domingo, 28 de setembro de 2025

Ativos digitais

 *Leitura de Sábado: Após anos de experimentações, ativos digitais encontram casos de uso real*


Por Aramis Merki II


São Paulo, 26/09/2025 - Stablecoins são criptoativos lastreados em moedas soberanas na proporção de um para um. Funcionam como representações digitais de uma determinada divisa na tecnologia blockchain. Elas têm o potencial de ser um ponto de virada para o mundo dos ativos digitais: ultrapassam o caráter especulativo e há casos de uso tanto para investimento quanto para transações financeiras.


O Boston Consulting Group (BCG) aponta que estes ativos podem revolucionar a forma de pagamentos, ainda que apenas 1% do total de movimentações de moedas digitais estáveis seja para este fim. "Depois de ano de experimentação, o dinheiro digital está se movendo para um novo estágio de adoção", destaca o BCG em relatório.


Globalmente, o volume de transações com stablecoins está em seus recordes. Em agosto, o montante transacionado alcançou US$ 1,9 trilhão, de acordo com o consolidador de dados The Block. O valor superou o do mês anterior, que já havia sido o maior registrado até então. Os dados são apenas da blockchain ethereum.


Diante do universo cripto, as stablecoins representam apenas 7% da capitalização total. Individualmente, a USDT, stablecoin de dólar da Tether, é a quarta maior moeda digital, com capitalização de mercado de cerca de US$ 173 bilhões. A primeira e mais popular criptomoeda, o bitcoin, totaliza US$ 2,23 trilhões, seguida de longe por ethereum (US$ 500 bilhões).


O mercado aponta que a legislação dos Estados Unidos que estabelece parâmetros para o setor, chamada de Genius Act, é o que tem impulsionado o crescimento. A lei passou a valer em 19 de julho deste ano, em um aceno da administração de Donald Trump aos ativos digitais.


A regulação americana inclui exigências para que a reserva que embasa as moedas seja feita em títulos do Tesouro dos EUA. Isto é visto, inclusive, como uma forma de impulsionar de forma perene a demanda pelos "Treasuries". Além disso, é uma avenida para que o dólar reforce a sua posição de reserva de valor global.


"A adoção global de stablecoins lastreadas em dólar está estendendo a influência monetária americana além das fronteiras tradicionais, refletindo e consolidando o papel descomunal do dólar americano nos mercados globais", aponta a Chainalysis, empresa de análises do setor cripto, em relatório.


O bom momento do setor pode ser medido pelo sucesso das ações da Circle, empresa que emite a stablecoin USDC e foi listada na Nasdaq em junho deste ano. A ação chegou a acumular alta de 675% em relação ao preço da oferta pública (IPO, na sigla em inglês) no primeiro mês em negociação. Houve uma correção substancial após o frisson, mas o papel tem negociado a cerca de US$ 130, bem acima do que foi precificado na estreia, US$ 31.


Já a Tether, emissora da USDT, não tem capital aberto. Mas o CEO, Paolo Ardoino, informou nesta semana que a empresa busca investidores. Segundo informações da Bloomberg, o plano é captar de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões em troca de uma fatia de 3% da companhia. Isto significa que a Tether pode ser avaliada entre US$ 500 bilhões e US$ 666 bilhões.


Adesão local


O presidente do BTG Pactual, Roberto Sallouti, já afirmou que as stablecoins vão transformar o mercado. Ele pontuou, no entanto, que a falta de regulamentação no Brasil é um fator limitante. O banco tem a sua BTG Dol desde abril de 2023. A infraestrutura, a custódia e a arquitetura do lastro em dólar estão sob a responsabilidade do próprio banco.


Neste mês, o tradicional Safra iniciou a sua incursão neste mundo. Lançou o Safra Dólar, estruturada em uma rede blockchain privada com apoio da empresa de tokenização Hamsa.


A principal stablecoin brasileira é a BRZ, lastreada no real. É emitida pela Transfero desde 2019. Em dados da Receita Federal, as operações com o ativo totalizam mais de R$ 1,9 bilhão entre janeiro e maio deste ano. No mês de maio, a BRZ foi a sexta cripto em volume de negociação em reais. Ficou atrás das stablecoins de dólar USDT e USDC, conforme a tabela abaixo.



Fonte: Receita Federal


Segundo levantamento da Iporanga Ventures, as moedas digitais vinculadas ao real movimentaram mais de R$ 5 bilhões em 2024. A principal diferença é que a stablecoin de dólar atrai interessados na moeda americana como uma reserva de valor. No caso da moeda digital de real, a finalidade é sobretudo transacional: pagamentos internacionais são um dos casos de uso mais frequentes.


O ex-presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto, atualmente vice-chairman e chefe global de políticas públicas do Nubank, aponta que as stablecoins de dólar têm ganhado espaço justamente em economias emergentes. "É uma forma que as pessoas encontraram para ter uma conta em dólar", disse ele em evento sobre ativos digitais esta semana.


Divisas de países em que os juros são altos não são atrativas para que as stablecoins sejam usadas como reserva de valor, aponta Campos Neto. Afinal, nestes cenários, é mais vantajoso ter renda fixa.


Contato: merki@broadcast.com.br


*Conteúdo elaborado com auxílio de Inteligência Artificial, revisado e editado pela Redação da Broadcast


Broadcast+

Semanal

 *O mito de Sísifo da Desinflação*


A semana foi marcada por aumento da incerteza em relação ao ciclo de cortes do FED por conta da alta atividade econômica nos dados do segundo trimestre, o que trouxe maior cautela aos investidores globais. A revisão do PIB americano do segundo trimestre, elevou o crescimento para 3,8% (de 3,3%), e levando o mercado a reduzir a probabilidade de dois cortes adicionais de juros neste ano. A amplitude das revisões recentes dos dados também reacendeu, entre economistas, o debate sobre a confiabilidade das estatísticas e das metodologias utilizadas.


Nesse contexto, dirigentes do Banco Central Americano ajustaram o tom dos discursos, reforçando a parcimônia na condução da política monetária e enfatizando o risco de cortes prematuros para a sustentabilidade do processo desinflacionário. Entre os membros mais conservadores, a avaliação é de que a inflação segue estacionada acima da meta, sem tendência clara de convergência, o que recomenda cautela adicional.


No front político, Donald Trump retomou a agenda tarifária, decretando novas taxações — destaque para a alíquota de 100% sobre medicamentos importados por empresas sem fábricas nos EUA. O ponto sensível é a importância do segmento farmacêutico na pauta de exportações da Europa para os EUA (tema que já aparecia como exigência de alíquota máxima pelo Reino Unido em conversas comerciais). Caso o embate se intensifique, é plausível esperar retrocesso nas negociações em curso.


Os mercados refletiram essa combinação: o S&P 500 caiu 0,3% e o Russell 2000, 0,7%; Nasdaq recuou 0,5% e o Dow Jones, 0,2%. O principal destaque foi a curva de juros: todas as maturidades subiram — o título de 2 anos avançou 1,9% (para 3,6%) e o de 10 anos, 1,0% (para 4,2%). Os Treasuries longos tiveram leve queda de 0,1%. O dólar se valorizou 0,6% no mundo — um movimento que merece atenção, dado o posicionamento consensual vendido na moeda entre investidores globais.


Em outras praças, houve retração moderada: Nikkei (-0,3%), emergentes (-0,6%), enquanto o DAX subiu 0,4%. A China sentiu a nova rodada de taxações: ações tradicionais caíram -0,2% e de tecnologia -1,6%. Ouro e petróleo tiveram altas expressivas, de 2,2% e 5,8%, respectivamente.


*O teatro do poder: Ato II em Brasília*


Localmente, dois eventos políticos dominaram as discussões. Primeiro, o encontro entre Lula e Trump em evento da ONU: o presidente americano elogiou o brasileiro e sinalizou abertura ao diálogo para eventual acordo comercial. Segundo, a alta da aprovação de Lula, que atingiu o maior patamar do ano, em pesquisa divulgada esta semana.


Nesse ambiente, o governador Tarcísio de Freitas — preferido por parte relevante do mercado — reforçou que não deve disputar a Presidência em 2026, priorizando a reeleição em São Paulo. O discurso ganhou firmeza após seguidos ataques de Eduardo Bolsonaro e veio acompanhado de acenos a Ratinho Jr. como possível nome da direita.


Esses movimentos dificultam a tese de renovação política em 2026. Vale notar que Lula e Trump devem se reunir novamente na próxima semana; se houver avanço nas negociações, a popularidade do presidente brasileiro pode subir ainda mais. Em nossa avaliação, o mercado precifica como altamente provável a renovação política; caso esse cenário se torne incerto, há espaço para abertura de prêmios de risco locais.


Os preços refletiram esse quadro: o Ibovespa caiu 0,3%, enquanto o dólar subiu 0,4%. Na curva, os títulos públicos com vencimento em 2030 avançaram nas duas pontas: prefixado (+0,8%, para 13,3%) e indexado ao IPCA (+0,8%, para IPCA+7,8%).


Qualquer necessidade estou à disposição.

Um abraço, Breno - Rubik Capital.

Mercados

 https://www.poder360.com.br/poder-economia/bb-seguridade-e-maior-pagadora-de-dividendos-em-2025/


*BB Seguridade é maior pagadora de dividendos em 2025*


_Até agosto, a companhia tomou o posto que era da Petrobras em 2024; petroleira caiu para 8º lugar, com queda de 61% no pagamento de proventos_


Em um ano marcado por euforia e novas máximas históricas para o Ibovespa, principal índice da B3 (Bolsa de Valores), uma mudança significativa agitou o mercado de proventos: a Petrobras deixou a liderança na lista das maiores pagadoras de dividendos, cedendo o posto para a BB Seguridade, que agora lidera tanto no Ibovespa quanto no Idiv (Índice de Dividendos). 


A Petrobras viu seus pagamentos de proventos encolherem 61% até agosto de 2025, uma diferença de R$ 60 bilhões em relação ao mesmo período de 2024, quando pagou R$ 103 bilhões. Com os R$ 40 bilhões distribuídos em 2025, ainda é a maior pagadora de dividendos em volume.


*IMAGEM 1*



Ficar de fora do top 10 no levantamento da Comdinheiro/Nelogica é resultado do recorte temporal, afirmou Gustavo Gukovas, diretor de Operações da Comdinheiro/Nelogica: “Se o recorte do levantamento fosse os últimos 12 meses, a PETR4 [papéis preferenciais] teria ficado em 2º e PETR3 [ordinários] em 4º no ranking”. 


*NOVA LÍDER* 


A nova líder BB Seguridade assumiu o topo e se destacou pelo aumento de 60% no valor pago por ação. A empresa consolidou sua posição como uma das mais rentáveis para os acionistas focados em renda passiva, liderando tanto a lista de empresas do Ibovespa quanto a do Idiv....


*IMAGEM 2*


Diferença entre os 2 índices: 


Ibovespa – é o principal termômetro do mercado de ações brasileiro, composto pelas empresas com maior volume de negociação e valor de mercado na B3. Representa a liquidez e a força das maiores companhias; 


IDIV –  é um índice setorial que agrupa as empresas conhecidas por serem boas e consistentes pagadoras de dividendos. Nem toda empresa do Ibovespa está no IDIV, e vice-versa. 


A liderança da BB Seguridade em ambos os universos demonstra uma rara combinação de alta liquidez e forte retorno em proventos. Outras companhias como Itaúsa (ITSA4) e ISA CTEEP (TRPL4) também voltaram a ganhar destaque em 2025. 


Apesar dos resultados expressivos, o cenário exige cautela. “Não podemos afirmar que esse excelente resultado dos primeiros oito meses irá se manter até o final do ano, tendo em vista as incertezas geopolíticas e econômicas que pairam no momento”, afirmou Wendell Finotti, CEO da Meu Dividendo. 


“A Selic nos patamares atuais desestimula os investimentos por parte das empresas, o que pode significar represamento de caixa no 1º momento, mas, no longo prazo, significa que as companhias poderão ter crescimento menor do que o esperado no futuro.” 


Para quem analisa as oportunidades, Gukovas afirma que é importante entender a métrica do Dividend Yield. “Quando uma empresa apresenta DY alto, ou ela paga muito em proventos, ou ela está sendo negociada a preços mais baixos, ou ambos. Então, o investidor deve ter cautela e considerar outros indicadores”, diz....



*RECORDES* 


Enquanto o ranking de dividendos se reconfigura, o mercado de ações vive um momento de forte otimismo. O Ibovespa bateu recorde nesta semana e fechou em 146.491,75 pontos.


A euforia não se restringiu ao Ibovespa. O IDIV, índice de dividendos, também alcançou sua máxima histórica, chegando a 10.395,26 pontos. No acumulado do ano, o Ibovespa lidera com uma alta de 21,08%, enquanto o IDIV avança 18,97%. 


Nesta onda de otimismo, 17 ações individuais também atingiram suas cotações mais altas da história, com destaque para o setor de incorporação, que viu 4 de suas empresas baterem recordes. Companhias como Moura Dubeux (MDNE3), Lavvi (LAVV3) e Planoeplano (PLPL3) registram valorizações superiores a 100% em 2025....



*IMAGEM 3*


Segundo Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta, a euforia com a pontuação esconde fragilidades importantes, principalmente a desconexão entre a alta dos preços e o baixo volume de negócios, o que lança dúvidas sobre a sustentabilidade do movimento. 


Para o especialista, o investidor não deve se guiar apenas pelo número estampado na tela. Ele afirmou que, ao se avaliar o Ibovespa sob outras métricas, a percepção de “topo histórico” é relativizada.


“Quando dolarizado, por exemplo, o índice brasileiro ainda está mais de 60% abaixo de seu pico de 2008, em grande parte devido à desvalorização do real frente à moeda americana. Essa perspectiva torna a bolsa brasileira atrativa para o capital estrangeiro, que enxerga um significativo potencial de valorização”, disse.


Da mesma forma, quando os valores são ajustados pela inflação (IPCA), o índice ainda se encontra cerca de 30% aquém de sua máxima em termos de poder de compra real. “Ambas as análises mostram que ainda existe, estruturalmente, espaço para crescer”, afirmou Rivero.


A alta recente vem acompanhada de uma forte queda no volume financeiro negociado na B3. “Uma alta com baixo volume significa que poucos players estão impulsionando o mercado, o que não demonstra uma convicção generalizada”, alerta Rivero. Para ele, a situação é análoga a uma decisão importante ser tomada com pouquíssimos participantes, o que fragiliza sua legitimidade.


Rivero nota que o recuo na distribuição de dividendos por grandes companhias, como Petrobras e Banco do Brasil, mostra a necessidade de prudência....

Bolivar Lamounier

 Bolívar Lamounier

"Entrevista - Estadão - Política

"Bolívar Lamounier vê julgamento do golpe como divisor de águas e Congresso como ‘decepção completa’

Em entrevista ao Estadão, sociólogo e cientista político fala de entraves ao crescimento do País e critica Lula e Bolsonaro"


Por Zeca Ferreira

20/09/2025 | 15h45


BOLIVAR LAMOUNIER

Entrevista com Bolívar Lamounier

Cientista político, sócio-diretor da Augurium Consultoria e membro das Academias Paulista de Letras e Brasileira de Ciências

"A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de oficiais-generais por tentativa de golpe de Estado marca um divisor de águas na história do País, avalia o sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier. Para ele, o julgamento da Ação Penal 2668 pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deixa claro que crimes contra a ordem democrática não serão mais tolerados.


“É óbvio que houve uma tentativa de golpe de Estado. Portanto, a pena é prisão, não há conversa”, afirma o sócio-diretor da Augurium Consultoria, que considera obscena a articulação em curso na Câmara para aprovar um projeto de lei que conceda anistia aos condenados pela trama golpista. “Este Congresso é uma decepção completa.”


Doutor em Ciência Política pela Universidade da Califórnia (EUA), Lamounier prepara um curso em que revisita clássicos da área para discutir os desafios da política global. Segundo ele, não será um debate conjuntural, mas uma investigação sobre novos arranjos políticos num momento em que até mesmo o sistema político dos Estados Unidos é posto à prova. Já foram gravadas cerca de 15 aulas, e a previsão é dobrar esse número.


Em sua avaliação, o País atravessa uma entressafra política, marcada por uma geração de baixa qualidade. A aprovação da PEC da Blindagem, que busca dificultar a abertura de processos judiciais contra políticos, só reforça o diagnóstico. Para Lamounier, a proposta é inconstitucional e acrescenta um novo capítulo ao conflito entre os Poderes.


Ele acredita, no entanto, que as eleições do próximo ano abrirão a possibilidade de renovação do Congresso, com a escolha de uma nova safra de bons políticos. “Por sorte, tudo indica que Bolsonaro já está fora do jogo, nunca deveria ter entrado, mas já está fora. Lula, acho que também sairá”, afirma, sustentando que a saída dos dois abrirá caminho para uma nova fase.


Entrevista com o sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier em sua residência no bairro de Higienópolis.

O cientista político recebeu a reportagem do Estadão nesta sexta-feira, 19, em seu apartamento, em São Paulo. A entrevista durou pouco mais de uma hora. Confira os principais trechos a seguir:


Como o sr. avalia a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e também de oficiais-generais pelo Supremo Tribunal Federal?

É óbvio que houve uma tentativa de golpe de Estado. Portanto, a pena é prisão, não há conversa. As pessoas dizem: “não, mas não pode, cabe anistia”. Como é que cabe anistia? Um país tem uma Constituição. A Constituição representa o Estado. Se as pessoas entram violentamente no Palácio Presidencial, chegam a chutar a porta do gabinete do presidente... Se isso não é golpe de Estado, não sei o que é golpe de Estado.


O que muda no Brasil após esse julgamento?

É um divisor de águas. É um marco novo. Creio que não haverá outra situação como essa de militares cometerem um crime evidente, uma tentativa de golpe violento. No dia 8 (de janeiro) não houve um passeio na Esplanada dos Ministérios, houve um quebra-quebra. Entraram no Palácio, chutaram portas e quebraram obras de arte, inclusive. Se isso ocorrer outra vez, eles serão novamente presos, julgados e provavelmente condenados.


Algumas pessoas dizem que estamos vivendo uma situação anômala. Os Três Poderes não se entendem e se xingam mutuamente. Vamos raciocinar. Um país que precisaria crescer 4% ao ano não consegue ultrapassar 2,5%. Com o PIB per capita crescendo 2,5%, levaremos 28 anos para dobrar um PIB que já é medíocre. Ou seja, é claro que o País está tenso, irritado, agonizando. Eu diria até apavorado, vendo a pobreza crescer rapidamente. Não há como resolver essa situação porque se inventou uma teoria econômica segundo a qual o crescimento depende do Estado monopolizar setores vitais. Ontem mesmo (18 de setembro), o Lula falou que país nenhum pode abrir mão do petróleo, que é preciso monopolizar o petróleo. Mas (defendo que) se pode perfeitamente privatizar a Petrobras. Por que não?


Quais fatores impedem o crescimento do País?

Desde o início do ano discutimos apenas como fechar a arrecadação com o gasto, como empatar um lado com o outro, mas não como crescer. Não estamos discutindo crescimento, apenas equilíbrio orçamentário. E mesmo assim não equilibramos: entramos com déficit para o ano que vem. Ou seja, o primeiro elemento é econômico.


O segundo elemento, e aqui concordo com os críticos, é que o elenco está muito abaixo do enredo. Temos uma crise grave, um problema sério a resolver, mas, infelizmente, alguns ministros do Supremo e a quase totalidade do Congresso Nacional deixam a desejar.


Durante a Constituinte, era fácil nomear 20 de alta qualidade, de A a Z, no espectro ideológico. De Roberto Campos a Mário Covas, tínhamos gente de peso, com carreira política. Hoje é difícil indicar cinco. Não temos. Por várias razões que não posso explorar, estamos numa entressafra política, uma geração de má qualidade. Isso não há dúvida.


Como resolver isso? As eleições de 2026 são um caminho?

A eleição do ano que vem é absolutamente crucial para o Brasil. Por sorte, tudo indica que Bolsonaro já está fora do jogo, nunca deveria ter entrado, mas já está fora. Lula, acho que também sairá. Mesmo quando (Donald) Trump levantou a bola para ele posar de estadista, Lula não conquistou prestígio popular como tentou. Continuou na mesma: quarenta e tantos por cento de apoio, alta desaprovação e já com 79 anos. Não é mais aquele Lula esperto que um dia ia à Fiesp e no outro falava para operários na carroceria de um caminhão. Ele não é mais aquele Lula. Se for reeleito, será outro desastre, pois teremos um governo inerte, inepto, incapaz de realizar qualquer coisa.


Essa eleição histórica deve ser usada para renovar profundamente o Congresso. Precisamos escolher um presidente competente, um pouco mais à esquerda ou à direita, mas que seja capaz, que entenda o que é o Estado – que o Estado não é propriedade privada.


O sr. vê bons nomes para disputar a Presidência em 2026?

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, eu conheci superficialmente e tive muito boa impressão. Antigamente ele era muito violento, mas precisamos lembrar que, naquela época, o MST estava invadindo fazendas. Então havia um embate, e o Caiado liderava o lado dos produtores rurais contra o MST. Quando aquilo acabou, quem é o novo Caiado? Ele foi um bom deputado, presidiu a Comissão de Saúde. Há ainda o Romeu Zema, de Minas. Mas ainda temos um ano pela frente.


Outros governadores aparecem bem posicionados nas pesquisas, como Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Ratinho Júnior, do Paraná. O que o sr. acha deles?

Não os conheço muito, vou ser franco. Sei um pouco sobre a biografia política deles e que têm um prestígio considerável. O do Rio Grande do Sul (Eduardo Leite) também.


Como o sr. avalia o PL da Anistia que está sendo discutido no Congresso?

Deste Congresso, do Centrão, dos bolsonaristas, não há como esperar outra coisa. A palavra cabível é obscenidade. Ele (Bolsonaro) acabou de ser condenado à prisão e está preso, por enquanto, domiciliarmente. Eventualmente será preso e deve ser preso porque comandou uma tentativa de golpe de Estado. Isso já foi julgado. Ou seja, este Congresso é uma decepção completa. Isso é apenas mais um exemplo. Sempre ouvi dizer que a democracia precisa de partidos políticos confiáveis, responsáveis, organizados. O Centrão é o quê? Um partido? Não. É algo amorfo, um bando de gente espalhada, tentando arranjar emprego para parentes ou tirar proveito do erário. É isso que temos hoje. Precisamos urgentemente renovar este Congresso.


Nesta semana, a Câmara aprovou a PEC da Blindagem. Qual recado essa decisão passa à população?

Desde logo, é inconstitucional. Onde já se viu? O deputado ou senador é eleito com o voto do povo e permanece enquanto cumprir sua função parlamentar. A ideia de blindar significa permanecer lá em qualquer hipótese. Torna-se o quê? Um senhor feudal? Dono do cargo? Comprar cargos públicos era comum na Europa até o século 18. Com a democracia constitucional, ficou entendido que o sujeito é eleito, exerce quatro ou seis anos de mandato e, se se reeleger, tudo bem; se não, volta para casa, cria galinha, faz qualquer outra coisa. Mas não tem direito de ficar lá a vida inteira. A PEC da Blindagem é um contrassenso, uma contradição em termos. Para mim, não faz sentido algum.


O sr. vê a Câmara tentando dar uma resposta ao Supremo diante de investigações contra deputados?

É claro. Isso é mais um capítulo da briga entre os Poderes. E essa disputa é fruto de um país aflito, temeroso, tenso, com raiva do que é público. E como chegamos aqui? Porque o crescimento econômico parou, desmoralizou o Congresso e entramos num círculo vicioso. Quanto mais desmoralizado o Congresso, menos pessoas qualificadas querem ir para lá. Isso é evidente. Há séculos, eu mesmo me candidatei a deputado federal. É a primeira vez que conto isso em público, porque tenho vergonha. Quando disse a amigos que seria candidato, o primeiro respondeu: “Você também vai entrar naquilo?”.


Quando o sr. falou do Centrão, comentou sobre a importância dos partidos políticos para um país. Qual é o papel deles nessa crise? Há solução para a questão partidária?

O Brasil, acho eu, nunca teve partidos dignos do nome. Não temos. E não sei se teremos. Talvez já tenhamos passado do ponto. Os partidos que existem são oligárquicos. Quem quiser se candidatar precisa “beijar a mão” do chefe, seja ele quem for.


Considerando que ainda estamos em ambiente de polarização, o sr. enxerga algum caminho para superar essa disputa entre Bolsonaro e Lula?

Para mim, o caminho já está dado. Bolsonaro politicamente acabou. Seu futuro, se nossas instituições tiverem o mínimo de seriedade, será cumprir pena de prisão – não sei por quantos anos. Do outro lado, Lula, como já disse, também não tem mais condições de se eleger. Com a saída dos dois, algo que considero quase certo, pequena dúvida apenas sobre Lula, o caminho estará aberto. Esses nomes já mencionados, como Caiado e Zema, entre outros, formam um centro diversificado, mas honesto, competente, com visão racional do futuro do país e das reformas indispensáveis que precisamos realizar."

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

BDM Matinal Riscala

 Bom Dia Mercado.


Sexta Feira, 26 de Setembro de 2.025.


*PCE pode mudar jogo do Fed*

 

... Depois do salto do PIB/2Tri nos Estados Unidos (+3,8%, contra estimativa de +3,3%) ter reduzido para 60% as apostas em mais dois cortes do juro este ano, será divulgado hoje o índice de inflação preferido do Fed, o PCE de agosto. A depender do resultado, as chances de uma queda no mês de outubro, que ainda são majoritárias, tendem a cair mais, o que continuaria a deprimir as bolsas e puxar os juros e o dólar. Somam-se aos dados as falas cautelosas dos Fed boys alinhados a Powell, que, por enquanto, decidem o jogo. No Brasil, saem os números do setor externo em agosto, enquanto investidores acompanham a participação de Diogo Guillen em evento do Citi, a partir das 11h.

 

NY CONDUZ – Nesta quinta, o discurso hawkish do diretor de Política Econômica, que comentou o Relatório de Política Monetária em entrevista ao lado do presidente do BC, Gabriel Galípolo, não deu espaço para uma reação positiva ao IPCA-15 abaixo do esperado (abaixo).

 

... Convencidos de que o Copom sustentará a Selic em níveis elevados pelos próximos meses, sem pressa para normalizar a política restritiva, os investidores operam de olho em Nova York, e nos sinais do Fed, que vêm exercendo forte influência nos ativos domésticos.

 

... O PCE de agosto hoje será divulgado às 9h30, com previsão de +2,7% para o índice cheio em taxa anualizada (de 2,6% em julho). Para o núcleo, que exclui preços voláteis e de energia, o consenso é de que mantenha o mesmo nível de aceleração: +2,9%.

 

... O PCE do 2Tri, divulgado ontem com os dados do PIB, já indicou tendência de alta na revisão do dado final, subindo ao ritmo anualizado de 2,1% no período, acima da leitura anterior (+2%). Também o núcleo (+2,6%) superou a estimativa preliminar (+2,5%).

 

... Com os indicadores mostrando uma inflação persistente e a resiliência da economia americana, as chances de o Fed realizar uma queda acumulada de mais 50 pontos-base em 2025 caiu e boa parte do mercado passou a esperar uma pausa em outubro.

 

... Para o Brasil, que vinha festejando as indicações de cortes em série pelo Fed e antecipando o incremento do fluxo com esse nível de carry trade, a cautela nos Estados Unidos é um banho de água fria, embora o diferencial das taxas ainda seja muito atrativo.

 

... Entre os indicadores de hoje nos Estados Unidos, também é importante a leitura final de setembro do índice de sentimento do consumidor medido pela Universidade de Michigan, às 11h, que traz as expectativas de inflação para 1 ano e 5 anos.

 

TENSÃO GEOPOLÍTICA – A reação mais dura da Europa às invasões aéreas da Rússia ajudou a pesar o clima dos mercados globais, nesta quinta-feira, após a Otan apoiar disparos contra aeronaves russas que ingressarem no espaço aéreo de seus países-membros.

 

... Segundo informações da Bloomberg, diplomatas europeus alertaram o Kremlin que a Otan está pronta para responder “com força total” a novas violações, enquanto o governo dos Estados Unidos aumenta a pressão contra países que compram petróleo russo.

 

... Em visita à Casa Branca, ontem, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ouviu de Trump que pode suspender “quase imediatamente” as sanções, se o país parar de fazer negócios com Moscou. Sinalizou, inclusive, com a possibilidade de Ancara obter caças F-35.

 

... Ontem, a Dinamarca denunciou ter sido alvo de um “ataque híbrido”, provocado por um “ator profissional”, após ter rastreado drones de “origem desconhecida” sobrevoando aeroportos civis e militares do país. A Rússia negou a autoria.

 

... Em uma tensa reunião em Moscou, enviados britânicos, franceses e alemães citaram a incursão de 3 caças MiG-31 sobre a Estônia, semana passada. Após a conversa, eles concluíram que a violação havia sido uma tática deliberada, ordenada por comandantes russos.

 

... Durante as negociações, um diplomata russo disse aos europeus que as incursões eram uma resposta aos ataques ucranianos à Crimeia.

 

MAIS TARIFAS – O presidente Trump voltou à carga com as tarifas anunciando, após o fechamento dos mercados, que vai impor uma sobretaxa de 100% a todos os produtos farmacêuticos importados, de marca ou patenteados, a partir de 1º de outubro.

 

... Em sua rede social, disse que ficarão isentas as empresas que estejam construindo uma planta de fabricação farmacêutica nos Estados Unidos. Explicou que... 'ESTEJA CONSTRUINDO' será definido como 'iniciando as obras' e/ou 'em construção'.

 

... Trump anunciou ainda uma tarifa de 25% sobre todos os caminhões pesados fabricados fora dos Estados Unidos, também a partir de 1°/10.

 

... Outras tarifas foram anunciadas para armários de cozinha, pias de banheiro e produtos associados (50%) e móveis estofados (30%). “A razão para isso é a grande escala de inundação desses produtos nos Estados Unidos por outros países”, afirmou o presidente Trump.

 

ATAQUES A POWELL – Trump reservou um post para suas críticas diárias ao presidente do Fed, afirmando que, se não fosse por ele, “estaríamos com o juro em 2% agora”. O presidente também comemorou os “ótimos números” do PIB do 2Tri.

 

FAZENDA SE EXPLICA – Na tentativa de evitar novo bloqueio das contas deste ano, o governo federal deve argumentar ao TCU que o “Orçamento impositivo” faz com que mire o piso da meta do resultado primário das contas públicas, após ter sido advertido de prática irregular.

 

... A meta fiscal de 2025 é zero, com intervalo de tolerância de 0,25% do PIB, entre déficit de R$ 31 bilhões e superávit de R$ 31 bilhões. A equipe econômica prevê um déficit de R$ 30,1 bilhões, no piso da meta. Atualmente há um contingenciamento de R$ 12,1 bilhões.

 

... Segundo Haddad, o governo recorrerá da decisão da Corte sob o argumento de que, em 2019, uma emenda constitucional tornou obrigatória a execução de todas as despesas. Por causa desse “engessamento”, não é possível fazer uma contenção de gastos maior.

 

... No final do ano passado, o governo Lula enviou uma PEC ao Congresso que previa a revogação da emenda que tornou o Orçamento impositivo, o que possibilitaria melhores resultados fiscais, disse o ministro. O trecho, no entanto, foi retirado durante a tramitação.

 

... Caso seja necessário seguir o entendimento do TCU, o governo teria que buscar mais R$ 30 bilhões em receitas para cobrir o déficit, e fazer um contingenciamento das despesas no mesmo valor, ou uma mistura entre as duas medidas para alcançar o centro da meta.

 

... De qualquer modo, segundo apurou o Valor, mesmo que a decisão do Tribunal seja mantida, não terá impacto este ano, já que o recurso tem efeito suspensivo e o processo deve se estender até dezembro. Não haverá, portanto, necessidade de novo congelamento.

 

NA POLÍTICA – O Planalto ainda aguarda um contato da Casa Branca para articular a conversa entre Trump e Lula, na semana que vem.

 

... Na Câmara, o presidente Hugo Motta apressou-se em negar “sentimento de traição” alegado por deputados após o Senado derrubar a PEC da Blindagem. Ele também não vê briga pelo protagonismo do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda.

 

... Negou desconforto com a votação em comissão do Senado do projeto alternativo de ampliação da isenção do IR, de Renan Calheiros.

 

... Sobre o pedido de Paulinho da Força para segurar a votação do IR até que se vote a anistia, Motta garantiu que o projeto relatado por Arthur Lira irá ao plenário na próxima quarta-feira. Já a anistia, disse que precisa de mais tempo para “sentir a temperatura” da Casa.

 

... Nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro disse que está disposto a “ir até as últimas consequências” para conseguir uma anistia ampla e irrestrita ao seu pai, Jair Bolsonaro, e aos demais condenados pelo 8 de Janeiro. “Será vitória ou vingança, mas não haverá submissão.”

 

... No Globo, Bela Megale apurou que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem confidenciado a aliados que está incomodado com as manifestações públicas de Eduardo. O filho estaria “falando muito” e, a cada vez que fala, prejudica ainda mais o pai.

 

... Tarcísio confirmou visita a Bolsonaro na segunda-feira, quando comunicará sua decisão de concorrer à reeleição em São Paulo, segundo o Poder 360. O governador de SP disse que não vai tratar de anistia, mas “visitará um amigo para prestar solidariedade”.

 

... Em nova pesquisa do Ipespe, a aprovação do governo Lula subiu sete pontos percentuais, de 43% em julho para 50% agora, enquanto a sua desaprovação caiu de 51% para 48%. A melhora é atribuída ao noticiário sobre o governo e ao tema do tarifaço.

 

MAIS AGENDA – O BC divulga às 8h30 o saldo da conta corrente em agosto, com previsão de déficit de US$ 5,35 bilhões, após saldo negativo de US$ 7,067 bilhões em julho. As estimativas, todas negativas, variam de US$ 7,1 bilhões a US$ 4,9 bilhões.

 

... Segundo o Projeções Broadcast, a continuidade dos déficits elevados na balança de serviços e na conta de renda primária deve mais do que compensar o saldo positivo na balança comercial de bens em agosto.

 

... Para o Investimento Direto no País (IDP), a mediana indica uma entrada líquida de US$ 6,050 bilhões em agosto, contra saldo positivo maior, de US$ 8,324 bilhões, em julho. As expectativas vão de US$ 5,6 bilhões a US$ 7,29 bilhões.

 

... Em São Paulo, os diretores do BC participam das reuniões trimestrais com economistas, às 14h30 e 16h.

 

LÁ FORA – Com o mercado reprecificando o número de cortes de juros pelo Fed, o investidor deve monitorar com interesse renovado os comentários em eventos públicos hoje de Tom Barkin (10h) e Michelle Bowman (14h).

 

... Às 14h, a Baker Hughes informa os poços e plataformas de petróleo em operação nos Estados Unidos.

 

TIKTOK – Trump anunciou, no Salão Oval da Casa Branca, que chegou a um entendimento com a China sobre o futuro do aplicativo e assinou ordem executiva “salvando o TikTok de uma proibição” nos Estados Unidos.

 

... Segundo o presidente, investidores como Michael Dell e Rupert Murdoch assumirão o controle da operação, com papel relevante ainda da Oracle na segurança da versão americana da plataforma, avaliada em US$ 14 bilhões.

 

... A chinesa ByteDance recebeu ultimato para se desfazer dos negócios americanos do TikTok até 16 de dezembro.

 

RECALCULANDO ROTA – O dia de Ibovespa sem recordes e dólar acima de R$ 5,35 teve o exterior como culpado, após o PIB americano forte e o auxílio-desemprego abaixo do esperado voltarem a abalar a convicção para o Fed.

 

... Já antes dos indicadores, Powell foi pivô esta semana da transformação das apostas, deixando o investidor bem menos seguro de que o juro estaria com a bala na agulha para cair mais duas vezes este ano (outubro e dezembro).

 

... Desde que Powell deixou em aberto o futuro da política monetária, abriu uma frente pública de dúvida no Fed.

 

... “Estou desconfortável em apoiar corte antecipado dos juros apenas pelo emprego, com inflação ainda em tendência de alta”, disse ontem o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, que vota nas próximas reuniões.

 

... Em sua visão, a economia americana está lidando com o pior cenário, de riscos estagflacionários, neste momento em que a inflação parece estar caminhando para o "lado errado" e pode permanecer acima da meta de 2%.

 

... Continuar a flexibilização monetária, disse, dependerá de os próximos dados exibirem estabilidade do pleno emprego e inflação no alvo. Segundo ele, as incertezas cresceram frente aos múltiplos choques da economia global.

 

... Ainda o colega Jeffrey Schmid, que também vota, concordou que os passos do Fed dependem dos indicadores, mas alertou que inflação está “muito alta” e que o atual nível dos juros é "levemente restritivo" e “adequado”.

 

... Rivalizando com a turma mais conservadora, a dirigente dovish Michelle Bowman voltou a dizer que há espaço para reduzir juros em direção ao nível neutro, ressaltando a fragilidade do emprego após as revisões do payroll.

 

... Já o Fed boy de Trump, Stephen Miran, repetiu o comentário da véspera de que a taxa atual está de 150 a 200 pontos-base acima do ideal e defendeu uma sequência de cortes de 50 pontos para chegar ao patamar desejado.

 

... De sua parte, Trump não desperdiçou ontem a chance de faturar a surpresa positiva do PIB do segundo trimestre para cobrar mais cortes de juros pelo Fed, afirmando que a economia norte-americana "não enfrenta mais inflação".

 

TIRANDO O CAVALINHO DA CHUVA – Sob o risco de estarem apostando errado em novo corte do juro em outubro, os investidores começaram a migrar ontem para uma pausa, impulsionando o dólar e as taxas dos Treasuries.

 

... Mais sensível às decisões de política monetária, a Note-2 anos pagou 3,660%, acima da véspera (3,604%).

 

... No câmbio, o índice DXY engatou alta firme de 0,69% e registrou a maior pontuação em três semanas, cruzando a linha dos 98,000 pontos, a 98,553 pontos. O euro caiu 0,68%, para US$ 1,1661, e a libra perdeu 0,83%, a US$ 1,3338. 


... Por aqui, o dólar vai deixando cada vez mais para trás o suporte inferior a R$ 5,30, batido esta semana. Completou ontem o seu segundo pregão seguido em alta. Subiu mais 0,69%, cotada a R$ 5,3634. Desde quarta, acumula +1,61%.

 

... A reprecificação do Fed está pressionando tudo, apesar do carry trade favorável continuar muito garantido.

 

... O tom duro assumido pelo BC no Relatório de Política Monetária (RPM) reforçou a aposta de Selic a 15% por bastante tempo. Entre 34 instituições consultadas pelo Broadcast, só 5 apostam em corte antecipado do juro no ano.

 

... O RPM apontou inflação acima da meta até o 1Tri de 2028, revisou em alta a estimativa de hiato do produto, de 0,5% a 0,7%, e apontou a resiliência do mercado de trabalho, que pode manter os preços dos serviços sob pressão.


... Ao comentar o relatório de política monetária, Galípolo expressou incômodo com a desancoragem das expectativas de inflação, apesar do IPCA-15 de setembro (+0,48%) levemente menor que o esperado (+0,51%).

 

... Do lado do emprego, o ministro Luiz Marinho antecipou que o Caged de agosto, que será divulgado na próxima segunda, deve crescer em ritmo mais lento. No ano, ele aposta na criação líquida de 1,5 milhão de vagas formais.


... A curva do DI registrou alta moderada, acompanhando o avanço do dólar e dos rendimentos dos Treasuries.

 

... O contrato para Jan/26 ficou praticamente estável (14,895%) contra o ajuste anterior (14,898%). Jan/27 subiu a 14,070% (de 14,010%); Jan/29, a 13,250% (de 13,175%); Jan/31, 13,410% (13,358%); e Jan/33, 13,495% (13,448%).

 

IRRECONHECÍVEL – Interrompendo as máximas históricas diárias, o Ibovespa entregou os 146 mil pontos, na realização de lucro precipitada pela abordagem mais cautelosa dos dirigentes do Fed e pelo PIB americano sólido.

 

... O Ibovespa fechou em baixa de 0,81%, aos 145.306,23 pontos, com volume financeiro de R$ 20,1 bilhões.

 

... Acompanhou as bolsas em NY, que moderaram o apetite, diante da possível inclinação menos dovish do Fed. O Dow Jones caiu 0,38% (45.947,32 pontos); S&P 500, -0,50% (6.604,73 pontos); e Nasdaq, -0,50% (22.384,70 pontos).

 

... Diante do menor apetite por risco, Petrobras caiu, apesar da virada de alta do petróleo e de o Ibama ter aprovado a licença prévia para perfuração na Foz do Amazonas. A estatal enviará hoje os ajustes solicitados pelo órgão.

 

... O papel ON perdeu 1,76%, a R$ 35,20, e o PN recuou 0,80% (R$ 32,36). Lá fora, zerando a queda superior a 1% durante o pregão, o barril do tipo Brent para novembro fechou em leve alta de 0,15%, cotado a US$ 69,42.

 

... O petróleo operou dividido nesta quinta-feira entre a oferta saturada e as tensões geopolíticas (Otan x Rússia).

 

... Imune ao ambiente de maior incerteza sobre os cortes de juros do Fed, Vale avançou 0,55% e alcançou a maior marca em quase um ano, de R$ 58,21, acompanhando a leve alta de 0,25% do contrato do minério de ferro da China.

 

... Já as ações dos bancos operaram no terreno negativo: Itaú (-0,80%, a R$ 38,48); Bradesco PN (-0,79%, a R$ 17,57); Bradesco ON (-0,79%, a R$ 17,57); Santander (-1,07%, a R$ 28,58); e Banco do Brasil ON (-1,45%, a R$ 21,79).


CIAS ABERTAS – O Grupo Abra, controlador da GOL, notificou a Azul de que está encerrando as discussões sobre uma possível fusão entre as duas companhias e rescindindo o acordo de codeshare, anunciado em maio do ano passado...

 

... “As partes não tiveram discussões significativas ou progrediram em possível operação de combinação de negócios por vários meses como resultado do foco da Azul em seu processo de Chapter 11", afirmou o grupo Abra.

 

AZUL. Governo de Mato Grosso suspendeu incentivos fiscais concedidos após a companhia encerrar seis rotas regionais que partiam do Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande, em julho deste ano...

 

... Segundo a companhia, as mudanças “foram cuidadosamente avaliadas para garantir a sustentabilidade das rotas” e fazem parte de seu processo de reestruturação...

 

... A empresa informou ainda que mantém tratativas com o governo estadual “para avaliar novas possibilidades que agreguem ao seu negócio”.

 

SANTANDER aprovou um novo programa de recompra de ações para adquirir até 37.463.477 de units, que pode movimentar até R$ 1 bilhão; prazo do programa é de 18 meses, terminado em 26 de março de 2027.

 

CURY aprovou a distribuição de R$ 200 milhões em dividendos, o equivalente a R$ 0,6852 por ação ordinária, com pagamento em 7 de outubro; ex em 1º de outubro.

 

AMBIPAR. S&P rebaixou a nota de crédito da companhia para default, após pedido da empresa realizado à Justiça do Rio para suspender qualquer disposição contratual que pudesse desencadear aceleração da dívida.

Fábio Alves

 FÁBIO ALVES: CORTE JÁ NO COPOM EM JANEIRO? SEI, NÃO...


Uma corrente nada desprezível de investidores e analistas está apostando em janeiro de 2026 como o início do ciclo de cortes de juros pelo Copom, com muitos deles tendo migrado de dezembro deste ano como aposta anterior. Só que, no conjunto de informações e mensagens desta semana - contidas em documentos como a ata da última reunião do Copom e o Relatório de Política Monetária (RPM) do terceiro trimestre - essa aposta de janeiro já começa a ficar em xeque. E a reunião do Copom de março de 2026 começa a ficar como melhor hipótese para o início do ciclo de afrouxamento monetário. Obviamente, esse “timing” do início do ciclo e a precificação por parte do mercado - além do “call” oficial de economistas de instituições financeiras - vão depender, em boa parte, da evolução dos indicadores de atividade econômica que sairão até o fim do ano. Surpresas para cima nos dados do mercado de trabalho, como os números do Caged e da Pnad Contínua, além de outros indicadores (vendas do varejo, volume de serviços), podem empurrar a maioria das apostas para a reunião do Copom de março de 2026, forçando muitos a postergar o “call” para corte em janeiro. Com o impulso fiscal previsto neste segundo semestre de 2025 (com o pagamento de precatórios, por exemplo), não dá para descartar dados de atividade acima do que os analistas estão esperando hoje. Por outro lado, sinais de desaceleração mais forte da economia podem trazer o mercado para janeiro como aposta majoritária. E por que, após o RPM do terceiro trimestre, janeiro de 2026 começou a ficar na berlinda? Primeiro, as projeções de inflação do Banco Central até o primeiro trimestre de 2028 vieram elevadas, o que pegou de surpresa muitos participantes do mercado. Só para lembrar, conforme o RPM, a estimativa para o IPCA no primeiro trimestre de 2028 é de 3,1%. Para se começar um ciclo de corte de juros na magnitude como está precificado no mercado, tomando-se, por exemplo, a mediana das previsões na pesquisa Focus (de taxa Selic a 10,50% no fim de 2027), seria razoável esperar que o RPM trouxesse sua projeção de inflação mais longa (do primeiro trimestre de 2028) abaixo da meta de inflação de 3%. Isso sinalizaria que o nível de juros está bastante apertado ou restritivo. Assim, a interpretação desse número para o primeiro trimestre de 2028 é o BC sinalizando que o nível de juros necessário deveria ser igual ou acima do que a trajetória atualmente estimada na Focus ao longo desse horizonte. Outro ponto a ser feito é sobre a revisão para cima do hiato do produto. Muitos analistas consideraram que a estimativa do BC para o hiato ainda está otimista. Em outras palavras, sobre o tamanho dessa revisão: foi pouco. Para o segundo trimestre deste ano, a estimativa do hiato foi revisada de +0,7% para +0,5%, com a previsão para o terceiro trimestre deste ano também em 0,5%. Já o hiato projetado para o primeiro trimestre de 2027 também foi revisado de -0,8% para -0,5%. Ou seja, quando divulgar o RPM do quarto trimestre, no dia 18 de dezembro, há o risco de o BC voltar a revisar para cima essas estimativas do hiato do produto, o que poderá afetar as suas projeções de inflação de longo prazo. Por enquanto, o BC está dizendo que não entrega a meta de inflação no horizonte relevante (que na reunião do Copom de novembro será o segundo trimestre de 2027), como também lá na frente - o primeiro trimestre de 2028. É bom lembrar que o BC precisa adotar uma postura de maior cautela, diante da incerteza grande que envolve o horizonte relevante hoje da política monetária. Afinal, ninguém sabe quem será o vencedor da eleição presidencial de 2026 e que política econômica estará em vigor a partir de 2027. Tudo isso afetará bastante o prêmio de risco dos ativos ao longo do próximo ano, uma vez que o mercado enxerga o impacto da eleição presidencial como um desfecho binário. Não dá para fechar os olhos e crer piamente nas projeções de inflação de 2027, pois elas podem tanto ficar muito acima da estimativa, como também muito abaixo. E com tamanha incerteza, a aposta de início do ciclo de corte de juros em janeiro de 2026 pode ficar em xeque, especialmente se os indicadores de atividade surpreenderem para cima. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista da Broadcast

Análise Alex Ribeiro

 ANÁLISE: Copom reforça flexibilidade e rejeita gatilhos para baixar juros


Alex Ribeiro De São Paulo


 


O diretor de política econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse ontem, na entrevista do Relatório de Política Monetária (RPM), que alguns analistas estão "ansiosos" com o sobreaquecimento da economia e sobre quando poderá haver algum nível de ociosidade nos fatores de produção.


Mas não é só o chamado hiato do produto que mexe com os nervos do mercado. Há muito debate também sobre as projeções de inflação do Banco Central, que estão acima da meta, e sobre a desancoragem das expectativas de inflação.


O que todos procuram saber é se esses fatores podem ser um gatilho para, em algum momento no futuro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC dar por concluído o período prolongado de juros altos - e, portanto, começar um ciclo de distensão. Mas é exatamente isso o que o Copom quer evitar: amarrar seus passos futuros a algum prazo ou dado econômico em particular. A ideia é manter a flexibilidade da política monetária e decidir, com base em um conjunto amplo de dados, quando o cumprimento da meta de inflação de 3% está mais bem encaminhado e, portanto, seria possível uma política monetária menos draconiana.


Na semana passada, quando saiu o comunicado da reunião do Copom, participantes do mercado entenderam que a projeção de inflação do colegiado, que ficou estável em 3,4% para o horizonte relevante de política monetária, foi uma mensagem dura. Em tese, ela reduz as chances de uma queda de juros em janeiro — hipótese de trabalho que alimentou o modelo de projeção de inflação, que usa a mediana das expectativas para a Selic do boletim Focus.


Ontem, na entrevista de divulgação do RPM, Guillen baixou a bola dessas projeções, enfatizando que elas são condicionais e dinâmicas. Podem mudar e ir para a meta, dependendo de como os juros vão ser fixados no futuro e, também, de como vai evoluir o cenário econômico.


O presidente do BC, Gabriel Galípolo, foi questionado se seria possível baixar os juros caso as projeções de inflação do Copom indiquem o cumprimento da meta, mas as expectativas de inflação continuem desancoradas.


Ele respondeu que o Copom observa um conjunto de dados, e não apenas uma informação em particular, para tomar suas decisões sobre os juros.


Quando Guillen diz que há ansiedade em torno do hiato do produto, o que ele aparentemente quer dizer é que essa variável, sozinha, não vai determinar a decisão de política monetária do Banco Central. Talvez porque o BC possa sentir o cheiro de ociosidade na economia por vários indicadores.


Galípolo e Guillen procuraram temperar a importância que, individualmente, projeções, expectativas e hiato do produto podem ter sobre as decisões futuras - mas isso não quer dizer, necessariamente, uma indicação de que o Copom está inclinado a reduzir os juros mais cedo.


O Copom acabou de rever a trajetória do hiato do produto, que mostra uma economia mais sobreaquecida no momento presente e uma abertura de ociosidade menor no futuro. A ata do comitê disse que as expectativas tiveram uma queda "incipiente", e Galípolo repetiu que elas causam desconforto. E, numericamente, as projeções de inflação da autoridade monetária estão em 3,4%, acima da meta de 3%.


A ideia, aparentemente, é mostrar que não há um dado especifico que vai mover o comitê e, assim, garantir flexibilidade para a tomada futura de decisão. Galípolo disse e repetiu três vezes que vai definir o quão prolongados serão os juros altos com base nos dados econômicos que serão divulgados no futuro. Isso não significa ser "dovis" (propenso a juros mais baixos); é, sim, um reflexo da estratégia de política monetária.


Lá atrás, o Banco Central fez uma escolha. De um lado, poderia ter seguido subindo os juros a percentuais cada vez mais altos, até achar o patamar que colocasse a inflação na meta. O risco, neste caso, era de superdosagem, sobretudo quando a taxa se encontra no maior patamar em quase 20 anos. A escolha foi subir o juro para um nível bem apertado e mantê-lo alto por bastante tempo.


Isso, naturalmente, gera uma incerteza nos mercados, que se perguntam o tempo todo quanto tempo o juro ficará alto e se o BC vai desistir antes da hora. Para resolver essa tensão, alguns banqueiros centrais amarraram seus passos futuros a indicadores econômicos específicos - como determinado percentual de desemprego - ou a um horizonte de tempo.


Mas esta pode não ser uma boa ideia. Muitos passaram vexame e tiveram de voltar atrás porque, decorrido o tempo prometido ou alcançado o nível do indicador escolhido, o trabalho de baixar a inflação não estava feito ainda. A boa prática recomenda que os bancos centrais mantenham flexibilidade e indiquem como vão reagir aos dados futuros.


Os participantes do mercado, naturalmente, vão ficar ansiosos com um ou outro dado particular, que pode ou não ser o ponto de virada da política monetária.


O Banco Central, porém, segue sem se comprometer com nada, além de afirmar que conduzirá a política monetária com "perseverança, firmeza e serenidade". Ou seja, vai ter perseverança para insistir com os juros altos até se convencer de que a meta está encaminhada; vai ter firmeza para adequar a dose caso chegue à conclusão de que ela não é suficiente; e vai ter serenidade para não reagir de maneira abrupta a uma ou outra peça de informação.

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...