domingo, 13 de julho de 2025

Leitura de sábado 2

 *Leitura de Sábado:Tarifa dos EUA pode afetar preços no Brasil de 3 formas, 2 são inflacionárias*


Por Daniel Tozzi Mendes e Anna Scabello


São Paulo, 11/7/2025 - Economistas de instituições do mercado financeiro divergem sobre quais serão os principais efeitos da nova tarifa de 50% dos Estados Unidos para o Brasil sobre a inflação doméstica.


Há, por um lado, temor de que a diminuição das compras de produtos brasileiros pelos Estados Unidos  provoque enfraquecimento do real, justamente em um momento em que o câmbio jogava a favor do combate à inflação. Fontes da área econômica do governo já relataram à Broadcast que, se aplicadas, a tarifa de 50% jogaria um "balde de água" fria na desaceleração da inflação.


Ao mesmo tempo, o virtual fechamento do mercado dos EUA cria a possibilidade de itens que originalmente seriam exportados, como café, aço e carne bovina, permanecerem no mercado interno, o que aumenta a oferta e, em tese, diminui os preços domésticos.


Há ainda um terceiro efeito previsto, de aumento na pressão inflacionária, caso o governo brasileiro decida retaliar os EUA elevando tarifas de bens importados dos Estados Unidos.


Em relatório, economistas do Bradesco calculam que, se a tarifa de 50% for confirmada, haveria acréscimo de 0,35 ponto porcentual à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025.


Nos cálculos do banco, o tarifaço levaria a uma redução de US$ 15 bilhões nas exportações do Brasil - o equivalente a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Assim, para manter a conta corrente estável, o câmbio poderia ter uma depreciação da ordem de 6%, o que acarretaria uma inflação mais alta. "Os impactos seriam percebidos ainda neste ano, com IPCA pouco abaixo de 5,5%", dizem.


O economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, reconhece que o anúncio das tarifas traz o risco de real mais depreciado frente ao dólar, mas ressalta que até o momento a moeda nacional acumula valorização de aproximadamente 10% em relação à americana em 2025.


"O efeito principal até agora é de apreciação do real em relação ao início do ano. Evidentemente, o episódio das tarifas adicionou um risco, mas se o ambiente continuar a ser de dólar majoritariamente fraco, isso atenua o impacto de desvalorização do real", detalha ele, que prevê IPCA com alta de 5,4% e dólar a R$ 5,7 no fim deste ano.


Efeito oferta


Para a estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Ângelo, as tarifas, a princípio, traz viés de baixa à projeção de inflação da casa, de 5% no final de 2025, dada a possibilidade de crescimento da oferta no mercado doméstico.


"Parte expressiva da nossa produção de carne bovina é exportada para os Estados Unidos, teríamos mais oferta de carne internamente, contribuindo para reduzir os preços", explica ela. O cenário traçado pela casa contempla câmbio de R$ 5,50 no final do ano, estimativa que também ganhou grau de incerteza por conta do tarifaço.


O economista do Santander Brasil Adriano Valladão acrescenta que, além da carne bovina, o aço e o café são outros itens que podem ter oferta aumentada no País com o fechamento do mercado dos EUA. Ele avalia, porém, que o impacto de alívio sobre o IPCA será pouco relevante. Primeiro porque, no caso do café e da carne bovina, não deve haver dificuldade para que o Brasil encontre novos mercados consumidores, redirecionando essas exportações.


Em relação ao aço, Valladão observa que se trata de um item que afeta a cadeia produtiva de diversos setores da indústria, mas cujo impacto no preço tende a demorar a ser repassado para os bens. "Por isso é difícil imaginar algum efeito desinflacionário que vá além de 0,1 ponto no IPCA. No cenário de hoje, o repasse do aumento da oferta tende a ser zero", diz.


Já o economista João Fernandes, da gestora Quantitas, considera que com as novas tarifas, o câmbio se estabilizaria em uma faixa de R$ 5,6 a R$ 5,8, o que mais do que compensaria qualquer efeito de melhora nos preços internos por aumento da oferta. "O efeito líquido seria um IPCA 0,40 ponto porcentual mais alto", calcula.


O cenário, diz ele, pode se agravar ainda mais em caso de retaliações por parte do Brasil, já que aproximadamente 50% das importações provenientes dos EUA são máquinas e equipamentos, cujos preços afetam bastante o custo de produção local. Esse efeito, contudo, seria mais difuso no tempo, de acordo com o economista. "No pior dos cenários, as tarifas podem aumentar o IPCA entre 0,60 e 0,70 ponto porcentual em um horizonte de 12 meses", calcula.


Contato: daniel.mendes@estadao.com; anna.araia@estadao.com


Broadcast+

Leitura de sábado

 *Leitura de Sábado: Fatia da China no mercado brasileiro passa de 10% e indústria cobra reação*


Por Eduardo Laguna


São Paulo, 10/07/2025 - Pedra no sapato da indústria nacional, a China avança rápido e já é a origem de mais de 10% dos produtos comprados pelos brasileiros. Diante da ameaça de uma nova onda de importações, sobretudo de produtos chineses, decorrente das tarifas comerciais anunciadas nos Estados Unidos, setores industriais pedem proteção ao governo, enquanto também absorvem o choque da taxa de 50% prevista aos que exportam para a maior economia do mundo. Entre os argumentos apresentados, principalmente ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, estão os prejuízos representados pela China a investimentos, empregos e, até mesmo, à arrecadação de impostos.


Segundo levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) a pedido da Broadcast, a participação dos produtos importados da China no mercado brasileiro mais do que dobrou no período pós-pandemia. Em apenas cinco anos, subiu de 4,6%, parcela de antes da crise sanitária, para 10,9% do total consumido no País em 2024 (veja a evolução no gráfico abaixo).


Os números, para muitos industriais, retratam uma invasão de produtos "made in China". A crise imobiliária no país, que reduziu a absorção desses produtos no mercado interno, em paralelo aos incentivos à produção concedidos por Pequim para atingir a meta de crescimento econômico, levou a uma enxurrada de produtos chineses pelo mundo. Quando passaram a encontrar barreiras para entrar em dois de seus principais destinos - Estados Unidos e Europa -, as empresas chinesas tiveram de buscar novos mercados para desovar as exportações, sendo o Brasil um deles.


  


A preocupação da indústria brasileira é que a situação piore com as tarifas do presidente americano, Donald Trump, uma vez que produtos barrados nos Estados Unidos podem ser deslocados para o Brasil e mercados vizinhos. Para o consumidor, a "invasão chinesa" significou maior acesso a novas tecnologias, como os carros elétricos. Mas, para as empresas brasileiras, a China representa um competidor que, apoiado por subsídios, controle de câmbio e práticas de comércio consideradas muitas vezes desleais, consegue ganhar mercados a preços inviáveis a quem arca com os custos de produção do Brasil.


Ainda que de forma não coordenada, diversos setores industriais estão mobilizados para fechar portas e obter do governo medidas que corrijam desequilíbrios na competição com os chineses. O alerta é de que a indústria está vulnerável aos desvios de comércio em um mundo de maior protecionismo, com o "tarifaço" de Trump e as possíveis retaliações de países atingidos pela política comercial americana.


Na indústria automotiva, montadoras e fornecedores de autopeças trabalham em conjunto na tentativa de barrar um pedido levado pela BYD à Câmara de Comércio Exterior (Camex) para trazer, com imposto de importação mais baixo, os carros que terão montagem final na fábrica da marca chinesa em Camaçari, na Bahia.


A BYD quer reduzir a 10% as alíquotas de importação nos subconjuntos de veículos que trará pré-montados da China. O pedido provocou uma carta enviada no fim de maio pelo Sindipeças, a associação da indústria de autopeças no Brasil, ao vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin. No ofício, a entidade expressa "inconformismo" com o pleito da BYD, que, conforme o Sindipeças, representa, além de forte impacto na cadeia automotiva, uma "magnífica renúncia fiscal injustificada".


A marca chinesa sustenta que precisa de imposto mais baixo para assegurar a competitividade da operação industrial em Camaçari enquanto avança gradualmente em direção a produtos com maior conteúdo nacional. Já os executivos de montadoras dizem, nos bastidores, que a fábrica de Camaçari servirá apenas para "apertar parafusos".


A Anfavea, associação que representa as montadoras, vem atacando o pedido da BYD tanto publicamente como nas interações com o governo. Conforme previsões da entidade, o Brasil deve importar cerca de 200 mil carros da China neste ano, volume que equivale a uma fábrica que gera por volta de 5 mil empregos. Ao abordar o caso da BYD na última segunda-feira, na apresentação dos resultados do setor à imprensa, o presidente da Anfavea, Igor Calvet, disse que sistemas de produção com baixos índices de nacionalização - como o SKD da BYD em Camaçari - vão na direção contrária à industrialização e à geração de empregos. Incentivos solicitados pela montadora chinesa podem inviabilizar investimentos em linhas de produção completas, conforme Calvet.


Além da batalha com a BYD, montadoras e fabricantes de autopeças insistem na antecipação das alíquotas cheias (35%), ainda previstas para julho do ano que vem, do imposto sobre as importações de carros híbridos e elétricos. A Anfavea também finaliza um estudo que apura se as marcas chinesas estão entrando no Brasil com dumping ou subsídios ilegais.


Tsunami


Nos últimos cinco anos, as importações de produtos da indústria de transformação cresceram 70%, passando de US$ 285 bilhões em 2024, conforme dados da balança comercial. Um quinto do total (22%) é fornecido pela China, que mantém comércio diversificado com o Brasil: de pneus a carros elétricos; de brinquedos a smartphones e eletrodomésticos, além dos componentes desses produtos montados no Brasil.


No setor de vestuário, onde os marketplaces abriram uma grande porta de entrada a produtos importados, a indústria age em duas frentes. De um lado, reivindica que mais Estados elevem de 17% para 20% a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre compras em plataformas de comércio eletrônico. Por enquanto, nove Estados elevaram a alíquota. De outro, o setor pede a elevação de 20% para 35% do imposto de importação que ajudou a conter as pequenas encomendas - compras de até US$ 50 - em sites como Shein, Shopee e AliExpress.


Diretor-superintendente da Abit, associação que representa as empresas do setor têxtil, Fernando Valente Pimentel conta que, após as barreiras de Trump, o governo tem sido alertado pela indústria sobre o "tsunami" que pode vir com o deslocamento de produtos até então fornecidos ao mercado americano. "Se a invasão chinesa chegar aos níveis que podemos ter, apenas cotas [de importação] podem segurar", comenta o executivo.


Segundo Pimentel, os Estados Unidos compram por volta de US$ 20 bilhões em produtos têxteis da China. Se parte desse volume for direcionada ao Brasil, estima, os importados, que já mordem um quarto do mercado de vestuário no País, ganharão ainda mais espaço, colocando em risco 200 mil postos de trabalho.


"Estamos monitorando [a entrada de importados] e informando o governo. O quadro pode piorar a depender do que fizermos em relação a nossa competitividade e do que ocorrer nas relações entre Estados Unidos e China", afirma Pimentel. "O quadro é altamente preocupante porque temos uma nova situação geopolítica e econômica, com desvios que podem trazer prejuízos. Toda a indústria brasileira está sob ataque", acrescenta o superintendente da Abit, citando previsões que apontam a um déficit - ou seja, importações superiores às exportações - de US$ 130 bilhões nas trocas de produtos manufaturados do Brasil com o resto do mundo neste ano.


A pressão da indústria já teve alguns frutos, como a elevação gradual do imposto cobrado de carros híbridos e elétricos e o programa Remessa Conforme, que ajudou a inibir a sonegação em compras pela internet. Os setores beneficiados observam, porém, que essas medidas foram insuficientes para colocar os produtos brasileiros em igualdade de condições com os concorrentes asiáticos.


Contato: eduardo.laguna@estadao.com


Broadcast+

Leitura de fim de semana

 *Leitura de Sábado: Brasil será o mais endividado dos grandes emergentes, diz Martinez, da Fitch*


Nova York, 11/07/2025 - O Brasil está à mercê da falta de consenso entre o Executivo e o Congresso para solucionar o seu dilema fiscal, o que o mantém distante do grau de investimento, perdido há dez anos. A janela política apropriada para endereçar a questão só virá depois da eleição de 2026, diz o co-chefe de títulos soberanos da América Latina da Fitch Ratings, Todd Martinez. Mas, a situação fiscal do Brasil deve piorar antes de melhorar.


"Projetamos que o Brasil será, entre os maiores mercados emergentes, o mais endividado do mundo nos próximos anos, superando a África do Sul e a Índia", diz Martinez, em entrevista exclusiva ao Broadcast. A Fitch estima que a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB) do País deve bater os 79,3% em 2025 e subir a um ritmo anual de 3 pontos porcentuais à frente. A mediana de outros países com mesmo rating é de 53%.


A agência de risco avalia que a baixa exposição comercial do Brasil aos EUA deve limitar possíveis danos das tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No entanto, monitora eventuais efeitos colaterais. Abaixo, os principais trechos da entrevista:




Broadcast: Qual o impacto das tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil?


Todd Martinez: É difícil saber quão seriamente devemos levar a ameaça de Trump de uma tarifa de 50% sobre o Brasil. Se for implementada, a baixa exposição comercial do País aos EUA, menos de 2% do PIB, deve limitar os danos. E, mesmo que não seja implementada, a própria ameaça pode ter algumas ramificações financeiras e políticas que estaremos observando. O Brasil é uma economia muito fechada quando se medem exportações e importações como parcela do PIB. É uma das economias mais fechadas do mundo - tradicionalmente uma fraqueza, mas tem sido, sem dúvida, também uma de suas forças.


Broadcast: A Fitch afirmou o rating do Brasil em BB, com perspectiva estável. Quais fatores foram cruciais nessa decisão?


Martinez: O País tem finanças externas muito robustas, um déficit em conta corrente que aumentou, mas permanece administrável, um investimento estrangeiro direto (IED) forte e estável e um mercado de capitais local desenvolvido. O Banco Central, embora enfrente alguns ventos contrários da política fiscal, é muito forte e crível, sendo uma forte âncora para a confiança. O Brasil é um dos poucos países com classificação BB que pode se financiar quase inteiramente no mercado doméstico, em vez de recorrer ao exterior. Essas são as forças duradouras do Brasil que permanecem intactas.


Broadcast: Quais são as fraquezas?


Martinez: As fraquezas duradouras são o crescimento lento e as finanças públicas fracas. O Brasil tem apresentado uma história mais positiva em termos de crescimento. Revisamos novamente nossa projeção e prevemos uma expansão de 2,5% este ano, ante alta de 1,9%. Isso pode indicar um potencial de crescimento maior, apoiado por esforços de reforma contínuos, em vez de resultar apenas de estímulos políticos. Mas, mesmo assim, o crescimento brasileiro é fraco em comparação ao de outros mercados emergentes. É uma fraqueza que talvez não seja tão fraca quanto costumava ser, mas ainda não é uma força.


Broadcast: E o fiscal?


Martinez: As finanças públicas continuam sendo o calcanhar de Aquiles do Brasil. O País tem um déficit fiscal muito grande e uma dívida alta, que aumenta rapidamente. Projetamos que o Brasil será, entre os maiores mercados emergentes, o mais endividado do mundo nos próximos anos, superando a África do Sul e a Índia.


Broadcast: A Fitch vê reversão à frente?


Martinez: O governo merece crédito por reconhecer o problema e tentar avançar com medidas para melhorar a situação fiscal, mas a política atrapalha, e muitas das iniciativas são paliativas e temporárias, não estruturais. É improvável vermos muito progresso até depois das eleições do próximo ano. Como se viu no fim de 2024, o problema fiscal pode gerar repercussões negativas para o resto da economia, ser uma fonte de volatilidade no câmbio e forçar o Banco Central a manter uma política monetária mais rígida do que o necessário.


Broadcast: Há alguma política recém-aprovada ou aguardando análise do Congresso que possa minar a estabilidade macroeconômica ou a perspectiva de crescimento?


Martinez: Há muito barulho no Brasil em torno do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que o Congresso derrubou; esperamos algo semelhante em relação ao limite de isenção do Imposto de Renda, à forma de compensar essas medidas; as emendas parlamentares e o aumento no número de congressistas. Elas ressaltam a difícil situação das finanças públicas, evidenciando fadiga em torno de aumentos de impostos e rigidez quando se tenta conter as pressões de gastos. São importantes, mas não devem gerar grandes decepções macroeconômicas nem levar a explosão fiscal antes das eleições.


Broadcast: Como a Fitch vê a judicialização do aumento do IOF? É um sinal de fragilidade institucional? Pode afetar o rating?


Martinez: O fato de a questão ser levada aos tribunais indica que as instituições fazem o que devem, não que haja fraqueza institucional. Falta consenso sobre a melhor forma de melhorar as finanças públicas. O Executivo está interessado em consolidação fiscal mais orientada para a receita, e o Congresso insiste em uma estratégia voltada para o corte de gastos, mas não ajuda nesta direção. Quando o governo tenta conter despesas, surgem as emendas parlamentares. O Congresso diluiu as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e há propostas para aumentar o número de congressistas.


Broadcast: Qual seria a consequência para o rating da revisão da meta fiscal para 2025 e 2026?


Martinez: Projetamos que o governo pode cumprir o mínimo exigido por sua regra fiscal este ano, o que significa um déficit primário de 0,6% do PIB, após toda a margem de tolerância e exclusões. Para 2026, prevemos um déficit primário também de 0,6%, acima do permitido pela meta. Não vemos o Brasil atingindo sua meta fiscal no próximo ano.


Broadcast: E uma mudança da meta?


Martinez: Manter a meta, sem alcançá-la, ou revisão não está incorporado em nossas expectativas para 2026. Portanto, isso não deve ser fonte de más notícias para o rating. Seria preciso uma deterioração significativa do fiscal no próximo ano, em vez de apenas não atingir as metas, com repercussões negativas no câmbio, na curva de juros e na confiança. Esse não é o nosso cenário base.


Broadcast: Quais seriam as evidências de melhora na perspectiva de crescimento e na economia do Brasil monitorada pela Fitch? A agência considera a pesquisa Focus?


Martinez: Consideramos nossas próprias projeções de médio prazo, mas também olhamos para a Focus. Conversamos com muitos economistas e analistas que acompanham a economia brasileira de perto. No momento, projetamos expansão de 2% no médio prazo. São necessárias taxas de crescimento acima de 3% para que esse fator sozinho leve a um rating melhor. O que é mais provável e mais importante é a melhora na situação fiscal.


Broadcast: É sempre sobre o fiscal...


Martinez: Sim, mas o fiscal e o crescimento estão muito interligados. É positivo que a economia do Brasil continue superando as expectativas, mas não vemos isso se traduzir em um desempenho fiscal muito melhor. Nosso rating não se baseia apenas na situação fiscal, mas em quão bem posicionado estaria o País suportaria um choque inesperado no crescimento. Uma situação fiscal fraca enquanto a economia do Brasil é forte representa vulnerabilidade.


Broadcast: No começo do governo Lula, as principais agências, incluindo a Fitch, melhoraram o rating, a visão sobre o Brasil, abrindo esperanças de retorno ao grau de investimento. Como isso evoluiu desde então?


Martinez: Continuamos bastante confiantes na nossa decisão de melhorar o rating do Brasil há dois anos. Na época, projetávamos que a dívida em relação ao PIB seguiria trajetória ascendente. Não fizemos o upgrade porque achávamos que o governo havia resolvido a situação fiscal, mas porque o Brasil se recuperou muito bem da pandemia, e tínhamos confiança suficiente de que o governo Lula pelo menos moveria as contas públicas gradualmente em uma direção positiva.


Broadcast: O Brasil está mais longe do grau de investimento desde então?


Martinez: Está na mesma posição. As projeções de dívida/PIB estão próximas das nossas projeções há dois anos atrás. O País cresce mais rápido do que qualquer grande mercado emergente, em linha com o esperado. O que não prevíamos, no entanto, era que o Banco Central precisaria elevar juros novamente, uma das razões para o déficit fiscal tão grande.


Broadcast: O que o Brasil precisa fazer para recuperar o grau de investimento?


Martinez: Há tempos dizemos que queremos ver a dívida/PIB se estabilizar, e estamos longe disso. Isso exige melhora significativa no resultado primário, provavelmente com reformas difíceis no lado dos gastos, mudanças em mecanismos de indexação de programas sociais e alguma reforma administrativa. São ações possíveis, mas politicamente difíceis. No momento, é difícil enxergar um caminho para as reformas fiscais necessárias antes das eleições.


Broadcast: Quais impactos podemos esperar da eleição de 2026 para a economia? Por exemplo, mais estímulo fiscal?


Martinez: Esse sempre será um risco, seja com governo de esquerda ou de direita. No último ciclo eleitoral, houve incentivo para ampliar o Bolsa Família e, no próximo ano, veremos estímulos semelhantes. Nossa perspectiva estável considera que podem surgir medidas populistas, mas sem deterioração fiscal significativa. O mercado é exerce disciplina no Brasil. Isso não garante resultados perfeitos nem melhorias estruturais, mas limita o tipo de medida populista a que qualquer governo poderia recorrer antes das eleições, pois poderia ser contraproducentes.


Broadcast: Se, após a eleição de 2026, não houver perspectiva de corte ou desvinculação de benefícios sociais, isso seria um elemento negativo para o rating?


Martinez: Somos agnósticos quanto à forma de consolidação fiscal. Queremos uma estratégia crível o bastante para gerar superávits primários que estabilizem a dívida/PIB. O País atingiu um ponto de fadiga tributária; parece cada vez mais inevitável reformar gastos com benefícios sociais. Se, após as eleições, esse caminho se mostrar politicamente muito difícil e não houver um plano de receita viável, haverá déficits fiscais grandes e dívida crescente, com reação negativa do mercado. Esse não é nosso cenário base. Parece haver um consenso político crescente de que o Brasil precisa de reforma fiscal mais profunda, e a janela apropriada virá depois das eleições.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


Broadcast+

Mercado de trabalho

 *Busca de jovens talentos em bancos por empresas de private equity desafia Wall St*


Empresas com foco em aquisições (buyout firms) seduzem analistas e banqueiros juniores em fase de treinamento em bancos para vagas futuras com altos salários, o que cria conflitos éticos e leva players como JPMorgan e Goldman a criarem barreiras


Bloomberg — Os chefes do JPMorgan Chase ficaram curiosos no verão passado ao registrarem um número incomum de ausências nas sessões de treinamento que davam início ao seu programa ultracompetitivo de analistas juniores.


O motivo? Depois descobriram: os novos recrutas haviam “pulado” a integração obrigatória para fazer entrevistas em empresas de private equity para seu segundo emprego - embora estivessem há apenas alguns dias no primeiro.


Essa prática é conhecida como recrutamento “on-cycle”, em que buyout firms (com foco em aquisições) recrutam analistas de bancos de investimento para funções que normalmente começam um ou dois anos depois.


Suas propostas têm surgido cada vez mais cedo, irritando os bancos que investem milhões para treinar funcionários juniores e os veem sendo escolhidos por empresas de private equity assim que esses programas terminam.


O Goldman Sachs tornou-se o mais recente banco a tentar evitar ofertas, com planos de exigir que os novos analistas atestem a cada três meses que ainda não conseguiram emprego em outro lugar.


Esse esforço seguiu o do JPMorgan, que no mês passado ameaçou demitir candidatos que aceitassem cargos com datas futuras.


Os desenvolvimentos levantam questões sobre se isso marca uma reversão da prática controversa, que persiste há anos, apesar dos esforços para eliminá-la.


Após o decreto do JPMorgan, algumas buyout firms seguiram o aviso: a Apollo Global Management informou aos candidatos em potencial que estava adiando as contratações e explicou que era muito cedo para pedir aos estudantes que tomassem decisões sobre suas carreiras.


A General Atlantic (GA) e a TPG seguiram o exemplo, interrompendo o recrutamento conduzido neste ano para suas turmas de 2027, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram com a Bloomberg News e que pediram para não serem identificadas ao discutir informações privadas.


Representantes de JPMorgan, TPG e General Atlantic não quiseram comentar.


Promessa para retenção


Os programas de analistas bancários há muito tempo são vistos como a porta de entrada para uma carreira lucrativa em Wall Street.


Mas, nos últimos anos, muitos concluíram o treinamento e foram direto para empresas de private equity, atraídos pela promessa de pagamentos mais consideráveis e pela percepção de que há menos trabalho pesado envolvido.


Os bancos têm se esforçado para conter as saídas, com promessas de melhorar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, proteger os fins de semana e aumentar os salários.


Eles também adotaram uma linha dura.


O Morgan Stanley tentou impedir que os banqueiros de investimento do primeiro ano conversassem com recrutadores de outras empresas há mais de uma década. Mas a empresa abandonou rapidamente a iniciativa depois que alguns analistas reclamaram - e, em última análise, ignoraram - a política.


A situação é complicada para os bancos, que contam com buyout firms entre seus maiores clientes. Até agora, neste ano, as empresas de private equity foram responsáveis por cerca de um quarto da receita de fusões e aquisições (M&A) dos bancos de investimento, de acordo com a Dealogic.


Isso também gera preocupações quanto ao conflito de interesses, uma vez que os banqueiros juniores têm acesso às informações confidenciais de um banco e, ao mesmo tempo, estão comprometidos com seus futuros empregos em empresas de private equity.


O CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, considerou antiético o recrutamento em ciclo.


“Isso coloca os garotos em uma posição terrível e, portanto, acho que é errado”, disse ele a uma plateia na Universidade de Georgetown no ano passado.


“Isso nos coloca em uma posição ruim e em uma posição conflituosa. Você já está trabalhando para outra empresa e também está lidando com informações altamente confidenciais do JPMorgan. E eu simplesmente não gosto disso.”


O sentimento repercutiu em todo o setor.


Quando a Apollo anunciou que não entrevistaria nem ofereceria empregos para a turma de 2027 neste ano, o CEO Marc Rowan disse que pedir aos estudantes que tomassem decisões de carreira antes de entenderem suas opções “não serve a eles nem ao nosso setor”.


A Amity Search Partners, uma empresa de recrutamento para gestores de investimentos, disse aos candidatos em potencial em um e-mail que os desenvolvimentos lhes dariam “mais espaço para preparação, reflexão e uma abordagem mais cuidadosa para o recrutamento”.


Em 2010, as empresas de private equity normalmente esperavam que os banqueiros juniores concluíssem cerca de 11 meses de treinamento antes de iniciarem os esforços de recrutamento, mas isso tem diminuído constantemente.


A pandemia também teve um impacto, ao permitir que banqueiros juniores fizessem entrevistas discretamente de casa.


A Odyssey Search Partners descobriu que os gigantes de private equity começaram a recrutar menos de um mês após o início de seus programas de treinamento em alguns casos, disse em uma análise publicada em 2023.


“Há um grupo finito de candidatos e muitas empresas de private equity - isso cria uma situação em que as empresas não querem perder a oportunidade de contratar os melhores talentos”, disse Adam Kahn, sócio-gerente da Odyssey.


“Não está claro o quanto isso mudará fundamentalmente: é preciso que haja um grande esforço conjunto para fazer uma mudança.”


Entrevistas no banheiro


Essa concorrência levou a alguns episódios quase cômicos.


Tom Ragland, que fundou a empresa de recrutamento Harrison Rush Group e coloca banqueiros de investimento em cargos de private equity, contou que os banqueiros fazem entrevistas por meio de chamadas via Zoom nos banheiros dos escritórios.


Em pelo menos um incidente, a empresa de private equity entendeu isso como um sinal positivo de interesse pela função. No final, esse banqueiro não conseguiu o emprego.


Ragland também fez uma advertência aos recém-formados que desejam fazer um pit stop em um banco antes de conseguir um cargo em private equity.


“Muitos desses banqueiros juniores são superexigentes; eles frequentam as melhores escolas”, disse ele.


“Muitos acham que o próximo passo é o private equity, porque é o que todo mundo está fazendo. O private equity não é uma panaceia. As horas de trabalho ainda são longas e ainda demora um pouco para ganhar dinheiro decente.”


A redução do recrutamento também ocorre no momento em que as empresas de private equity enfrentam a pressão de uma “seca” prolongada de negócios, o que prejudica a capacidade do setor de sair dos investimentos a preços favoráveis.


Ainda assim, a perspectiva de alguns dos maiores salários do setor torna o private equity tentador para os juniores. Isso se deve ao “carry”, que é essencialmente uma parte das taxas de desempenho que os executivos embolsam em troca da administração de empresas e outros investimentos.


A pequena ironia da prática usada pelas empresas de private equity é que ela segue uma página dos manuais de recrutamento dos bancos.


Empresas como o JPMorgan e o Goldman costumavam entrevistar estagiários em potencial com mais de um ano de antecedência, o que, em um determinado momento, provocou a resistência de funcionários de universidades.


Isso fez até com que um sócio do Goldman dissesse que, no ritmo em que estavam indo, as empresas logo começariam a contratar estagiários ao nascer.


https://www.bloomberglinea.com.br/2025/07/12/busca-de-jovens-talentos-em-bancos-por-empresas-de-private-equity-desafia-wall-st/

sábado, 12 de julho de 2025

Luis Felipe D Avila

 https://www.estadao.com.br/opiniao/luiz-felipe-davila/as-luzes-da-democracia-se-apagam/


"*As luzes da democracia se apagam*


_É hora de transformar a nossa indignação em ação para salvar a liberdade, o Estado de Direito e a democracia


Por Luiz Felipe D'Avila

25/06/2025 | 03h00


A liberdade está sendo sufocada no Brasil. Ela está sendo amordaçada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), asfixiada nos porões secretos do Poder Executivo e ameaçada no Congresso pelo apetite voraz dos partidos de esquerda que desejam legalizar a censura no País. O sequestro da liberdade de expressão, de opinião e de informação pelas instituições de Estado representa um perigoso atentado à nossa democracia.


O filósofo italiano Norberto Bobbio nos lembra que a democracia liberal é o governo das leis, e não dos homens. Desde a promulgação da Constituição de 1988, a democracia no Brasil evoluiu. Tivemos eleições livres e limpas, alternância de poder, imprensa livre, liberdade de expressão e respeito aos direitos individuais. Não foi um período perfeito, mas a independência dos Poderes, o respeito à Constituição e ao devido processo legal vigoraram. Mas a abertura do famigerado inquérito das fake news no STF em 2019 marcou o fim da democracia das leis e o início da arbitrariedade dos governantes.


A instalação de um inquérito sigiloso e por tempo indeterminado violou as regras do devido processo legal e as liberdades individuais, tornando-se um meio arbitrário para censurar veículos (Crusoé), portal de notícias (O Antagonista) e plataformas de conteúdo (Brasil Paralelo). O péssimo exemplo do STF espalhou-se para as instâncias inferiores.


O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul condenou o jornal Zero Hora e uma jornalista por terem divulgado a verdade: a remuneração imoral de uma desembargadora que recebeu R$ 600 mil do Estado. Opiniões críticas às autoridades da República transformaram jornalistas, parlamentares e cidadãos em grande ameaça à democracia. Parlamentares, que são protegidos pela Constituição para se manifestarem livremente, são ameaçados por inquéritos policiais (deputado Marcel van Hattem). Cidadãos que criticam o governo e as instituições têm contas suspensas nas redes sociais e são silenciados sem ordem judicial. Mas é impossível salvar a democracia sufocando a liberdade de expressão, desrespeitando as liberdades individuais garantidas pela Constituição e criando um clima de insegurança jurídica e imprevisibilidade do cumprimento da lei.


Como todo populista, Lula tem horror à transparência e às críticas. O governo colocou sob sigilo gastos pessoais dos governantes e retirou da plataforma Transferegov 16 milhões de documentos que revelam como foram gastos mais de R$ 600 bilhões do dinheiro do contribuinte. As informações desapareceram quando jornalistas investigavam o destino suspeito de emendas parlamentares, repasses para ONGs envolvidas com falcatruas e convênios com prefeituras e Estados. A correlação entre falta de transparência e corrupção é cristalina, como indica o recente escândalo no INSS. Se não bastasse o sigilo das informações sobre os gastos públicos, o governo deseja aprovar no Congresso uma lei que oficializa a censura nas redes sociais. A disposição do governo de criar uma instituição capaz de definir o que é verdade e mentira nas redes sociais é digna de regimes ditatoriais. No dicionário dos populistas e ditadores, “verdade” é tudo aquilo que enaltece o governo e “mentira” é qualquer opinião crítica aos donos do poder.


Ao silenciar as críticas ao governo e às instituições, a democracia empobrece. Compromete-se a qualidade do debate público e o aprimoramento das políticas públicas; diminui-se o poder de fiscalização e a transparência dos dados e informações, aumentando a corrupção, o desgoverno e a arbitrariedade. As democracias liberais morrem lentamente, como retratam a triste história da Itália e da Alemanha na década de 1930. A nação vai se acostumando com os atos arbitrários do governo e o cerceamento das liberdades individuais. Parte da elite é cooptada pelos benefícios do Estado extrativista; a imprensa militante trata com condescendência os atos arbitrários dos governantes; parte do povo inebriado pelo líder carismático torna-se coadjuvante da farsa populista. Restam na trincheira da democracia, gente de valor que defende a liberdade, rechaça as promessas vigaristas dos populistas e demonstra coragem para combater os atos arbitrários dos usurpadores da democracia. Essas pessoas precisam se unir em torno de uma agenda mínima baseada em seis pontos:


1) Não se curvar aos atos arbitrários do Estado e do STF e denunciá-los;


2) Remover Lula e o PT do poder por meio do voto nas eleições de 2026;


3) Rechaçar o populismo e apoiar a direita sensata;


4) Combater a insegurança jurídica, o crime organizado, a corrupção e a restaurar o Estado Democrático de Direito;


5) Defender um plano para a retomada do crescimento sustentável, da produtividade e da competitividade do País; e


6) Criar um Estado eficiente que preste serviço público de qualidade, reduza a dívida pública, a carga tributária e a taxa de juros para níveis civilizados.


As luzes da democracia estão se apagando. É hora de transformar a nossa indignação em ação para salvar a liberdade, o Estado de Direito e a democracia."


https://www.estadao.com.br/opiniao/luiz-felipe-davila/as-luzes-da-democracia-se-apagam/

Paulo Roberto de Almeida

 Brics+: uma avaliação superficial do encontro de cúpula no RJ

(porque não vale a pena perder tempo comentando cada parágrafo)


A declaração final vale mais pelas grandes lacunas que revelam suas imensas distorções políticas — até (i)morais — e bem menos pelas dezenas de parágrafos que enfeixam objetivos que nunca serão realizados e que não possuem qualquer significado maior para a solução das diversas guerras que ocorrem no mundo (a maior delas, uma guerra de agressão perpetrada por um de seus mais poderosos membros, totalmente ignorada pela hipocrisia da declaração) ou pelas ameaças à segurança e à paz no mundo, podendo resultar da ação bélica de outro de seus dirigentes (por acaso o mais poderoso do bloco, sintomaticamente ausente do conclave).

As lacunas são exatamente as que definem o Brics+ atualmente, que é um grupo de paises pretensamente desafiador da “hegemonia ocidental” formado por duas grandes autocracias, poucas democracias (de baixa qualidade substantiva) e várias outras autocracias ou ditaduras claras, na aparência representando um inexistente Sul Global (que só existe nas perorações acadêmicas e no jornalismo superficial), mas que possuem poucos objetivos nacionais convergentes, a não ser a pretensão de seus dirigentes de conseguir um palanque oportunista e uma photo opportunity na mídia mundial.

Pergunto: em quê, em quais objetivos realizáveis o grupo e seus países membros e associados, seus respectivos dirigentes, não poderiam alcançar resultados positivos, benéficos ou meritórios para os seus povos, por meio dos instrumentos, mecanismos e ferramentas já existentes na ordem multilateral atual (a da ONU e suas agências) e que precisam ser alcançados por uma vaga, totalmente indefinida “nova ordem global multipolar”, como vem sendo proposta pelas duas grandes autocracias do Brics+ e por um ou outro de seus ingênuos membros?

Nas últimas duas décadas, opositores da atual ordem global supostamente ocidental (ela o é objetivamente, desde o final da IIGM, mas o cenário vem mudando significativamente), que já é multipolar desde sempre, e que de toda forma parece muito mais aberta, democrática e defensora dos direitos humanos, vêm tentando construir uma ordem supostamente global (numca o será) que aparece como singularmente desprovida dos principais elementos que caracterizam a ordem não perfeita, mas baseado no multilateralismo cooperativo em favor da paz, das democracias de mercado, dos DH e da ideia de LIBERDADES, o que muitos dos atuais paises membros ou associados não exibem em sua plenitude.

Resumindo minha avaliação superficial: o Brics+ não é a base institucional, nem pode ser, a garantia de que o Brasil possa oferecer melhores soluções ao mundo em desenvolvimento para os imensos problemas de progresso econômico e social, de respeito às liberdades democráticas e de defesa dos direitos humanos que o próprio povo brasileiro espera de seus dirigentes, até mesmo para si, pois é uma tentativa canhestra de reformar uma ordem por certo imperfeita, mas ainda assim muito melhor do que as alternativas sendo oferecidas por autocracias e ditaduras de baixíssima qualidade na governança interna e na cooperação internacional. 

Uma delas, aliás, violou abertamente a Carta da ONU e o Direito Internacional e conduz uma criminosa guerrra de agressão (uma redundância) das mais violentas desde a IIGM, e o presidente brasileiro contribui acintosamente para escamotear os seus crimes por meio de uma declaração vergonhosa, indigna das melhores tradições da diplomacia profissional, assim como dos princípios e valores que regem as relações internacionais do Brasil.

Concluo: o BRIC de 2006-2009, o Brics de 2011 e o atual Brics+ não são compatíveis com os interesses do Brasil enquanto nação democrática, voltada para a cooperação externa em favor do desenvolvimento da comunidade internacional, de acordo à ordem onusiana ainda válida.

O Brics+ é uma contradição com nossos interesses nacionais e com as tradições diplomáticas do Brasil.

Paulo Roberto de Almeida

São paulo, 12/07/2025

Fabio Giambiagi

 Governador deve imaginar que pode se eleger com o apoio de Bolsonaro e administrar suas relações com ele

Por Fabio Giambiagi - 10/07/2025 

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Peço licença para tratar novamente de política nestas páginas. Ocorre que o que acontecerá na economia do País depende de quem for presidente da República em 2027.


E nesse jogo há um tema fundamental, que é a possibilidade de concessão de indulto ao ex-presidente Jair Bolsonaro, em caso de vitória do governador Tarcísio de Freitas. Aqui, irei me valer da teoria dos jogos, que é a análise associada a processos em que as decisões dos indivíduos são interdependentes entre si.


“Bolsonaro livre” em 2027 pode significar:


1) ele ser indultado, mas não perder a inelegibilidade que decorreria da hipótese de ser condenado; ou

2) o acordo ser amplo e envolver uma anistia plena ao ex-presidente. Vamos assumir que, sendo Tarcísio presidente, vingue então a alternativa (1).


É preciso ter claro que:

1) Bolsonaro não quer apenas ficar fora da prisão, para ver TV em casa: ele quer voltar à Presidência; e

2) ele não vai assistir passivamente ao desenrolar dos acontecimentos, se ficar em liberdade.


Coloque-se, leitor, na posição de Bolsonaro em 2027, com um presidente eleito que se diga devedor dele. Legitimamente, o ex-presidente irá, então, pensar: “Se quem se elegeu o fez porque diz que os votos são meus, por que não posso ser eu o candidato na próxima eleição?”.


Em 2030, Bolsonaro terá 75 anos, idade que ainda o habilitaria para disputar as eleições sem que a questão etária entre em consideração.


É ilusão pensar que, se estiver livre, mas impedido de concorrer, irá ficar chupando picolé.


Não: irá colocar a sua “tropa” na rua, com passeatas pedindo anistia para poder concorrer em 2030 como candidato da corrente que se julgará vitoriosa em 2026.


Suponho que o governador deve imaginar que pode se eleger com o apoio de Bolsonaro e depois administrar suas relações com ele, entendendo que, com o indulto, teria quitado a “dívida” por ter sido lançado à política pelo seu antigo chefe.


A ver se este entende que isso quita a dívida ou se corresponde apenas a 50% da amortização.


A rigor, eu realmente não sei o que o governador Tarcísio pensa.

Só sei três coisas:


1) Bolsonaro quer estar no Planalto em janeiro de 2031;

2) se Tarcísio vencer, Bolsonaro será sua maior dor de cabeça; e

3) nesse caso, no mundo da inteligência artificial, e tendo de lidar com uma crise fiscal dramática, o País terá de perder tempo em 2027 para discutir no Congresso o perdão para meia dúzia de arruaceiros. É difícil ser otimista com o Brasil.

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