terça-feira, 7 de outubro de 2025

FMI Instabilidade cambial

 FMI alerta para vulnerabilidade crescente do mercado global de câmbio


Victor Rezende De São Paulo


 


O aumento da incerteza macrofinanceira, a expansão das instituições financeiras não bancárias e os riscos operacionais crescentes fazem com que o mercado global de câmbio fique exposto a choques adversos. O alerta é feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que defende uma agenda de resiliência para o mercado global de câmbio que combine supervisão mais rigorosa, infraestrutura mais robusta e cooperação internacional para preservar a estabilidade do sistema financeiro global.


Em seu relatório de estabilidade financeira divulgado nesta terça-feira, o FMI avalia que as mudanças estruturais no mercado de câmbio, como a maior participação de instituições financeiras não bancárias e o crescimento das operações com derivativos, trazem benefícios, "mas também podem aumentar a vulnerabilidade do mercado de câmbio a choques adversos", ainda que esse mercado seja o maior e mais líquido do mundo, com US$ 9,6 trilhões negociados diariamente.


"O uso crescente de derivativos de câmbio tem aumentado a liquidez e melhorado a gestão de riscos, ao permitir que as instituições protejam suas exposições cambiais e acessem financiamento em moeda estrangeira. No entanto, esse avanço também facilitou operações alavancadas e ampliou a interconectividade entre agentes financeiros", observa a instituição. E, em períodos de estresse, o FMI nota que chamadas de margem e processos forçados de desalavancagem "podem intensificar a volatilidade e pressionar a liquidez do mercado".


"Além disso, a opacidade dos mercados de derivativos de balcão ('tiver-the-counter", OTC), que dominam as operações de câmbio, dificulta o monitoramento de riscos por parte de reguladores e bancos centrais e pode mascarar o acúmulo de riscos sistêmicos", afirma o fundo.


O aumento da incerteza macrofinanceira pode pressionar as condições do mercado de câmbio e elevar, de maneira significativa, os custos de captação, reduzir a liquidez e ampliar a volatilidade. E, na avaliação do FMI, o impacto desses choques é mais acentuado nos mercados emergentes e nas moedas com alta participação de instituições financeiras não bancárias, redes concentradas de dealers e atividade mais intensa de hedge.


"Os efeitos dos choques são maiores para as moedas de mercados emergentes", diz o FMI. "Elas tendem a sofrer impactos mais fortes e persistentes após choques de incerteza, em todas as medidas de condições do mercado de câmbio. As bases entre as moedas (cross-currency bases) e os spreads de compra e venda (spreads bid-ask) se alargam, em média, mais do que o dobro dos valores estimados para as economias avançadas. Além disso, os efeitos sobre a volatilidade dos retornos cambiais excedentes também aumentam de forma significativa."


Há um apontamento, ainda, de que episódios de estresse nos mercados de câmbio podem se espalhar para outros ativos financeiros e apertar as condições financeiras, com eventuais riscos à estabilidade macrofinanceira, especialmente em países com grandes descasamentos cambiais e vulnerabilidades fiscais.


Entre as principais recomendações feitas pelo FMI, estão um aprimoramento da supervisão dos mercados, "com monitoramento dos riscos sistêmicos, testes de estresse e análises de cenários que capturem choques de liquidez e seus efeitos de transbordamento". Além disso, para o fundo, é necessário fechar lacunas de dados sobre o mercado de câmbio e melhorar a transparência, especialmente em relação a instituições financeiras não bancárias.


Há outros pontos levantados pela instituição, como garantir buffers de liquidez e capital que tenham apoio de mecanismos eficazes de proteção, como acesso à liquidez de bancos centrais com supervisão adequada, reservas internacionais suficientes e linhas de swap ampliadas entre bancos centrais. Além disso, o FMI diz ser necessário fortalecer a resiliência operacional de infraestruturas do mercado financeiro e reduzir os riscos de liquidação e ineficiências do mercado nas operações de câmbio OTC. 07/10/2025 10:01:04

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: O governo dos EUA continua parcialmente encerrado e não parece que irá reabrir brevemente. O recém-nomeado PM francês demite-se, mas para o mercado não faz diferença e as bolsas continuam a subir. Europa um pouco frágil, mas só como reação contrária de descanso depois de ter subido também na sexta-feira pelo 6.º dia consecutivo. AMD anima (ainda mais) a tecnologia e Naturgy coloca3,5% que tinha em autocarteira (desconto de quase 4%). Pelo menos os futuros vêm mais fracos hoje, retrocedendo ca.-0,1%/-0,2%, portanto seria bom que descansasse um pouco numa semana sem graça por falta de referências.


GEOPOLÍTICA. 

FRA: O seu novo PM (Lecornu) demite-se, nomeado há apenas 1 mês por Macron. Isto volta a trazer a possibilidade de eleições parlamentares, visto que é o terceiro a demitir-se desde que Macron convocou, imprudentemente, eleições antecipadas em julho de 2024, para perder (venceu a Nova Frente Popular)… e nada mais, nada menos do que o 7.º PM com Macron, que é Presidente desde 2017. A bolsa francesa caiu ontem -1,4%, que não é muito, porque as suas obrigações aguentaram bem (O10A 3,58%, que é a mesma que a italiana).


EMPRESAS. 

AMD subiu ca.+20% (embora na sessão tenha chegado a subir quase +35%) ao fechar um acordo com OpenAI (Altman; Microsoft) para proporcionar-lhe chips por 100.000 M$ em 4 anos, que inclui a opção desta última para comprar até 10% de AMD em várias secções, em função do cumprimento futuro de uma série de marcos de negócio, o mais “barato” dos quais será a 0,01 $/ação vs. 203,71 $ fecho ontem. AMD já tem produzido chips para OpenAI (o MI450 e outros).


NATURGY colocou 3,5% do seu capital que tinha em autocarteira a 25,90 €/ação, um desconto de 3,9% sobre o fecho de ontem (26,94 €/ação). O seu free-float sobe desde 15% até 18,5%, que é o objetivo aparente desta colocação. Esta empresa é quase uma obrigação pela estabilidade do seu negócio e porque a sua rentabilidade por dividendo é de 6,3%, o que inclui um prémio de risco corporativo de ca. 300 p.b. (6,3% - 3,3% de yield da O10A ESP).


CONCLUSÃO: Hoje não sai macro relevante, mas falam 4 conselheiros da Fed: às 15 h, Bostic, 15:05h Bowman, 15:45h Miran (o mais “perigoso”) e, às 16:30 h, Kashkari. Isto poderá dar algum jogo a uma sessão carente de referências, na qual encaixaria perfeitamente um descanso passageiro. Com os eventos geopolíticos que já se tinham materializado (FRA, JPN), estamos à espera de uma reabertura do governo dos EUA, que tardará a chegar… sem que quase não afete o mercado. O desenvolvimento mais provável para hoje é aplanamento aborrecido e obrigações quase fixadas em intervalos muito fechados.


NY +0,4% US tech +0,8% US semis +2,9% UEM -0,4% España -0,2% VIX 16,4% Bund 2,72% T-Note 4,15% Spread 2A-10A USA=+56pb B10A: ESP 3,26% PT 3,12% FRA 3,58% ITA 3,58% Euribor 12m 2,226% (fut.2,270%) USD 1,169 JPY 176,0 Ouro 3.964$ Brent 65,7$ WTI 61,9$ Bitcoin +0,6% (124.283$) Ether +3,7% (4.694$) 


FIM

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: A química está dando resultados*


O dia tem entrevista de Haddad, divulgação do IGP-DI e falas de quatro dirigentes do Fed


… Sem dados nos Estados Unidos, com o shutdown ainda sem uma solução, os investidores em Nova York acompanham hoje as falas de quatro dirigentes do Fed no final da manhã, além de mais um discurso de Lagarde (BCE). Aqui, o dia começa com uma entrevista de Haddad no programa Bom Dia, Ministro e a divulgação do IGP-DI, que deve acelerar em setembro. No Congresso, o desafio do governo é votar a Medida Provisória do IOF, que representa R$ 20 bilhões em arrecadação e já está no Orçamento deste ano. Perde a validade amanhã. Mas o que continua rendendo no noticiário é a conversa entre Lula e Trump, que renovou a expectativa de um acordo comercial e revisão de tarifas.


BEST FRIENDS – Sem que ninguém soubesse que haveria um telefonema, Lula e Trump conversaram por meia hora na manhã desta segunda-feira, e concordaram em se encontrar pessoalmente, em uma agenda que deve ter data e local divulgados em breve.


… O Planalto divulgou trechos importantes da conversa, como o pedido de Lula ao presidente Trump para zerar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e rever as punições a autoridades e ministros do STF, como Alexandre de Moraes, atingido pela Lei Magnitsky.


… Trump também falou sobre o contato, indo à sua rede social para dizer que teve uma conversa “muito boa” com o presidente brasileiro sobre economia e o comércio entre os dois países, e que deve se encontrar com Lula “em um futuro não tão distante”.


… Pouco depois, questionado pelos jornalistas da Casa Branca, Trump elogiou Lula, dizendo que ele é uma “ótima pessoa”, que os dois países vão “começar a fazer negócios” e que, “em algum momento, Lula virá aos Estados Unidos e eu irei ao Brasil”.


… Em entrevista à TV Mirante, afiliada da Rede Globo no Maranhão, Lula disse ter ficado “bastante surpreso com a cordialidade de Trump”.


… “Eu falei para ele: olha, presidente, eu não sei quais são as informações que o senhor tem sobre o Brasil, mas é importante que a gente converse olho no olho para a gente mostrar o que está acontecendo. Eu acho que as coisas ficaram mais claras e que ele entendeu.”


… Lula contou até mesmo que os dois trocaram telefones pessoais para que possam falar sem intermediários. “Se eu tiver que tratar com Trump e ele comigo, a gente pega o telefone, liga um para o outro e coloca o assunto na mesa.”


… Lula revelou ainda que a situação de Jair Bolsonaro não foi discutida nem por ele e nem pelo presidente Trump.


… Trump designou o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin, com o ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.


… A escolha de Rubio foi recebida com preocupação por algumas pessoas, já que o secretário agiu para punir o Brasil em articulação com Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, que mal disfarçaram a dor de cotovelo com mais essa aproximação entre Trump e Lula.


… Eduardo disse que a escolha de Rubio foi “um golaço”, que ele “não cairá no papo de independência de um Judiciário aparelhado”, mas o STF tem outra opinião. Ministros da Corte ouvidos pelo Valor acreditam que Eduardo ficou “ainda mais isolado”.


… Representantes do setor privado consultados pelo jornal exibiram um otimismo cauteloso, avaliando que, para que o tarifaço possa ir à mesa, será necessário incluir os secretários de Comércio, Howard Lutnick, ou do Tesouro, Scott Bessent.


… O Itamaraty concorda que Rubio é visto como um político “linha dura” em relação aos regimes de esquerda da América Latina, mais alinhado aos bolsonaristas, mas os diplomatas acreditam que ele seguirá as instruções que receber do presidente Trump.


… No mercado, o novo contato entre Trump e Lula – explorado politicamente pelo Planalto – foi recebido sem entusiasmo, do mesmo modo que todas as notícias que favorecem as chances de reeleição. A Faria Lima ainda torce pela alternância de poder em 2026.


MP DO IOF – Na véspera de caducar a Medida Provisória apresentada com alternativas ao aumento do IOF, o ministro Haddad reuniu-se ontem à noite com o presidente da Câmara, Hugo Motta, na tentativa de garantir que ela seja aprovada hoje.


… Após vários adiamentos, a votação da MP 1.303 na comissão mista está marcada para esta terça-feira e a esperança do relator, o deputado Carlos Zarattini (PT), é que o texto seja também levado ao plenário, deixando o último dia para a votação no Senado.


… Zarattini já fez as concessões que representam as maiores resistências da bancada ruralista e do setor imobiliário, isentando as LCAs e LCIs. Se a MP não for votada nas duas Casas até amanhã, quarta-feira, perde a validade.


… Ao Valor, Hugo Motta sinalizou uma tendência pela alteração do texto, que enfrenta resistência no Centrão e na oposição.


IR NO SENADO – Já o projeto que isenta do Imposto de Renda os contribuintes que ganham até R$ 5 mil mensais, aprovado por unanimidade na Câmara, começa a avançar no Senado. Alcolumbre deve indicar hoje o calendário e quem será o relator.


… O presidente do Senado deve se reunir com o senador Renan Calheiros (MDB), principal cotado para assumir a relatoria do projeto.


… Haddad disse que vê “grande simpatia” do presidente do Senado pelo projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda. Em entrevista à TV Record, nesta segunda-feira, o ministro disse ter “certeza de que os senadores vão fazer exatamente o que os deputados fizeram”.


REFORMA ADMINISTRATIVA – O coordenador do grupo de reforma administrativa na Câmara e relator da proposta, deputado federal Pedro Paulo (PSD), reconheceu a necessidade de um longo debate sobre o tema, mas considera possível a aprovação ainda este ano.


… A sugestão dele é acoplar o projeto em uma Proposta de Emenda Constitucional já em tramitação. Segundo ele, existem cerca de 30 PECs em temas correlatos à reforma administrativa, que poderiam ser usados nesta estratégia para acelerar a aprovação do tema.


… Ao falar sobre a reforma administrativa em um evento no Rio, Pedro Paulo comentou que a Câmara “está muito machucada” e os deputados estão à flor da pele. “O deputado não quer colocar a digital em nenhum projeto sem a percepção plena de que aquilo é bom.”


FUFUCA – No movimento de desembarque dos partidos do Centrão do governo Lula, o ministro Esporte, André Fufuca (PP), recebeu um ultimato do seu partido para sair até esta terça-feira. Mas, pelo visto, a vontade é ficar e desobedecer a Ciro Nogueira.


… Ao lado do presidente no Maranhão, Fufuca disse que é uma “honra” estar no governo, que cometeu um erro em 2022 ao apoiar Bolsonaro, mas que, em 2026, estará ao lado de Lula. “Eu falo em alto e bom som: eu tô com Lula.”


SHUTDOWN – Em nova votação ontem à noite, o Senado dos Estados Unidos rejeitou mais uma proposta que encerraria a paralisação do governo americano, mesmo após Trump ter dito que “as negociações com os democratas sobre os planos de saúde estão em andamento”.


… Os democratas estão exigindo que o Congresso estenda os benefícios de saúde, enquanto os republicanos tentam esgotá-los com a votação diária do projeto de lei aprovado pela Câmara que reabriria o governo temporariamente, principalmente nos níveis de gastos atuais.


… Mais cedo, Trump publicou na Truth Social que estava disposto a trabalhar em “políticas de saúde fracassadas”, mas disse que os democratas deveriam permitir que o governo retome as atividades e encerre o shutdown. “Deveriam abrir nosso governo esta noite!”


… O líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, disse que, se Trump finalmente estiver pronto para trabalhar com os democratas “estaremos à mesa.”


TARIFAS – Em outra postagem em sua rede social, Trump confirmou que, a partir de 1º de novembro, todos os caminhões médios e pesados provenientes de outros países que entrarem nos Estados Unidos serão taxados à alíquota de 25%.


AGENDA – No escuro em relação aos indicadores por causa do shutdown, o mercado confere as participações em eventos de dois Fed boys que votam este ano: Michelle Bowman (11h05) e Stephen Miran (11h45 e 17h05).


… Ainda hoje, falam Raphael Bostic (11h) e Neel Kashkari (12h30), estes sem direito a voto pelo sistema de rodízio.


… À tarde (16h), o Fed divulga o crédito ao consumidor em agosto. Na França, Christine Lagarde discursa em evento às 13h10, um dia depois de ter reafirmado que o BC não tem compromisso prévio com uma trajetória de juros.


… Segundo ela, as decisões de política monetária continuam dependentes de dados e serão definidas a cada reunião. Lagarde acredita que o processo de desinflação terminou e que a taxa deve permanecer em torno de 2%.


… Na Ásia, as bolsas da China, Coreia do Sul e Hong Kong seguem fechadas para feriados.


AQUI – Haddad participa às 8h do programa “Bom dia, Ministro”, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).


… No mesmo horário, a FGV divulga o IGP-DI, que deve acelerar de 0,20% em agosto para 0,42% em setembro. O intervalo das estimativas para esta leitura varia de 0,33% a 0,65% no Projeções Broadcast.


… A alta dos preços agropecuários no atacado deve sustentar o ganho de fôlego do dado de inflação.


CONQUISTANDO CORAÇÕES – Rolou de novo a química entre Trump e Lula no telefonema, sem maior entusiasmo, no entanto, no mercado. O câmbio foi o que melhor reagiu. Mesmo assim, o dólar não conseguiu furar R$ 5,30.


… Na mínima intraday, parou em R$ 5,3087, indicando que tem aí um suporte à espera de novos gatilhos para ser quebrado. A moeda americana terminou o dia em queda moderada de 0,49%, a R$ 5,3107, desafiando a alta externa.


… No mesmo dia em que Lula explicou a Trump que o Brasil está em desvantagem na balança comercial, a pasta do Desenvolvimento informou que o déficit com os americanos no acumulado do ano praticamente quadruplicou.


… O valor passou de US$ 1,32 bilhões no período de janeiro a setembro do ano passado para US$ 5,1 bilhões. Considerando só setembro, o saldo negativo também aumentou, de US$ 573 mi em 2024 para US$ 1,77 bi agora.


… Ontem, além da aproximação diplomática entre a Casa Branca e o Planalto, o petróleo mais caro favoreceu o real. Ainda o carry trade, como sempre, vem garantindo o fôlego da moeda brasileira, com o BC que não tem pegado leve.


… “É hora de cerrar os dentes”, defendeu Galípolo ontem, quando questionado por Arminio Fraga, em evento, se o BC não deveria alongar o horizonte de convergência da inflação para não agravar o risco de dominância fiscal.


… Arminio sugeriu “dosimetria” na política monetária, enquanto Galípolo argumentou que, desde o início do ciclo, o Copom vem sendo gradual na definição da taxa Selic e que o ajuste do juro está agora em sua fase mais importante.


… Mantendo o discurso conservador, o presidente do BC afirmou que, com base no levantamento Focus, o IPCA não vai convergir à meta até 2028 e que o Copom não pode se desviar da busca pelo alvo central de 3% para a inflação.


… Horas depois, na entrevista à Record, Haddad disse que “alguns reputam, até exageradamente, pelo nível da taxa de juros”, que a inflação está em queda e que, talvez ainda este ano, o IPCA fique dentro da banda de 4,5%.


… Atualmente, o índice oficial acumula alta de 5,13% nos 12 meses encerrados em agosto. Na próxima quinta-feira, sai o IPCA de setembro. No Focus, a estimativa para o indicador este ano teve ajuste marginal, de 4,81% para 4,80%.


… As projeções para os próximos três anos ficaram inalteradas. A mediana das apostas prevê alta de 4,28% para o IPCA em 2026; de 3,9% em 2027; e de 3,7% para 2028, estourando, em todos os prazos, o target central de 3%.


… Diante da comunicação hawkish do BC e dos ruídos fiscais domésticos (reflexos da isenção do IR sobre o consumo e a inflação, além do projeto para zerar as tarifas dos ônibus urbanos), a curva do DI devolveu pouco prêmio ontem.


… O contrato de juro para Jan/26 ficou estável, em 14,898%; Jan/27 caiu a 14,105% (de 14,124% no ajuste anterior); Jan/29 recuou para 13,370% (de 13,425%); Jan/31, a 13,565% (de 13,615%); e Jan/33, a 13,670% (de 13,700%).


… Apesar das quedas tímidas, os juros futuros conseguiram operar descolados da alta da taxa dos Treasuries.


MON DIEU! – Lá fora, os retornos dos títulos do Tesouro americano subiram, de olho no salto dos yields dos bônus franceses, após a renúncia inesperada do primeiro ministro, Sébastien Lecornu, há menos de um mês no cargo.


… Nos últimos dois anos, a França já teve cinco primeiros-ministros, para dar a dimensão da crise política.


… A saída de Lecornu aumenta as chances de dissolução do Parlamento e consequente convocação de novas eleições. Líderes da oposição pedem que Macron renuncie, aprofundando ainda mais o colapso do governo.


… Em meio às turbulências, o juro da T-note de 2 anos subiu a 3,597%, de 3,575% no pregão de sexta-feira; a taxa de 10 anos avançou para 4,164%, de 4,120%; e o rendimento do T-bond de 30 anos aumentou para 4,756%, de 4,712%.


… No câmbio, o euro caiu 0,25%, para US$ 1,1716. A libra esterlina fechou praticamente estável (+0,03%), a US$ 1,3484. Quem levou uma surra ontem foi o iene, que afundou mais de 1,80%, negociado a 150,32 por dólar.


… O tombo da moeda japonesa levou o índice DXY a registrar uma valorização de 0,39%, para 98,108 pontos.


… O iene sentiu a vitória de Sanae Takaichi como líder do partido governista e sua provável indicação como primeira-ministra, apesar de ela ser defensora do expansionismo fiscal, o que pode pressionar o BoJ a subir os juros.


… Nos Estados Unidos, em discurso de tom mais duro, o Fed boy Jeffrey Schmid, que vota este ano, disse que a política monetária está “levemente restritiva” e que “este é o ponto certo em que devemos estar”.


… Em sua avaliação, o mercado de trabalho americano está esfriando, mas permanece saudável, enquanto a inflação continua muito alta e alimenta preocupações de que os aumentos de preços estejam se tornando generalizados.


… O alerta e o sexto dia de shutdown foram ignorados em Nova York pelo S&P 500 (+0,36%, a 6.740,28 pontos) e pelo Nasdaq (+0,71%, aos 22.941,67 pontos), que voltaram a renovar recordes com a onda da Inteligência Artificial.


… Destaque para a AMD, que disparou 23,71%, após anunciar parceria com a OpenAI para fornecimento de chips.


… O Dow Jones destoou das máximas históricas dos demais índices, mas caiu pouco, só 0,14%, a 46.694,97 pontos.


ACOMODADO – Descansando da sequência de recordes recentes que o levaram ao topo dos 146,5 mil pontos, o Ibovespa continua realizando lucro. Recuou 0,41% e entregou os 144 mil pontos (143.608), com giro de R$ 16,6 bi.


… Apesar da conversa amistosa entre Trump e Lula, o índice à vista perdeu força com a queda em bloco do setor financeiro e de Petrobras, mas limitou o ajuste negativo graças à forte alta de 1,71% da Vale, cotada a R$ 59,59.


… O papel está próximo de romper os R$ 60, marca vista pela última vez em janeiro do ano passado, segundo anotou o Broadcast. A ação ganhou impulso com o anúncio de que a mineradora irá recomprar debêntures participativas.


… Na contramão do petróleo, Petrobras PN recuou 0,90%, para R$ 30,72, e ON perdeu 0,57%, a R$ 32,88.


… O Brent para dezembro subiu 1,45%, a US$ 65,47, já que o aumento de produção decidido pela Opep+ no fim de semana, de 137 mil barris por dia a partir de novembro, ficou menor do que se especulava (até 500 mil barris).


… No setor financeiro, Bradesco reduziu as perdas, depois de ter caído quase 2% mais cedo. ON fechou em baixa de 0,82%, a R$ 14,59, e PN recuou 0,58% (R$ 17,00). Itaú devolveu 1,15% e terminou na mínima do dia, a R$ 37,77.


… Santander unit registrou desvalorização de 0,83%, para R$ 28,59, e BB ON perdeu 0,79%, a R$ 21,41.


… GPA subiu 2,08% com notícia de que a família Coelho Diniz conquistou espaço. Elegeu três representantes no conselho de administração, mais um membro independente e tem alinhamento com outro membro independente.


COMPANHIAS ABERTAS – PETROBRAS assinou cinco contratos de serviços, totalizando R$ 9,6 bilhões, para construção de unidades do Projeto Refino Boaventura…


… Objetivo é integrar o Complexo de Energias Boaventura, em Itaboraí (RJ), e a Refinaria Duque de Caxias.


JBS. Comunicou que a JBS N.V realizará leilão amanhã (quarta-feira) para vender BDRs oriundos das frações de ações da JBS remanescentes da incorporação de ações realizada no âmbito da dupla listagem, concluída em junho.


TELEFÔNICA aportou R$ 17 milhões e concluiu a reorganização societária na Vivae Educação Digital, companhia detida em conjunto com a Ânima Holding.


TAESA. BlackRock aumentou a participação acionária na companhia para 5,004%, passando a deter 22.158.456 de papéis preferenciais…


… Gestora não foi citada como detentora de participação relevante na companhia no formulário de referência mais recente, de 5 de setembro…


… Adicionalmente, BlackRock detém 2.369.743 de instrumentos financeiros derivativos referenciados em ações preferenciais com liquidação financeira.


VINCI COMPASS anunciou acordo para adquirir 50,1% da Verde Asset por R$ 46,8 mi, mais uma parte em ações…


… Depois de cinco anos, a empresa poderá adquirir a fatia restante por R$ 127,4 milhões, a depender do atingimento de determinadas condições (“earnout”).

Opinião Follow de money

 *OPINIÃO. 


O caminho do dinheiro e a responsabilidade dos bancos


Fernanda Tórtima

6 de outubro de 2025


A Operação Carbono Oculto colocou em evidência um ponto sensível do sistema financeiro: a suspeita de que instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN) estariam sendo irrigadas com recursos provenientes de atividades ilícitas praticadas por organizações criminosas.


É difícil conceber uma investigação de lavagem de dinheiro que não envolva, em algum momento, o rastreamento do fluxo financeiro. Essa é, em regra, a rota mais segura para compreender como os recursos ilícitos foram introduzidos, movimentados e reinseridos na economia.


Contudo, os números e relatórios contam apenas uma parte da história: a análise fria de movimentações de ativos precisa ser complementada por elementos contextuais, verificações externas e cruzamentos de dados que revelem a lógica e a motivação subjacentes às transações, bem como a adesão de agentes do mercado financeiro aos propósitos criminosos do titular dos valores ilícitos.


Investigações sobre a entrada de recursos provenientes de organizações criminosas em instituições que compõem o Sistema Financeiro Nacional (SFN) devem ser prudentes e, de preferência, discretas. As autoridades precisam avaliar como e por qual razão esses valores passaram a ser custodiados ou administrados por instituições financeiras ou entidades a elas equiparadas.


A lei brasileira impõe a bancos e a outras pessoas jurídicas que desenvolvam atividades sensíveis para a lavagem de dinheiro obrigações específicas de prevenção. Elas fazem parte do grupo chamado de “pessoas obrigadas”, justamente por atuarem em setores mais vulneráveis à tentativa de esconder dinheiro de origem criminosa. Entre essas obrigações está a de conhecer o cliente — o processo conhecido como KYC (Know Your Customer) – e a de comunicar ao COAF, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, qualquer movimentação considerada atípica ou suspeita.


Mas há um detalhe importante: a legislação não exige que a instituição recuse a realização da operação suspeita. Uma vez cumpridos os procedimentos de identificação e checagem que permitiram o início do relacionamento com o cliente, a instituição pode realizar a transação, desde que a comunique ao COAF, o que permite que as autoridades acompanhem o fluxo do dinheiro sem que os envolvidos sejam alertados.


Não se pode ignorar que o descumprimento, pelas instituições financeiras, das normas do órgão regulador pode causar instabilidade ao SFN, aumentando o risco sistêmico e de crises financeiras. O mesmo risco, por outro lado, pode advir da precipitação em se levantar publicamente suspeitas contra essas entidades sem a devida apuração. E é preciso atenção na análise das consequências jurídicas da realização de operações atípicas ou suspeitas e da sua não comunicação ao COAF.


Quando um banco ou uma gestora de ativos se depara com uma operação atípica ou suspeita, e a comunica ao COAF, pouco importa se a operação foi, ou não, realizada. A regra é clara: se a operação foi comunicada ao COAF, a instituição financeira cumpriu sua obrigação. A investigação, dali em diante, fica por conta do Estado.


Por outro lado, se a instituição financeira, diante das características da operação, se recusa a realizá-la, mas não comunica a tentativa ao COAF, não se pode imputar lavagem de dinheiro aos seus gestores, mas podem eles ter praticado ilícito administrativo, já que a mera tentativa de realização de operações atípicas ou suspeitas é de comunicação obrigatória, nos termos das normas do BC aplicáveis.


O cenário mais delicado é aquele em que a instituição financeira realiza a operação atípica ou suspeita sem avisar o COAF. Diante de situações como essas, as autoridades responsáveis pela persecução penal vêm buscando atribuir a prática de crime de lavagem de dinheiro a essas entidades. E muitas vezes com razão.


É preciso, no entanto, algum cuidado. Nem toda operação “atípica” significa lavagem: às vezes, ela só chama atenção por envolver um valor muito alto ou por apresentar características incomuns.


Além disso, nem sempre o agente da instituição financeira conhece a origem do dinheiro. Se ele não tinha conhecimento da origem criminosa, não há dolo (intenção), apenas negligência. Nesse caso, o que se aplica é uma infração administrativa, não crime, já que não há crime de lavagem de capitais culposa em nosso ordenamento jurídico.


Por tudo isso, investigações de lavagem de dinheiro não podem se apoiar apenas em extratos e relatórios. Eles são peças do quebra-cabeça, mas não revelam a história inteira. É necessário avaliar o contexto, entender a lógica das operações e checar se as movimentações fazem sentido diante da realidade econômica de quem movimenta os recursos.


Só esse olhar mais amplo permite responsabilizar com justiça — seja no campo administrativo, seja no penal — os que participam do mercado financeiro e de capitais. É um trabalho que exige método, paciência e, sobretudo, precisão, para que a busca por transparência não se torne ela própria um fator de instabilidade.


Fernanda Tórtima é advogada criminal, sócia fundadora do TGM Advogados, mestre em Direito Penal pela Universidade de Frankfurt e doutoranda em Direito pela FGV/SP.



https://braziljournal.com/opiniao-o-caminho-do-dinheiro-e-a-responsabilidade-dos-bancos/

Verde...Vinci Compass

 *Vinci compra a Verde e entra em multimercados; Stuhlberger continua*


Geraldo Samor e Pedro Arbex6 de outubro de 2025


A Vinci Compass acaba de anunciar a aquisição da Verde – cujo histórico de performance fez de Luis Stuhlberger o gestor mais respeitado do Brasil – numa transação que marca sua entrada em multimercados e traz complementaridade de produtos e no passivo. 


A transação une a Vinci – que tem crescido por meio de aquisições e hoje administra mais de R$ 300 bilhões – a uma placa que tem R$ 16 bilhões em ativos e opera desde 1997, batendo consistentemente o mercado. 


Enquanto a Vinci é focada principalmente em crédito e private equity e tem um passivo mais concentrado em institucionais brasileiros e internacionais, a Verde opera com fundos multimercado, de ações e de previdência, e tem um passivo concentrado no varejo.


Alessandro HortaAlessandro Horta, o CEO da Vinci, disse que Stuhlberger “é o maior alocador de capital na história do Brasil. Não tem ninguém que faz isso de forma tão consistente e com um track record tão comprovado como o dele.”


Como a maior parte da estratégia de alocação de capital da Vinci hoje é fora do Brasil, “o Luis vai poder contribuir enormemente nessa parte de asset allocation global,” disse Horta. 


Apesar de uma performance mais tímida nos últimos quatro anos, que levou a uma dramática dos recursos sob gestão, o fundo Verde – o flagship da casa – ainda conseguiu bater o CDI no período. 


Em 2021, no high, o Verde chegou a administrar R$ 52 bilhões. Em 2023, o AUM já havia caído para R$ 28 bilhões, em meio à concorrência brutal com os produtos isentos de imposto (como CRIs e LCIs) e um período de juros elevados. 


A transação avalia a Verde em cerca de R$ 350 milhões – sem considerar potenciais earnouts – e será feita em duas fases.


Na primeira, a Vinci está pagando R$ 221 milhões por 50,1% da Verde, majoritariamente em ações, com os acionistas da Verde recebendo ações avaliadas a US$ 33,2 milhões no preço de tela (R$ 175 mi no câmbio de hoje), e mais R$ 46,8 milhões em dinheiro.


Na segunda fase, que vai ocorrer daqui a cinco anos, a Vinci vai adquirir os 49,9% restantes também pagando em ações e dinheiro — com a proporção ficando a cargo da compradora. A estimativa é que o valor desembolsado nesta etapa seja de R$ 127,4 milhões, mas ele pode variar dependendo do earnout. 


A Vinci vale US$ 677 milhões na Nasdaq, com sua ação subindo 7,5% nos últimos doze meses. 


A Lumina Capital Management, de Daniel Goldberg, que tem 25% da Verde, está vendendo sua participação pro rata e continuará no negócio.


Para a Verde, a transação é uma forma de perpetuar o legado de Stuhlberger, e acontece num momento desafiador para as gestoras independentes.


“A indústria de multimercados e assets está passando por uma fase difícil por várias razões: uma má performance coletiva pelo crescimento acelerado do setor, e a competição com os títulos isentos, que tem feito as gestoras perderem ativos,” Stuhlberger disse ao Brazil Journal.


“Avaliamos que a melhor estratégia para superar isso e retomar a rota de crescimento seria fazer uma transação societária com alguém que tivéssemos afinidade e nos ajudasse a voltar a crescer. A Vinci tem todas essas qualidades.”


Como parte da transação, Stuhlberger está se comprometendo a ficar pelo menos mais cinco anos à frente da Verde, que continuará com a gestão independente mesmo após a transação. 


“Meu compromisso é de no mínimo cinco anos, mas da forma como o deal está estruturado existe a possibilidade de eu continuar por muito mais tempo, porque gerir patrimônio é o que gosto de fazer na vida. É a minha paixão. Então a chance de eu continuar fazendo isso na estrutura da Vinci depois dos cinco anos é enorme,” disse ele. 


A principal sinergia da transação é na distribuição. Horta disse que 62% do capital da Vinci vem de investidores institucionais, enquanto na Verde “esse percentual é bem baixo.” 


“Esse é o low-hanging fruit: usar essa nossa base de distribuição para oferecer os produtos da Verde e aumentar os ativos deles,” disse ele. “Mas além disso, temos expertises setoriais que geram um pool de informações qualificadas e de oportunidades para o Verde. Tem oportunidades que aparecem nos setores que atuamos que não cabem no nosso mandato ou que transbordam em volume e a Verde vai poder avaliar essas oportunidades.”


https://braziljournal.com/vinci-compra-a-verde-e-entra-em-multimercados-stuhlberger-continua/

Puericultura - Vale tudo

 Eu não assisto novelas. 

A última que vi foi Dancin’ Days — e confesso, não pela trama, que era uma discoteca de clichês sentimentais, e sim pela trilha sonora internacional, que ainda ouço em segredo, com fones de ouvido e culpa ideológica, para não ser linchado pela esquerda cirandeira-hipster que acha que Bee Gees é expressão do patriarcado misógino. Que preguiça!!!!


Ainda assim, acompanho os comentários, os memes, as frases fora de contexto que se tornam aforismos nacionais. 


Aprendi com Jesús Martín-Barbero que as novelas são espelhos da sociedade — e que, ao olhar para elas, o brasileiro não busca apenas distração, busca o próprio reflexo polido, dramatizado e com trilha sonora.


É curioso como o país parece mais disposto a discutir ética, poder e moralidade depois do último capítulo de uma trama de Vale Tudo do que após um debate eleitoral. 


A novela nos devolve a nós mesmos — caricatos, contraditórios, vaidosos, espirituosos — com aquele tom de tragicomédia que só o realismo televisivo consegue sustentar. E, entre todas as caricaturas que a teledramaturgia já produziu, poucas são tão deliciosamente repulsivas, quanto Odete Roitman.


Ah, Odete… essa entidade sociológica de salto alto e tailler. Um misto de Freud com Chanel, de Nietzsche com “Manual de Boas Maneiras”. Sua fala é um chicote revestido de veludo. Ela é o tipo de mulher tem cátedra sobre o desprezo. 


Já convivi com algumas sumidades da academia que, nos bastidores, eram verdadeiras Odetes Roitman com Lattes. Mulheres — e homens também, sejamos justos — que discursavam sobre ética, alteridade e empatia nas bancas, mas tratavam orientandos como subespécies sem currículo. Professores que citavam Foucault com entonação sacerdotal, enquanto aplicavam o panóptico na copa do departamento. Gente que dizia “meu bem” com a mesma entonação de quem diz “lixo tóxico”. 


Odete, se tivesse doutorado, ministraria uma pós-graduação em Análise de Discurso da Ofensa Aplicada e Semiótica da Ironia Estrutural, com estágio supervisionado em passivo-agressividade avançada e módulo optativo de sarcasmo elegante em contextos institucionais.


A personagem destila um compilado de frases venenosas, tipo um “Minutos de Sabedoria” versão milionária. Consegue humilhar alguém elogiando o corte de cabelo e ainda falar sobre pobreza enquanto enxuga a consciência com um lenço Hermès.


O público a ama porque ela é o sombrio coletivo de salto agulha. Tudo o que o brasileiro gostaria de dizer, mas não pode, Odete diz com uma taça de champanhe  na mão e o léxico de quem nasceu em Genebra — mesmo tendo vindo do Leblon ou da Vila Nova Conceição.  


Ela exorciza a vulgaridade alheia com elegância demoníaca. É uma caricatura tão perfeita que beira o sagrado: o sagrado da sombra, o arquétipo do cinismo elevado à arte.


As redes sociais, claro, a ressuscitaram. Agora, cada frase de Odete é postada como se fosse uma epifania existencial. “Querida, não há nada mais deselegante do que fazer um enema à Provence com água saborizada.” Veja bem — isso é uma tese sobre o gosto burguês travestida de deboche. “Humilhe de maneira que pareça elogiar.” Eis o manual de sobrevivência da pós-modernidade, resumido em uma sentença.


E quando ela diz que tem medo de quem come em self-service, ali está o diagnóstico antropológico de uma elite do atraso que teme o convívio com a mistura. A bandeja é o inferno da distinção. 


A lasanha encostando no feijão é, para Odete, o apocalipse da etiqueta — o Armagedom da distinção social. Ela teme o contato, o contágio, a mistura. Marx já avisava: a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante, e Odete é a santa padroeira dessa missa plutocrata. Ela é o sonho molhado do pobre que quer virar rico, a teologia da prosperidade em versão farisaica — crê no mérito, despreza o suor e acha que a diferença entre o paraíso e o purgatório está na marca dos sapatos e das bolsas. 


Estudei as mediações culturais, os fluxos de sentido e os circuitos simbólicos na obra de Jesús Martín-Barbero. E quanto mais observo as novelas, mais percebo que o melodrama é o confessionário público da nação — o espaço em que o desejo e a moral se enfrentam em rede nacional, sob o patrocínio do sabonete e da culpa. Vale Tudo é, na verdade, um grande divã em streaming, e Odete Roitman, sua analista suprema: a psicanálise da burguesia televisionada, o sintoma social trajado de ironia e colar de pérolas. Não é por acaso que, décadas depois, ainda a citamos como se fosse uma espécie de oráculo da malícia. Odete é o espelho da alma cordial que não quer se ver, mas se vê — e ri, porque o riso é a máscara mais elegante da identificação.


Eu, que tento me manter equânime, às vezes me pego pensando o quanto de Odete existe em mim. Não o luxo, tampouco o sarcasmo milimetricamente calibrado. Falo da necessidade de afirmar alguma superioridade moral quando o mundo parece desabar. Essa minha mania de confundir distinção com defesa. Talvez Odete seja a persona endurecida para que o medo não transpareça.


Por isso, quando alguém pergunta por que o público ama tanto uma mulher odienta, elitista e preconceituosa, respondo sem hesitar: Odete ilumina nossa sombra. Ela representa o gozo de poder ser cruel sem culpa, de dizer o que não se deve, de confessar o que a moral nega. Ela é a catarse do ressentimento social — o pecado transformado em estilo.


E no fim das contas, é irresistível. Porque, convenhamos, há dias em que todos nós gostaríamos de ter a coragem de dizer algo como: “Querido, evite seda pura se seus mamilos forem temperamentais.” Há uma sabedoria filosófica escondida nesse absurdo. E talvez por isso Odete siga viva — não apenas na novela, nem na releitura contemporânea, mas no imaginário que ela tão bem dramatiza.


Não assisto novelas, repito. Mas as observo de longe como quem observa o espelho de uma sociedade em busca de si mesma — uma sociedade que, no fundo, se reconhece mais em Odete do que em qualquer heroína. E talvez essa seja a mais deliciosa das ironias: a vilã venceu, não por ser má, e sim por ser verossímil.


No fim, Odete venceu porque o Brasil sabe que ser mau dá menos trabalho do que ser coerente — e rende muito mais ibope, seguidores e colunas na Folha.


A música de abertura de Vale Tudo*chama-se Brasil , composição de Cazuza e incendiada pela voz incandescente de Gal Gosta, essa sacerdotisa tropicalista que transforma eros em clarim. “Brasil, mostra tua cara!” — urra refrão, e o país, obediente ao espelho, mostra: a cara é de Odete Roitman. 


Ela é o retrato da nossa miséria simbólica, a vilania elegante do desejo de status, o colar de pérolas pendurado no pescoço da hipocrisia nacional. 


Odete é o Brasil da cachaça travestido de champanhe: feroz, vaidoso, ressentido e absolutamente sedutor — a síntese perfeita entre pecado e santidade.


Lembro-me de Sérgio Buarque de Hollanda e sua lucidez em Raízes do Brasil sobre os contrastes: cordialidade e brutalidade dançando no mesmo salão. Somos herdeiros de uma terra em que o prazer e a culpa dormem na mesma cama, um país que não sabe se é procissão ou carnaval. “Não existe pecado ao sul do Equador”, escreveu o filho, Chico; “há um delírio de ouro nos trópicos”, advertiu o pai. 


Entre ambos, seguimos — desejando a civilidade europeia o gozo africano e a inocência originária dos povos da floresta.  Erguendo igrejas sobre os terreiros, sonhando com o melhor dos mundos e acordando no meio do incêndio.


Agradeço a Andre Gabeh pelos textos e imagem.

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Gestores de fundos de mercados emergentes

 🌎 *Gestores de fundos de mercados emergentes estão mais otimistas desde o início de 2021, segundo pesquisa do HSBC*


Bloomberg- Os ativos dos mercados emergentes parecem prestes a encerrar um ano excepcional, com os investidores esperando que os influxos em ações e títulos ganhem impulso no último trimestre. O otimismo raramente esteve tão alto, com uma pesquisa do HSBC Holdings Plc mostrando que os gestores de fundos de mercados emergentes estão mais otimistas desde o início de 2021 — quando uma recuperação generalizada estava em pleno andamento durante a pandemia.


Os estrategistas do Goldman Sachs Group Inc. afirmaram que os mercados emergentes estão “prosperando, não apenas sobrevivendo”, já que o crescimento econômico deste ano superou as expectativas, apesar das tarifas mais altas.


Em um provável prelúdio do que pode vir, os influxos para fundos negociados em bolsa de mercados emergentes começaram a aumentar no final do terceiro trimestre. Os ativos de mercados emergentes estão enfrentando uma combinação positiva de fatores que são um bom presságio para os próximos meses: o ciclo de corte de taxas do Federal Reserve está criando espaço para os bancos centrais dos países em desenvolvimento flexibilizarem suas políticas, enquanto um dólar mais fraco está incentivando uma rotação para longe dos ativos dos EUA. A alta das ações na China pode reforçar o otimismo em relação ao universo mais amplo dos mercados emergentes.


“As perspectivas para o restante do ano são positivas para as ações, devido à melhora nas perspectivas de crescimento e aos estímulos da China, bem como para a dívida local, já que os bancos centrais dos mercados emergentes continuam a reduzir as taxas de juros, que ainda estão em níveis reais e nominais elevados”, disse Jon Harrison, diretor-gerente de estratégia macroeconômica para mercados emergentes da GlobalData TS Lombard. “Deve haver influxos sólidos para os ativos dos mercados emergentes, a fim de apoiar as moedas.”


Cruciais para o otimismo são os cortes antecipados nas taxas de juros pelo Fed. Na Ásia, economistas esperam que os bancos centrais da Coreia do Sul à Tailândia reduzam as taxas no quarto trimestre, com a medida do Banco da Tailândia prevista para esta semana. Analistas do Goldman, liderados por Andrew Tilton, escreveram em uma nota de 3 de outubro que esperam taxas de juros mais baixas em toda a região no próximo ano para a América Latina.


A flexibilização monetária, coincidindo com um dólar mais fraco, pode proporcionar um cenário favorável para ganhos generalizados de ativos. Os influxos de títulos podem ganhar ritmo, enquanto as ações são apoiadas pela melhora dos fundamentos macroeconômicos. Um dólar mais fraco pode ajudar a aliviar a pressão sobre as moedas locais causada pelas taxas de juros mais baixas.


Um ETF da iShares que acompanha a dívida em dólares dos mercados emergentes registrou em setembro o maior influxo desde o fim de 2023, enquanto um produto que acompanha o índice de ações MSCI EM viu os influxos se recuperarem para US$ 2,2 bilhões após uma desaceleração em agosto. Um índice de derivativos que captura o posicionamento do real brasileiro, do peso mexicano e do rand sul-africano — moedas típicas de alto rendimento nos mercados emergentes — está perto de seu nível mais otimista desde o início de 2024.


“Estamos nos estágios iniciais da demanda contínua por dívida de mercados emergentes”, disse Shamaila Khan, chefe da equipe global de renda fixa de mercados emergentes e Ásia-Pacífico da UBS Asset Management. “É claro que pode haver períodos curtos de volatilidade e há um risco global, mas espero que a resiliência continue.”


Na pesquisa do HSBC com 100 investidores, representando um total de US$ 423 bilhões em ativos de mercados emergentes, divulgada em setembro, a porcentagem de entrevistados com uma visão otimista subiu de 44% em junho para 62%. Aqueles com uma perspectiva pessimista caíram para apenas 7%. Uma realocação fora dos EUA e uma aceleração no crescimento chinês foram citados como fatores que poderiam trazer surpresas positivas.


Qualquer alta, no entanto, variaria de acordo com os fundamentos de cada país, com os observadores do mercado mais otimistas em relação à China e menos otimistas em relação a alguns outros.


O peso colombiano pode ter um desempenho inferior a partir de agora devido a preocupações fiscais, de acordo com Gautam Kalani, gestor de carteiras da BlueBay Fixed Income for Emerging Markets, RBC Global Asset Management. Ele também está cauteloso em relação ao baht tailandês, uma vez que sua correlação com os preços do ouro enfraquece e os formuladores de políticas buscam lidar com a força da moeda.


A Indonésia também enfrenta um ceticismo crescente dos investidores em relação à independência do banco central e à disciplina fiscal. E, é claro, o risco predominante para os mercados emergentes seria um ressurgimento inesperado do dólar, que corroeria o valor dos ativos não americanos.


O índice de moedas MSCI EM caiu 0,5% nos três meses encerrados em setembro, mas ainda está em alta de 6,8% no ano. Se os ganhos se mantiverem, seria o melhor desempenho anual desde 2017. O índice de ações EM da MSCI está em alta de quatro anos, graças à recuperação das ações da China. Os títulos em dólares dos mercados emergentes registraram o sexto mês consecutivo de ganhos em setembro, sua maior sequência de vitórias desde 2019.


O otimismo crescente em relação aos avanços da IA na Ásia promete mais influxos para ações e moedas na China, onde empresas como a Alibaba Group Holding Ltd. emergiram como destaques no setor de IA, e nos mercados de alta tecnologia da Coreia do Sul e Taiwan.


“Estamos observando uma base temática muito forte no tipo de oportunidades que vemos na China, seja em IA, seja em toda a inovação que está surgindo na biotecnologia”, disse Arun Sai, estrategista sênior de múltiplos ativos da Pictet Asset Management. “No momento, temos uma sobreponderação na China. Os mercados subiram muito, mas acreditamos que ainda há espaço para crescimento.”

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...