segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Bankinter Matinal Portugal

 Análise Bankinter Portugal 


NY -0,03%, US TECH -0,05%, US SEMIS +0,05%, VIX 11,6% +0,8pb. BUND 2,86%, T-NOTE 4,13%, SPREAD 2A-10A USA=+64,5PB O10A, ESP 3,28%, ITA 3,55%. EURIBOR 12M 2,26% (FUT.12M 2,42%). USD 1,177. JPY 183.8. OURO 4.462$. BRENT 61,3$. WTI 57,3$. BITCOIN +2,2% (89.533$). ETHER +2,7% (3.016$).


SESSÃO: Inicia-se uma nova semana curta e com escassas referências económicas. Na quarta-feira (Passagem de Ano), a Europa encerra às 13h, e na quinta-feira (Ano Novo) os mercados estarão fechados. Destacam-se as Atas da Fed da reunião de 9/10 de dezembro na terça-feira e pouco mais, pois na sexta-feira há PMIs finais, sem expectativas de alterações significativas. As Atas não deverão trazer grandes novidades após o corte de taxas em -25pb para 3,50%[3,75%], conforme esperado, e o anúncio da compra de Letras do Tesouro para manter liquidez suficiente no sistema. A revisão em alta das previsões de crescimento para 2025/2028 e em baixa da inflação foi bem recebida pelo mercado, mantendo aberta a porta a novos cortes de taxas em 2026. O ritmo dependerá em parte do sucessor de Powell em maio. O anúncio deste pode ser "a" notícia da semana, embora oficialmente previsto para inícios de ano. K. Hasset, diretor do Conselho Económico da Casa Branca, continua como candidato favorito, mas outros como C. Waller ou K. Warsh mantêm-se nas sondagens. Qualquer um será da ala de Trump e trará um viés dovish mais ou menos assumido ao Conselho da Fed. Outro foco imprevisível é o geopolítico. Enquanto a China continua a desafiar Taiwan com manobras militares, Trump e Zelenski dizem estar mais próximos de um acordo após a reunião de ontem. Isto está a propiciar alguma realização de lucros no ouro (-1,3% até 4.474$).


Em resumo, semana curta e com pouca atividade, embora novidades "fora de agenda" com viés positivo possam animar o rally natalício para fechar um ano muito generoso e que deixa boas bases para um 2026 promissor.

domingo, 28 de dezembro de 2025

Gustavo Franco

 


Lourival Sant` anna

 


A polarização e o sectarismo transformaram a defesa da democracia em licença para o desvio de conduta e a ditadura no preço a pagar pela moralidade. As fontes de legitimidade se deslocaram dos princípios éticos e democráticos para o campo político-ideológico a que pertencem os líderes e autoridades. A concentração de poder mergulhou os dois maiores presidencialismos democráticos, EUA e Brasil, em uma crise de legitimidade e de moralidade. Minha coluna no ESTADÃO deste domingo: https://lnkd.in/dYArKhCx


Estados Unidos e Brasil, as duas maiores democracias presidencialistas, enfrentam uma crise de legitimidade decorrente de concentração e denúncias de abuso de poder – na presidência americana e na Suprema Corte brasileira.
A polarização serve de amortecedor contra as denúncias de malfeitos, ao deslocar o critério de legitimidade dos princípios éticos para o alinhamento político.
Faltam freios e contrapesos robustos o suficiente para conter pessoas que priorizam o dinheiro em detrimento da própria reputação. Como acordo de damas e cavalheiros, o presidencialismo se alicerça na premissa de que autoridades em altas posições da república seriam dotadas de vergonha.
Essa premissa já não é necessariamente válida. Os freios e contrapesos podem e devem ser reforçados. As cortes supremas dos EUA, Canadá e Reino Unido, por exemplo, adotaram códigos de conduta e mecanismos de supervisão ou controle externo. Mas nenhum mecanismo parece suficiente em face do que poderia ser considerado uma degradação moral sistêmica.
Tanto nos EUA quanto no Brasil, o Executivo, Legislativo e Judiciário foram capturados pelo centro gravitacional do poder — no caso americano, o presidente; no brasileiro, o STF. Esse ambiente foi facilitado pelo rebaixamento intelectual do debate político.
As discussões em torno da liberdade e da ética, os dois princípios basilares da civilização, foram contaminadas pelo sectarismo. Segundo essa lógica binária, a fonte de legitimidade não está no respeito às regras democráticas e éticas, mas no campo político-ideológico que uma autoridade ou líder ocupa.
Isso deu a alguns (não todos) integrantes dos três Poderes, tanto no governo quanto na oposição, proteção reputacional para atropelar os limites da democracia e da ética, conspirando para se manter no poder apesar de derrota eleitoral, ou usar o cargo em benefício próprio, ignorando o conflito de interesses.
Os abusos são justificáveis para o grupo ao qual pertence quem os comete, que vê como condenável a sua denúncia.
Criou-se a crença de que é preciso escolher entre democracia e moralidade, como se não houvesse corrupção nas ditaduras, e a defesa do Estado de Direito fosse licença para o desvio de conduta.

Lauro Jardim

 A íntegra: Em mansão, Vorcaro recebeu Alexandre de Moraes e políticos para jantar

Por Lauro Jardim


Em seus tempos de liberdade (muita liberdade, aliás), Daniel Vorcaro recebia políticos e autoridades para jantares numa mansão de R$ 36 milhões e 1,7 mil metros quadrados de área construída no Lago Sul, em Brasília.


Pelo menos em uma dessas noites, Alexandre de Moraes esteve presente — embora sem sua mulher, Viviane, cujo escritório de advocacia tinha o ex-banqueiro como o seu melhor cliente.


Neste jantar, ocorrido no último trimestre do ano passado, quando já vigia o contrato de R$ 129 milhões de Viviane com o Banco Master, Moraes dividiu as conversas com políticos poderosos do Centrão, deputados, ex-ministros do governo Bolsonaro e, naturalmente, com o gentil anfitrião.


Era o único ministro do STF entre os cerca de vinte convidados, todos homens.


Segundo o relato de um dos participantes deste e de outros jantares na casa brasiliense de Vorcaro, eram noites de conversas amenas.


Nem é preciso discutir a possibilidade de algum assunto do Master ter sido conversado naquela noite. Até porque, se fosse o caso, teriam ocasiões mais discretas para isso. Mas parece claro que a simples presença de um integrante da Corte num jantar na casa do melhor cliente de sua mulher pode soar inconveniente.

Aurelio Schommer

 Sílvio Romero, respeitado intelectual na virada do século XIX para o XX, disse: “somos formados pelo pior da África, o pior das Américas, o pior da Europa”. Capistrano de Abreu, mais ou menos na mesma época, desenhou nossos antepassados com as piores injúrias: só defeitos, zero qualidades. Sérgio Buarque de Holanda disse sobre os luso-europeus serem aventureiros, avessos ao trabalho. Sobre os luso-americanos, acrescentou um dito esquecido de Barléu: “não existe pecado abaixo da linha do Equador”. E isso nem é verdade, registre-se. 


Em Pernambuco, Maurício de Nassau é mais mencionado que Vidal de Negreiros, Filipe Camarão e Henrique Dias, os heróis de Guararapes, um filho de portugueses, outro de tupis, outro de africanos. Se viam como brasileiros. Por isso lutaram, evitando que o Brasil se transformasse em um grande Suriname, ou numa Indonésia americana. Registre-se que o capitão pernambucano Luís Barbalho Bezerra, ao enfrentar comandados de Nassau, disse ser difícil atirar em homens de olhos azuis. A beleza está nos olhos de quem vê. 


A tradição autodepreciativa brasileira é antiga e hegemônica. Nelson Rodrigues não inventou. O caso é mais de vergonha. Essa parte da culpa é recente, mas vergonha e culpa andam juntas, se não são a mesma coisa. Eu inventariei essa tradição autodepreciativa em meu livro “História do Brasil vira-lata”. No canal, há o livro completo transcrito em trechos. 


Inventariar é uma coisa. Outra é perguntar: é mesmo? Não temos motivos históricos para a autoestima? Bem, no início do século XIX, nossa renda per capita perdia por pouco para a dos Estados Unidos. De lá para cá, abriu-se um fosso, lenta e continuamente. Devemos ter errado em alguma coisa, erramos mesmo, especialmente por nossa negligência para com o ensino básico. Contudo não há culpados evidentes no registro histórico, pelo menos não de caso pensado, por maldade. E isso vale para governantes e governados. Nossos pecadores eram católicos, logo se supõe tenham pedido perdão de eventuais falhas. Nossos santos eram também pecadores, mas quão pobre será a nação que santifica seus ícones sem nuanças? Não somos nisso tão miseráveis.


Quanto às culpas politicamente corretas, não houve extermínio indígena deliberado, intencional. Estima-se que até metade de nossos ameríndios morreram por doenças trazidas da Europa e da África nos navios. Século e meio antes de 1500, semelhante parcela dos europeus morrera de peste, trazida nos navios. O patógeno era de origem asiática e é notável que não se ponha a culpa nos asiáticos com veemência por isso. O contato era inevitável, questão de tempo, lá e cá, em toda parte. 


O escravismo era mesmo abominável. Ainda mais abominável se constatamos se tratar de prática abjeta universal até o século XVIII pelo menos. Não acabou. Há mais pessoas submetidas a trabalho escravo hoje do que em qualquer data no passado. Tardou a abolição formal no Brasil? Sem dúvida. Tardou ainda mais em alguns países da África. Diga-se em nosso favor que o regime nunca incluiu algo como as leis Jim Crow dos Estados Unidos, de apartheid, vigentes até meados dos anos 1960. Não existe pecado do lado de cima da linha do Equador. 


Culpar os outros é maniqueísmo de quinta categoria, vamos combinar, sim? Primeiro os portugueses, como se brasileiro não fosse rigorosamente igual a luso-americano. Na cultura, que é o que importa. Portanto, é mais autodepreciação. E logo em relação ao português, o pequeno povo que apresentou o mundo ao mundo. Os ingleses? Os americanos? Por que fizeram comércio conosco? Por que investiram aqui? Por que, no caso inglês, nos emprestaram dinheiro? “Ah, nos exploraram”. O uso do verbo explorar nesse caso tem o sentido de viver à custa do outro. São uns preguiçosos mesmo, esses seres de fala inglesa. Vivem do que o mundo dá a eles. Pera. Esses dias não estávamos desesperados para que não parassem de comprar o que produzimos? É mesmo o caso de parar de fazer comércio? Isso iria nos redimir? De quê, afinal? Nacionalismo vitimista é uma vertigem, uma espécie de alienação. 


Harold Bloom perguntou como podia Machado de Assis escrever tão bem tendo vivido o tempo todo nos trópicos, no Brasil, para piorar. Não nos ocorre a pergunta de Bloom, porque nós não sabemos o quão bem escrevia Machado de Assis, um brasileiro mestiço, como a maior parte dos brasileiros. Não o lemos. Não lemos quase nada. Isso deveria afetar negativamente nossa autoestima. Não afeta. Enquanto não afetar, é uma tragédia. Nossa redenção está ao alcance dos nossos olhos e nos distraímos com outras coisas, como com uma autodepreciação assentada não no registro histórico, mas na ignorância do registro histórico.

sábado, 27 de dezembro de 2025

Alvaro Costa e Silva

 Coluna do Alvaro Costa e Silva na Folha de hoje (27 de dezembro), p. A3.


QUARTETO FANTÁSTICO 


O lugar-comum publicitário inventou uma fórmula para atrair o leitor desacostumado aos livros de não ficção: garantir que estes podem ser lidos como um romance. Raramente isso é verdade. "As Cartas do Boom" tem essa mágica, com a vantagem de que o tema central é a arte de escrever romances.


Não quaisquer romances. O livro recém-lançado mostra a gestação e registra o impacto de quatro obras —"A Morte de Artêmio Cruz", "O Jogo da Amarelinha", "A Cidade e os Cachorros", "Cem Anos de Solidão"— que obtiveram êxito de público e alta estima crítica, sacudindo a roseira da literatura na segunda metade do século 20.


É a primeira compilação da correspondência —207 cartas— entre os principais romancistas do movimento que ganhou a etiqueta de "boom": o mexicano Carlos Fuentes, o argentino Julio Cortázar, o peruano Mario Vargas Llosa e o colombiano Gabriel García Márquez. Os dois últimos ganharam o Nobel, e se o tivessem dado aos dois primeiros, tudo bem.


Fruto da amizade, da ambição e da inveja, é um epistolário pleno de vida. A parte mais relevante começa em 1955 e vai até 1976, quando as desavenças pessoais, motivadas pela política, desintegraram o quarteto fantástico.


É curioso notar como a vocação dos escritores esteve ligada ao encantamento pela Revolução Cubana e como, aos poucos, modificaram seu posicionamento em relação a Fidel Castro, até se tornarem irreconciliáveis. Em 1976, Vargas Llosa desferiu o famoso "puñetazo" contra García Márquez, no saguão de um cinema mexicano.


As cartas mostram o Fuentes pragmático, lutando para promover e vedetizar o grupo. Mosqueteiro mais velho, Cortázar é o crítico cruel, mas necessário; a pedido dos confrades, lê os inéditos e não se furta em apontar as falhas. Vargas Llosa é o mais obstinado em se tornar um escritor de sucesso; não à toa, seu apelido é "Grande Chefe Inca". Mesmo nas mensagens mais prosaicas, a música verbal de García Márquez sobressai, ao lado de seu disfarce de indiferença diante do intelectualismo.

Efeitos do Bolsa Família

 


Carlos Alberto Sardemberg

 O exemplo que vem do Chile A coluna de Carlos Sardenberg, publicada em O Globo nesta segunda-feira, me fez sentir inveja do Chile — um país...