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Paulo Roberto de Almeida

 Brics+: uma avaliação superficial do encontro de cúpula no RJ

(porque não vale a pena perder tempo comentando cada parágrafo)


A declaração final vale mais pelas grandes lacunas que revelam suas imensas distorções políticas — até (i)morais — e bem menos pelas dezenas de parágrafos que enfeixam objetivos que nunca serão realizados e que não possuem qualquer significado maior para a solução das diversas guerras que ocorrem no mundo (a maior delas, uma guerra de agressão perpetrada por um de seus mais poderosos membros, totalmente ignorada pela hipocrisia da declaração) ou pelas ameaças à segurança e à paz no mundo, podendo resultar da ação bélica de outro de seus dirigentes (por acaso o mais poderoso do bloco, sintomaticamente ausente do conclave).

As lacunas são exatamente as que definem o Brics+ atualmente, que é um grupo de paises pretensamente desafiador da “hegemonia ocidental” formado por duas grandes autocracias, poucas democracias (de baixa qualidade substantiva) e várias outras autocracias ou ditaduras claras, na aparência representando um inexistente Sul Global (que só existe nas perorações acadêmicas e no jornalismo superficial), mas que possuem poucos objetivos nacionais convergentes, a não ser a pretensão de seus dirigentes de conseguir um palanque oportunista e uma photo opportunity na mídia mundial.

Pergunto: em quê, em quais objetivos realizáveis o grupo e seus países membros e associados, seus respectivos dirigentes, não poderiam alcançar resultados positivos, benéficos ou meritórios para os seus povos, por meio dos instrumentos, mecanismos e ferramentas já existentes na ordem multilateral atual (a da ONU e suas agências) e que precisam ser alcançados por uma vaga, totalmente indefinida “nova ordem global multipolar”, como vem sendo proposta pelas duas grandes autocracias do Brics+ e por um ou outro de seus ingênuos membros?

Nas últimas duas décadas, opositores da atual ordem global supostamente ocidental (ela o é objetivamente, desde o final da IIGM, mas o cenário vem mudando significativamente), que já é multipolar desde sempre, e que de toda forma parece muito mais aberta, democrática e defensora dos direitos humanos, vêm tentando construir uma ordem supostamente global (numca o será) que aparece como singularmente desprovida dos principais elementos que caracterizam a ordem não perfeita, mas baseado no multilateralismo cooperativo em favor da paz, das democracias de mercado, dos DH e da ideia de LIBERDADES, o que muitos dos atuais paises membros ou associados não exibem em sua plenitude.

Resumindo minha avaliação superficial: o Brics+ não é a base institucional, nem pode ser, a garantia de que o Brasil possa oferecer melhores soluções ao mundo em desenvolvimento para os imensos problemas de progresso econômico e social, de respeito às liberdades democráticas e de defesa dos direitos humanos que o próprio povo brasileiro espera de seus dirigentes, até mesmo para si, pois é uma tentativa canhestra de reformar uma ordem por certo imperfeita, mas ainda assim muito melhor do que as alternativas sendo oferecidas por autocracias e ditaduras de baixíssima qualidade na governança interna e na cooperação internacional. 

Uma delas, aliás, violou abertamente a Carta da ONU e o Direito Internacional e conduz uma criminosa guerrra de agressão (uma redundância) das mais violentas desde a IIGM, e o presidente brasileiro contribui acintosamente para escamotear os seus crimes por meio de uma declaração vergonhosa, indigna das melhores tradições da diplomacia profissional, assim como dos princípios e valores que regem as relações internacionais do Brasil.

Concluo: o BRIC de 2006-2009, o Brics de 2011 e o atual Brics+ não são compatíveis com os interesses do Brasil enquanto nação democrática, voltada para a cooperação externa em favor do desenvolvimento da comunidade internacional, de acordo à ordem onusiana ainda válida.

O Brics+ é uma contradição com nossos interesses nacionais e com as tradições diplomáticas do Brasil.

Paulo Roberto de Almeida

São paulo, 12/07/2025

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