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Fábio Alves

 FÁBIO ALVES: CORTE JÁ NO COPOM EM JANEIRO? SEI, NÃO...


Uma corrente nada desprezível de investidores e analistas está apostando em janeiro de 2026 como o início do ciclo de cortes de juros pelo Copom, com muitos deles tendo migrado de dezembro deste ano como aposta anterior. Só que, no conjunto de informações e mensagens desta semana - contidas em documentos como a ata da última reunião do Copom e o Relatório de Política Monetária (RPM) do terceiro trimestre - essa aposta de janeiro já começa a ficar em xeque. E a reunião do Copom de março de 2026 começa a ficar como melhor hipótese para o início do ciclo de afrouxamento monetário. Obviamente, esse “timing” do início do ciclo e a precificação por parte do mercado - além do “call” oficial de economistas de instituições financeiras - vão depender, em boa parte, da evolução dos indicadores de atividade econômica que sairão até o fim do ano. Surpresas para cima nos dados do mercado de trabalho, como os números do Caged e da Pnad Contínua, além de outros indicadores (vendas do varejo, volume de serviços), podem empurrar a maioria das apostas para a reunião do Copom de março de 2026, forçando muitos a postergar o “call” para corte em janeiro. Com o impulso fiscal previsto neste segundo semestre de 2025 (com o pagamento de precatórios, por exemplo), não dá para descartar dados de atividade acima do que os analistas estão esperando hoje. Por outro lado, sinais de desaceleração mais forte da economia podem trazer o mercado para janeiro como aposta majoritária. E por que, após o RPM do terceiro trimestre, janeiro de 2026 começou a ficar na berlinda? Primeiro, as projeções de inflação do Banco Central até o primeiro trimestre de 2028 vieram elevadas, o que pegou de surpresa muitos participantes do mercado. Só para lembrar, conforme o RPM, a estimativa para o IPCA no primeiro trimestre de 2028 é de 3,1%. Para se começar um ciclo de corte de juros na magnitude como está precificado no mercado, tomando-se, por exemplo, a mediana das previsões na pesquisa Focus (de taxa Selic a 10,50% no fim de 2027), seria razoável esperar que o RPM trouxesse sua projeção de inflação mais longa (do primeiro trimestre de 2028) abaixo da meta de inflação de 3%. Isso sinalizaria que o nível de juros está bastante apertado ou restritivo. Assim, a interpretação desse número para o primeiro trimestre de 2028 é o BC sinalizando que o nível de juros necessário deveria ser igual ou acima do que a trajetória atualmente estimada na Focus ao longo desse horizonte. Outro ponto a ser feito é sobre a revisão para cima do hiato do produto. Muitos analistas consideraram que a estimativa do BC para o hiato ainda está otimista. Em outras palavras, sobre o tamanho dessa revisão: foi pouco. Para o segundo trimestre deste ano, a estimativa do hiato foi revisada de +0,7% para +0,5%, com a previsão para o terceiro trimestre deste ano também em 0,5%. Já o hiato projetado para o primeiro trimestre de 2027 também foi revisado de -0,8% para -0,5%. Ou seja, quando divulgar o RPM do quarto trimestre, no dia 18 de dezembro, há o risco de o BC voltar a revisar para cima essas estimativas do hiato do produto, o que poderá afetar as suas projeções de inflação de longo prazo. Por enquanto, o BC está dizendo que não entrega a meta de inflação no horizonte relevante (que na reunião do Copom de novembro será o segundo trimestre de 2027), como também lá na frente - o primeiro trimestre de 2028. É bom lembrar que o BC precisa adotar uma postura de maior cautela, diante da incerteza grande que envolve o horizonte relevante hoje da política monetária. Afinal, ninguém sabe quem será o vencedor da eleição presidencial de 2026 e que política econômica estará em vigor a partir de 2027. Tudo isso afetará bastante o prêmio de risco dos ativos ao longo do próximo ano, uma vez que o mercado enxerga o impacto da eleição presidencial como um desfecho binário. Não dá para fechar os olhos e crer piamente nas projeções de inflação de 2027, pois elas podem tanto ficar muito acima da estimativa, como também muito abaixo. E com tamanha incerteza, a aposta de início do ciclo de corte de juros em janeiro de 2026 pode ficar em xeque, especialmente se os indicadores de atividade surpreenderem para cima. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista da Broadcast

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