quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Álvaro Gribel

 O repórter Álvaro Gribel mata a charada. O que ele diz é óbvio, mas às vezes o óbvio precisa ser dito e repetido. No caso, o óbvio é que o governo do PT vive de puxadinhos para apagar incêndios, enquanto o grande problema estrutural brasileiro permanece intocado: a incapacidade de manter o Estado brasileiro nos limites da já brutal carga tributária de 33% do PIB.


Comecemos por aí. Nossa carga tributária está alinhada com a média da OCDE e é cerca de 10 pontos percentuais do PIB acima da média de países com renda/capita semelhante. Portanto, qualquer solução que envolva aumento líquido de impostos será recebida a pauladas, como ocorreu ontem na Câmara.


Gribel repete o mantra que tem dominado as discussões sobre o tema: o próximo governo precisará fazer “alguma coisa”. O problema dessa expectativa é que ESTE GOVERNO já deveria ter feito alguma coisa. E fez: aprovou uma PEC da gastança de quase R$ 200 bi, permitindo que navegasse os seus primeiros anos sem problemas. Quem garante que a “coisa” feita pelo próximo governo não seja uma outra PEC dessa natureza, empurrando a situação, mais uma vez, com a barriga?


Claro que tudo isso tem um custo. Não temos uma taxa de juros pornográfica à toa. O próximo governo deverá fazer “alguma coisa”. Se for do PT, já sabemos que continuará na base dos puxadinhos para tentar aumentar impostos, e a tarefa de enfrentar as distorções do Estado brasileiro ficará para o “próximo governo”.

Greta e a Suécia

 Greta Thunberg e as crianças perdidas da Suécia - Meu país natal é o produto mais puro dos ideais do pós-guerra da Europa: rico, seguro, secular — e espiritualmente falido.

( - Texto de Annika Hernroth-Rothstein para The Free Press ) / via TL do Adriano De Aquino


"Eu sou sueca. Historicamente, meu país é mais conhecido pelos móveis baratos da IKEA, por um jogador de tênis ocasional e, claro, pelo ABBA. Hoje, nossa exportação mais famosa é Greta Thunberg, uma adolescente ativista climática que se tornou ativista anti-Israel aos 22 anos.


Esta semana, Thunberg foi deportada de Israel juntamente com cerca de 170 outros ativistas pró-palestinos após — pela segunda vez — embarcar em uma flotilha com destino a Gaza. Ela pretendia explicitamente violar o bloqueio naval a Gaza, imposto por Israel em 2009 para impedir o Hamas de contrabandear armas para a região. Como tudo o que Thunberg faz, sua viagem a Gaza foi transmitida para o mundo todo, enquanto ela se precipitava para o inevitável e obviamente desejado confronto com o exército israelense.


Mas, como a maioria de nós sabe, ela não começou como uma ativista anti-Israel. Thunberg se tornou um nome conhecido em 2018, aos 15 anos, quando iniciou uma " greve escolar pelo clima ". Durante três semanas antes das eleições suecas, ela sentou-se do lado de fora do prédio do parlamento em Estocolmo, protestando por "ações urgentes sobre a crise climática". Seu movimento viralizou, inspirando ações semelhantes em todo o mundo e, em 2019, ela foi nomeada Personalidade do Ano pela revista Time . Uma jovem um tanto desajeitada, Thunberg foi aceita por muitos como uma espécie de consciência mundial — uma jovem que falava a verdade ao poder. Ela alcançou fama global ao contar aos seus adoradores seguidores as muitas maneiras pelas quais eles a haviam decepcionado.


Thunberg é um fenômeno. Mas, mais importante, ela é um estudo de caso do que deu errado na Suécia e no resto da Europa nas últimas décadas. Ela é uma criança perdida em um continente perdido, ambos em busca desesperada de um propósito.


Oitenta anos atrás, na esteira da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, grande parte da Europa estava fisicamente devastada. Com o início dos esforços de reconstrução, veio, paralelamente, um acerto de contas ideológico e filosófico. Como continente, a Europa se questionava sobre como o mal havia se instalado e como garantir que isso nunca mais acontecesse.


Como em qualquer autópsia, a busca pela causa definitiva da morte era por um vilão claro e concreto para culpar pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Aceitar que pessoas aparentemente normais, em circunstâncias extraordinárias, podem fazer coisas terríveis é fundamentalmente insatisfatório. Significa aceitar que existe o bem e o mal neste mundo, e em todos nós.

É por isso que a Europa decidiu que a vilã era a própria ideologia. A ideologia, construída sobre a crença religiosa e a identidade definida, levou à formação de Estados-nação, fronteiras e divisões entre lugares, pessoas e crenças. Isso, segundo a ideia do pós-guerra, foi o que causou o conflito. Pensadores como Hannah Arendt, Jean-Paul Sartre, Albert Einstein, Jacques Derrida e Michel Foucault descreveram o nacionalismo e o Estado-nação como perigos morais e políticos, defendendo o humanismo global e questionando a própria ideia de basear uma identidade compartilhada na crença religiosa e no sentimento nacionalista.


Líderes políticos da época seguiram o exemplo: o chanceler alemão Konrad Adenauer, o deputado europeu Altiero Spinelli e os políticos franceses Robert Schuman e Jean Monnet defenderam a ideia de substituir o nacionalismo por uma identidade pan-europeia, juntamente com um ethos econômico e cultural comum. E assim, um continente devastado pela guerra, recém-saído de um conflito global sobre fronteiras e identidade, decidiu abolir completamente as fronteiras e a identidade, presumindo que esse seria o caminho para uma paz duradoura.O primeiro passo foi dado em 1951, quando o Tratado de Paris criou a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) para integrar as indústrias de carvão e aço do continente em um único mercado, governado por organismos europeus compostos por representantes dos Estados-membros. Isso lançou as bases para a eventual criação da União Europeia em 1993, substituindo oficialmente as nações individuais por uma identidade comum, a União Europeia .


Os anos seguintes testemunharam a ascensão do Estado de bem-estar social-democrata em toda a Europa Ocidental, com uma forte corrente filosófica que enfatizava a responsabilidade coletiva, a solidariedade e a justiça social. No final da década de 1960, revoltas estudantis se espalharam pela Europa, mesclando anticapitalismo pós-colonial, anti-imperialismo, feminismo e humanismo.


Gradualmente, as gerações mais jovens substituíram as religiões identitárias do passado pelo ethos universalista do novo. E o continente começou então a se ver como um modelo para o resto do mundo: uma Europa sem fronteiras, sem mais nada pelo que lutar.


No papel, era o plano perfeito.


Mas então algo aconteceu: ela se deparou com a realidade. Como parte de sua rejeição à ideologia, a Europa rejeitou Deus. A separação entre Igreja e Estado tornou-se a norma; leis enraizadas na moral religiosa foram liberalizadas; a frequência e a educação religiosa ruíram; e a vida pública foi secularizada. À medida que a religião foi sendo extinta de nossas vidas, o humanismo e o universalismo foram oferecidos como troca, criando um vácuo de fé e significado — e vácuos, como sabemos, anseiam por ser preenchidos.


O país onde nasci se recusa a aceitar qualquer coisa e, portanto, cai em tudo, uma e outra vez.


Isso aconteceu em toda a Europa, mas talvez em nenhum lugar de forma mais gritante do que no meu país natal. De acordo com a Pesquisa Social Europeia de 2023–24 , menos de 5% dos suecos frequentam serviços religiosos pelo menos uma vez por semana, uma das taxas mais baixas do mundo. De acordo com o Pew Research Center, 80% dos suecos disseram que "a religião deve ser mantida separada das políticas governamentais" e apenas 22% disseram que a religião desempenha um papel um tanto ou muito importante em suas vidas, em comparação com 70% nos EUA. Após décadas de erosão ideológica e espiritual, a Suécia é agora um país sem Deus, um ethos nacional ou um senso de identidade.


O país onde nasci se recusa a aceitar qualquer coisa e, portanto, cai em tudo, uma e outra vez. Veja a crise migratória. Em 2015, a Suécia — um país com cerca de 10 milhões de habitantes — permitiu a passagem de cerca de 163.000 requerentes de asilo , a maioria da Síria, Afeganistão e Iraque . Nos 10 anos seguintes, muitos desses imigrantes não conseguiram se assimilar , causando uma contínua agitação social e econômica . Grande parte disso se deve ao fato de a Suécia não ter uma identidade nacional para incutir. Não se pode ensinar o que não se sabe — isso vale para a criação de uma criança e para a condução de uma nação.


Fé, propósito compartilhado e identidade são os muros que constroem a casa que forma uma nação. Neste momento, a Suécia é pouco mais que uma tenda aberta. Thunberg é um produto desta nação. Para jovens europeus como ela, não se trata das questões em si; trata-se de fazer parte de algo. Não se trata de fazer o bem, mas sim de parecer bem. Onde antes havia fé e propósito, agora há apenas postura e projeção.

Isso contextualiza a mudança ideológica de Thunberg, em outubro de 2023 , do ativismo climático para o ativismo anti-Israel — uma mudança à qual se juntaram milhares de outros em todo o continente. Israel representa o oposto do vácuo que a Europa construiu. É um Estado-nação orgulhoso, com fronteiras, fé, ideologia e propósitos e ideais explícitos. Seu povo, embora constantemente discorde, está unido por uma identidade muito maior do que as questões do dia a dia. Israel é tudo o que a Europa outrora rejeitou. Seu sucesso seria a prova de que a mudança europeia do pós-guerra foi um fracasso, e ainda é.


Mas Thunberg não está preocupada com tudo isso. Ela está ocupada demais sentindo que está fazendo algo que realmente importa. É por isso que, no fim das contas, embora eu me sinta indignada com os efeitos de suas ações sobre os outros, sinto principalmente pena dela. Seu ativismo deveria me irritar, como judia sueca, e irrita. Mas, mais do que tudo, parte meu coração. Thunberg não é a doença; ela é um sintoma agressivo dela — um sintoma do vazio radical que agora vemos em nossas ruas, em nossos feeds de mídia social e em nossas crianças. É um desmantelamento muito parecido com uma bola de borracha perdida em uma sala vazia, quicando de um lado para o outro sem objetivo ou fim.


Sei disso porque eu também já fui uma garota sueca perdida, desesperada por pertencer a algo maior do que eu, buscando significado, comunidade e propósito. Como humanos, ansiamos por essas coisas. Quando somos criados em um lugar que nos diz que os valores são o inimigo, fazemos amigos nos lugares errados. Até os meus 20 anos, todos os meus amigos faziam parte de um movimento radical, fosse feminista militante, ambientalista ou pró-Palestina. Isso refletia a atmosfera política da Europa na época. E eu teria continuado assim se o ataque terrorista de 11 de setembro não tivesse me despertado do conforto do tédio europeu e me levado a retornar à fé e à família.


O problema da rebelião é que ela precisa de algo contra o qual se opor. Quando não há nada contra o que se rebelar, nenhuma norma para contrariar, nenhuma ideia para questionar e debater, a energia da rebelião continua sem sentido para sempre. Em vez de debate, há raiva sem fim — em vez de ideologia, causas intercambiáveis ​​e temporárias.


Terminada a guerra, Thunberg passará para outra questão — provavelmente a mais barulhenta e polêmica, seja lá o que for na época. Afinal, trata-se apenas de um espaço reservado para significado, um trabalho ideológico em um mundo aparentemente sem sentido, um Deus substituto para os infiéis."

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: Trade eleitoral derruba MP do IOF*


Dia reserva pesquisa eleitoral para 2026 e falas de Lula, Haddad e Powell


… Um breve discurso gravado de Powell sobre bancos comunitários e o balanço da PepsiCo abrem a agenda nos Estados Unidos, com o governo ainda paralisado pelo shutdown. Mais Fed boys falam hoje, após a ata do Fomc não mudar as apostas massivas em novos cortes do juro, enquanto repercute a notícia de que Israel e Hamas assinaram acordo para libertar os reféns. Aqui, é dia de IPCA e de mais um recorte da pesquisa Quaest com a disputa presidencial. Nesta quarta, foi unânime a avaliação de que a derrota da MP do IOF teve motivação eleitoral, com governistas acusando Tarcísio de articular a derrubada das medidas e o mercado mal disfarçando a torcida contra Lula.


DIA TENSO – Ao perceber a derrota iminente, o governo ainda tentou levar a MP do IOF à votação; queria colocar nela as digitais de quem estava “jogando contra o Brasil”, mas uma manobra da Oposição na Câmara encerrou o assunto no último dia do prazo.


… Um requerimento de retirada de pauta foi aprovado, levando a MP a perder a validade. O texto nem seguiu para o Senado.


… Governistas acusam o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de entrar em campo para articular votos contra a medida. Também apontam o dedo para dirigentes partidários como Ciro Nogueira (PP) e Antônio Rueda (União Brasil).


… O presidente Lula entrou pessoalmente nas negociações, telefonando aos deputados na tentativa de salvar a MP, enquanto líderes do governo reclamavam de “sabotagem” e “rompimento de acordo”, fazendo ameaças de novos cortes nas emendas parlamentares.


… Além dos partidos do Centrão, a Frente Parlamentar do Agronegócio foi acusada de “levar tudo o que pediu” e não entregar apoio.


… Com a rejeição da MP, que representava R$ 17 bilhões em arrecadação (já com as concessões do relator), abre-se um buraco nas contas do PLOA do próximo ano, que terá de ser coberto com novas medidas de aumento de receita e/ou mais bloqueios e contingenciamentos.


… O Projeto de Lei Orçamentária prevê meta de superávit primário de R$ 34,3 bilhões em 2026, equivalente a 0,25% do PIB.


… Economistas do mercado já avaliam que a frustração reforçará a necessidade de o governo mudar a meta fiscal, mas, nas primeiras reações, Haddad afirmou que vai buscar alternativas para manter os compromissos fiscais e “continuar perseguindo os mesmos objetivos”.


 … “Volto à mesa do presidente Lula para ele decidir os rumos do País. A gente sempre apresenta um cardápio de soluções.”


… Para o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT), a Fazenda tem um “arsenal de opções”, que ele não detalhou. Jaques Wagner (PT), líder do governo no Senado, falou em um “armário” de alternativas à MP 1.303.


… O relator, Carlos Zarattini (PT), negou especulações de que o governo teria R$ 20 bilhões a mais para gastar em 2026, e por isso, a Oposição não deveria apoiar a MP. “Isso é conversa mole. Houve acordo e foi sabotado pelo Centrão, por Tarcísio e pela FPA.”


… O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, defendeu que o governo “vá pra cima das bets e do agronegócio” para fechar o Orçamento. Disse que o episódio fará “crescer a tese de que o Congresso é inimigo do povo, que não quer tributar os mais ricos”.


ALTA DO IOF – Com os ânimos exaltados, líderes governistas já falavam que um aumento do IOF pode voltar a ser uma alternativa com a queda da arrecadação. “É natural que o IOF volte à mesa como alternativa”, disse Randolfe aos jornalistas, após a derrota da MP.


… No Estadão, partiu de Haddad a indicação de que Lula avalia novamente aumentar as alíquotas do IOF, em conversa com parlamentares nesta semana. O IOF, porém, compensaria apenas parte da MP, e novos contingenciamentos para 2026 seriam inevitáveis.


… O governo já aumentou as alíquotas do IOF no fim de maio, mas recuou em alguns pontos, editando a MP 1.303 para propor outras fontes de arrecadação. Com a derrota da MP, pontos da proposta inicial do IOF podem ser retomados, apurou a reportagem.


… O projeto original previa R$ 40 bilhões de arrecadação com o IOF. Com as mudanças, o valor caiu para R$ 27 bilhões. Agora, entre as alternativas em análise, estariam a recomposição das alíquotas para operações de câmbio, pessoas jurídicas e seguros.


… Segundo o economista Tiago Sbardelotto, da XP Investimentos, essas medidas poderiam render cerca de R$ 7 bilhões adicionais ao Orçamento, elevando o total para R$ 34 bilhões. Outra opção seria reapresentar medidas da MP, desta vez, como projeto de lei.


… Dois pontos estariam descartados, afirma o Estadão: elevar o IOF sobre remessas de capital, que gerou ruído no mercado por sinalizar controle de capitais, e o IOF sobre risco sacado, proibido por decisão do Supremo Tribunal Federal.


… No Valor, a decisão de deixar vencer a MP do IOF vai gerar um impacto de R$ 46,5 bilhões até 2026 nas contas públicas, sendo R$ 31,5 bilhões de frustração de receitas e R$ 15 bilhões de medidas de contenção de despesas, que também deixaram de valer.


DESONERAÇÃO NO STF – O ministro Cristiano Zanin liberou ontem para julgamento a ação movida pelo governo Lula contra o projeto de lei que estende a desoneração da folha de pagamentos até 2027 e reduz o recolhimento à Previdência de pequenos municípios.


… A ação direta de inconstitucionalidade chegou à Corte em abril de 2024, quando Zanin concedeu liminar suspendendo os pontos da lei mais importantes para o governo. Em outubro do ano passado, o plenário confirmou a liminar, com voto contrário apenas de Luiz Fux.


… O julgamento do mérito será realizado no plenário virtual do STF, iniciando no dia 17 com encerramento previsto no dia 24.


… A previsão do governo, enviada no projeto de lei orçamentária, é que a desoneração da folha dos setores econômicos represente uma renúncia de R$ 12,2 bilhões aos cofres do governo em 2026. Já para os municípios, a renúncia esperada é de R$ 6,2 bilhões.


… O valor somado é próximo ao que o governo esperava arrecadar com a MP 1.303, derrubada nesta quarta-feira, na Câmara.


LULA – Em rara crítica pública à Câmara, o presidente foi ao X para dizer que a decisão contra a MP 1.303 não é uma derrota imposta ao governo, “mas uma derrota ao povo brasileiro”. E, ainda, que “votar contra, é impedir o equilíbrio das contas públicas e a justiça tributária”.


… “O que está por trás dessa decisão é a aposta de que o País vai arrecadar menos para limitar as políticas públicas e os programas sociais que beneficiam milhões de brasileiros. É jogar contra o Brasil”, completou Lula, sem citar nomes que contribuíram para a derrota.


… No discurso eleitoral que deu certo, ele insistiu que “a Câmara decidiu em defesa dos mais ricos e contra a população mais pobre, que é beneficiária de programas sociais que seriam custeados com esse dinheiro arrecadado dos mais ricos”.


TARCÍSIO – Na Coluna do Estadão, aliados do presidente Lula viram a participação do governador na crise do IOF como a “prova” de que ele ainda mira a disputa pelo Planalto em 2026, embora tenha negado, afirmando que quer disputar a reeleição em São Paulo.


PESQUISA – Hoje (7h), o novo recorte da Genial/Quaest aponta o cenário para a corrida ao Planalto no ano que vem.


… No levantamento divulgado nesta quarta-feira, a desaprovação ao governo Lula diminuiu para 49% e, pela primeira vez desde janeiro, teve empate técnico com a aprovação (48%). Em maio, a pesquisa indicava 57% contra 40%, 17 pontos de diferença.


… O diretor da Genial/Quaest, Felipe Nunes, disse que a impressão de que Lula saiu fortalecido da ONU, quando rolou a química com o presidente americano, foi um fator decisivo para a melhora na popularidade do governo.


… Além disso, a agenda positiva da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil influenciou positivamente.


DIA DO FICO – Ministro André Fufuca (Esportes) foi afastado do PP após decidir ficar no governo Lula, segundo decisão do presidente do partido, senador Ciro Nogueira. Também Celso Sabino (Turismo) declarou que seguirá com Lula.


… O União Brasil decidiu suspendê-lo de suas funções partidárias e manter o processo disciplinar contra ele no Conselho de Ética da legenda, sem expulsá-lo sumariamente.


MAIS AGENDA – O IPCA de setembro sai às 9h e tem tudo para validar a comunicação conservadora do BC, que esvazia a esperança de corte antecipado da Selic. O índice oficial de inflação deve subir 0,52%, após recuar 0,11% em agosto.


… A dissipação dos efeitos do bônus de Itaipu e a manutenção da bandeira vermelha 2 na tarifa de energia elétrica devem sustentar a aceleração do indicador. As projeções no Broadcast são todas de alta e variam de 0,46% a 0,58%.


… Para a inflação em 12 meses, a mediana indica aceleração de 5,13% para 5,21%. Para 2025, aponta 4,80% (mesmo número do último boletim Focus), projetando o rompimento do teto da meta de inflação de 4,5% este ano.


… Logo cedo (5h), sai a primeira prévia de outubro do IPC-Fipe. O diretor de política monetária do BC, Nilton David, palestra no evento “Cenário Econômicos em Perspectiva”, promovido pela Câmara Espanhola, às 9h40, em SP.


CMN – Com um dia de atraso, o Conselho Monetário Nacional deve ter reunião extraordinária hoje à tarde para tratar da nova política de crédito imobiliário do governo, que será anunciada oficialmente pelo presidente Lula amanhã, na capital paulista.


… Hoje, Lula estará hoje na Bahia para inauguração da fábrica da BYD, em Camaçari, e existe a previsão de conceder entrevista a uma rádio baiana às 7h30. Em SP, Haddad, participa às 14h20 do Fórum Brasileiro das Incorporadoras.


LÁ FORA – O rápido discurso gravado de Powell será veiculado às 9h30, um dia depois de a ata do Fed não ter afetado em nada a ampla percepção no mercado de que o juro americano ainda vai cair mais duas vezes este ano.


… Integrante da ala dovish do Fed, Michelle Bowman discursa três vezes hoje em evento: 9h35, 9h45 e 16h45. Michael Barr, que também vota este ano, estará em conferência com Neel Kashkari (13h45). Mary Daly fala às 22h40.


ISRAEL E HAMAS – Trump informou à noite que foi assinada a primeira fase para o Plano de Paz em Gaza, anunciando que todos os reféns serão libertados “em breve” e que “os primeiros passos para uma paz duradoura e eterna” serão dados com a retirada das tropas israelenses.


… “Todas as partes serão tratadas de forma justa! Este é um GRANDE dia para o mundo árabe e muçulmano, Israel, todas as nações vizinhas e os Estados Unidos”, escreveu o presidente em sua rede Truth Social, agradecendo a mediação do Catar, Egito e Turquia para o acordo.


… A notícia provocou imediata reação nos mercados de petróleo e do ouro, que passaram a cair após a postagem.


SHUTDOWN – Mais dois projetos de lei para acabar com a paralisação do governo americano, um dos democratas e outro dos senadores, não conseguiram votos suficientes no Senado. O shutdown entre hoje no novo dia, sem perspectiva de uma solução.


A TORCIDA DO MERCADO – A curva do DI acelerou o ritmo de queda na reta final do pregão, à medida que aumentava o risco de derrota do governo na MP alternativa ao IOF. Em uma reação inusitada, o mercado resolveu ver as coisas pela ótica da política.


… Menos preocupados com o fiscal do que com a eleição de 2026, investidores gostaram de ver as dificuldades do governo no Congresso, lidas como sinal de perda de capital eleitoral de Lula, depois de mais uma pesquisa favorável ao presidente (Genial/Quaest).


… Alguns diziam que, com a derrubada da MP, o governo será obrigado a enxugar gastos, o que seria positivo do ponto de vista fiscal, em meio à fragilidade das contas públicas. Mas nem eles acreditam nisso. O mais provável é que não conseguiram disfarçar a torcida.


… No fechamento, o DI para Jan/27 caiu à mínima do dia, para 14,085% (de 14,130% no pregão da véspera); Jan/29 recuou para 13,415% (de 13,461% no dia anterior); Jan/31, a 13,640% (de 13,684%); e Jan/33, 13,745% (de 13,845%).


… Só o vencimento mais curtinho, para Jan/26, registrou alta marginal, para 14,899% (de 14,898%).


… Profissional ouvido pelo Broadcast observa, porém, que o fôlego de queda dos contratos futuros é relativamente curto, limitado pelo riscos fiscais da agenda popular do governo, entre eles, os estudos para o ônibus de graça.


… São também os ruídos fiscais que, em grande medida, têm dificultado as chances de o dólar se consolidar abaixo de R$ 5,30, apesar do carry trade favorável. Tudo o que a moeda americana caiu ontem foi 0,11%, a R$ 5,3442.


… Lá fora, o índice DXY subiu 0,34%, à máxima em dois meses, para 98,915 pontos. Mas, como disse o Société Générale, a reação parece estar mais ligada à fraqueza do euro e iene do que ao fortalecimento do dólar em si.


… Até mesmo porque, a aposta sobre o ciclo de cortes do juro pelo Fed continua inabalada, o que tende a inibir a divisa americana. Divulgada ontem, a ata não alterou em nada a expectativa de flexibilização monetária em outubro.


… Continua ampla, quase unânime (92,5%), a chance de relaxamento de 25 pontos na reunião deste mês. A ferramenta de aposta do CME também aponta probabilidade de 78% de corte acumulado de 50pb até o fim do ano.


… Na ata, só seis dos 19 Fed boys projetaram um ou nenhum corte em 2025. Para a maioria, “provavelmente”, mais cortes são apropriados, já que o consenso é de que o impacto das tarifas parece ter sido menor que o esperado.


… Por outro lado, a avaliação predominante sobre o mercado de trabalho não mostra a gravidade que refletiria uma deterioração acentuada. Pelo contrário: muitos dirigentes consideram improvável uma queda rápida no emprego.


… O fato é que o shutdown não permitiu a divulgação do payroll, que poderia ter sido decisivo para fechar as apostas, e a pressão do mercado sobre o Fed segue firme, com chances altíssimas de novo corte em outubro.


… Assim, não foi significativa a alta do juro da Note de 2 anos ontem para 3,586%, contra 3,573% na véspera.


FRATERNITÉ – Na França, que atravessa a pior crise política em décadas, a notícia de que Macron pode anunciar um  novo premiê em 48 horas reduziu as perdas do euro, já que afastaria o risco de nova eleição parlamentar.


… Nenhum bloco político detém hoje a maioria parlamentar e não houve acordo com as lideranças para colocar um fim à profunda instabilidade, mas o sinal de que há um caminho para a escolha de mais um primeiro-ministro aliviou.


… O euro amorteceu a queda para 0,24%, cotado a US$ 1,1627, e a libra esterlina caiu 0,19%, a US$ 1,3399. O iene ampliou as perdas em mais de 0,5%, para 152,73 por dólar, preocupado com o maior expansionismo fiscal.


… Nos Estados Unidos, fracassaram as novas tentativas dos senadores de aprovar um texto para acabar com a paralisação da máquina pública, mas as bolsas em Nova York continuaram mantendo o shutdown em segundo plano.


… O novo rali das gigantes de tecnologia, associado à onda da IA, renovou os recordes históricos do S&P 500, que subiu 0,58%, a 6.753,72 pontos, e do Nasdaq (+1,12%), que superou a marca inédita dos 23 mil pontos (23.043,38).


… Já o Dow Jones, que tem andado bem mais devagar, terminou o pregão estável, a 46.601,78 pontos.


… Por aqui, o Ibovespa recuperou terreno e terminou em alta de 0,56%, aos 142.145,38 pontos, com giro de quase R$ 20 bilhões. Mas as blue chips financeiras perderam força à tarde, de olho nos perigos do contexto fiscal.


… Itaú PN reduziu os ganhos para 0,19% no fechamento, a R$ 37,24; BB ON (-0,42%, a R$ 21,12) e Santander unit (-0,21%, a R$ 27,94) viraram para o negativo. Só Bradesco exibiu gás: PN, +1,61% (R$ 16,99); e ON, +1,47% (R$ 14,54).  


… Na véspera da volta do minério de ferro da Golden Week, Vale fechou em alta de 0,77% e se reaproximou de R$ 60,00, cotada a R$ 59,20. Petrobras foi na contramão do petróleo: ON caiu 1%, a R$ 32,59; e PN -0,58%, a R$ 30,65.


… O contrato do Brent para dezembro subiu 1,22%, a US$ 66,25, apesar de o aumento semanal nos estoques americanos da commodity ter subido em 3,715 milhões de barris, cinco vezes mais do que o esperado (+700 mil).


COMPANHIAS ABERTAS – O Ministério Público Federal apresentou denúncia à 2ª Vara Federal de Volta Redonda (RJ) contra a CSN e a Harsco Metals pela prática de crimes ambientais (Valor)…


… Procurada pelo jornal, a CSN alegou que a ação é inesperada e desprovida de causa e fundamento.


IGUATEMI. Radar reduziu participação acionária no grupo de 12,71% para 9,91%, passando a deter 43.159.600 de ações preferenciais.


AMERICANAS informou ter celebrado termo de arbitragem referente à recuperação judicial da companhia, em 29 de setembro, mas requerentes desistiram do processo no dia seguinte…


… Assim, continua pendente decisão do tribunal arbitral sobre a extinção da arbitragem considerando a desistência…


… Empresa também afirmou que decidiu suspender temporariamente a venda de bebidas alcoólicas destiladas em seu marketplace.


MAGALU disse que, desde a primeira semana de outubro, restringiu a venda dessas bebidas em seu marketplace.


CARREFOUR afirmou que a venda online de bebidas destiladas por outros fornecedores em seu marketplace já está suspensa desde a última semana, permanecendo apenas os produtos diretamente comercializados pelo grupo…


… As varejistas foram algumas das plataformas de e-commerce notificadas ontem pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, para a adoção de medidas preventivas em meio à crise do metanol…


… Além da Americanas e da Magazine Luiza, as outras foram Shopee, Enjoei, Amazon Brasil e Casas Bahia; já Mercado Livre e Zé Delivery, apesar de estarem na lista divulgada, disseram que ainda não foram notificadas.


REAG INVESTIMENTOS divulgou comunicado ao mercado para desmentir informações divulgadas na mídia que apontavam para o cancelamento de seu registro de companhia aberta na CVM e sua saída da B3…


… Segundo a empresa, o registro de emissor categoria A permanece ativo, assim como a listagem das ações no Novo Mercado, segmento de mais alto nível de governança da bolsa brasileira.


OI. O TJ-RJ aprovou um comitê de transição com novos gestores, em meio à recuperação judicial da companhia.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: MP do IOF em risco*


A votação na Câmara e no Senado ficou para hoje, com risco de perder a validade se não for votada até meia-noite, depois de ter sido quase derrotada na Comissão Especial


… Sem sinais de acordo para pôr fim ao shutdown do governo americano, que entra no seu oitavo dia, investidores começam a assumir posições defensivas, pressionando o dólar e os Treasuries, enquanto as bolsas em Wall Street interrompem os recordes. O cenário externo é ainda abalado pela crise política na França e incertezas no Japão, que afetam o câmbio global. Na agenda em Nova York, sai a ata do Fed, enquanto aqui o dia começa com uma nova pesquisa Quaest e a expectativa com a MP do IOF. A votação na Câmara e no Senado ficou para hoje, com risco de perder a validade se não for votada até meia-noite, depois de ter sido quase derrotada na Comissão Especial.


MP DO IOF – O plano era votar ontem à noite no plenário da Câmara e hoje no Senado, mas deputados aprovaram urgência para a PEC que trata da aposentadoria de agentes de saúde, que passou com mais de 400 votos em dois turnos, e a MP 1.303 ficou para hoje.


… No final da tarde, o governo passou sufoco na Comissão Mista, onde a MP do IOF foi aprovada por 13 votos a 12, apesar das concessões feitas pelo relator, deputado Carlos Zarattini (PT), que desidratou o texto, sob pressão das bancadas.


… Foi mantida a isenção das LCAs e LCIs, cuja tributação em 5% renderia R$ 2,6 bilhões em 2026, e retirado o aumento da tributação das bets, de 12% para 18%, com receita estimada de R$ 1,7 bilhão – segundo cálculos preliminares.


… Outra mudança alterou a tributação dos JCP, fixando a alíquota em 18%. O governo pretendia aumentar a taxa de 15% para 20%.


… O novo relatório reduz a arrecadação prevista de R$ 20,87 bilhões em 2026, já contabilizada no Orçamento, para cerca de R$ 17 bilhões, em uma estimativa ainda preliminar, segundo admitiu o ministro Fernando Haddad.


… Ao comentar a aprovação por só um voto de diferença na Comissão Especial, o deputado Carlos Zarattini disse que houve “quebra de acordo” na votação, o que teria impedido uma “votação expressiva”, como ele esperava.


… “Dialogamos muito com a Frente Parlamentar do Agronegócio, atendemos a praticamente todos os pleitos e eles não corresponderam.”


… Segundo o Broadcast Agro, o governo buscou uma articulação final para evitar que o texto fosse derrubado na Comissão Especial, e já admite que não terá o apoio da FPA, a maior e mais influente do Congresso, na votação do plenário.


… A FPA manteve posição contrária à MP, alegando viés arrecadatório da medida, mas optou por não encaminhar orientação de voto aos parlamentares. Zarattini promete trabalhar para que o texto não seja ainda mais desidratado hoje na votação do plenário.


AGENTES DE SAÚDE – Não há ainda estimativa precisa do impacto fiscal da PEC aprovada ontem à noite, já que… não foram solicitados dados oficiais da Previdência. Segundo o relator, deputado Antonio Brito (PSD), calcula-se R$ 1 bilhão/ano, ou R$ 5,5 bilhões até 2030.


… A Confederação Nacional de Municípios, no entanto, calcula um impacto de R$ 21,2 bilhões nos regimes de prefeituras. O texto agora vai ao Senado.


ÔNIBUS DE GRAÇA – Além da desidratação da MP 1.303, e até do risco de a Medida não ser aprovada hoje, a percepção de que o governo Lula tende a se aventurar em propostas populares, à medida que se aproxima o ano eleitoral, amplifica os receios fiscais no mercado.


… Nesse sentido, a gratuidade das passagens de ônibus surge como o melhor exemplo.


… Embora técnicos da área econômica tenham descartado a medida no curto prazo, o ministro Hadad admitiu que a Fazenda está mapeando o sistema de transporte público a pedido do presidente Lula. As declarações foram ao programa Bom Dia, Ministro, da EBC, nesta terça.


… “Estamos fazendo uma radiografia do setor para verificar quais são as chances de melhorar isso, que tem apelo social muito forte.”


A REFORMA DO IR – Escolhido para relatar no Senado o projeto de reforma do Imposto de Renda, Renan Calheiros (MDB) vai tentar desgastar o deputado Arthur Lira (PP), relator do texto na Câmara e seu arquirrival na política em Alagoas.


… Lira conseguiu um grande feito aprovando a proposta por unanimidade, com o voto de 493 deputados e nenhum contra. Renan quer botar sua digital nessa história e já prometeu fazer mudanças no projeto, mas não mudanças que obriguem o texto a voltar à Câmara.


… A ideia é usar as emendas “de redação” e “supressivas”, que servem apenas para ajustes no texto ou que visam excluir partes do projeto.


… Segundo apurou o Valor, um dos focos de Renan será a emenda que exclui da base de cálculo da tributação mínima do Imposto de Renda as taxas judiciais que os cartórios arrecadam e repassam aos tribunais de Justiça, que Lira diz ter incluído a contragosto.


… “O que tiver que ser emendado, será emendado. O que tiver que ser suprimido, será suprimido. O nosso esforço, no entanto, é para que a matéria não volte à Câmara dos Deputados”, disse o senador, que promete votação rápida, em cerca de 30 dias.


… Renan disse que, na Câmara, a matéria serviu como “instrumento de chantagem” e de pressão contra o governo e até sobre a pauta do poder Legislativo, com deputados utilizando a reforma do IR para conseguir a aprovação da PEC da Blindagem e o avanço do PL da Anistia.


… Sobre o calendário de tramitação, o senador disse que pretende fazer pelo menos quatro audiências públicas na CAE para debater o projeto. Renan disse que as audiências serão definidas já nesta quarta-feira, assim como quem vai participar delas.


BRASIL X EUA – Novos trechos do diálogo entre Trump e Lula, no telefonema de segunda-feira, revelam que o presidente dos Estados Unidos admitiu que os americanos estão sendo afetados pela elevação do preço do café por conta do tarifaço ao Brasil.


… Segundo interlocutores presentes, partiu de Trump a iniciativa de citar a questão do grão no mercado interno, mesmo sem o presidente Lula fazer qualquer tipo de referência à bebida, como exemplo negativo da contenda comercial entre os dois países.


… Desde que a tarifa de 50% entrou em vigor, em agosto, a alta total dos preços nos Estados Unidos foi de 0,4% e a do café, de 3,6%, após recuo de 17,5% do volume do produto brasileiro vendido aos Estados Unidos em relação a agosto de 2024.


… Lula, de seu lado, afirmou estar disposto a tratar de questões comerciais “sem impor restrições” a temas específicos.


… Entre os assuntos que poderão ser abordados nas negociações está a regulação das grandes empresas de tecnologia (big techs) e a possibilidade de uma parceria entre Brasil e Estados Unidos no setor de minerais críticos e terras raras.


MARCO RUBIO – Uma segunda leitura sobre a escolha do secretário de Estado americano para negociar com o Brasil está sendo feita por fontes do Itamaraty e integrantes do governo, que veem o lado positivo na indicação de Rubio, segundo Bela Megale (Globo).


… Um canal direto com ele permitirá enfrentar as questões já de saída; além disso, participando das negociações, Rubio não vai trabalhar para minar as tratativas. Outra avaliação é que o secretário não terá autonomia, já que o canal com o Brasil foi aberto por Trump.


EDUARDO – No Estadão, interlocutores de Tarcísio admitem que Eduardo Bolsonaro tem se tornado o “maior cabo eleitoral de Lula e só faz gol contra”, sendo um dos responsáveis pela recuperação da popularidade do presidente nos últimos meses.


… Hoje, a Genial/Quaest publica logo cedo, às 7h, a pesquisa sobre a avaliação do governo Lula, que já deve repercutir na abertura dos negócios, neste momento em que a popularidade do governo preocupa a Faria Lima.


MAIS AGENDA – Saem ainda hoje a primeira prévia de outubro do IPC-S (8h), a produção de veículos da Anfavea em setembro (10h), além dos dados do BC sobre o fluxo cambial semanal, às 14h30, enquanto o fiscal volta a estressar o câmbio.


… Lula sanciona a lei da Tarifa Social de Energia em cerimônia no Palácio do Planalto a partir das 15h.


… Pela manhã, às 10h, o presidente participa da Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA), em Luziânia (GO).


LÁ FORA – Sem indicadores, diante da paralisação da máquina nos Estados Unidos, o investidor se guia hoje pela ata do Fed, às 15h, e pelos comentários dos integrantes do BC americano para projetar os cortes dos juros este ano.


… Dois dirigentes do Fed com direito a voto falam hoje: Alberto Musalem (10h20) e Michael Barr (10h30 e 18h45). Já Neel Kashkari, que não vota este ano, discursa às 16h15. Ontem, ele apontou sinais de estagflação (abaixo).


… Às 11h30, os estoques de petróleo do DoE têm previsão de alta semanal de 700 mil barris. Com mensagem pré-gravada, Lagarde participa de evento às 13h. As bolsas da China e da Coreia do Sul seguem fechadas para feriado.


SHUTDOWN – Em estratégia de pressão para forçar os senadores democratas a reabrirem seu governo, o presidente Trump fez circular na Casa Branca um memorando no qual diz que não há garantia de pagamento retroativo aos trabalhadores federais durante a paralisação.


… Os cerca de 750 mil funcionários públicos federais têm sido ressarcidos retroativamente em episódios anteriores de shutdown. Mesmo na paralisação de 2019, na primeira gestão Trump, que durou 35 dias, eles receberam os seus salários.


… Agora, no entanto, o memorando do Escritório de Gestão e Orçamento afirma que o pagamento retroativo deve ser fornecido pelo Congresso.


… Trump pretende anunciar em “quatro ou cinco dias” quais programas e funcionários serão cortados permanentemente.


PONTO FRACO – Tema sempre sensível ao mercado, o risco fiscal doméstico não poupou ontem os negócios de uma onda de estresse, que levou o Ibovespa a queimar mais de 2 mil pontos, disparou o DI e pressionou o dólar a R$ 5,35.


… A desidratação da MP alternativa ao aumento do IOF, depois das concessões do relator Carlos Zarattini ao agronegócio, ao setor imobiliário e às bets, ampliou os riscos potenciais de desequilíbrio das contas públicas.


… Também a confirmação pelo governo de que a gratuidade do transporte público está mesmo nos planos não pegou bem, na medida em que a medida de viés eleitoreiro acrescenta mais uma armadilha fiscal ao cenário.


… Primeiro, o Ibovespa perdeu os 143 mil pontos, depois entregou os 142 mil e, na mínima do dia, em 141.035,06 pontos, foi por pouco que não furou mais uma linha de pontuação. Fechou em queda de 1,57%, a 141.356,43 pontos.


… O giro mais forte, de R$ 24,4 bilhões, em um dia negativo sugere a atuação mais expressiva dos vendedores.


… Às voltas com as negociações na Câmara sobre um aumento das alíquotas de CSLL a instituições financeiras e eventual taxação maior aos Juros sobre Capital Próprio (JCP), os papéis dos bancos caíram em bloco na bolsa.


… Itaú, -1,59% (R$ 37,17); Bradesco PN, -1,65% (R$ 16,72); Santander, -2,06% (R$ 28,00); e BB, -0,93% (R$ 21,21).


… Um dia depois de ter encostado em R$ 60,00, Vale realizou lucros, perdeu 1,41% e fechou na mínima de R$ 58,75. MRV liderou as perdas do dia, com tombo de 12,12% (R$ 6,31), após anúncio de queda de 8,9% nas vendas do 3Tri.


… As ações da Petrobras subiram, mas não tiveram fôlego suficiente para fazer a diferença na bolsa. O papel PN registrou alta moderada de 0,36%, cotado a R$ 30,83, e o ON limitou a alta a 0,12%, negociado a R$ 32,92.


… Lá fora, o petróleo também operou travado, com o Brent praticamente estável (+0,03%), valendo US$ 65,45.


… No câmbio, deu para notar que a alta firme de 0,75% do dólar, para R$ 5,3506, não reproduziu apenas a pressão global, mas respondeu ainda à tensão interna, já que o real figurou na lista das moedas com pior desempenho do dia.


… O investidor não gostou nada de reprecificar no radar o risco de populismo fiscal e de menor arrecadação.


À FLOR DA PELE – A vulnerabilidade das contas públicas também induziu a curva do DI a elevar a guarda, especialmente nos contratos de longo prazo, que melhor refletem a percepção de risco fiscal pelos estrangeiros.


… No fechamento, o contrato de juro para Jan/31 saltou a 13,680% (de 13,565% na véspera); Jan/33 disparou para 13,790% (contra 13,670% no pregão anterior); Jan/29 foi a 13,460% (de 13,363%); e Jan/27, a 14,130% (de 14,081%).


… O vencimento mais curtinho, para Jan/26, ficou estável, em 14,898%. O mercado está amplamente convencido de que um o Copom não fará um corte antecipado da Selic, como tem ficado muito claro na comunicação dura do BC.  


… A XP informou ter adiado a expectativa de início do ciclo de relaxamento monetário de janeiro para março, diante das medidas de estímulo fiscal, que podem aquecer a demanda e a inflação, e elevar o déficit em conta corrente.


… Com o fiscal no foco, o DI operou na contramão da queda das taxas dos Treasuries, que já mostram desconforto com o impasse do shutdown. O juro da Note-2 anos caiu a 3,573% (de 3,597%) e o de 10 anos, a 4,129% (de 4,164%).


… O investidor começa a vender risco e comprar proteção, no movimento potencializado ainda pela turbulência política na França, com a renúncia do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, defensor de cortes em gastos públicos.


… Também o Japão enfrenta o risco de expansionismo fiscal depois da eleição da nova líder do governista Partido Liberal Democrata, Sanae Takaichi. Se serve de consolo, não é só o Brasil que convive com os desafios fiscais…


… O iene caiu para 151,96 por dólar e o euro recuou 0,52%, para US$ 1,1651, levando o índice DXY a subir 0,47%, a 98,578 pontos. Isolado, Macron enfrenta pressões para convocar novas eleições legislativas ou renunciar ao cargo.


… Depois de aceitar a demissão de Lecornu, Macron deu ao seu aliado um prazo de 48 horas, que termina hoje, para o primeiro-ministro francês demissionário buscar negociações com as forças políticas para estabilizar a França.


… Nos Estados Unidos, Stephen Miran, indicado de Trump ao Fed, continua botando pressão para uma política monetária cada vez mais dovish e não vê o tarifaço como um fator determinante para o crescimento da inflação.


… De seu lado, Neel Kashkari defende que as decisões de juros continuem sendo baseadas em dados, não em questões políticas, e alerta sobre uma “explosão” da inflação se o Fed reduzir drasticamente as taxas.


… Segundo ele, os indicadores estão enviando “alguns sinais” de estagflação, com emprego fraco e preços elevados.


… Para Kashkari, é importante avaliar se a inflação americana será afetada por tarifas, o que ainda considera cedo para saber, e se o nível permanecerá por volta de 3%, persistentemente acima da meta do Fed, de 2% ao ano.


… Nas bolsas em Nova York, o shutdown que se prolonga começa a preocupar os investidores e quebrou ontem a sequência de seis pregões em alta do índice S&P 500, que encerrou em queda de 0,38%, aos 6.714,59 pontos.


… O Nasdaq caiu 0,67%, aos 22.788,36 pontos, depois de ter superado mais cedo a marca inédita dos 23 mil pontos. O Dow Jones recuou 0,20%, a 46.602,98 pontos, sem sinal de acordo entre os senadores democratas e republicanos.


COMPANHIAS ABERTAS – PETRORECÔNCAVO registrou produção média de óleo e gás de 26 mil boed em setembro, queda de 1,8% ante o mês de agosto.


ASSAÍ. BlackRock atingiu participação agregada de 5,033% na companhia, passando a deter 65.695.267 de ações ON e 485.120 ADRs.


KLABIN realizou a liquidação antecipada integral de contrato de empréstimo sindicalizado, com vencimento original em 2028…


… Valor pago foi de aproximadamente US$ 120 milhões, o que implicou na quitação total da obrigação contratual.


TIM estabeleceu parceria com a IHS Brasil para construção/operação de torres de comunicação; objetivo é construir até 3 mil unidades do modelo Make, com implantação inicial mínima de 500 torres de comunicação ou sites.


DESKTOP confirmou que teve conversas preliminares com a Claro sobre potencial transação. Segundo a empresa, ainda não foram definidas as condições de eventual acordo, como preço e estrutura da operação.


AMBIPAR prepara pedido de recuperação judicial para a próxima semana, em tribunal do Rio. (fontes da Bloomberg)

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal


SESSÃO: Os futuros têm aguentado planos após Nova Iorque corrigir (finalmente!) um pouco ontem (-0,4%), depois de 7 sessões consecutivas de subidas. A sessão de hoje poderá ser de estabilização, mas com fundo em alta porque já começam a ser publicados resultados 3T americanos provavelmente decentes ou bons (EPS esperado +8,8%), e domina a perceção sobre a permanência de taxas de juros baixas após a descida de taxas de juros na NZ.


O ouro rompe 4.000 $/onça... como estimávamos, mas antes do que esperávamos (2026). Tem correlação inversa com o USD, é usado como cobertura de inflação e atua como refúgio quando a geoestratégia se complica, portanto só pode subir. A Fed de Nova Iorque publicou ontem as perspetivas de inflação a subirem até +3,4% desde +3,2% a 12 meses e até +3,0% desde +2,9% a 5 anos, embora estáveis em +3,0% a 3 anos. Isso deve ter sido o gatilho para a aceleração do ouro. NZ baixou taxas de juros em -50 p.b. em vez de -25 p.b. esperados. O yen continua a depreciar-se (177/€; 152,5/$). Pressão sobre Macron para que se demita e convoque eleições em FRA. A UE sobe o imposto alfandegário ao aço para 50% desde 25% e reduz -50% na quota de importações autorizadas (contingentes). Produção Industrial na Alemanha mais fraca do que o esperado, publicada às 7 h (-4,3% vs. -1,0% esperado vs. +1,3% anterior). O governo dos EUA continua parcialmente encerrado, sem parecer reabrir, porque Trump quer prolongar a situação para aproveitar para despedir funcionários e fechar agências federais, o que implicaria abrir outra frente legal para determinar se o Presidente tem autoridade legal para o fazer. 


TAXAS DE JUROS. 

NZ baixa -50 p.b. vs. -25 p.b. esperados, até 2,50%: coloca a reativação económica à frente da redução da inflação, que foi +2,7% em junho (NZ apenas publica dado trimestral) porque o seu PIB contrai-se ca.-1% (-1,1% 2T’25 -1,1% 1T’25 -0,6% 4T’24 0,0% 3T’24). O RBNZ (b.c.) afirma que continuará a baixar taxas de juros. Embora esteja geograficamente nas antípodas, este gesto tão dovish/suave reforçará o sentimento de que as taxas de juros continuam a mover-se em baixa, influenciando um pouco nesse sentido sobre as expetativas em relação à Fed. Não há relaçã direta, mas influenciará um pouco.


DIVISAS. O USD recupera um pouco (1,162/€), mas o yen continua a afundar-se (quase 177/€) ao descontar-se que Takaichi (nova PM in pectore) pressionará o BoJ para que não volte a subir taxas de juros (agora 0,50%; próxima reunião BoJ 30 de outubro) e priorizará a reativação do PIB mediante expansão fiscal (isto é, taxas de juros baixas + dívida pública = yen e obrigações a sofrerem).


EMPRESAS. 

Tesla caiu ontem -4,5% após apresentar versões mais acessíveis por 5.500 $/5.000 $ do Model 3 (36.990 $) e do Model Y (39.990 $). Contudo, custam mais do que as antigas porque em setembro foi retirada a subvenção de 7.500 $, portanto não serão um estímulo para a procura.

BMW realiza profit warning e cai -3% em pré-abertura. Margem EBIT em automóveis 5%/6% vs. 5%/7% anterior, ROCE automóveis 8%/10% vs. 9%/13% e BAI "ligeiramente inferior a 2024" vs. "em linha" anterior.

AÇO. A UE reduz quotas atuais de importação em -50% e sobe imposto alfandegário até 50% desde 25% para proteger a indústria europeia do aço, num contexto de sobrecapacidade global. Quer evitar que, após o imposto alfandegário de 50% aplicado pelos EUA, o aço barato da China ou da Índia se dirija para a Europa. Bom para ArcelorMittal e Acerinox.

Constellation Brands (bebidas alcoólicas, EUA) bateu expetativas (EPS 3T 3,63 $ vs. 3,38 $ esperados) no fecho de segunda-feira em Nova Iorque, portanto subiu ontem, terça-feira, +1% e introduz uma leve sensação positiva sobre os primeiros resultados a serem publicados.


CONCLUSÃO: Mercado estável, mas com vontade de subir um pouco, o que poderá conseguir com base na sensação de taxas de juros em baixa após a descida do RBNZ e o recorde do ouro. Poderão mover o mercado em positivo: uma possível convocatória de eleições na França e/ou reabertura do governo dos EUA, mas ambos são improváveis porque nem Trump nem Macron ganhariam. Estamos à espera do fluxo de resultados 3T americanos, que ganhará um pouco de ritmo amanhã (Delta, Pepsi…), mas principalmente na próxima semana (quase todos os grandes bancos). Enquanto esperamos, uma subida milimétrica parece o desenvolvimento mais provável.


NY -0,4% US tech -0,6% US semis -2,1% UEM -0,3% España -0,2% VIX 17,2% Bund 2,71% T-Note 4,12% Spread 2A-10A USA=+56pb B10A: ESP 3,26% PT 3,11% FRA 3,57% ITA 3,56% Euribor 12m 2,220% (fut.2,270%) USD 1,162 JPY 177,0 Ouro 4.029$ Brent 66,0$ WTI 62,3$ Bitcoin -2,4% (121.349$) Ether -5,4% (4.439$) 


FIM

Paulo Roberto de Almeida

 Escrever é uma mania, que se aprende na leitura precoce


        Comecei tarde. Só fui alfabetizado na idade “tardia” de sete anos, porque em casa não havia livros ou revistas, nem jornais. Meus avós, imigrantes perfeitamente (se ouso dizer) analfabetos da Itália do sul e do norte de Portugal, assim permaneceram toda a vida: trabalhavam em fazendas. Meus pais nunca terminaram o primário, pela necessidade de começar a trabalhar. Eu também comecei a trabalhar cedo, ainda antes de aprender a ler: recolhendo restos de metais nos fundos de uma fábrica de peças de bakelite, que despejava o lixo industrial nos fundos, num terreno baldio; eu e muitas outras crianças e jovens recolhíamos pequenas peças de metal, no meio da lixaria, guardávamos em latas usadas de leite condensado, e depois levávamos para nossos pais vender na reciclagem. Era uma forma de completar o miserável orçamento doméstico, indispensável para assegurar o arroz e feijão, o pedaço de gelo, trazido por um vendedor de carrocinha, coberto de serragem, que servia de “geladeira” num armário de madeira.

        Tive a sorte, a grandíssima sorte, de morar perto de uma biblioteca infantil municipal: a Biblioteca Anne Frank, no bairro do Itaim-Bibi, em São Paulo, e que antes se chamava Chácara Itaim: ruas de terra, muitos terrenos baldios, alguns transformados em campinhos de futebol improvisado, com duas pedras, ou latas de tinta, sinalizando o gol em casa extremo. 

        Comecei a frequentar a biblioteca antes de aprender a ler: joguinho de palitos, damas, filmes da Atlântida (Oscarito e Grande Otelo), ou os estrangeiros: Tarzan, Zorro, Hopalong Cassidy, Roy Rogers, Gordo e Magro, Charlie Chaplin, Buster Keaton, o outro Zorro (o do Tonto), as chanchadas nacionais e os mais elaborados de Cinecittà: Maciste, Hércules, aquelas paródias da mitologia grega, uma delícia.

        Finalmente aprendi a ler, primeiro as revistinhas da época (Bolão e Azeitona, Capitão Kid, logo em seguida Pato Donald e Mickey, publicados pela Abril). Quando aprendi a ler de verdade, comecei direto com Monteiro Lobato, e acho que isso mudou completamente a minha vida: em lugar de ficar jogando bola, ou brincando de taco com os outros meninos na rua, eu ficava na biblioteca até fechar; mais ainda, podia levar os livros para casa, para ler na cama até minha mãe apagar a luz, nunca muito tarde, para economizar, pois éramos de verdade muito pobres, de uma pobreza especial: minha mãe lavava roupa para fora, num tanque sob o sol, meu pai era por vezes operário, outras vezes entregador de café torrado e moido. Fui uma vez com ele à torrefação: o forte cheiro de café sendo torrado me deu um enjoo tão forte, que nunca tomei café, até a idade adulta.

        A frequência assídua na biblioteca não me impedia de trabalhar: pegar bolas de tênis no Clube Pinheiros, ou empacotar as compras em sacos de papel no supermercado Peg-Pag do começo da Marechal Floriano com a São Gabriel, só por gorgetas. Olhava cobiçoso os milk-shakes ou sorvetes de taça na esquina, mas nunca comprei com os meus tostões: tudo era entregue à minha mãe, para ajudar nas despesas da casa.

        Continuei lendo, intensamente, e a partir do meio do primário comecei a escrever, primeiro os trabalhos da escola, depois os resumos dos livros que lia. Tudo se perdeu, só sobrevivendo textos esparsos da fase ginasial. O grande impulso em meu futuro quase intelectual foi dado no Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha, no Brooklin, um verdadeiro divisor de águas em minha vida. Tudo o que sou hoje, devo ao GEVOA, entre 1962 e 1965. 

        Minha primeira resenha “séria” já foi no colegial, com 15 ou 16 anos, um livro de Erich Fromm, publicada no boletim mimeografado do Colégio Estadual Ministro Costa Manso, ainda no Itaim. Trabalhando de dia, estudando à noite. Continuei lendo e escrevendo. Nunca mais parei. Hoje estou no trabalho de número 5080, com cerca de 1500 publicados, em todas as categorias. Milhares de páginas, manuscritas, datilografadas, digitadas, ou entrevistas gravadas, filmadas. Tudo agora para inserir em meu novo site pralmeida.net. Espero ter forças para fazê-lo. Não consigo parar de escrever.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 7/10/2025

A portuga por Tom Cardoso

 Minha mãe foi casada cinco vezes.


Um jornalista. Um economista. Um baterista do Raul Seixas. Um físico nuclear. Um artista plástico.


Na casa do marido economista, conheci a Conceição Tavares.


Uma vez por semana, ela chegava, sentava no sofá, acendia um cigarro, pegava o copo de uísque e começava a falar. Pelos cotovelos.


Pra mim, aquela portuga falava chinês. Boiava total.


No verão de 1990 eu tinha 17 anos e ainda cursava a oitava série.


Se tinha dificuldades com o bê ao quadrado menos quatro acê, imagina para entender o economês da época.


Uma cena e uma frase naquele sofá nunca saíram da minha cabeça.


A Conceição Tavares com o dedo na cara de uma loira dentuça, gritando:


 – Você vai é fuder com os pobres!!

 – Você vai é fuder com os pobres!!


 E um tiozinho de óculos, tentando evitar que a portuga batesse na dentuça.


Muitos anos depois, me dei conta que a dentuça era ninguém menos que a então Ministra Zélia Cardoso de Mello, responsável pelo pacote econômico batizado de Plano Collor - que, entre outras barbaridades, determinou o bloqueio das cadernetas de poupança.


O tiozinho: João Manuel Cardoso de Mello, primo da ministra da Fazenda e cunhado do meu padrasto.


Passaram-se 35 anos. 


Fui entrevistar a portuga do sofá para o Valor, no apartamento dela. 


E com quem ela falava, por telefone, aos berros? 


Fernando Haddad. 


“Ô Bonitão, os brasileiros estão morrendo de fome!!! . Déficit zero de cu é rola! ”


Parece história de pescador, mas não é. Desde que comecei na profissão, com 17 anos, presencio momentos assim. 


Foi pra mim, num encontro com um amigi em comum, Marcelo Yuka, que Mariele contou pela primeira vez que estava sendo ameaçado de morte por Carlos Bolsonaro, seu colega de câmera.


Deve ser sorte. Ou azar.


Maria da Conceição Tavares é personagem do meu livro “Vida de Gado - 30 anos pastando no jornalismo”, separado por verbetes de entrevistas que fiz e tentei fazer.


Quem quiser comprar diretamente com o autor é só dar um alô.

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...