.


Feito o estrago, as “tias do zap” da Globonews pioraram a defesa do indefensável. Como se não bastasse insistirem na tese de que o vídeo é fake news por especular sobre uma possível taxação do Pix (quando o verdadeiro fator de indignação da audiência foi o medo de cair na malha fina da Receita), uma jornalista engajada declarou: “Desacreditar políticas públicas é crime!”


Oi? Onde está escrito isso? Quem legislou sobre isso? Quando?


Claro que esse crime não existe. Caso contrário, ninguém poderia criticar qualquer governo. Simplesmente haveria democracia. E, mais uma vez, a jornalista tomou uma nota da comunidade. E como se não bastasse, Haddad repetiu a mesma afirmação, evidenciando a sintonia entre o ministro e a jornalista.


Por fim, vale registrar a completa ausência dos Bolsonaro sobre um tema que explodiu no colo do governo. A razão é simples: Nikolas desponta como um potencial candidato à Presidência no futuro. 


Do lado do governo, restou recuar. Mas o estrago já está feito, o que certamente se refletirá nas próximas pesquisas. Isso depois de, pela primeira vez desde que voltou à Presidência, Lula aparecer com mais reprovação do que aprovação.


Mas o mais importante saldo da semana: se interpretar corretamente o que aconteceu, o governo deve ter percebido que não pode mais insistir em equilibrar as contas focando apenas no aumento da receita. Em entrevista à CNN, Haddad não só admitiu a necessidade de novos cortes de gastos como também reconheceu que espera que o aumento dos juros cumpra seu papel de segurar a inflação, mesmo que isso implique desaceleração econômica.


Portanto, cai mais uma fake news governista: a de que “a única coisa errada no Brasil são os juros”. O presidente do BC agora é indicado do PT e, ao que tudo indica, os juros tendem a continuar altos. Enfim, a hipocrisia.

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