terça-feira, 21 de outubro de 2025

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Nova semana e nova sessão de recuperação nas bolsas (EUA +1,0%; Europa +1,3%; tech +1,2%; semis +1,6%) graças ao enfraquecimento em 2 dos 4 nós presentes atualmente no mercado. Por um lado, melhoria na frente comercial após as mensagens tranquilizadoras de Trump sobre as negociações com a China, especialmente na sua reunião com Xi Jinping (29 de outubro/1 de novembro). E na frente micro, assimila-se, pouco a pouco, que os problemas dos bancos regionais americanos Zions e Western Alliance não deverão afetar o setor em geral, dissipando alguns fantasmas associados aos acontecimentos em 2023. Isto eclipsou a nova descida de rating de França (S&P na sexta-feira, Fitch há um mês) que quase não teve impacto nas obrigações: Bund 2,58% (sem alterações); T-Note 3,98% (-3 p.b.).


Hoje continuamos com notícias positivas para o mercado: (i) EUA anuncia um acordo de terras raras com a Austrália, que inclui um investimento superior a 2.000 M$ para o desenvolvimento de minas e processamentos nos próximos 6 meses e acesso preferente às reservas da Austrália (~4.ª mundial). Cabe destacar que a China é a principal produtora a nível mundial, com 60% do total e 80% do processo de refinação. (ii) Confirma-se a nomeação de Takaichi como Primeira-Ministra no Japão, obtendo maioria simples em ambas as Câmaras (Congresso 237 vs. 233 maioria e Senado 125 vs. 124 maioria). Positivo para bolsas, mas negativo para obrigações e yen perante a expetativa de uma política fiscal mais expansiva.


O resto da sessão estará marcado pelos resultados empresariais. O saldo atual de EPSs é muito positivo nos EUA, com um crescimento de +17,9% vs. +8,5% esperado, e hoje ganhará inércia com a publicação de empresas de defesa como Northrop Grumman (pré-abertura Nova Iorque; 6,49 $; -7%), Lockheed Martin (pré-abertura Nova Iorque; 6,35 $; -7%) e a nossa preferida RTX (pré-abertura Nova Iorque; 1,41 $; -3%), Coca-Cola (pré-abertura Nova Iorque; 0,78 $; +2%), General Motors (11:30 h; 2,24 $; -24%) e Intuitive Surgical (21:00 h; 1,99 $; +8%), embora a mais relevante será o fecho americano: Netflix (21:00 h; 6,93 $; +24%). 


Em qualquer caso, teremos de esperar pela próxima semana para as “Magníficas” (exceto Tesla, que publica amanhã), que permitirão uma interpretação sobre as avaliações de IA. Na Europa, destaca L’Oreal, também no fecho do mercado europeu, e Enagás, melhores do que o esperado, esta manhã.


NY +1,0% US tech +1,2% US semis +1,6% UEM +1,3% España +1,4% VIX 18,2% Bund 2,58% T-Note 3,98% Spread 2A-10A USA=+52pb B10A: ESP 3,11% PT 2,95% FRA 3,37% ITA 3,37% Euribor 12m 2,14% (fut.2,11%) USD 1,163 JPY 175,9 Ouro 4.337$ Brent 61,1$ WTI 57,6$ Bitcoin -2,8% (107.977$) Ether -2,8% (3.885$)


CONCLUSÃO: Esperamos uma sessão ligeiramente em alta graças a uma temporada de resultados que vai ganhando intensidade, sendo o principal ponto de interesse esta semana até à publicação da primeira macro relevante, esta sexta-feira (inflação americana e PMIs).


FIM

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Mau aspeto para encerrar a semana. Repentino refúgio para a qualidade: ouro quase 4.400 $/onça e yield T-Note < 4%, por exemplo. Causas: possibilidade de uma intensificação mais complexa e agressiva do que o esperado nas negociações comerciais EUA/CH (reunião Trump/Putin a 29 de outubro) e, principalmente, quedas significativas por parte de um par de bancos regionais americanos (-13% Zions Bancorp. e -11% Western Alliance) perante incumprimentos de certa dimensão. Ontem, a minúscula subida de tecnologia (+0,1%) contra o mercado (todos os restantes setores caíram; bancos -2,8%) salvou o fecho de Nova Iorque (-0,6%), que poderia ter sido muito pior devido aos problemas dos bancos regionais… que faz lembrar o que lhes aconteceu em 2023. Isto acontece mesmo após a publicação de bons resultados e guidances por parte dos bancos grandes americanos, portanto a correção parte desde níveis superiores e tem a sua origem nas dúvidas sobre a qualidade de crédito dos bancos americanos de tamanho mais modesto e alcance regional. Lembrete na frente comercial: Trump ameaçou, na sexta-feira (10) com impostos alfandegários de 100% à China a partir de 1 de novembro, após as novas restrições da China às exportações de terras raras.


BBVA só consegue 25,5% de Sabadell, portanto a OPA fracassa. Esta foi a nossa estimativa sobre o desenvolvimento desde o primeiro momento, em maio de 2024. Estimamos que a partir de agora BBVA será extremamente generoso com os seus dividendos para reter acionistas e que poderá subir um pouco ao retirar este peso de cima, que foi um erro estratégico e de planeamento desde o início. Sabadell também irá subir por motivos semelhantes.


NY +0,4% US tech +0,7% US semis +3% UEM +1% España -0,1% VIX 20,6% Bund 2,57% T-Note 4,03% Spread 2A-10A USA=+53pb B10A: ESP 3,10% PT 2,95% FRA 3,34% ITA 3,38% Euribor 12m 2,163% (fut.2,192%) USD 1,166 JPY 176,1 Ouro 4.207$ Brent 62,4$ WTI 58,8$ Bitcoin -1,7% (111.093$) Ether -2,9% (4.002$)


CONCLUSÃO: Tom repentinamente mau porque aos incumprimentos em 2 bancos regionais americanos acrescenta-se o endurecimento das negociações EUA/CH, a cautela crescente perante uma hipotética sobrevalorização da IA e o encerramento parcial do governo americano, que parece que continuará durante algum tempo, porque ambas as partes carecem de estímulos para chegar a um acordo. Como este último obriga a ir às cegas em relação à macro americana, porque não são publicados indicadores federais e, também, não sai um grande fluxo resultados (apenas Amex, entre as grandes: EPS +14%), hoje não há solução: sessão tocada com certa vontade, de modo que poderíamos pensar em retrocessos superiores a -1% na Europa e ca.-0,5% em Wall St., como aproximação. É grave? Não. Até parece são que o mercado corrija e se limpe um pouco. A não ser que a situação dos bancos regionais americanos se complique seriamente, os problemas para o mercado não deverão escalar. Há umas semanas caíram First Brands (peças sobressalentes para automóveis) e Tricolor (venda de carros usados), mas são considerados casos isolados por sobrealavancagem e gestão imprudente. Veremos se o desenvolvimento é semelhante com os bancos regionais americanos, que deverá ser o mais provável. Hoje, ouro e T-Note impagáveis, portanto, a não ser que aconteça algo estranho e novo este fim de semana, deverão corrigir na segunda-feira e as bolsas deverão subir, embora com pouca alegria, de momento.


FIM

BDM Matinal Riscala

 *Bom Dia Mercado*


Segunda Feira, 20 de Outubro de 2.025.


*China, Gaza e Rússia: a tensão que move a semana*


… A semana começa com uma bateria de indicadores informados hoje pela China, incluindo o PIB/3Tri, que desacelerou o crescimento de 5,2% para 4,8%. Apesar do ritmo mais fraco da economia, o PBoC manteve os juros estáveis, em meio às tensões comerciais com os Estados Unidos. Os mercados aguardam mais animados o encontro de Trump e Xi no final do mês, após Washington sinalizar um novo recuo. A nota de apreensão vem do Oriente Médio, após Israel e Hamas terem violado o cessar-fogo. A agenda de indicadores está concentrada na sexta-feira, com o IPCA-15 aqui e o CPI americano, como única exceção na divulgação de dados no shutdown, que completa 20 dias.


ALIVIOU – Trump surpreendeu o mercado, na sexta-feira, mudando a conversa sobre a China, quando disse que a tarifa de 100% anunciada por ele poucos dias atrás, em retaliação às novas restrições de Pequim na exportação de terras raras, não era “sustentável”.


… Os sinais de distensão foram reforçados pela confirmação do presidente de que pretende se encontrar com Xi Jinping nas “próximas semanas”, durante a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, na Coreia do Sul, possivelmente, entre os dias 29 de 30.


… Trump disse também que a sua relação com a China tem sido “construtiva”, e que [por isso] não iria antecipar as novas tarifas aos produtos chineses, previstas para entrar em vigor a partir de 1º de novembro. Levou as bolsas em Nova York às máximas do dia.


… No sábado, a AFP noticiou que China e Estados Unidos concordaram em abrir uma nova rodada de negociações comerciais já nesta semana.


… No domingo, em entrevista exibida pela Fox Business, o presidente Trump disse que não quer “destruir” a China, que o presidente Xi Jinping é “inteligente” e parece querer negociar as tarifas. “É a coisa certa a fazer.”


… A bordo do Air Force One, na volta do fim de semana, Trump antecipou sua exigência para revogar as tarifas aos produtos chineses, dizendo que eles precisam “retomar a compra de soja, pelo menos nos volumes de antes”, e parar de mandar fentanil para os Estados Unidos.


CHINA HOJE – Sob pressão, Pequim confirmou as expectativas de desaceleração, como crescimento de 4,8% do PIB/3Tri na base anualizada, um pouquinho melhor que o esperado (4,7%), mas abaixo de sua meta de 5%.


… Também as vendas no varejo recuaram, de 3,4% em agosto para 3% em setembro, contra 2,9% das estimativas.


… Só a produção industrial em setembro surpreendeu com forte alta de 6,5%, bem acima do consenso (5%) e de agosto (5,2%).


… Ainda nesta segunda-feira, o PBoC chinês manteve as taxas de juros de referência (LPR) inalteradas pelo quinto mês consecutivo, apesar de desaquecimento econômico: a taxa de um ano permaneceu em 3,0% e a de cinco anos ficou em 3,5%.


… A semana em Pequim será marcada pela realização da Quarta Sessão Plenária do Partido Comunista chinês, que discutirá o Plano Quinquenal do período 2026-2030, com possível foco no desenvolvimento tecnológico de indústrias de ponta.


RÚSSIA X UCRÂNIA – Na mesma entrevista à Fox Business, no domingo, Trump também falou sobre a Rússia, afirmando que tem “boa relação” com Putin e acredita que um acordo com a Ucrânia acontecerá, mas que Moscou “levará alguma coisa” de territórios ucranianos.


… No Washington Post, Putin pediu a Trump que Kiev entregue o controle total de Donetsk, uma região estratégica no leste da Ucrânia, como condição para cessar a guerra entre os dois países. A exigência foi feita no telefonema entre eles, ocorrido na semana passada.


… Já o Financial Times revelou que Trump instou Zelensky a aceitar os termos da Rússia para encerrar a guerra, durante tensa reunião na Casa Branca, na sexta-feira, quando alertou o líder ucraniano que Putin havia ameaçado “destruir” a Ucrânia caso o país não concordasse.


… Trump planeja um novo encontro com Putin em breve e essa expectativa gera especulações sobre a chance de flexibilizar as sanções à Moscou.


ISRAEL X HAMAS – No evento de maior tensão geopolítica do fim de semana, o acordo celebrado por Trump no Oriente Médio foi ameaçado por uma série de ataques de Israel contra dezenas de alvos do Hamas em Gaza.


… Israel alegou que o Hamas teria violado o cessar-fogo, disparando contra suas tropas em Rafah; prometeu responder com firmeza e assim foi feito. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que a guerra em Gaza não terminará até que o Hamas se desarme.


… Netanyahu orientou o exército a tomar “ações fortes” contra quaisquer violações do acordo, mas não ameaçou retornar à guerra. No fim de domingo, as Forças de Defesa de Israel anunciaram que retomariam o cessar-fogo, embora prontos para responder a qualquer nova violação.


… O Egito, envolvido nas negociações de cessar-fogo em Gaza, disse que contatos ininterruptos estão em andamento para desescalar a situação entre Israel e Hamas, enquanto Trump enviou o seu vice, JD Vance, para liderar uma delegação a Israel nesta semana.


… Questionado sobre a situação no Oriente Médio, Trump disse que o cessar-fogo em Gaza continua em vigor e minimizou os ataques do Hamas no fim de semana. “Alguns rebeldes podem estar por trás, talvez a liderança do Hamas não esteja envolvida.”


COLÔMBIA ENTRA NA MIRA – Em nova frente de confronto, Trump foi à sua redes Truth Social para acusar o presidente colombiano, Gustavo Petro, de traficante e “líder de drogas ilegais”, anunciando o fim dos subsídios americanos ao país.


… Petro respondeu no X, negou qualquer vinculação com o narcotráfico e disse que Trump foi “grosseiro e ignorante” com os colombianos.


NO KINGS – Milhares de manifestantes se reuniram neste sábado em Washington, Nova York e outras cidades dos Estados Unidos para protestar contra as políticas autoritárias do governo Trump, em clima de festa de rua, com bandas e muitas pessoas fantasiadas.


SHUTDOWN – Com a paralisação do governo entrando no vigésimo dia, democratas dizem que nenhum avanço é possível sem o envolvimento do presidente Trump, mas que ele não demonstra urgência em intermediar um compromisso que encerraria o impasse.


… O líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, e o líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, disseram que os republicanos mostram “pouca seriedade nas negociações” e que o líder da maioria no Senado, John Thune, não apresentou nenhuma proposta até o momento.


… Os líderes republicanos se recusam a negociar até um projeto de lei de financiamento de curto prazo para reabrir o governo, enquanto os democratas insistem que não concordarão sem garantias sobre a extensão dos subsídios de seguro de saúde.


… Na Associated Press, Trump não parece ter pressa, enquanto se ocupa das questões externas.


BRASIL & EUA – O presidente Lula desembarca na Indonésia nesta quinta-feira, em escala para a Malásia, onde ficará até o dia 28, quando espera encontrar-se com Donald Trump na Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).


… O Planalto está confiante na reaproximação entre os dois países após a conversa amistosa de Marco Rubio com Mauro Vieira, na Casa Branca.


… Segundo a mídia apurou, Lula planeja alertar Trump de que uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela poderia desestabilizar governos vizinhos e fortalecer o crime organizado na América Latina, produzindo o efeito contrário ao que se deseja.


… Trump autorizou a CIA a operar secretamente para derrubar Nicolás Maduro e deslocar navios de guerra ao Caribe.


… Apesar do otimismo, o governo brasileiro admite que ainda não conseguiu resultados concretos em seus pleitos; seguem vigentes o tarifaço de 50%, a cassação de vistos e o cerco da Lei Magnitsky a autoridades do Judiciário e do Executivo.


… Entre os temas de interesse mútuo, os Estados Unidos querem avançar sobre as pautas do etanol e de minerais críticos – já que as reservas brasileiras de terras raras, entre outros recursos, podem ajudar a reduzir a dependência americana de fontes da China.


… O Brasil quer o processamento nacional, com investimentos norte-americanos, o que pode ser um complicador.


… Integrantes do governo Lula veem a expansão chinesa como a grande disputa de fundo de Trump na América Latina, mas dizem que o País não vai abrir mão da relação comercial e econômica privilegiada com Pequim.


… Na Folha, se Trump pedir um afastamento da China, deve ouvir um sonoro “no way”, resumiu uma autoridade do Planalto.


… Uma das possíveis concessões seria no acesso do etanol americano – a diferença de tarifas pré-sobretaxas (18% no Brasil a 2,5% nos Estados Unidos) é uma queixa recorrente, mas o Brasil deve pedir também uma contrapartida no açúcar, que entra no país por meio de cotas.


… Está no radar também que Trump possa anunciar uma exceção ao café a todos os países, por causa da inflação interna recorde registrada após o tarifaço. A medida beneficiaria o Brasil, responsável por abastecer 30% do mercado doméstico nos Estados Unidos.


VAI ROLAR NA SEMANA – Os investidores aguardam a divulgação da inflação ao consumidor (CPI) de setembro nos Estados Unidos, prometido pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS) para esta sexta-feira, 24, apesar do shutdown.


… O indicador, que interromperá o apagão de dados, sairá antes da reunião do Fomc da semana seguinte, no dia 29, que já impõe período de silêncio aos dirigentes do Fed. A expectativa para o CPI é de estabilidade sobre agosto, mas em patamares elevados.


… Além disso, serão divulgados na sexta o PMI de outubro da S&P e a leitura final do sentimento do consumidor de Michigan.


… No Brasil, a semana será esvaziada de indicadores, com destaque para o IPCA-15 de outubro e os dados do setor externo de setembro, ambos também na sexta-feira. Hoje, sai o Boletim Focus (8h25) e, nos Estados Unidos, as vendas de casas existentes (11h).


BALANÇOS – Netflix, Tesla e Intel estão entre as empresas que divulgarão balanços nesta semana em Nova York.


… Netflix sai amanhã (terça), junto com 3M, Coca-Cola e Western Alliance. Na quarta, tem AT&T, Alcoa, IBM e Tesla. Na quinta, American Airlines, Intel e Ford. E encerrando a semana, na sexta-feira, Procter & Gamble. Para hoje, não há resultados previstos.


… Na B3, a temporada de resultados financeiros do 3Tri tem início com Weg e Romi, na quarta-feira, e Usiminas na sexta.


… Já a Vale divulgará amanhã, terça-feira, o seu relatório de produção e vendas do terceiro trimestre deste ano, após o fechamento do mercado. O balanço do 3Tri da mineradora será reportado na próxima semana, no dia 30.


AGENDA ELEITORAL – O presidente Lula lança hoje o programa “Reforma Casa Brasil”, em solenidade no Palácio do Planalto, às 15h30, uma aposta para atrair o eleitor de renda mais baixa em 2026, após o novo modelo de financiamento de imóveis à classe média.


… A nova política pública vai oferecer crédito facilitado e apoio técnico para reformas e melhorias em moradias em todo o País, com uma linha de R$ 30 bilhões às famílias com renda até R$ 9.600 e de R$ 40 bilhões para rendas superiores a esse limite.


… No sábado, o presidente Lula anunciou para 2026 investimento de R$ 108 milhões em apoio para até 500 cursinhos populares, que preparam estudantes de baixa renda para a universidade, defendendo a universalização do programa Pé-de-Meia.


… “Nós precisamos aprovar a universalização do Pé-de-Meia para que todas as pessoas possam ter o direito de estudar. É difícil. A Faria Lima vai brigar com a gente. Os banqueiros vão reclamar. Nossa, esse governo está gastando R$ 13 bilhões com o Pé-de-Meia.”


… O presidente insistiu, no entanto, que colocar dinheiro na educação não é gasto e sim investimento.


TCU – A área técnica do Tribunal de Contas da União emitiu parecer na última sexta-feira recomendando que os ministros da Corte mantenham a decisão de obrigar o governo a cumprir o centro da meta fiscal, na hora de decidir pelos congelamentos do Orçamento.


… O documento rejeita os argumentos apresentados pela AGU, que recorreu da decisão do plenário da Corte e obteve liminar suspensiva até o julgamento do mérito. Os técnicos do TCU citam o risco de aumento da dívida bruta em “centenas de bilhões de reais”.


… “A dívida bruta se estabilizaria em 87,1% do PIB em 2035 sob a política fiscal orientada pelo centro da meta, ao passo que, sob o limite inferior, permaneceria alcançaria 89,7% do PIB em 2035, uma diferença de 2,6 pp que equivale a R$ 322 bilhões em valores de agosto.”


STF – Lula deve indicar o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal até esta terça-feira, antes da sua viagem à Indonésia e à Malásia, segundo aliados do presidente revelaram à Folha.


… Também é esperada para os próximos dias a nomeação do deputado Guilherme Boulos (PSOL) para chefiar a Secretaria Geral da Presidência.


EMENDAS PIX – O ministro Flávio Dino convocou para a quinta-feira sessão com o Congresso sobre a transparência de emendas parlamentares. Ele é o relator de diversas ações na Corte que questionam os repasses realizados sem a indicação dos nomes de deputados e senadores.


… No Estadão/domingo, em meio ao endurecimento das regras do STF, deputados e senadores aproveitaram o atraso na aprovação do Orçamento para achar brechas e turbinar suas emendas Pix, ampliando em R$ 73 milhões os repasses diretos a Estados e prefeituras.


… Embora a prática não seja ilegal, especialistas ouvidos pelo jornal avaliam que a manobra expõe uma corrida dos parlamentares por dividendos políticos, com a antecipação das transferências de olho nas eleições de 2026.


SEXTOU – Em clima de descontar riscos, os mercados globais foram invadidos por um sentimento de risk-off na sexta-feira, quando resolveram relativizaram a guerra comercial e surfar em uma onda de otimismo.


… Prevaleceu a impressão de que Trump blefou na ameaça de 100% das tarifas à China e agora opta pelos caminhos diplomáticos, em meio às reviravoltas que têm sido a marca registrada de suas táticas de negociação no tarifaço.


… Além ‘disso, o investidor se recobrou no pregão antes do final de semana do susto com as perdas dos bancos regionais norte-americanos com fraudes em empréstimo, preferindo avaliar os episódios como isolados.


… Baixada a poeira com as tensões comerciais e de crédito bancário, o índice Vix do medo devolveu quase todo o salto de mais de 20% das véspera, as bolsas em NY retomaram o ânimo e o Ibovespa recuperou os 143 mil pontos.


… O dólar caiu para a faixa de R$ 5,40 e só quem ficou de fora da onda positiva foram os juros futuros, que voltaram a encarnar os riscos fiscais. A notícia da Folha de que o Congresso quer driblar o arcabouço acendeu o alerta.


… Os parlamentares querem aprovar uma medida que do arcabouço parte das despesas com educação e saúde financiadas com dinheiro do Fundo Social do Pré-Sal e gastos bancados com recursos de empréstimos internacionais.


… A iniciativa foi incluída em um projeto de lei já aprovado pela Câmara e agira tramita no Senado.


… A manobra articulada em Brasília se soma ao desconforto com o populismo do governo, de olho no ano eleitoral.


… Especialmente a ponta longa da curva do DI incorporou prêmio de risco fiscal, descolada do alívio do câmbio.


… Com leve viés de alta, o contrato de juro para Jan/29 terminou a 13,330% (contra 13,320% na sessão anterior); Jan/31 subiu a 13,605% (de 13,582%); e Jan/33, a 13,745% (de 13,726%).


… O vencimento para Jan/26 (14,897%) ficou perto do ajuste de 14,895%; e o Jan/27 caiu a 14,010% (de 14,023% no pregão da véspera), mais relaxados com Trump.


… A suavização do seu discurso, admitindo ser inviável uma tarifa extra de 100% sobre a China e dizendo acreditar que “tudo ficará bem”, desarmou pressão no dólar à vista, que engatou queda de 0,69%, cotado a R$ 5,4055.


… Na semana, caiu quase 1,8%. A moeda americana opera na banda de baixo do intervalo de R$ 5,40 a R$ 5,50, com a reconciliação de Washington com Pequim e, mais do que tudo, diante do carry trade atraente do momento.


… O BC realiza hoje dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra), para rolagem do vencimento de novembro. Os leilões, de até US$ 1 bi no total, ocorrerão de forma simultânea, das 10h30 às 10h35.


SR. SIMPATIA – Apesar da convicção (só para não dizer certeza absoluta) de que o Fed vai promover cortes acumulados dos juros, uma queda do DXY na sexta-feira foi neutralizada pelo tom amistoso de Trump com a China.


… No pano de fundo, também entrou na conta o menor estresse com o sistema financeiro americano. Antes do período de silêncio, o Fed boy Alberto Musalem disse que as condições de crédito estão “muito boas” agora.


… Sobre os juros, disse que pode apoiar reduções adicionais, caso os riscos para o mandato de emprego se materializem, os riscos para a inflação se mantenham contidos e as expectativas continuem ancoradas.


… Praticamente estável, o DXY fechou em leve alta de 0,09%, a 98,433 pontos. Com Trump mais manso, o iene caiu para 150,50/US$ e o euro recuou 0,31%, a US$ 1,1669. A libra esterlina pouco oscilou (-0,06%), a US$ 1,3432.


… Com o encontro entre Trump e Xi Jinping de pé e a reprecificação dos riscos bancários, o investidor desfez o apelo de proteção nos Treasuries e o yield da Note-10 anos voltou a 4,000%, um dia após ter furado esta marca (3,978%).


WISHIFUL THINKING – O investidor vendeu segurança e comprou risco: o Dow Jones subiu 0,52%, aos 46.190,61 pontos; o S&P 500 teve alta de 0,53%, aos 6.664,01 pontos; e o Nasdaq avançou 0,52%, aos 22.679,97 pontos.


… No embalo de Nova York, o Ibovespa fechou em alta firme de 0,84%, reconquistou os 143 mil pontos (143.398,63) e registrou volume financeiro melhor, de R$ 26,5 bilhões, impulsionado pelo exercício de opções sobre ações.


… No contexto de maior apetite por risco, os bancos exibiram fôlego e agora acionam a contagem regressiva para a temporada dos balanços, na semana que vem. O lucro das maiores instituições deve crescer, em média, 3% (UBS BB).


… Bradesco ON subiu 1,10%, a R$ 15,05; Bradesco PN, +0,68%, a R$ 17,68; Itaú, +0,35%, a R$ 37,49; Santander unit, +0,68%, a R$ 28,20; e o papel do BB saltou 2,60%, negociado no fechamento na máxima intraday de R$ 20,90.


… A sensação de que o Ibama está prestes a anunciar o sinal verde à exploração da Margem Equatorial contagiou as ações da Petrobras (PN +0,95%, a R$ 29,73; e ON +0,48%, a R$ 31,64), que faturaram ainda a alta do petróleo.


… O Brent para dezembro avançou 0,38%, a US$ 61,29, com os sinais de entendimento de Trump com a China.


… Ainda entre as commodities, o minério de ferro caiu de leve (-0,19%) e levou a Vale junto (-0,28%), mas a ação resistiu acima de R$ 60, cotada a R$ 60,13, no melhor patamar em quase dois anos. Na semana, avançou 2%.


COMPANHIAS ABERTAS – O aval do Ibama para a licença ambiental de exploração da Margem Equatorial pela PETROBRAS, na bacia da Foz do Amazonas, é esperado para a qualquer momento. O processo está próximo de ser analisado de forma conclusiva, apurou o Broadcast.


AMBIPAR. O prazo para a empresa entregar um pedido de recuperação judicial começa a ser contado nesta segunda-feira, após a cautelar que deu proteção contra credores ter vencido neste fim de semana. O pedido pode ser entregue qualquer dia, inclusive hoje.


BRASKEM informou que Camex decidiu manter por mais um ano, até outubro de 2026, a alíquota do imposto de importação de 20% para as resinas polietileno (PE), polipropileno (PP) e PVC.


SUZANO anunciou a precificação de uma emissão e oferta de panda bonds em duas tranches, voltadas para o mercado chinês. O valor total é de US$ 196 milhões, com vencimento até 2030.


REDE D´OR abriu negociações com Aliança e Dasa, após discordar de preço pedido por Fleury. (Lauro Jardim/Globo)


ASSAÍ. O Citi manteve a recomendação de compra, mas reduziu o preço-alvo do papel R$ 13,60 para R$ 11,80.


IGUATEMI. Radar reduziu participação na companhia de 10,2% para 9,91% do total de ações preferenciais, passando a deter 43.159.600 de papéis do tipo.


EZTEC lançou dois empreendimentos no terceiro trimestre, somando um valor geral de vendas (VGV) de R$ 475 milhões, considerando apenas a participação da companhia nos projetos…


… Esse valor representa queda de 31,6% na comparação anual e de 3,1% na base trimestral.


IRANI PAPEL E CELULOSE. O conselho de administração aprovou a realização da sexta emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em série única, no valor de R$ 120 milhões.


ENERGISA e a controlada direta Energisa Transmissão de Energia (ETE) informaram que energizaram o reforço da subestação Oriximiná, no Pará, para aumento da potência instalada.

Leitura de domingo

 *Leitura de Domingo: W. Street prevê lucro mais fraco com tarifas de Trump e fareja gastos com IA*


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 13/10/2025 - Analistas em Wall Street esperam que o crescimento do lucro das empresas de capital aberto nos Estados Unidos desacelere no terceiro trimestre, à medida que se esgotam as estratégias para conter os efeitos do pacote de tarifas do presidente Donald Trump. Por outro lado, também procuram sinais de investimentos em inteligência artificial (IA), que têm impulsionado o rali no mercado ao longo do ano, apesar das turbulências provocadas pelas constantes mudanças nas políticas de Washington.


O lucro por ação (EPS, na sigla em inglês) das empresas listadas no S&P 500, que reúne as maiores companhias do mundo, deve apontar crescimento de 8% no terceiro trimestre deste ano, projeta a casa de análises americana FactSet. Trata-se de uma desaceleração em relação ao avanço de 11% apontado no segundo trimestre.


Apesar disso, Wall Street está mais otimista que o normal com os resultados trimestrais. Os analistas elevaram as estimativas de lucros para o terceiro trimestre de 2025 nos últimos três meses. "Em um trimestre típico, os analistas geralmente reduzem as estimativas de lucros durante o trimestre", diz o vice-presidente e analista sênior da FactSet, John Butters.


Um deles é o Bank of America, que espera que o lucro por ação do S&P 500 seja 4% maior que as expectativas de Wall Street. "O crescimento econômico, os primeiros balanços sólidos, orientações positivas e o suporte de um câmbio mais fraco apoiam uma recuperação mais ampla dos lucros, mas a última reviravolta tarifária representa riscos para o futuro", diz a analista de estratégia de ações do Bank of America, Savita Subramanian.


O principal motor para lucros maiores virá do setor de tecnologia. O Morgan Stanley estima que o avanço do lucro líquido da trupe das 'Sete Magníficas' seja de 24,3% contra 2% das demais companhias listadas no S&P 500. No entanto, o que analistas anseiam é quanto aos gastos das empresas com IA, o que pode tornar investidores mais céticos em um momento que crescem alertas quanto ao risco de correção das ações americanas diante dos excessivos valutions e um ambiente repleto de incertezas.


A temporada de balanços em Wall Street ganha tração nesta semana, com a divulgação de resultados dos grandes bancos americano. JPMorgan Chase, Bank of America, Wells Fargo, Goldman Sachs e Citigroup, além da BlackRock, divulgam números do terceiro trimestre amanhã (14).


A expectativa de analistas é de que os grandes bancos americanos continuem apresentando melhores resultados em áreas como bancos de investimento e tesouraria, como ocorreu no segundo trimestre. Dados do mercado já divulgados apontam para números melhores tanto na renda fixa quanto na variável, com mais emissões ocorrendo em Wall Street no terceiro trimestre, e também mais transações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês).


Analistas estão, porém, em sinal de alerta depois quanto aos riscos de uma guerra comercial global em meio à mais nova deterioração na relação entre os EUA e a China. O presidente Donald Trump ameaçou impor tarifas de 100% a produtos chineses em retaliação às restrições de Pequim à exportação de terras raras na última sexta-feira, dia 10. Mas, ontem, abrandou o tom e disse que "tudo ficará bem" com a China.


"Grandes cortes de estimativas são inevitáveis se a ameaça de tarifa adicional de 100% da China se mantiver, o que é improvável em nossa visão, dado seu potencial de paralisar o crescimento dos lucros", alerta Subramanian, do Bank of America.


Nesse sentido, o JPMorgan anunciou hoje que vai investir até US$ 10 bilhões em indústrias críticas para a segurança econômica e resiliência dos EUA. A ofensiva faz parte da iniciativa de Segurança e Resiliência do banco, um plano de US$ 1,5 trilhão, com duração de 10 anos. "Ficou dolorosamente claro que os EUA permitiram que se tornassem excessivamente dependentes de fontes não confiáveis de minerais críticos, produtos e manufatura - todos essenciais para nossa segurança nacional", disse o presidente do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, em nota à imprensa.


Investidores também vão monitorar o sentimento do empresariado americano em meio à paralisação das máquina pública americana, o chamado shutdown, e o vai e vem tarifário. "O otimismo dos executivos das empresas do S&P 500 nas teleconferências de resultados do segundo trimestre caiu para seu nível mais baixo em dois anos", observam os estrategistas da XP, Raphael Figueredo e Maria Irene Jordão, em relatório a clientes.


Mas, ao menos por ora, as primeiras divulgações de resultados têm indicado melhora no ânimo. A Delta Air Lines sinalizou que a recuperação geral da demanda nas últimas seis semanas deve se manter à frente. Por sua vez, a Pepsico viu suas receitas trimestrais crescerem a despeito da queda do volume de vendas no terceiro trimestre, e o sentimento passado a analistas e investidores foi de "otimismo" com o que vem pela frente. Quanto ao shutdown, a Delta Air Lines estima impacto de menos de US$ 1 milhão por dia, descartando um "efeito material".


Contato: aline.bronzati@estadao.com


Broadcast+

Leitura de domingo

 *Leitura de Domingo: com tarifaço, café do Brasil corre risco de perder espaço nos EUA*


Por Isadora Duarte


Brasília, 15/10/2025 - Com o tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos importados brasileiros, o Brasil corre o risco de perder espaço no maior mercado consumidor de café do mundo a partir das próximas safras e ser substituído por outros fornecedores. O alerta é do diretor executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos. "O grande receio é perder o maior mercado global, onde estão as principais empresas. É um prejuízo enorme perder o acesso ao maior mercado global para seus concorrentes", afirmou Matos, em entrevista exclusiva ao Broadcast nas Redes. Veja a entrevista completa aqui.


Diante da sobretaxa que atinge o café brasileiro, outros países, como México, Honduras e Colômbia, passaram a exportar maior volume aos Estados Unidos. "Levamos muito tempo para conquistar o primeiro lugar no mercado americano. Com novas safras vindo e perspectiva de maior colheita em importantes players, o grande risco é o Brasil ser o maior fornecedor e depois ir para o fim da fila e perder espaço nos blends deste grande mercado, quando a produção mundial de café aumentar. O caminho é resolver isso o mais rápido possível", observou Matos. O Brasil, por sua vez, redirecionou parte do que deixou de vender aos EUA para países europeus, árabes e asiáticos, minimizando efeitos sobre a balança comercial do setor em movimento de realocação no mercado mundial. No acumulado de janeiro a setembro, o Brasil exportou 29,105 milhões de sacas, queda de 20,5% em relação aos nove meses de 2024, enquanto a receita gerada saltou 30%, para US$ 11,049 bilhões.


Com a aplicação da alíquota , os Estados Unidos saíram de principal destino do café brasileiro em julho, antes da vigência da sobretaxa, para o terceiro destino em setembro, perdendo o posto de maior importador de cafés do Brasil para a Alemanha. Segundo o Cecafé, os impactos para os exportadores de café são "incalculáveis". "Há um prejuízo enorme com custo de postergação de contratos e suspensão e cancelamento de contratos, por isso, não temos outra estratégia se não a isenção total aos cafés brasileiros. Se não resolvermos isso o mais rápido possível, além dos exportadores, os impactos chegarão aos produtores", apontou o CEO do Cecafé.


Dados do conselho apontam para queda de 52,8% nos embarques do grão ao mercado norte-americano em setembro, adquirindo 332.831 sacas. No ano passado, a exportação brasileira de café para os EUA somaram 8,1 milhões de sacas e US$ 2 bilhões, 16% de tudo o País exportou. "O aumento de 40% no preço internacional do café somado à tarifa de 50% sobre o grão brasileiro inviabiliza os embarques", apontou. O Brasil responde por 34% de tudo que os Estados Unidos consome de café. "76% dos americanos consomem café diariamente. São dois países insubstituíveis no comércio de café", pontuou o diretor-executivo do Cecafé.


O setor exportador defende que o café seja incluído na lista de exceções ao tarifaço. As sinalizações dos importadores é de que o produto é o item número 1 na lista, segundo Matos, para potenciais novas exceções. A abertura de diálogo entre os países, que começou com a conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos EUA, Donald Trump, e a missão diplomática brasileira ao governo americano, pode contribuir nesse movimento, segundo Matos. "Talvez seja factível a suspensão geral da tarifa ou a ampliação da lista. O importante é virar a página das tarifas", defendeu o CEO do Cecafé.


O impacto inflacionário do encarecimento do café, que registrou em agosto a maior alta no varejo americano desde 1997 nove vezes superior à média, bem como os efeitos já sentidos pelos consumidores e o fim do estoque da indústria local influenciam ainda no convencimento das autoridades e na pressão da opinião pública para isenção do café, avalia o Cecafé.


Em paralelo, o setor busca também a diversificação de mercados. Para Matos, os movimentos de preservação de mercados consolidados, como Estados Unidos e Europa, e a abertura de novos destinos são pautas distintas que não devem se sobrepor. China e Austrália despontam entre os países em crescimento do consumo do grão brasileiro. Nesse cenário de escalada tarifária, estoques mundiais baixos e incertezas quanto à nova safra, os preços do grão tendem a seguir elevados no mercado internacional pelo menos até o fim do ano.


Contato: isadora.duarte@estadao.com


Broadcast+

domingo, 19 de outubro de 2025

Ambipar

 *O nome e o instrumento por trás da queda da Ambipar*


João Daniel Piran de Arruda deixou a empresa às vésperas de reunião com credores para explicar aditivo com o Deutsche Bank


A situação financeira crítica da Ambipar tem na raiz um nome muito conhecido do mercado financeiro: João Daniel Piran de Arruda, que se tornou CFO da empresa em agosto de 2024, e uma operação por ele negociada. Ele é o responsável pela transferência do hedge da companhia do Bank of America (BofA) para o Deutsche Bank e um aditivo feito com o banco alemão, em agosto deste ano.


A mudança exigiu o pagamento de multa ao BofA de R$ 20 milhões, concentrava as garantias no Deutsche e impunha pagamento adicional de R$ 62 milhões. O aditivo introduziu um instrumento de nome aparentemente técnico – PIK bond (Payment-in-Kind) –, mas que alteraria o perfil de risco da companhia e colocaria a Ambipar em grande vulnerabilidade financeira.


Arruda deixou a Ambipar em 19 de setembro, uma sexta-feira. O pedido de demissão aconteceu antes da reunião marcada para acontecer em Nova York no dia 22, segunda-feira. Na reunião, ele explicaria a credores internacionais a situação da queda dos bonds da Ambipar por causa do mecanismo do PIK bond.


A convocação para a reunião foi feita por ele mesmo, no dia anterior, em 18 de setembro. A saída – comunicada por email, às 22h30 do dia 19, pegando todos de surpresa – foi tomada como confirmação de que o sistema supostamente criado para beneficiar a Ambipar se voltara contra a própria empresa.


Na semana anterior à saída de Arruda, o Deutsche cobrou depósitos de margem que totalizaram R$ 170 milhões em cinco dias. Só no dia 16 de setembro foram três notificações, ultrapassando R$ 70 milhões.


No fim de semana entre a saída de Arruda e a reunião – que não aconteceria – teve início a batalha jurídica: escritórios de advocacia em Londres e Nova York começaram a questionar o Deutsche sobre execução das garantias e o risco, cada vez mais real, de que cláusulas de disclosure nos títulos da dívida de US$ 750 milhões viriam a ser descumpridas.


O colapso veio com a segunda-feira (22/09). Os títulos lastreados nos chamados green bonds, emitidos em 2024, passaram a ser liquidados compulsoriamente, bancos estrangeiros executavam garantias – e o caixa da companhia ia sendo drenado rapidamente. Desde o estouro da crise, há um mês, as ações da Ambipar, que chegaram a valer R$ 26, desabaram para menos de R$ 0,40.


A agência de classificação de risco S&P baixou a nota da Ambipar de “AA” para “D”. Os CDS (Credit Default Swaps, seguros contra calote da companhia) dispararam. A cada nova chamada de margem subia o prêmio de risco, e a cada alta no CDS derrubava ainda mais o preço dos títulos. A academia chama esse ciclo de “espiral de margem” – e foi o que ocorreu: o preço caía; o CDS subia; e o Deutsche exigia mais garantias.


*Nome técnico*


O PIK bond (Payment-in-Kind) é um instrumento que permite postergar pagamentos de juros em forma de novos títulos. O efeito, no entanto, foi o de disparar novas chamadas de margem a cada vez que os papéis caíam de preço.


Em 2024, a Ambipar lançara US$ 750 milhões em green bonds – seus primeiros títulos sustentáveis internacionais – que foram celebrados como marcos do mercado brasileiro: papéis com selo ambiental, atrelados a metas de carbono e economia circular. Foi sobre esses títulos que Arruda contrataria depois os PIK bonds, que se tornariam fatais.


Até a eclosão da crise, a Ambipar vinha em marcha acelerada de expansão: entre 2020 e 2023, comprou ativos nos EUA, Canadá, Reino Unido e América Latina.


No Brasil, já listada na B3, a empresa veio a integrar o índice verde, com certificação da S&P. Seus papéis se tornaram símbolo de “capitalismo regenerativo” – e atraiu participação relevante de gestoras dos EUA, Reino Unido e Escandinávia, chegando a alcançar valorização de mais de 800%.


A Ambipar agora tenta nos tribunais proteger seu caixa contra os credores e, ao mesmo tempo, indiciar seu ex-CFO por fraude.


*O que diz a defesa*


Coordenador da defesa técnica do ex-diretor financeiro da Ambipar, David Rechulski apontou suposta “denunciação caluniosa” no caso. Veja a nota:


“Se é verdade que fizeram mais esse movimento errático – como vários outros anteriores, a exemplo de atribuir ao ex-CFO:


1) a assinatura de um termo de cessão do Bank of America ao Deutsche Bank que, na verdade, foi firmado pelo próprio filho do controlador e diretor estatutário da Ambipar;


2) a assinatura do aditivo com o DB que eles próprios juntaram na cautelar e que se vê ter sido assinado por seus diretores estatutários Thiago Silva e Luciana Barca; ou


3) repentinamente mudar a sede da empresa de São Paulo para um coworking no Rio de Janeiro às vésperas da cautelar – fica claro estarmos diante de uma provável situação típica de denunciação caluniosa.


A propósito, para que não pairem dúvidas desde logo, há até mensagens do controlador, CEO e membro do Conselho de Administração, Sr. Tércio Borlenghi Júnior enviadas ao seu ex-CFO João Arruda comemorando a assinatura do aditivo com o Deutsche Bank que agora dizem ser algo desconhecido.


Destaque-se ainda que, segundo o artigo 21, alínea ‘f’, do Estatuto da Ambipar, documento devidamente registrado nos órgãos oficiais de controles, que cumpre exatamente ao CEO levar o que de direito para ser pautado e votado no Conselho de Administração. Enfim, narrativas falaciosas não resistirão às evidências“.


https://www.metropoles.com/colunas/grande-angular/o-nome-e-o-instrumento-por-tras-da-queda-da-ambipar

Terremoto no mercado

 *O homem que causou um terremoto no mercado financeiro*


da Redação16 de maio de 2025, 14:22



André Vieira*


Brazil Stock Guide – João Daniel Piran de Arruda carrega um currículo de elite no mercado financeiro. Formado em administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), passara quase 15 anos no Bank of America (BofA), onde liderou a área de derivativos e estruturação de dívida corporativa na América Latina. Antes, atuara no Crédit Agricole, em São Paulo e Londres. Conhecido por sua habilidade em montar operações complexas, ganhou fama como um engenheiro financeiro capaz de transformar exposição cambial em rentabilidade. Quando assumiu o cargo de CFO da Ambipar, em agosto de 2024, aos 43 anos, parecia o nome certo para levar a companhia a um novo patamar de sofisticação financeira.


Foi essa reputação técnica que lhe garantiu liberdade quase total — e que, ironicamente, permitiria a criação do instrumento que precipitaria a situação atual da Ambipar. O contrato que depois parecia rotineiro: um simples aditivo a um hedge cambial. Mas por trás da aparência técnica havia uma estrutura letal. A crise foi deflagrada quando a Ambipar transferiu seus derivativos do Bank of America (BofA) pagando uma multa de R$ 20 milhões e um prêmio de R$ 62 milhões para o Deutsche Bank, em fevereiro de 2025, acreditando estar reduzindo custos e ampliando eficiência.


Na prática, a operação montada sob supervisão de Arruda criou um mecanismo em que o valor de mercado dos próprios títulos da Ambipar passou a definir o grau de estrangulamento financeiro da companhia a cada oscilação. O nome soava sofisticado — PIK bonds (Payment-in-Kind), instrumentos que permitem postergar pagamentos de juros em forma de novos títulos —, mas o efeito foi devastador: cada queda no preço dos papéis disparava novas chamadas de margem, drenava o caixa e ampliava o risco de crédito. O hedge transformou-se em armadilha. Quando o mecanismo dos PIK bonds veio a público, abalou a credibilidade da Ambipar e levou os bancos a antecipar o vencimento de dívidas.


Antes da tempestade, havia o símbolo do sucesso: os green bonds. No ano anterior, a Ambipar — por meio da Ambipar Lux S.à r.l. e de veículos nas Ilhas Cayman — lançara seus primeiros títulos sustentáveis internacionais, no valor de US$ 750 milhões, premiados como o melhor bond do ano. As emissões, Ambipar Green Bonds 9,875% 2031 e 10,875% 2033, foram registradas na Bolsa de Luxemburgo (LuxSE) e certificadas segundo os Green Bond Principles da ICMA. À época, foram celebradas como marcos do mercado brasileiro: papéis com selo ambiental, atrelados a metas de carbono e economia circular. Foi justamente sobre esses títulos — que Arruda ajudara a estruturar ainda no BofA — que sustentaria, num momento posterior, o mecanismo de proteção cambial que se tornaria fatal.


O Brazil Stock Guide acompanhou os desdobramentos da crise da Ambipar desde a sua eclosão há um mês. Ao longo dessas semanas, a reportagem ouviu uma dezena de pessoas envolvidas direta ou indiretamente nas negociações — executivos, advogados, analistas e credores — e analisou centenas de páginas de documentos. Eles mostram, em detalhe, como um instrumento de proteção financeira evoluiu para uma estrutura de alto risco — e como um aditivo de proteção transformou uma história de sucesso corporativo em um caso de referência sobre alavancagem e falhas causadas por seu gestor financeiro.


Fundada em 1995, por Tercio Borlenghi Junior, a Ambipar começou como uma pequena empresa de coleta e tratamento de resíduos industriais. Três décadas depois, transformou-se em um grupo multinacional presente em mais de 40 países, gerando cerca de 25 mil empregos diretos e 100 mil indiretos. Seu modelo de negócio se dividia em duas frentes complementares: Ambipar Environment, dedicada à gestão de resíduos e soluções de economia circular; e Ambipar Response, especializada em emergências químicas e desastres industriais. O crescimento veio por aquisições em série — uma estratégia agressiva de M&A.


Entre 2020 e 2023, já listada na B3 (AMBP3), o grupo comprou dezenas de ativos nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e América Latina, incluindo a Allied International Emergency, a One Stop Environmental e a PERS – Professional Emergency Resource Services. Em 2023, a divisão Response foi listada na NYSE American (ticker AMBI), após fusão com a SPAC HPX Corp., numa operação liderada por João Arruda quando ainda estava no BofA, dando à Ambipar status de pioneira global em ESG entre emergentes. No Brasil, suas ações chegaram a integrar o índice verde da B3, com certificação da S&P, e eram apresentadas como símbolo de “capitalismo regenerativo”.


Fundos estrangeiros — entre eles gestoras dos Estados Unidos, Reino Unido e Escandinávia — tornaram-se acionistas relevantes. No auge da euforia verde, as ações da Ambipar se valorizaram mais de 800%, impulsionadas pela onda ESG. A capitalização de mercado superou R$ 44 bilhões, segundo a Elos Ayta Consultoria, no fim de 2024, quando o faturamento alcançou quase R$ 7 bilhões. Naquele momento, a Ambipar representava uma ideia de país: o Brasil moderno, exportador de soluções sustentáveis, com uma multinacional brasileira nascida do lixo industrial.


A chegada de João Arruda à Ambipar se deu pelas relações do passado. Ele conhecia Tercio Borlenghi havia quase uma década, desde os tempos em que o Bank of America assessorava as captações externas, ajudava no IPO e no follow-on da companhia. O convite veio num jantar no fim de 2023. Borlenghi queria alguém que falasse “a língua de Nova York, Faria Lima e Leblon”, requisitos que parecia oferecer.


Como condição para aceitar o cargo de CFO, pediu e recebeu carta branca para reestruturar os departamentos financeiro, de governança, compliance, jurídico, recursos humanos, tributário, bem como as áreas de comunicação e marketing. Logo depois de assumir, em agosto do ano passado, demitiu vários executivos com posição de destaque nesses departamentos. O conselho, confiante na experiência dele, aprovou tais mudanças. “Ele falava com assertividade, trazia garantias técnicas”, relembra um ex-membro. “Mas essa suposta experiência virou deslumbramento.”


Em fevereiro, a Ambipar transferiu sua carteira de derivativos cambiais do Bank of America para o Deutsche Bank. O novo contrato prometia spreads menores e maior eficiência operacional. Para encerrar a antiga operação, a empresa desembolsou cerca de R$ 20 milhões em multa ao BofA — um custo apresentado internamente como parte de uma “otimização financeira”. O que parecia um avanço técnico, porém, se transformou em armadilha. A estrutura firmada com o Deutsche, reforçada meses depois pelo aditivo de agosto — o chamado pik bond — alterou profundamente o perfil de risco da companhia, concentrando as garantias no banco alemão e impondo o pagamento adicional de R$ 62 milhões. O que era para reduzir exposição acabou ampliando o grau de dependência e vulnerabilidade financeira da Ambipar.


Durante os meses de março a agosto, o hedge funcionou em silêncio. Mas a partir de agosto, com o fatídico aditivo já em vigor, tornou-se explosivo. O valor dos green bonds caiu de 100 para 60 centavos por dólar. Na semana anterior à saída de Arruda do cargo de CFO da Ambipar, o Deutsche passou a exigir dezenas de milhões diariamente em depósitos de margem, totalizando R$ 170 milhões em cinco dias. Em 16 de setembro, chegaram três notificações no mesmo dia, somando mais R$ 70 milhões.


*O colapso financeiro*


A ruptura começou a se desenhar em meados de setembro. No dia 18 de setembro, uma quinta-feira, Arruda convocou para a segunda-feira seguinte uma reunião em Nova York com bondholders internacionais — seria a primeira oportunidade para explicar a deterioração dos títulos e o aditivo assinado com o Deutsche.


Mas a crise ganhou velocidade. Na sexta-feira, 19 de setembro, último dia útil da véspera do encontro, ele surpreendeu a todos ao apresentar ao conselho seu pedido de demissão por e-mail às 22h30, não comparecendo à reunião do dia 22. “Todo mundo estaria lá — fundo americano, europeu, brasileiro — e ele sumiu”, lembra um interlocutor. O gesto foi interpretado dentro da empresa como o ponto de ruptura definitivo: a confirmação de que o sistema criado para beneficiar a Ambipar havia se voltado contra ela.


No fim de semana, escritórios de advocacia em Londres e Nova York começaram a questionar o Deutsche sobre a execução das garantias e o possível descumprimento de cláusulas de disclosure nos títulos verdes — inaugurando a fase jurídica da crise.


Na abertura do mercado, na segunda-feira, 22 de setembro, o hedge financeiro começou a colapsar. Os derivativos dispararam, os títulos lastreados em green bonds passaram a ser liquidados compulsoriamente, e o fluxo de chamadas de margem ia drenando o caixa da companhia, à medida que bancos estrangeiros executavam as garantias. Em poucos dias, os títulos da dívida despencaram para US$ 0,16 por dólar de face. Na bolsa, o descrédito total dos investidores. Neste primeiro mês de crise, as ações da Ambipar, que chegaram a valer R$ 26, caíram 97%, valendo menos de R$ 0,40 no pregão mais recente. “Foi o Big Short brasileiro. Só que o subprime era verde”, disse um trader.


No mercado internacional, o risco de crédito da Ambipar ficou exposto em tempo real. Quando a agência de classificação de risco S&P baixou o rating de “AA” para “D”, os Credit Default Swaps (CDS) da companhia — seguros contra calote — dispararam, refletindo a probabilidade de default superior a 50% em 12 meses. O CDS virou termômetro da crise: cada nova chamada de margem elevava o prêmio de risco, e cada alta no CDS derrubava ainda mais o preço dos títulos. Esse ciclo vicioso é descrito na literatura acadêmica como margin spiral — a “espiral de margem” conceito formulado por Markus Brunnermeier e Lasse Pedersen (2009), que descreve o colapso em cadeia gerado por chamadas de margem sucessivas. Foi exatamente o que ocorreu: o preço caía, o CDS subia e o Deutsche exigia mais garantias.


*Os efeitos para o investidor de varejo*



A implosão da dívida detonou a ideia de segurança em produtos vendidos ao varejo com base nos green bonds da Ambipar. A corretora XP comercializou Certificados de Operações Estruturadas (COEs) prometendo “IPCA + 11,75%” e “sem exposição cambial”, sugerindo a segurança de um título de renda fixa. Vendidos pela XP por meio de seus assessores de investimentos, agentes autônomos e plataformas digitais, carregavam nomes chamativos: COE ESG Brasil Verde, Ambipar Global Environment, Green 2031 Performance. O apelo funcionou: cerca de R$ 900 milhões foram captados, boa parte de investidores conservadores e pessoas físicas.


Esses produtos que eram instrumentos de crédito apresentados como investimentos seguros eram, na prática, apostas contra a própria Ambipar. Por trás da promessa de rentabilidade fixa, investidores de varejo financiavam a ponta perdedora de um CDS que lucrava com a deterioração dos títulos da empresa. O aditivo obrigava a companhia a depositar garantias diárias sempre que seus papéis perdiam valor — um ciclo que sugava liquidez e acelerava o colapso. Na outra ponta, fundos internacionais recebiam o cupom integral dos bonds — um arranjo que só fazia sentido se o default fosse esperado, e rentável.


Quando o preço dos títulos despencou e as cláusulas de cross-default foram acionadas, os COEs vendidos a investidores de varejo viraram pó: cada real aplicado passou a valer centavos. Centenas de clientes receberam mensagens: os papéis haviam atingido o “nível de gatilho de perda total”. A promessa de proteção evaporou em uma tarde. “Disseram que era verde, que era seguro. Perdi tudo”, escreveu um investidor no Reclame Aqui, dentre as dezenas que registraram queixas no site de defesa do consumidor.


Estima-se que cerca de 4.200 pessoas físicas tenham sido afetadas. O caso já alimenta ações coletivas e uma possível investigação da CVM por “falha material de transparência” e “conflito de interesse entre originação e distribuição”. A XP prepara um fundo exclusivo para os investidores que acreditam que podem recuperar ao menos parte dos prejuízos caso a empresa se recupere.


*Proteção à Justiça*


Diante do colapso, a Ambipar recorreu à Justiça. Em 24 de setembro, ingressou na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro com um pedido de proteção temporária contra credores. Os bancos reclamaram. A decisão liminar suspendeu execuções e cláusulas de aceleração por 30 dias, prorrogáveis. Na petição, a companhia alegou “abuso de poder contratual” e “distorção da finalidade do hedge”.


O controlador da Ambipar também tornou pública uma carta endereçada ao conselho em 10 de outubro. Borlenghi Junior afirmou que Bradesco e Opportunity teriam vendido ações de sua titularidade em violação a liminar judicial. As operações, segundo ele, reduziram sua participação de 73,48% para 67,68%, causando perdas de R$ 20 bilhões de marketcap (US$ 3,4 bilhões). Em resposta, o Opportunity alegou não ser credor do FIP Everest, apenas cotista minoritário, sem poder de execução. O Bradesco, até o momento, não se manifestou publicamente.


Um pedido formal de recuperação judicial por parte da Ambipar é considerado iminente e poderá ser apresentado brevemente. A medida daria fôlego ao caixa da Ambipar, preservaria empregos e permitiria que a operação de emergência e gestão de resíduos continue funcionando enquanto o grupo negocia com os credores e tenta se reerguer.


A crise da Ambipar deixou de ser apenas financeira. A empresa ingressou com ação criminal no Tribunal de Justiça de São Paulo contra João Arruda e outros dois executivos. O processo investiga falsidade ideológica, fraude, estelionato e manipulação de informações na montagem do hedge com o Deutsche Bank.


Procurado, o ex-diretor financeiro da Ambipar não deu entrevista. Mas, em nota, David Rechulski, seu advogado de defesa, afirma que o inquérito policial representa “mais um movimento errático” da Ambipar, dentro de uma sequência de tentativas anteriores de atribuir responsabilidades indevidas a Arruda. Segundo ele, a Ambipar teria imputado ao seu cliente a assinatura de documentos que, na verdade, foram firmados por outros executivos. Entre eles, um termo de cessão do Bank of America ao Deutsche Bank — “assinado pelo próprio filho do controlador e diretor estatutário da empresa” — e o aditivo contratual com o Deutsche, “rubricado pelos diretores estatutários Thiago Silva e Luciana Barca”.


Rechulski diz ainda existirem mensagens do controlador, Tercio Borlenghi Junior, enviadas a Arruda “comemorando a assinatura do aditivo com o Deutsche Bank, que agora afirmam desconhecer”. “Narrativas falaciosas não resistirão às evidências”, conclui Rechulski. Nenhuma cópia de documento foi mostrada à reportagem e o advogado não comentou sobre as responsabilidades do próprio gestor financeiro da companhia, alvo do inquérito policial instaurado.


No fim, a promessa de governança global da Ambipar terminou nos tribunais — e o experimento da companhia com os green bonds tornou-se um exemplo dos riscos do mau uso da inovação financeira por João Daniel Piran de Arruda, pelo Deutsche Bank e pela XP.


https://www.brasilconfidencial.com.br/o-homem-que-causou-um-terremoto-no-mercado-financeiro/

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...