segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Dan Kawa

 Ventos Positivos e Liberais

By Dan Kawa
27Out25

O fim de semana trouxe notícias que reduzem alguns riscos relevantes no cenário global e reforçam ventos mais liberais na América Latina.
Na Argentina, Javier Milei obteve uma vitória decisiva nas eleições, garantindo a continuidade de seu programa de reformas econômicas. A reação foi imediata: o ETF argentino nos EUA chegou a subir mais de 12% no pré-mercado, impulsionando outros ativos da região — uma reprecificação que poucos esperavam até dias atrás.

Nos Estados Unidos, Trump anunciou novas tarifas sobre o Canadá, enquanto surgiram sinais de distensão entre EUA e China, com possibilidade de um acordo comercial temporário. Há também avanços em tratativas entre EUA e Brasil, em linha com um ambiente mais cooperativo no comércio global.

A próxima semana será decisiva: quase metade do valor de mercado do S&P 500 divulgará resultados, incluindo os grandes nomes da IA (MSFT, GOOGL, AMZN, META e AAPL). O foco está nas projeções de capex em IA, que devem ser revisadas para cima — o J.P. Morgan estima crescimento de +35% em 12 meses.

Os balanços seguem apontando reaceleração dos lucros e guidance otimista, liderados por tecnologia e IA, enquanto outros setores mostram resiliência macro e controle de custos. O mercado vai testar nas próximas semanas a sustentabilidade desse ciclo de investimento em IA e o impacto nas margens — fatores-chave para manter o viés construtivo das ações americanas.

No Brasil, o IPCA-15 de outubro - divulgado na sexta-feira - surpreendeu positivamente, com desaceleração ampla em bens e serviços, reforçando a convergência para a meta de 3% do BCB. A combinação entre alívio em serviços, estabilidade industrial e corte de combustíveis deve manter a inflação em torno de 4,5% em 2025.

Nos EUA, o CPI de setembro subiu 0,23% no mês e a taxa anual caiu para 3,02%, abaixo do esperado — um sinal de desinflação mais sólida, sustentada pela forte desaceleração do componente de moradia. O quadro segue consistente com um pouso suave da economia americana.

Em suma, o cenário segue construtivo para ativos de risco: a inflação continua convergindo para as metas, o crescimento global mostra resiliência e o ciclo de lucros corporativos se reacelera — especialmente nos setores ligados à tecnologia e IA. Na ausência de novos choques geopolíticos, de crescimento ou de política monetária, o ambiente permanece favorável, a despeito de valuations elevados e posição técnica mais carregada.

BDM Matinal Riscala

 *Bom dia Mercado*


Segunda Feira, 27 de Outubro de 2.025.


*Semana cheia começa bem para o Brasil*


A conversa entre Lula e Trump foi positiva e os presidentes encaminharam às suas equipes as negociações para a revisão do tarifaço de 50%, que pode sair rápido


… Você já viu que foi tudo bem no encontro de domingo entre Trump e Lula, na Malásia. A conversa foi positiva e os presidentes encaminharam às suas equipes as negociações para a revisão do tarifaço de 50%, que pode sair rápido. Na quinta, a conversa esperada por todo o mundo será com Xi Jinping, na Coreia do Sul. A semana é bem movimentada, com reuniões do Fed, BCE e BoJ. Entre os indicadores, o shutdown nos Estados Unidos suspende a divulgação do PIB/3Tri e do PCE. Já no Brasil, são destaques os dados do emprego, importantes para a projeção dos juros. O calendário de balanços ganha ritmo, com Bradesco, Santander, Vale e cinco Magníficas em Nova York.


TRUMP & LULA – Uma nota publicada no X pela Casa Branca trouxe uma declaração muito promissora de Trump após o encontro com Lula.


… “É uma grande honra estar com o presidente do Brasil. Acho que conseguiremos fechar bons negócios para ambos os países. Sempre tivemos um bom relacionamento [Brasil e Estados Unidos] e acho que continuará assim.”


… Representantes dos governos americano e brasileiro, que receberam a incumbência de começar imediatamente as negociações sobre tarifas, já tiveram a primeira reunião, a partir das 8h (fuso de Kuala Lumpur), e 21h de domingo (no horário de Brasília).


… Lula classificou o domingo como um “dia muito feliz” para o Brasil, após a conversa que ele próprio chegou a achar que parecia impossível.


… O presidente brasileiro descreveu a conversa que teve com Trump como “franca e construtiva”, quando discutiram caminhos para a suspensão das medidas e “reforçaram o compromisso de aprofundar o diálogo econômico entre os dois países”.


… A comunicação do Planalto disse que os dois tiveram uma interação “muito descontraída e muito alegre”, que Trump manifestou admiração pela trajetória política de Lula, eleito três vezes para presidir o Brasil, interessando-se pelo tempo que ele ficou preso.


… Lula disse na conversa que as tarifas sobre produtos brasileiros carecem de base técnica e desconsideram o superávit que os Estados Unidos possui na balança comercial. Trump concordou em estabelecer um processo de revisão tarifária.


… O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, disse que o Brasil espera “em poucas semanas” concluir a negociação bilateral.


… O sentimento de representantes do agronegócio que acompanham a comitiva no Sudeste Asiático é de “muito otimismo”; eles apostam na ampliação da lista de exceções de produtos brasileiros ao tarifaço como o passo mais iminente.


… Além de discutir o tarifaço de 50%, Lula também criticou a aplicação da Lei Magnitsky aos ministros do STF, que considerou “injusta”, já que o Tribunal respeitou o “devido processo legal e não houve nenhuma perseguição [a Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe]”.


… Lula tratou de outro tema delicado na conversa, oferecendo-se para mediar o conflito entre Estados Unidos e Venezuela, ao que Trump reagiu de forma positiva. O secretário de Estado, Marco Rubio, já disse que nem o Brasil reconheceu a eleição de Maduro.


… Ao Estadão, o cientista político e sócio da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, disse que o encontro com Trump, “obviamente, deve render frutos do ponto de vista eleitoral para Lula, gerando uma divisão dentro da direita, que apostava na cisão entre Brasil e Estados Unidos”.


TRUMP & XI – A reunião entre os dois líderes, quinta-feira (30), na Coreia do Sul, é o evento mais aguardado da semana pelos mercados globais.


… Após meses de tensão comercial, ameaças de tarifas de até 150%, troca de acusações e recuos, Trump vai estar frente a frente com Xi.


… Às vésperas do encontro, a investigação aberta por Washington sobre um descumprimento de Pequim do acordo comercial da Fase Um de 2020, adicionou alguma cautela, embora as bolsas em Nova York tenham batido novas máximas históricas (abaixo).


… Mas, em entrevista à CBS, na manhã de domingo, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, mostrou-se confiante, dizendo que a tarifa adicional de 100% sobre a China está “fora da mesa”, assim como a “ameaça” de controles de exportação de terras raras.


… “Não vou me antecipar aos dois líderes que se encontrarão na quinta-feira, mas posso dizer que tivermos dois dias de negociação muito bons”.


… Bessent também afirmou que espera uma compra “substancial” de soja americana pelos chineses. “Nossos produtores ficarão extremamente felizes com esse acordo, que irá equilibrar o mercado de soja entre os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil.”


… Revelou, ainda, que os detalhes do acordo do TikTok foram finalizados e que a transação será “consumada” por Trump e Xi na quinta-feira.


… Bessent também falou com o Financial Times nesse domingo, afirmando que Estados Unidos e China concordaram com uma estrutura “muito positiva” para a cúpula entre Trump e Xi Jinping, aumentando as esperanças de um entendimento na Coreia do Sul.


… No fim da noite deste domingos, os futuros das bolsas de NY operavam embalados pelo otimismo com a reunião.


JAPÃO – Na Ásia, Trump cumpre uma agenda para compromissos bilaterais e participação na reunião da Asean. Hoje, ele continua na Malásia e amanhã chega à Tóquio para reunião com a primeira-ministra, Sanae Takaichi. Na quarta, segue para a cúpula da Apec, na Coreia do Sul.


… Segundo o Nikkei Asia, Japão e Estados Unidos devem assinar um acordo para trabalhar em conjunto em Inteligência Artificial (IA).


CANADÁ – Em paralelo, Trump ameaçou encerrar as negociações comerciais com o Canadá e disse, no sábado, que pretende aumentar as tarifas sobre importações de produtos do país em mais 10%, após um comercial de televisão exibido pela província de Ontário.


… O anúncio, que foi ao ar na sexta à noite, usou um discurso do ex-presidente Ronald Reagan para criticar as tarifas dos Estados Unidos.


… “O anúncio deles deveria ser retirado, IMEDIATAMENTE, mas eles deixaram que fosse ao ar sabendo que era uma FRAUDE”, escreveu Trump em uma postagem na sua plataforma Truth Social, chamando a mensagem de “séria deturpação dos fatos e ato hostil”.


… A economia do Canadá foi duramente atingida pelas tarifas de Trump, e o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, tem tentado trabalhar com Trump para reduzi-las. Mais de três quartos das exportações canadenses vão para os Estados Unidos.


… Muitos produtos canadenses foram atingidos com uma tarifa de 35%, enquanto aço e alumínio enfrentam taxas de 50%.


COLÔMBIA – Também a relação dos Estados Unidos com a Colômbia se tornou ainda mais tensa após o Departamento do Tesouro anunciar sanções ao presidente Gustavo Petro, bem como a seus familiares e apoiadores, acusando-os de relação com o narcotráfico.


… Scott Bessent disse que Petro “permitiu que os cartéis de drogas prosperassem e se recusou a interromper essa atividade”.


BANCOS CENTRAIS NO FOCO – Na quarta (29), o Fed reúne-se para voltar a reduzir o juro americano em 25pbs, segundo expectativa praticamente unânime no CME Group, para o intervalo entre 3,75% e 4,00%. A entrevista de Powell pode sinalizar para os próximos passos.


… O mercado espera também (92,2%) novo corte na reunião de dezembro (10). Para janeiro, as apostas estão divididas (50,9% x 44,9%).


… Já BCE (2%) e BoJ (0,5%) devem manter as taxas, na quinta (30), mas com boas chances de o BC japonês indicar uma alta na última reunião do ano. A pressão inflacionária começa a preocupar, em meio à política expansionista da nova primeira-ministra, Sanae Takaichi.


… Sobre o juro na Zona do Euro, Christine Lagarde disse há poucas semanas que o BCE já fez muito e que está confortável com as taxas no atual patamar, já que a inflação permanece estável. “Estamos em boa posição e temos que garantir que permaneçamos assim.”


… Também realizam reuniões de política monetária o BC do Chile (amanhã, terça), que deve manter a taxa de juros em 4,75%; o BC do Canadá (quarta), com previsão de queda em 25pbs, para 2,25%; e o BC da Colômbia (sexta).


ARGENTINA – Em pleito considerado decisivo, o partido do presidente Javier Milei obteve mais de 40% dos votos nas eleições legislativas deste domingo, para a renovação de 24 senadores e 127 deputados, em uma vitória do seu programa ultraliberal.


… O resultado pode estar relacionado à elevada abstenção, com apenas 67% dos eleitores comparecendo para votar, a presença mais baixa desde 1983.


INDICADORES – A semana teria uma dados importantes nos Estados Unidos se não fosse o shutdown, que completa hoje 27 dias, como o PIB/3Tri e o PCE. A única exceção no período foi o CPI, divulgado na sexta-feira, que animou por ter vindo abaixo do esperado.


… O núcleo do CPI subiu 0,2% em setembro sobre agosto, abaixo do consenso do mercado (+0,3%), e 3% na base anual.


… Na agenda, estão mantidos apenas a confiança do consumidor do Conference Board (terça), venda de imóveis pendentes (quarta) e o PMI/ISM de Chicago (sexta-feira). A vice-presidente de supervisão do Fed, Michelle Bowman, fala na quinta e Lorie Logan/Dallas, na quinta e sexta.


… Na Europa, são destaques, na quinta-feira, o PIB/3Tri na Alemanha e na Zona do Euro, que divulga ainda o CPI na sexta.


HORÁRIO DE VERÃO – A Europa saiu do horário de verão neste domingo, atrasando seus relógios em uma hora. Londres e Lisboa passarão a ficar três horas à frente de Brasília; e Madri, Paris, Berlim, Frankfurt, Roma e Milão ficarão quatro horas adiantados.


… As Bolsas de Londres, Paris, Frankfurt, Madri, Milão e Lisboa passam a operar das 5h às 13h30 (de Brasília).


… No próximo domingo, acaba o horário de verão nos Estados Unidos.


BRASIL – Aqui, os investidores monitoram os dados do mercado de trabalho de setembro, observando se a taxa de desemprego permanece na mínima histórica e a massa salarial em níveis recordes, ou se começa a surgir um distensionamento.


… O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de setembro será divulgado na quinta e a taxa de desemprego, na sexta-feira.


… Um esfriamento do emprego pode favorecer as expectativas de a inflação para 2027 convergirem para o centro da meta de 3% ao ano nas próximas semanas, o que pode calibrar as apostas sobre o timing do primeiro corte da taxa Selic.


… Na sexta-feira, o IPCA-15 de 018% em outubro, bem abaixo de setembro (0,48%) e do esperado (0,24%), aumentou as apostas de que o Copom pode iniciar o ciclo de quedas da Selic em janeiro, com a curva de juros elevando a precificação para 67% (de 63% da véspera).


… Economistas destacaram ainda a moderação da inflação de serviços subjacentes, dos bens industriais, núcleos e dados de difusão.


… Outros indicadores da agenda da semana são o Relatório da Dívida Pública, o resultado do Tesouro Nacional e o IGP-M de outubro (quinta).


AS MAGNÍFICAS – Cinco das Sete Magníficas divulgam balanços esta semana em Nova York, o que tende a mexer bastante com as bolsas: Meta, Alphabet e Microsoft (quarta-feira, após o fechamento), e Amazon e Apple (quinta, após o fechamento).


… Hoje, após o fechamento, saem os resultados de Whirpool (previsão de lucro da FactSet de US$ 1,39/ação).


BALANÇOS NA B3 – Bradesco e Santander são os destaques no calendário do Brasil, ambos com resultados na quarta-feira (29). Santander, antes da abertura, e Bradesco, após o fechamento. Na quinta (30), é a vez do balanço de Vale, após o fechamento.


… Outros balanços estão na agenda da B3: Neoenergia (hoje, após o fechamento), Hypera (amanhã), Isa Energia, Kepler Weber e Motiva (quarta), Ambev, Gerdau, Marcopolo, Multiplan, Telefônica Brasil – Vivo (quinta), Fertilizantes Heringer (sexta-feira).


… Segundo Prévias Broadcast, o Bradesco deve ampliar o lucro para R$ 6,3 bilhões no 3Tri, com expansão da margem dos clientes. Confirmado, o resultado representaria um crescimento de 20,6% sobre o 3Tri/2024 e de 3,9% sobre o 2Tri/2025.


… Já as estimativas para o Santander são de leve alta no lucro, para R$ 3,726 bilhões, mas com postura mais cautelosa e seletiva no crédito.


PETROBRAS – Relatório de produção e vendas do 3Tri divulgado na sexta-feira à noite animou os ADRs da petroleira no after hours em Nova York, que fecharam com alta de 0,43% (ON), a US$ 11,79, e 0,71% (PN), a US$ 11,15, após terem caído no pregão regular da B3.


… No período, a Petrobras reportou produção média de 3,144 milhões de barris diários (boed) de óleo equivalente (petróleo e gás natural), alta anual de 17,3%. A China foi o principal destino das exportações, representando 53% do total.


CASADÃO – O Banco Central realizará hoje uma intervenção dupla no mercado de câmbio, provavelmente com o objetivo de mitigar pressões de alta no chamado cupom cambial (que reflete juro em dólar no Brasil) e para atender a uma demanda pontual pela moeda americana.


… A oferta será simultânea de US$ 1 bilhão em swaps cambiais reversos (compra de dólar futuro) com venda de até US$ 1 bilhão à vista.


FISCAL NA POLÍTICA – A equipe econômica quer aproveitar esta semana de esforço concentrado na Câmara, com sessões deliberativas de hoje até quinta-feira (30), para votar e aprovar algumas medidas derrubadas na MP do IOF.


… A estratégia é incluir na MP do Metanol, que está na pauta sob regime de urgência, alguns pontos da MP 1.303, para compensar a arrecadação perdida e ajustar o Orçamento de 2026. O relator dessa MP, deputado Kiko Celeguim (PT), já incorporou alguns pontos em seu texto.


… Entre as medidas estão os limites de compensação tributária, que podem render até R$ 10 bilhões no próximo ano, regras mais rígidas para a concessão do seguro-defeso, limite de 30 dias para o auxílio-doença sem perícia médica e vinculação do Pé-de-meia ao piso da Educação.


… Além disso, a Fazenda quer avançar nas negociações do projeto de combate ao devedor contumaz, contra a sonegação fiscal.


… No Senado, há expectativa para a apresentação do parecer do senador Renan Calheiros (MDB) sobre o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, que já foi aprovado por unanimidade pela Câmara.


STF – Na volta ao Brasil, amanhã, o presidente Lula tentará destravar a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso.


… O anúncio do substituto de Barroso no STF estava previsto para a semana passada, mas foi adiado diante da resistência do Senado ao nome de Jorge Messias. A Casa, responsável por fazer a sabatina e votar a indicação, prefere Rodrigo Pacheco.


BAIXANDO A RÉGUA – A surpresa com o IPCA-15 de outubro mais fraco do que o esperado e a leitura positiva dos núcleos resgataram a esperança de corte da Selic em janeiro, ofuscando a cautela redobrada do BC com a inflação.


… Na semana passada, em Jacarta, todo mundo se lembra do anticlímax causado por Galípolo quando ele comentou que a inflação acima da meta ainda causa “bastante incômodo”, apesar de ter reconhecido o processo deflacionário.


… Diante do apego ao conservadorismo, está fora de cogitação a chance de o ciclo de flexibilização começar em dezembro. Mas nada impede o BC de agir já na primeira reunião do ano que vem, ao invés de esperar até março.


… O movimento vem crescendo rápido. Em poucos dias, a chance projetada de a Selic cair em janeiro acelerou de algo próximo de 50% para 67% (cálculos de Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, ao Broadcast)


… É este o jogo que vai ser jogado com cada vez mais pressão na curva a termo, neste momento marcado pela melhora na percepção de risco sobre a inflação, reforçada pelo corte do preço da gasolina pela Petrobras.


… Em meio à onda de revisões em baixa para o IPCA, uma novidade importante foi terem surgido semana passada apostas entre economistas de que o BC pode conquistar a vitória de não estourar o teto da meta este ano.


… Igor Cadilhac (PicPay) atribui chance moderada de o IPCA encerrar 2025 dentro da banda, depois de a prévia da inflação oficial ter desacelerado de 0,48% em setembro para 0,18% em outubro, abaixo da mediana de 0,24%.


… Também chamou a atenção a perda de fôlego do IPCA-15 no acumulado em 12 meses, abaixo de 5% (saiu de 5,32% a 4,94%). É um sinal emblemático, definiu ao Broadcast o estrategista João Freitas (da Toro Investimentos).


… O qualitativo melhor, com indicadores subjacentes abaixo do esperado, também aliviou o ambiente de inflação e animou o DI a registrar nova rodada de queima de prêmio de risco na sexta-feira, especialmente na ponta longa.


… Jan/33 caiu a 13,465% (de 13,576%), Jan/31 cedeu a 13,300% (de 13,415%); Jan/29 recuou a 13,030% (de 13,123%); Jan/27 caiu a 13,805% (de 13,876% na véspera); e só o Jan/26 (14,890%) ficou perto do ajuste (14,896%).


BEAUTIFUL – O dia foi também de boas notícias para a inflação americana: o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,3% em setembro contra agosto e 3% na comparação anual, em ambos os casos abaixo do esperado.


… Na margem, o mercado esperava alta de 0,4% e, na base anualizada, o consenso era de 3,1%.


… No pico do entusiasmo com o indicador, a chance de corte do juro pelo Fed esta semana, que já era muito ampla, bateu a unanimidade (100%). A probabilidade de redução acumulada em 50 pontos até dezembro é de quase 95%.


… Cortes em série estão mais do que contratados pelo mercado e Powell não deve decepcionar.


… Antecipando o cronograma do Fed, a taxa da Note-2 anos caiu a 3,477%, de 3,489% no pregão anterior, e a de 10 anos furou os 4%: 3,997%, de 4,001%. O alívio nos yields dos Treasuries ainda respondeu à acomodação do petróleo.


… Depois do salto da véspera com as sanções americanas às duas maiores petrolíferas russas, o Brent/janeiro recuou 0,14%, a US$ 65,20. Mas terminou a semana com um rali acumulado de quase 6,5%, diante da tensão geopolítica.


… Em um primeiro momento, o dólar repercutiu em queda a inflação do CPI inferior às estimativas. Mas neutralizou a baixa até o fechamento, incorporando a cautela com as negociações comerciais, antes do encontro de Xi e Trump.


… O índice DXY fechou estável (+0,01%), aos 98,952 pontos, com euro (+0,08%, a US$ 1,1631) e a libra esterlina (-0,09%, a US$ 1,3307) também rondando a estabilidade, enquanto o iene caiu no fechamento para 152,85/US$.


… Aqui, por mais um dia, o dólar resistiu abaixo da marca de R$ 5,40. Mas fechou em leve alta de 0,12%, a R$ 5,3926. Traders dizem que o câmbio já começa a acusar as pressões sazonais de final de ano das remessas ao exterior.


FLERTANDO COM OS RECORDES – Embalado pelo otimismo com a inflação do IPCA-15, que abre espaço para corte da Selic em janeiro, o Ibovespa escalou mais um degrau e provou que quer renovar os seus topos históricos.


… No pico intraday, investiu até os 147.239,76 pontos. Até o fechamento, desacelerou o ritmo para alta de 0,31%, aos 146.172,21 pontos, mas está a pouco mais de 300 pontos da máxima de todos os tempos (146.491,75).


… Preferindo pecar por excesso de cautela, a bolsa reduziu o fôlego à tarde, de olho no que viria do encontro Lula-Trump. Mas na semana, o índice à vista acumulou ganho de quase 2%. O giro na sexta foi de novo fraco: R$ 16 bi.


… Após dois pregões seguidos de ganhos, impulsionadas pelo petróleo, as ações da Petrobras recuaram: PN -1,16% (R$ 29,84) e ON -0,72% (R$ 31,75). Vale fechou estável (-0,05%; R$ 61,73), em dia negativo para o minério (-0,58%).


… Os bancos ficaram mistos: Bradesco PN subiu 0,56% (R$ 18,08) e Bradesco ON avançou 0,78%, para R$ 15,48. Santander registrou valorização de 1,50% (R$ 29,11). Já Itaú caiu 0,13% (R$ 38,03) e BB ON, -0,63% (R$ 20,52).


… Usiminas PNA caiu 0,60%, frustrada pelo prejuízo líquido de R$ 3,5 bilhões no terceiro trimestre.


… Em Wall Street, dominadas pela convicção do Fed dovish, ainda mais depois do CPI abaixo do esperado, e animadas pelos balanços da Intel (+0,31%) e Ford (+12,16%), as bolsas renovaram seus recordes de fechamento.


… Dow Jones, +1,01% (47.207,12 pontos); S&P 500, +0,79% (6.791,69 pontos); e Nasdaq, +1,15% (23.204,87 pontos).


COMPANHIAS ABERTAS – PETROBRAS concluiu assinatura de nove contratos para a retomada da obra da unidade de processamento integrado de refino de petróleo, chamada Trem 2, da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), localizada na cidade de Ipojuca (PE)…


… Os contratos somam mais de R$ 8,3 bilhões em investimentos, já previstos no plano de negócios da companhia para o período de 2025 a 2029…


… Instituto Arayara enviou ofício ao Ibama contestando o pedido da estatal de correção do documento da licença de perfuração na Bacia da Foz do Amazonas…


… A Reuters trouxe que a Petrobras planeja um programa de demissão voluntária para cerca de mil funcionários, que deve incluir trabalhadores aposentados que ainda estão na empresa.


SABESP. O conselho de administração aprovou a 37ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em até duas séries, no valor de R$ 5 bilhões.


ULTRAPAR anunciou que celebrou contrato para aquisição de 37,5% de participação na Virtu GNL, empresa que atua em soluções logísticas baseadas em gás natural liquefeito (GNL). O valor total da operação é de R$ 102,5 milhões.


COPEL convocou assembleia especial de acionistas preferencialistas para 17 de novembro para ratificar a conversão obrigatória de todas as suas ações preferenciais…


… Medida faz parte do processo de migração da companhia para o Novo Mercado.


GRUPO MATEUS anunciou a inauguração de uma loja de atacarejo em Fortaleza, com 3.618 m² de área de vendas. A loja é a 13ª da empresa no Ceará; ao todo, grupo conta agora com 272 unidades em operação no País.

domingo, 26 de outubro de 2025

Amilton Aquino

 Para onde caminha o mundo e o Brasil?


Recentemente, a imprensa divulgou um relatório sobre a dívida global, totalizando US$ 337 trilhões, o que equivale a 330% do PIB mundial.


Não é por acaso que muitos economistas falam de um novo crash semelhante ao de 1929. Outros amenizam o quadro, apostando em um “pouso suave” — na capacidade da economia de se ajustar às novas realidades, especialmente agora, com a ajuda da IA. Mas até isso é polêmico, pois muitos veem a inteligência artificial como mais um fator de desestabilização.


Se a aposta no pouso suave se confirmar, menos mal. Mas, se o crash vier, quem serão os maiores culpados?


Para os economistas ortodoxos, à direita, os culpados são os governos que abusaram de sua capacidade de estimular a economia, jogando a conta para as futuras gerações.


Para os economistas heterodoxos, mais à esquerda, trata-se apenas de uma externalidade administrável no longo prazo — nada de pânico, “tudo se resolve com o tempo”.


Para os marxistas, a culpa, claro, é dos “rentistas capitalistas” que sugam dinheiro dos mais pobres.


Divergências à parte, ninguém pode ignorar o aumento do custo da dívida, que reduz a capacidade de investimento do Estado e torna o ambiente mais volátil e instável. O fato novo é que até mesmo os países ricos começam a ter dificuldades para rolar suas dívidas. Ponto.


O que fazer para estancar a sangria?


Para os ortodoxos, a saída é cortar gastos, analisar o custo-benefício das políticas públicas, priorizar a eficiência e pensar também no médio e longo prazo, reduzindo a dívida gradativamente. São os “chatos neoliberais” que vivem repetindo que não se pode gastar mais do que se arrecada.


Para os heterodoxos, basta manter a inflação em um nível um pouco mais elevado — o suficiente para corroer a dívida gradativamente, mas não a ponto de provocar hiperinflação. São os de “mão aberta”, adeptos do lema “gasto é vida”, mais preocupados com o curto prazo.


Para os marxistas, basta “acabar com o rentismo”! São os pregadores do calote da dívida, ignorando que o próprio Estado grande que defendem estimula o endividamento, exigindo cada vez mais “rentistas” para financiá-lo.


Mais Estado ou menos Estado?


Depois do longo embate Capitalismo x Comunismo do século XX — que a esquerda perdeu fragorosamente —, todo o debate político-econômico que restou foi: mais Estado x menos Estado. Em outras palavras, discute-se a proporção ideal de intervenção estatal na economia. 


Parte da esquerda, inclusive, aderiu ao “comunismo chinês”, que recorre ao capitalismo mais predatório da história — baseado em mão de obra quase escrava, dumping, pirataria e câmbio artificialmente desvalorizado. Ou seja, um modelo que suga o mundo, vive de exportações maciças e é impossível de ser replicado em escala global.


Mas, para os novos comunistas cínicos, a China é hoje a “prova cabal” de que o comunismo venceu. Como sempre, as narrativas se ajustam à ideologia.


A questão central: a qualidade dos gastos


Na base desse debate está a gastança que a China promoveu para se desenvolver. É evidente que vale a pena se endividar para investir em infraestrutura capaz de tornar o país mais produtivo e competitivo.


A questão é a qualidade e a sustentabilidade dos gastos ao longo do tempo. São essas escolhas que diferenciam os países bem-sucedidos dos fracassados — o que, na prática, se traduz em maior ou menor produtividade e, consequentemente, em maior ou menor poder de compra em dólares (PPT).


E aqui está um dos nossos maiores calcanhares de Aquiles. Nossa produtividade por hora de trabalho, que crescia um pouco acima da média global até os anos 1990, passou a crescer em linha nos anos 2000 e abaixo da média a partir de 2015.


Ou seja, nossa produtividade aumenta quase que exclusivamente por osmose, pela revolução tecnológica que vem de fora. No médio e longo prazo, nosso potencial de crescimento tende a se distanciar ainda mais da média mundial, com o esgotamento do bônus demográfico nos próximos anos.

Não por acaso, já estamos sendo ultrapassados por alguns países africanos, como Botsuana, Seicheles, Maurício e Gabão, por exemplo.


A vez dos africanos


Aliás, quem disse que a África está condenada à pobreza eterna por seu passado de escravização?


Apesar da pregação de ressentimento da esquerda em relação à Europa por seu passado colonial — como se os europeus atuais devessem carregar a culpa de seus antepassados, e como se não houvesse escravidão entre os próprios africanos —, o fato é que a África vem crescendo a taxas cada vez mais altas, enquanto a Europa pena para crescer 1% ao ano.


Em 2024, por exemplo, a África apresentou um crescimento de 3,7%, com previsão de 4,3% para 2025, superando inclusive a média global, com 17 economias crescendo acima de 5% em 2024.


Esse crescimento é impulsionado pela combinação do bônus demográfico com o ganho de produtividade trazido pela evolução tecnológica.


O que explica nossa baixa produtividade?


Uma combinação de fatores: baixa qualificação (formamos muitos ideólogos e poucos engenheiros e técnicos), precariedade da infraestrutura (transporte e mobilidade) e um ambiente de negócios hostil — excessivamente burocrático, tributariamente complexo, com carga tributária muito acima da média dos emergentes (e com tendência de alta), além do maior número de contenciosos tributários e trabalhistas do mundo.


Não por acaso, somos o país com maior número de advogados per capita do planeta: um para cada 164 habitantes.


E isso sem falar da corrupção endêmica, de um Judiciário caro e desacreditado e, claro, de uma das maiores taxas de homicídios do mundo.


Ou seja, são problemas conhecidos e amplamente diagnosticados por especialistas de todos os espectros ideológicos.


Por que, então, não conseguimos mudar nada — ou quase nada? Eis a grande questão. O fato é que os anos passam e não conseguimos chegar a consensos mínimos.


O rent seeking como norma


Prevalece a lógica do rent seeking — todos buscando alguma vantagem, dos mais pobres aos megaempresários amigos do rei. 


Espremidos no meio, a classe média e os poucos empresários que não são ricos o suficiente para obter privilégios tributários do governo. São as galinhas dos ovos de ouro que, a cada dia, migram em massa para o exterior.


O que sobra são arremedos de orçamento cada vez mais furados, com contabilidades cada vez mais criativas, tentando convencer poupadores externos a comprar nossos títulos e continuar bancando um déficit de 8% do PIB, e com viés de alta — já que o governo insiste em aumentar os gastos fixos.


O endividamento global


O problema, contudo, não é apenas do Brasil, o que atenua um pouco a pressão sobre nós.


A diferença está na credibilidade internacional e nos níveis de poupança interna, que em outros países são bem maiores, reduzindo a dependência de compradores externos de títulos públicos.


Ainda assim, até mesmo os poderosos EUA começam a ter dificuldade em rolar suas dívidas. Por aqui, em 2025, já pagamos quase R$ 1 trilhão em juros, a uma taxa real de 9,5% ao ano.

Nos EUA — o “porto seguro” dos investidores —, o juro real é de 4,25%.


Até mesmo o império em ascensão, a China, tem níveis de endividamento preocupantes, figurando entre os dez maiores do mundo, com 83,6% do PIB — sem contar a dívida privada, das estatais e dos governos locais, que eleva o total a assustadores 280%.


Um mundo em transição e tensão


Sim, o mundo vive um período turbulento. Uma nova Guerra Fria se desenha entre um Ocidente decadente, endividado e descoordenado, e o grupo que se apresenta como “multilateral”, mas que, na prática, reúne apenas autoritários aliados do novo império desafiante: a China.


Neste cenário polarizado, uma nova corrida armamentista já está em curso. Nos cinco continentes — mas principalmente na Europa —, nações já pressionadas pelo aumento dos gastos previdenciários e pelo custo das medidas ambientais se veem obrigadas a ampliar urgentemente seus orçamentos militares.

No caso europeu, soma-se ainda o problema da imigração descontrolada de islâmicos, que não só rejeitam os valores ocidentais, como se multiplicam a taxas de natalidade significativamente mais altas, pressionando ainda mais os sistemas de bem-estar social.


E, em meio a esse contexto já complexo, emerge dos bastidores a grande guerra do século XXI: a batalha dos semicondutores.

A China, que quase monopoliza a produção de materiais essenciais à indústria tecnológica, pode, a qualquer momento, anexar Taiwan, principal fornecedora mundial de chips — inclusive para a poderosa Nvidia norte americana, líder na fabricação de processadores usados em IA.


A era da inteligência artificial


Por fim, chegamos aos impactos que a IA começa a provocar no mercado de trabalho global.


Nos próximos anos, veremos uma reorganização profunda do trabalho, da educação e da política, com aumento significativo do desemprego e uma concentração de renda ainda maior.


Por incrível que pareça, o Brasil — que já tem, em mais da metade de seu território, mais pessoas dependentes de programas assistenciais do que com carteira assinada — poderá ser salvo pelo aumento de produtividade proporcionado pela IA e pela consequente adesão de mais países a programas de renda básica.


Até lá, muito “quebra-pau” vai acontecer. E, nesse mar de incertezas, a única certeza é a necessidade de construirmos consensos mínimos para reconquistar um mínimo de credibilidade para continuar navegando neste oceano de endividados e desempregados.

sábado, 25 de outubro de 2025

Paulo Roberto de Almeida

 Como NÃO combater o narcotráfico (ou uma pequena lição anti-Trump), por um colega diplomático, Ney do Prado Dieguez:


“GUERRA PERDIDA


   Antes de chegar a Georgetown, a fim de assumir a chefia da missão diplomática brasileira, viajei, de acordo com instruções do Ministério das Relações Exteriores, a Boa vista, Belém e Manaus, ou seja, capitais dos estados, dois dos quais mantêm fronteiras com a Guiana, que estariam interessados em estreitar relações comerciais com o vizinho do norte.  A fim de poder facilitar-lhes a empreitada, visitei, em busca de sugestões e orientações, os respectivos governadores e, no intuito de entender um dos maiores problemas da região, contatei autoridades responsáveis pelo combate ao narcotráfico, bem como acadêmicos que pesquisavam o assunto. 


   Tendo em vista a errática campanha Trump contra o narcotráfico, tive a curiosidade de reler as anotações que fiz durante os encontros que mantive, sobretudo, com especialistas na área, e deparei-me com algumas conclusões que, creio, vale a pena compartilhar:  

  

• para a maioria dos entrevistados, o combate ao narcotráfico era uma guerra perdida que consumia tempo e recursos que poderiam ser empregados em atividades essenciais à prevenção e efetiva redução do uso de drogas, ou seja, educação e saúde;

• apoiavam, assim, a descriminalização das drogas, mas admitiam que o estado brasileiro não contava com recursos humanos e financeiros para implementar a legalização do uso de narcóticos; ponderavam, no entanto, que a descriminalização poderia  iniciar-se pelo sul e sudeste, onde estados, que contavam com mais recursos, seriam capazes de organizar o acesso legal às drogas e evitar, através de uma fiscalização eficiente, a invasão de usuários de outras regiões; a respeito, um dos interlocutores chegou a declarar, o que me pareceu um exagero, que “quem está contra a descriminalização das drogas está envolvido com o narcotráfico e os demais são inocentes úteis”;

• os principais obstáculos que o combate ao narcotráfico enfrentava eram os incalculáveis valores que a atividade movimentava e sua alta lucratividade, o que a tornava extremamente atrativa; mencionavam, ainda, a infiltração de traficantes na política e em instituições governamentais, inclusive nas forças policiais (a respeito, vale lembrar as palavras do delegado e ex-deputado federal Vicente Chelotti: “Quem se envolve com o narcotráfico cria um patrimônio bem sólido, daí não tem mais nada o que fazer na vida e resolve ser político”); apontavam, finalmente, o sofisticado esquema de produção, transporte e distribuição das drogas operado por poderosos cartéis;

• uma vez que o narcotráfico, como qualquer empresa sujeita às normas de marketing, regia-se pela lei da oferta e da procura, o combate deveria começar pelo usuário e não pelo produtor ou traficante, a fim de estrangular a atividade na raiz, ou seja, eliminando o fluxo de capital que a mantém; o combate à lavagem de dinheiro, o confisco de bens adquiridos ilegalmente pelo tráfico e o uso de inteligência para rastrear o caminho do dinheiro seriam corolários deste princípio.


   Estas anotações foram feitas há mais de 20 anos e lamento reconhecer que nada mudou, desde então, no que diz respeito à repressão ao narcotráfico, cujas ações foram incapazes de evitar ou sequer controlar o crescimento da produção e do comércio de drogas, explorados, agora, por verdadeiras multinacionais. Merece especial destaque o que ocorre no Brasil, onde a atividade expandiu-se aos principais centros urbanos, fomentando organizações criminosas que, como estados paralelos, dominam territórios violentamente disputados, em detrimento da população.  Entrementes, o governo continua a verter recursos nesta guerra perdida. 

 

   Vale mencionar, ainda, que o presidente norte-americano acaba de ativar o nefasto triângulo – mais ameaçador do que o das Bermudas – cujos vértices são política, ideologia e narcotráfico. É o que ocorre na Venezuela, com sinais trocados. Com efeito, sob o pretexto de interromper o fluxo de drogas da América do Sul para os Estados Unidos, forças militares norte-americanas vêm ceifando vidas, ao afundar barcos de pequeno porte, supostamente venezuelanos ou colombianos, sem apresentar provas que justifiquem tais atos unilaterais de agressão.  O aparato militar deslocado para o Caribe, a autorização de Trump para que Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana, famosa por seus recorrentes atropelos no continente, atue na Venezuela e sua recente ameaça de empreender incursões indicam, contudo, que o verdadeiro objetivo de Trump seria iniciar campanha político-ideológica de caráter intervencionista, a ser inaugurada pela bem-vinda deposição do regime chavista, o que, no entanto, pode configurar  perigoso precedente.”


www.passealimpo.com.br

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

"Framengo"

 O JOGO IMITA A VIDA. E VICE-VERSA.

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Um crime sem autores

Vítimas do incêndio no Ninho do Urubu foram traídas duas vezes: pelo Flamengo e pelo Estado - ESP - 24/10/2025 


O incêndio no Ninho do Urubu – que, em 2019, matou dez jogadores das categorias de base do Flamengo com idades entre 14 e 16 anos – foi uma tragédia criminosa das mais atrozes na história recente do esporte brasileiro. Seis anos depois, em vez de trazer algum conforto, o desfecho da ação penal em primeira instância só aumentou a dor de suas famílias e espalhou pelo País um profundo sentimento de indignação.


Na terça-feira passada, o juiz Tiago Fernandes de Barros, da 36.ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, absolveu os sete réus que ainda respondiam criminalmente pelo caso. Segundo o magistrado, não ficou demonstrado nos autos o nexo causal entre as condutas dos acusados e o incêndio – provocado, vale lembrar, por uma gambiarra na fiação elétrica do contêiner feito de alojamento para os garotos. Assim, o episódio que destroçou famílias e revelou ao Brasil o descaso do riquíssimo Flamengo com a segurança de seus atletas termina, no âmbito penal, sem culpados.


Não se questiona aqui o papel do juiz, que, diante de um processo que ele avaliou estar mal instruído, teve de decidir conforme o Direito e a ausência de provas robustas para a condenação. O que se pode afirmar, e com veemência, é que o sistema de Justiça, em sentido amplo, falhou miseravelmente com os parentes das vítimas e, em última análise, com toda a sociedade fluminense.


As famílias que entregaram seus filhos saudáveis ao Flamengo, confiando em um projeto esportivo que prometia oportunidades e ascensão social, foram traídas duas vezes. Primeiro, pelo clube, que demonstrou uma irresponsabilidade vergonhosa ao manter os adolescentes dormindo em estrutura improvisada e sabidamente insegura, vale dizer, sem aval do Corpo de Bombeiros. Depois, ao tratar a dor alheia como um problema contábil, litigando contra as próprias vítimas na tentativa de reduzir indenizações, o Flamengo revelou um desapreço moral incompatível com a sua história e com a grandeza de sua torcida.


A segunda traição veio do Estado. A incapacidade das autoridades – Polícia Civil, Ministério Público, Poder Judiciário – de conduzir um processo consistente resultou em impunidade. Ao fim e ao cabo, é disso que se trata. Mas, se confia no trabalho que fez, agora é dever do Ministério Público recorrer da sentença e demonstrar que o juiz errou ao não identificar a responsabilidade de cada um dos réus absolvidos.


Condenações sem base jurídica são indefensáveis no Estado de Direito, por mais rumoroso que seja o processo. Mas cabe, sim, denunciar a falha de um sistema de Justiça que, diante da escandalosa negligência do Flamengo, traiu a confiança da sociedade à qual serve. O resultado é esse vácuo a um só tempo legal e moral: dez jovens morreram queimados no centro de treinamento de um dos maiores clubes de futebol do mundo e não há responsáveis.


O incêndio no Ninho do Urubu não foi uma fatalidade. Foi o resultado previsível de uma cadeia de decisões temerárias e da complacência com a precariedade daquelas instalações. Se o Estado não for capaz de identificar e punir os responsáveis, consolidar-se-á a ideia de que tragédias criminosas simplesmente acontecem no Brasil – e ninguém tem nada a ver com isso.

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: Inflação é destaque no Brasil e nos EUA*


IPCA-15 sai às 9h e o CPI nos Estados Unidos, às 9h30, quebrando o apagão de dados do shutdown


… A Usiminas abre a temporada de balanços do 3Tri na B3, com resultados antes da abertura, enquanto o salto de 7,7% da Intel no after hours garante uma notícia positiva para os mercados em Nova York, animados com o encontro entre Trump e Xi Jinping, na próxima quinta-feira. Já a conversa com Lula, esperada para domingo, não está ainda oficialmente confirmada. Mas o dia é do IPCA-15 no Brasil (9h) e do CPI nos Estados Unidos (9h30), que quebra o apagão de dados do shutdown. O curioso é que lá a inflação deve subir, mas sem mudar as apostas unânimes em corte do juro na semana que vem e, aqui, a estimativa de queda não deve abalar a convicção do BC de manter a Selic estável.


IPCA-15 – As declarações de Gabriel Galípolo em Jacarta, nesta quinta-feira, esfriaram as apostas de que o Copom poderá antecipar o início do ciclo de quedas para janeiro, em meio ao crescente otimismo do mercado com o cenário mais benigno da inflação.


… Embora tenha reconhecido um processo de desaceleração dos preços, com a inflação “relativamente controlada”, destacou que as expectativas seguem fora da meta e, mais importante, que “a convergência para a meta demanda juros em nível elevado por um período prolongado”.


… O presidente do BC fez questão de repetir que o Banco Central está “bastante incomodado” com a inflação ainda fora da meta.


… O mercado, que esperava o IPCA-15 de hoje para avançar em suas fichas para janeiro, operou com mais cautela, com os juros curtos estáveis, interrompendo três pregões consecutivos de quedas. Só os intermediários e longos fecharam em baixa (abaixo).


… A mediana das estimativas para a preliminar do índice de preços ao consumidor é de desaceleração para 0,24% em outubro (Broadcast), após alta de 0,48% em setembro. As projeções, todas de alta, vão de 0,14% a 0,33%.


… Para a inflação em 12 meses, a mediana indica recuo no ritmo de alta de 5,32% para 5%.


… O alívio na tarifa de energia elétrica, com a mudança da bandeira tarifária vermelha 2 para vermelha 1, e a saída do efeito rebote do bônus de Itaipu devem corroborar a desaceleração do IPCA-15 em outubro, segundo economistas consultados pela Agência Estado.


… Já a média dos núcleos de inflação deve ganhar força na margem no IPCA-15 de outubro, passando de 0,19% em setembro para 0,32%.


… Entre os principais preços na abertura do índice, a estimativa intermediária também indica ganho de tração nos preços livres (-0,02% para 0,29%); alimentação no domicílio (-0,63% para -0,08%); serviços (0,12% para 0,50%) e serviços subjacentes (0,04% para 0,43%).


… Por outro lado, as medianas indicam desaceleração nos administrados (1,91% para 0,08%) e mesma variação para bens industriais (0,20%).


CPI – Nos Estados Unidos, o consenso é de uma alta de 0,4% da inflação ao consumidor em setembro, mantendo na margem o mesmo ritmo de agosto. Na comparação anual, a expectativa é de aceleração para 3,1%, acima da alta de 2,9% em agosto.


… O núcleo do CPI, que exclui alimentos e energia, também deve manter o ritmo de agosto, subindo 0,3% no mês e 3,1% na base anual.


… A divulgação do CPI de setembro é uma exceção do Departamento do Trabalho durante o shutdown, que completa hoje 24 dias, porque o dado do terceiro trimestre é utilizado pela Seguridade Social para determinar o ajuste anual do custo de vida para o ano seguinte.


… O JPMorgan espera uma pressão adicional sobre os preços de bens, devido às tarifas, que também podem puxar alguns alimentos, como café, que preocupa Trump, segundo ele disse na conversa por telefone com Lula, sugerindo uma revisão da sobretaxa ao produto brasileiro.


… Também o TD Securities projeta que os preços dos bens devem ganhar força pelo quarto mês consecutivo em setembro, à medida que a pressão das tarifas continua a se materializar gradualmente. Já para o UBS, o vilão principal será a alta nos preços da gasolina.


… O Goldman Sachs acredita que o CPI não alterará as apostas por novos cortes de juros pelo Fed até o fim do ano.


… A ferramenta de monitoramento do CME Group continua apontando que é praticamente unânime (98,3%) a chance de um corte de 25pbs no próximo encontro de política monetária do Fed, na quarta-feira, 29, e outro na reunião do dia 10 de dezembro (93,4%).


CHINA ALIVIA, RÚSSIA ESTRESSA – A confirmação do encontro entre o presidente Donald Trump e o líder chinês, Xi Jinping, na próxima quinta, renovou o entusiasmo dos mercados em Nova York, sustentando o apetite por risco, após dias de incertezas.


… Mas, por outro lado, as novas sanções impostas pelos Estados Unidos e União Europeia ao setor energético da Rússia dispararam os preços do petróleo, com alta acima de 5%, e voltaram a estimular a demanda pelo ouro, que havia entrado em forte correção.


… O presidente Donald Trump viaja hoje para a Ásia, com paradas na Malásia, Japão e Coreia do Sul. A Casa Branca, no entanto, não mencionou o esperado encontro com o presidente Lula, previsto para domingo em Kuala Lumpur.


… A conversa com Xi Jinping acontecerá na Coreia do Sul, durante a Apec, e já começou a ser preparada pelo representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, e pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, com o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng.


… Trump disse que espera um “encontro muito bom” com Xi, mas a situação toda é delicada e a conversa pode não ser conclusiva.


… Já as sanções de Washington e Bruxelas contra as petrolíferas russas Rosneft e Lukoil – que buscam pressionar Moscou a retomar as negociações de paz na Ucrânia – tiveram uma primeira reação de Putin, que mostrou estar disposto a manter o diálogo com os Estados Unidos.


… Segundo ele, a reunião em Budapeste, na Hungria, que havia sido proposta pela Casa Branca e foi cancelada por Trump, “deve ser preparada.”


… Putin minimizou o impacto das sanções à economia russa, mas afirmou que são um “ato hostil”, que “prejudicam as relações” com o Ocidente e advertiu que uma escalada com ataques em áreas mais profundas da Rússia terá  “uma resposta séria”.


ISRAEL – Em outra frente de tensão geopolítica, Trump disse que o país perderia o apoio dos Estados Unidos se anexasse a Cisjordânia, um dia após o Parlamento israelense aprovar duas propostas que abrem caminho para a tomada do território palestino.


… Integrantes do governo americano criticaram abertamente a medida, enquanto Netanyahu culpa o Legislativo pela aprovação na Knesset.


AGENDA FISCAL – Ficou para a semana que vem o envio dos dois projetos de lei que o governo enviará ao Congresso para compensar a receita perdida com a MP 1.303, derrubada pela Câmara. A intenção é votar as propostas entre terça e quarta-feira.


… O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), disse que as medidas devem ser incluídas em projetos que estão em tramitação na Casa e colocadas em votação já na próxima semana, quando haverá esforço concentrado no Congresso.


… Guimarães disse que a tendência é de que os trechos consensuais da MP do IOF, que tratam de controle de gastos, sejam incluídos no PL do Metanol ou no PL que atualiza os valores de imóveis para fins de tributação. Isso, no entanto, ainda depende de negociações.


… O presidente da Câmara, Hugo Motta, disse que as medidas para recompor a arrecadação devem ser apreciadas, mas que o corte das renúncias fiscais, que o ministro Fernando Haddad chamada de revisão tributária, “ficará mais para frente um pouco”.


… Na GloboNews, Motta antecipou o seu desejo de votar um projeto de lei que determina corte linear de 10% em todas as isenções fiscais.


… Antes da nova tentativa de aprovação das medidas fiscais, o governo opera para reforçar sua base, negociando cargos com deputados do União Brasil e do Republicanos que foram fiéis ao Planalto na votação da MP do IOF.


ISENÇÃO DO IR – O relator no Senado, Renan Calheiros, pretende apresentar seu parecer na próxima semana, mas a votação não está definida.


… Nesta quinta, Renan cobrou o governo para mandar o valor atual do impacto da proposta, após as mudanças feitas pela Câmara. Segundo ele, o texto elaborado por Arthur Lira comprometeu a neutralidade fiscal – o que a Fazenda nega.


… Na Comissão de Assuntos Econômicos ele subiu o tom: “A Fazenda diz que continua neutro. Eles ficaram de mandar os números, até agora, não mandaram. Isso é fundamental. Vou me dedicar ao relatório, mas preciso das informações”.


… Renan citou como exemplo o acordo para isentar a atividade rural, que afeta em quase R$ 8 bilhões a compensação do projeto.


… Ele reafirmou a intenção de fazer mudanças no texto, mas de forma a não obrigar que volte para a Câmara.


SETOR ELÉTRICO – A comissão mista da MP 1.304, com a reforma do setor elétrico, marcou reunião para apreciação do relatório na próxima terça-feira, 28. A medida vai perder a validade no dia 7 de novembro e, portanto, precisa ser votado antes.


ATUAÇÃO NO CÂMBIO – O BC anunciou após o fechamento que realizará na próxima segunda-feira, 27, leilões de venda à vista de dólares e de swap cambial reverso, de forma simultânea, ambos no montante de US$ 1 bilhão.


… Segundo Sérgio Goldenstein (Eytse Estratégia), essa operação conjugada de venda spot e swap cambial reverso (apelidada de “casadão”) não gera impacto direto sobre a taxa de câmbio, pois é neutra em termos de exposição cambial do mercado.


… “O objetivo é irrigar o mercado à vista e conter o cupom cambial. Tanto a venda spot quanto o swap reverso geram pressão baixista sobre o cupom. Vale lembrar que um cupom mais baixo favorece as operações de carry trade e encarece o hedge cambial.”


… Para Goldenstein, é possível que o BC tenha mapeado um fluxo mais forte de saída de dólares nos próximos dias.


MAIS AGENDA – Às 8h30, o BC divulga os dados do setor externo. O mercado prevê déficit de US$ 7,80 bilhões nas transações correntes em setembro (mediana do Broadcast), após saldo negativo de US$ 4,669 bilhões em agosto.


… Para o Investimento Direto no País (IDP), a mediana indica entrada líquida de US$ 6,0 bilhões em setembro, contra saldo positivo de US$ 7,989 bilhões em agosto. As expectativas vão de US$ 5,0 bilhões a US$ 7,5 bilhões.


… Haddad (9h) e Ceron (16h) participam de evento sobre precatórios do Instituto dos Advogados de São Paulo.


LÁ FORA – A leitura preliminar de outubro do PMI composto medido pelo setor privado (S&P Global) será divulgada nos Estados Unidos (10h45), na Alemanha (4h30), na zona do euro (5h) e no Reino Unido (5h30).


… O índice de sentimento do consumidor americano, calculado em outubro pela Universidade de Michigan, sai às 11h e traz embutidas as expectativas de inflação de 1 ano e 5 anos. Mas o foco hoje está mesmo é nos preços do CPI.


… Às 14h, saem os dados de petróleo da Baker Hughes. Na Rússia, o BC anuncia decisão de juros às 7h30.


JAPÃO HOJE – A inflação ao consumidor acelerou de 2,7% em agosto para 2,9% em setembro, alimentando especulações de alta do juro pelo BoJ, embora o consenso ainda seja de manutenção da taxa este mês.


… Economistas e investidores acreditam que o BC japonês, provavelmente, deve aguardar para observar os efeitos da recente transição na liderança política do país, diante da eleição da nova primeira-ministra, Sanae Takaichi.


… Ainda ontem, no Japão, saiu o indicador de atividade do setor privado. A leitura preliminar do PMI composto perdeu fôlego, de 51,3 em setembro para 50,9 em outubro, permanecendo acima do patamar neutro de 50 pontos.


… O resultado ainda indica expansão da atividade econômica, mas no ritmo mais fraco em cinco meses.


… O PMI de serviços caiu de 53,3 para 52,4 e o industrial passou de 48,5 para 48,3, apontando nova contração.


BALANÇOS – Antes da abertura em Nova York, Procter & Gamble divulga seus resultados, com previsão de lucro de US$ 1,90/ação (FacSet).


AFTER HOURS – Intel reverteu o prejuízo e reportou lucro de US$ 4,06 bilhões no 3Tri, com ganho por ação de US$ 0,23, bem acima do consenso de US$ 0,02 de analistas (FactSet). A receita totalizou US$ 13,7 bilhões, com alta de 3%, também superando o estimado (US$ 13,1 bilhões).


… Outro resultado que agradou os investidores foi o da Ford, que superou a previsão com lucro de US$ 2,4 bilhões no 3Tri, com ganho por ação foi de US$ 0,60 (consenso de US$ 0,35). No after hours em Nova York, as ações fecharam em alta de 2,49%.


NÃO FORÇOU A BARRA – Inibida pelo discurso do BC, que não desapega do conservadorismo, a curva dos juros foi mais devagar ontem, percebendo que opera as apostas mais otimistas para a inflação por sua própria conta e risco.


… Nestes últimos dias, o mercado vinha virando a chave para a leitura de convergência mais rápida dos preços à meta. Mas ontem preferiu se ajustar à comunicação de Galípolo, que continua muito fiel à abordagem hawkish.  


… Insensível ao alívio do corte da gasolina, que deve aparecer nas estimativas do IPCA no boletim Focus da próxima segunda-feira, o BC prefere incorporar o “higher for longer” na Selic do que correr perigo de ficar atrás da curva.


… Alguns economistas reunidos ontem com diretores do BC manifestaram a esperança de que a inflação de serviços está arrefecendo. Não houve unanimidade, porém, sobre quando o IPCA ficará inferior ao teto da meta, de 4,5%.


… Segundo o Broadcast, os cenários indicam convergência entre o final deste ano e meados do 1º semestre de 2026.


… O Rabobank entrou ontem para a lista de instituições financeiras que revisaram em baixa a previsão para o IPCA deste ano, de 4,7% para 4,6%. Mas o banco manteve em 4,2% a aposta para a variação do indicador em 2026.


… A valorização do real, defende, ajuda a diminuir a pressão por aumento nos preços de alimentos e combustíveis, mas a inflação de serviços ainda preocupa, impulsionada pela baixa taxa de desemprego e aumento da renda real.


… Menos confiantes de que o Copom derrube a Selic já em janeiro, os juros futuros fecharam perto dos ajustes.


… O vencimento para Jan/27 fechou a 13,870% (de 13,883% no pregão anterior); Jan/29 caiu para 13,120% (contra 13,148%); Jan/31 recuou a 13,410% (de 13,400%); e o Jan/33 terminou na mínima de 13,560% (contra 13,640%).


… A boa notícia foi que nem o rali de quase 5,5% do petróleo, que poderia ter sido embutido como potencial fator inflacionário, e tampouco a alta das taxas dos Treasuries conseguiram impor pressão por aqui à curva dos juros.


… Os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano ganharam impulso de dois fatores diferentes, um de alívio (o encontro marcado para semana que vem entre Trump e Xi Jinping) e o outro de cautela (salto do petróleo).


… O retorno da Note-2 anos subiu a 3,489%, de 3,445%, e o de 10 anos voltou a superar 4%, a 4,001%, de 3,955%.


FEITO FOGUETE – O petróleo escalou depois de os Estados Unidos anunciarem sanções às duas maiores produtoras russas da commodity (Rosneft e Lukoil), como uma tentativa de pressionar Moscou para um cessar-fogo na Ucrânia.


… Putin reagiu dizendo que prefere o diálogo, mas, como se viu, promete resposta “séria” se o conflito escalar. O contrato do barril do tipo Brent para dezembro disparou 5,43%, negociado a US$ 65,99 no fechamento dos negócios.


… O salto da commodity era o gatilho que o Ibovespa precisava para retomar o nível de 145 mil pontos. Também a confirmação pela Casa Branca de que Trump e Xi vão se encontrar contribuiu para a bolsa reconquistar terreno.


… O Ibovespa fechou com ganho de 0,59%, aos 145.720,98 pontos, e giro enfraquecido de R$ 19,2 bilhões.


… Faturando o petróleo, Petrobras ON terminou com ganho de 1,14%, a R$ 30,19, e ON subiu 0,72%, para R$ 31,98. Já Vale foi na contramão da alta de 0,39% do minério de ferro, mas devolveu só 0,19%, negociada a R$ 61,76.


… Os bancos tiveram uma sessão mista, com destaque positivo para Bradesco PN (+1,07%; R$ 17,98), Bradesco ON (+0,85%; R$ 15,36) e Santander (+0,81%; R$ 28,68). Itaú fechou estável (-0,08%; R$ 38,08) e BB caiu 0,19% (R$ 20,65).


… Magalu levou um tombo de 5,64%, para R$ 7,87, em reação à parceria fechada entre Casas Bahia e Mercado Livre.


… Longe de empolgar o real, a disparada do petróleo teve efeito marginal no câmbio. Tudo o que o dólar caiu foi 0,20%, a R$ 5,3861, levantando o debate se a moeda encontrou seu ponto de equilíbrio pouco abaixo de R$ 5,40.


… Lá fora, o índice DXY ficou estável (+0,03%), a 98,936 pontos, assim como o euro (+0,02%, a US$ 1,1619). A libra esterlina caiu 0,25%, para US$ 1,3325, e o iene (-0,43%, a 152,55/US$) continuou abalado pela cena fiscal no Japão.


… Combinado ao petróleo, que embalou as ações do setor de energia, o anúncio de que Trump e Xi vão conversar interrompeu as perdas nas bolsas de Nova York, que se beneficiaram ainda da virada positiva das ações da Tesla.


… Frustrados pelo balanço trimestral anunciado na noite de quarta-feira, os papéis da companhia chegaram a afundar mais de 5% durante o pregão, mas testaram uma recuperação até o fechamento dos negócios (+2,28%).


… O Dow subiu 0,31%; 46.734,61 pontos); S&P 500 (+0,58%; 6.738,42 pontos); e Nasdaq (+0,89%; 22.941,80 pontos).


COMPANHIAS ABERTAS – VALE informou que a Fitch elevou os IDRs (Issuer Default Ratings) de longo prazo em moedas estrangeira e local, além do rating de suas emissões internacionais sem garantias para ‘BBB+’, de ‘BBB’.


PETROBRAS pediu ao Ibama uma correção na licença que permitiu à estatal perfurar para pesquisa um poço na bacia da Foz do Rio Amazonas…


… De acordo com a estatal, pela legislação em vigor, o valor da compensação ambiental deveria ser de cerca de R$ 3,9 milhões e não de R$ 39 milhões, como foi estabelecido na licença.


AZUL anunciou, em fato relevante, uma nova versão do seu plano de negócios, em que a empresa projeta uma alavancagem de 2,5 vezes ao fim da sua reestruturação nos Estados Unidos…


… A previsão do grupo é concluir o processo em fevereiro do ano que vem. O plano anterior, divulgado em julho, previa uma alavancagem de 3 vezes ao fim do processo…


… Junto com o documento, a Azul divulgou alguns números do balanço do terceiro trimestre ainda não auditados. Segundo a empresa, a receita operacional bateu R$ 5,7 bilhões, alta de 11% na comparação anual…


… O Ebitda da empresa foi de R$ 1,987 bilhão no trimestre, crescimento de 18% em igual base.


AMBIPAR. Grupo Opportunity disse não ser credor da empresa e não estar executando antecipadamente “uma dívida de seu controlador”…


… A afirmação da gestora ocorreu após o acionista controlador e fundador da companhia, Tércio Borlenghi Júnior, acusar o Opportunity e a corretora Genial Investimentos de venderem suas ações ilegalmente, sem sua permissão.


COSAN. O conselho de administração aprovou a realização de oferta pública primária de distribuição de ações ordinárias, no valor inicial de 1,45 bilhão de papéis…


… A operação tem como principal objetivo renegociar e quitar obrigações financeiras, fortalecendo a estrutura de capital e reduzindo de forma significativa seu nível de alavancagem, segundo a empresa.

BCB intervindo no cambial -

 *ESPECIAL: BC IRRIGA MERCADO E DIMINUI PRESSÃO SOBRE CUPOM CAMBIAL COM NOVO "CASADÃO"*


Por Antonio Perez 


São Paulo, 23/10/2025 - O Banco Central anunciou há pouco uma intervenção dupla no mercado de câmbio para a próxima segunda-feira, 27, provavelmente com o objetivo de mitigar pressões de alta no chamado cupom cambial (que reflete juro em dólar no Brasil) e atender a uma demanda pontual pela moeda americana. Em uma operação conhecida como "casadão", a autoridade monetária fará oferta simultânea de US$ 1 bilhão em swaps cambiais reversos (o que equivale, na prática, à compra de dólar futuro) com venda de até US$ 1 bilhão à vista. Trata-se de operação idêntica a realizada em junho deste ano. 


O sócio-fundador da Eytse Estratégia, Sergio Goldenstein, explica que o "casadão" é uma operação que não afeta diretamente a taxa de câmbio, uma vez que não altera a exposição cambial do mercado. "Porém, ambas as operações geram pressão baixista sobre o cupom cambial. Vale lembrar que um cupom mais baixo favorece as operações de 'carry trade' e encarece o hedge cambial. É possível que o BC tenha identificado um fluxo mais forte de saída de dólares nos próximos dias", afirma Goldenstein. 


O sócio da Ethica Services Ricardo Gallo observa que o cupom cambial, que serve de termômetro para a demanda de dólares no mercado spot, vem subindo desde julho, quando houve uma aceleração das saídas de divisas do país. "E recentemente subiu ainda mais, denotando um problema de falta de linhas no curto prazo", afirma Gallo, ressaltando que o real tem sido favorecido pelas operações de carry trade. 


Um experiente gestor de recursos, que pede anonimato, observa que o "casadão" visa a reduzir simultaneamente o estoque de reservas internacionais e de swap cambiais. "Com isso, o impacto recai sobre o cupom cambial, sem afetar diretamente o nível do dólar frente ao real. Também não há mudança no nível de reserva líquida", afirma. 


Esse gestor pontua que o BC poderia atuar via linhas com compromisso de recompra, mas parece preferir, neste momento, não elevar o estoque de linhas. A opção seria amenizar a pressão sobre o cupom com a redução simultânea de swaps e reservas em dólar. "Faz todo sentido ele atuar dessa forma. O BC pode descarregar linhas a partir da segunda quinzena de dezembro até o fim do ano, se precisar. Até lá, atua com o casadão", afirma o gestor, lembrando que há pressões maiores de saídas de recursos no fim do ano, com remessas de lucros e dividendos por empresas.


 O estoque total de linhas com compromisso de recompra que vence em 4 de novembro é de US$ 3 bilhões, dos quais o BC já rolou US$ 2 bilhões em operações realizadas neste mês. É possível que o BC tenha optado por fazer o "casadão" em vez de rolar o valor de US$ 1 bilhão restante.

Produtividade é a saída

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