quarta-feira, 25 de junho de 2025

Artigo muito bom. Tapa na cara.

 O Brasil Voltou. Mas Para o Século Errado.

Alex Pipkin, PhD


— Com licença, esta cadeira está vaga?

— Sim, claro. Estava reservada para um país sério.

— Perfeito. O Brasil senta mesmo assim.

Foi mais ou menos assim que recomeçamos nossa jornada diplomática, após a eleição de 2022. Com pompa de salão, promessas de gala e a ilusão de que bastava trocar o ocupante do Planalto para transformar o país num baluarte da civilização.

O grande mote, repetido ad nauseam por colunistas progressistas, artistas de streaming e doutores em sociologia de campus, era claro: o país precisava de luz, diálogo e prestígio.

O que recebemos foi sombra, monólogo e desprestígio disfarçado de causa.

Dois anos depois, aqui estamos. Com um presidente que abraça Putin, parabeniza Ortega, afaga Maduro, sorri para Xi Jinping, e relativiza um massacre brutal em Israel com a leveza de quem comenta um empate na Série B. Um presidente que, diante da barbárie do Hamas em 7 de outubro — que incluiu estupros, decapitações e crianças carbonizadas — soltou a frase: “Hamas também tem trabalhadores”.

Como se a carteira assinada servisse de absolvição para o inferno. 

Mas não há nada que não possa piorar. Agora, o obsceno apoio do país ao Irã contra Israel. Escárnio.

Mas isso, diriam os militantes de rede social, é geopolítica. É estratégia. É “resgate do protagonismo internacional”. O Brasil voltou — repetem, sem notar que a fila dos países sérios segue andando, em silêncio, e sem nos esperar.

A diplomacia lulopetista se converteu num teatro ideológico desidratado, onde os gestos são para a plateia de hashtags e não para os interesses do país. Enquanto a diplomacia exige nuance, timing, pragmatismo e cálculo — qualidades que fariam Henry Kissinger parecer um alienígena em meio aos nossos diplomatas de TikTok — o Brasil se especializou em berrar slogans velhos para plateias vazias. Substituiu comércio por catecismo. Substituiu acordos por afagos. Substituiu Estado por panfleto.

A nova diplomacia brasileira não se move por interesses. Se move por curtidas.

O resultado, como sempre, não aparece na manchete, mas no caixa das empresas. O agronegócio brasileiro, que floresceu apesar do PT, hoje apanha por causa dele. A Embraer perde contratos. Exportadores de proteína animal enfrentam restrições. Investidores evaporam. E não porque somos ruins — mas porque somos alinhados ao que há de pior. E os parceiros sérios, mesmo com posturas ideológicas diversas, sabem distinguir ideologia de insanidade.

Diplomacia é o oxigênio do comércio internacional. Sem ela, nenhum país respira negócios.

Esse é o ponto que os marxistas de Instagram jamais entenderão.

Para eles, diplomacia é desfile de causas. Mas para quem emprega, investe e exporta, diplomacia é mercado, acesso, estabilidade, confiança. O setor privado — aquele mesmo que paga impostos, gera empregos e sustenta o Estado — é tratado como uma espécie de inimigo invisível do povo, enquanto ditadores são recebidos com tapete vermelho.

O Brasil, outrora aspirante a protagonista global, se transformou num diplomata folclórico: arrogante, irrelevante e, no fundo, cada vez mais sozinho.

E a conta não é só econômica. É moral. É histórica.

Daqui a dez ou vinte anos, talvez um estudante leia nos livros que, num dos momentos mais críticos do século, o Brasil optou por acenar para os tiranos. Que relativizou terrorismo. Que sorriu para ditaduras. Que abandonou o eixo do progresso para se perder no brejo da nostalgia revolucionária. Que preferiu a ideologia ao interesse nacional.

E fez isso com orgulho — e, absurdamente, com aplausos.

Como bem alertava Raymond Aron, com brutal clareza: “A política externa é o lugar onde a ideologia vai para morrer — ou para matar”.

No caso brasileiro, faz as duas coisas: mata acordos, mata oportunidades — e morre de espanto e ridículo.

Sim, o Brasil voltou.

Voltou para o lado errado, na hora errada, com os aliados errados.

Voltou para os jantares que não servem comida. Para os aplausos que não assinam contrato.

Voltou para a História, mas para o pé da página, entre as notas de rodapé que ninguém lê.

E voltou com tamanha convicção…

Que talvez só perceba onde está quando for, enfim, gentilmente desconvidado do mundo.

O Brasil voltou. Mas ninguém abriu a porta.

E não abrirão. Não enquanto durar a epopeia autodestrutiva do lulopetismo diplomático.

Porque há países que erram por ingenuidade. Outros, por pragmatismo.

Mas o Brasil escolheu errar por vaidade.

BDM Matinal Riscala

 Bom Dia Mercado.


Quarta Feira, 25 de Junho de 2.025.


*Haddad poupa Galípolo de mão pesada no juro*


… Powell volta ao Congresso americano hoje para falar no Senado (11h), após ter reafirmado na Câmara que o Fed não precisa ter pressa para reduzir os juros. Deve repetir a mesma mensagem de cautela, que reforçou as apostas no primeiro corte apenas em setembro. O cessar-fogo nos […]


… Powell volta ao Congresso americano hoje para falar no Senado (11h), após ter reafirmado na Câmara que o Fed não precisa ter pressa para reduzir os juros. Deve repetir a mesma mensagem de cautela, que reforçou as apostas no primeiro corte apenas em setembro. O cessar-fogo nos conflitos entre Israel e o Irã ajuda a distender as tensões, mas informações de que os ataques às instalações iranianas não destruíram as ambições nucleares dos aiatolás mantêm a tensão na região. Aqui, a ata do Copom não abriu espaço para especulações, mantendo o alerta hawkish, que projeta a Selic a 15% por muito tempo. A agenda de indicadores é mais fraca, com vendas de casas novas nos EUA (11h) e transações correntes no Brasil (8h30). Mas tem leilão duplo no câmbio e a repercussão de uma entrevista de Haddad.


… Em férias quando o Copom decidiu por mais uma alta do juro na semana passada, o ministro da Fazenda comentou, ontem à noite, na Record News que está “preocupado, evidentemente, com a taxa muito restritiva e muito acima da inflação projetada”.


… Mas defendeu Galípolo, assumindo os argumentos do PT, que a alta foi contratada na gestão anterior, de Roberto Campos Neto.


… “Essa alta, sendo muito honesto, quem é do ramo sabe, foi contratada na última reunião do Roberto Campos. É como uma contratação futura da taxa. Não dá pra dar cavalo de pau em política monetária, vai perder credibilidade. Tem que ter muita cautela.”


… E prosseguiu na defesa do presidente do Banco Central indicado por Lula: “Estamos em um começo de um mandato [de Galípolo], que carrega a memória do anterior [Campos Neto]. Ainda precisamos dar um pouco de tempo ao tempo”.


… O ministro também defendeu o aumento do IOF, afirmando que “várias instituições financeiras começaram a driblar o Imposto sobre Operações Financeiras e o governo fechou a porta, dizendo: Olha, não pode. Tudo tem que estar regido pela mesma regra”.


… Haddad insistiu no argumento de que não está aumentando a carga tributária e nessas respostas mostrou muita irritação.


… “A pergunta que tem que acender uma luz na cabeça de todo mundo é: para quem está aumentando? Se eu estou aumentando a carga tributária de quem não paga nada e é rico, eu não estou aumentando a carga tributária.”


… Citou várias vezes o morador da cobertura e os ricos que não pagam imposto.


… Questionado sobre as resistências do Congresso à MP 1.303/2025, que apresenta alternativas de arrecadação, o ministro demonstrou confiança de que será aprovada. “Mediante negociação, nós temos aprovado praticamente todas as medidas.”


… Sobre gastos do governo, Haddad disse que o debate “está congelado até o País encontrar o caminho da sustentabilidade”. 


… “Nenhum gasto é bem-vindo, a não ser os imprescindíveis. Se formos parcimoniosos, prudentes nas despesas públicas, teremos mais crescimento. Hoje, temos que ser muito cautelosos. O Brasil tem chance de entrar num ciclo virtuoso.”


… Haddad também defendeu o aumento da oferta de crédito imobiliário para a classe média, revelando que o governo está dando os retoques finais em “um novo instrumento com garantia, para que o juro seja baixo e possamos alavancar essa indústria”.


… “É uma ideia muito interessante que vem sendo gestada há muitos meses com o BC, o Ministério das Cidades e a Caixa.”


… Nesta 3ªF, Haddad e Galípolo participaram de uma reunião de Lula com o presidente da Caixa, Carlos Vieira, para discutir justamente alternativas que garantam o funding do financiamento imobiliário, diante da escassez de recursos da caderneta de poupança.


… O foco é aprimorar a linha de crédito imobiliário corrigida pelo IPCA, uma modalidade lançada em 2019, mas que não deslanchou nos anos seguintes, porque os picos de inflação aumentaram bruscamente as parcelas dos mutuários, gerando inadimplência.


… A ideia, agora, é estruturar um mecanismo que permita transferir aumentos no IPCA para o saldo devedor do empréstimo.


NEM ISSO – Apesar do discurso de austeridade de Haddad, o governo Lula já recuou em uma medida de corte de gastos na MP que prevê alternativas ao IOF, estendendo de 30 dias para 60 dias o limite para concessão do auxílio-doença sem perícia médica (Atestmed).


… Essa limitação no prazo geraria economia de R$ 1,2 bilhão em 2024 e R$ 2,6 bilhões em 2025. O novo impacto não foi ainda estimado.


TENSÃO EM STAND BY – No fim da noite, o barril do petróleo subia perto de 1,50%, após o tombo de quase 13% nos dois últimos pregões com o cessar-fogo no Oriente Médio. O start para a correção vem de dúvidas se o programa nuclear do Irã foi destruído.


… Relatório preliminar da inteligência dos EUA constata que os ataques do exército americano a três instalações nucleares iranianas, no último sábado, apenas atrasaram em alguns meses as ambições nucleares de Teerã.


… O documento confronta a versão de Trump de que esta batalha já estava vencida e fica mais difícil acreditar em uma paz duradoura. No cenário de instabilidade, o cessar-fogo também parece representar um alívio frágil.


… O enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, garantiu, porém, que os EUA e o Irã já estão em discussões iniciais sobre a retomada das negociações do programa nuclear iraniano.


… “As conversas são promissoras. Estamos esperançosos”, afirmou, em uma entrevista à Fox News.


LEILÃO DUPLO NO CÂMBIO – O BC realizará uma intervenção dupla no câmbio (9h30), com o leilão de venda de US$ 1 bilhão no segmento spot e oferta de 20 mil contratos de swap cambial reverso (equivalente a US$ 1 bilhão), que, na prática, significa compra de dólar futuro.


… A atuação estaria relacionada a um fluxo pontual de saída de estrangeiros, comum em fim de semestre, que tem pressionado o cupom cambial, em ambiente de baixa liquidez – o que, segundo traders, teria explicado a alta do dólar, nesta 3ªF.


… A correção repentina no câmbio no meio da tarde de ontem, portanto, quando o dólar deixou as mínimas e virou para alta, contrariando a onda de queda externa, teve pouco ou nada a ver com o tombo do petróleo.


… O gatilho, de caráter técnico, foi atribuído principalmente aos preparativos para o leilão conjugado e simultâneo (spot + swap reverso) de hoje, o “casadão”, no jargão do mercado, que o BC chamou para prevenir o estresse no cupom cambial.


… A atuação é uma tentativa de evitar qualquer disfuncionalidade por conta da fuga sazonal de recurso estrangeiro nesta época do ano em que há uma natural adaptação de carteiras, devido à virada para o segundo semestre.


… Primeiro, nesta 3ªF, o dólar à vista cumpriu os prognósticos de que furaria R$ 5,50 com o cessar-fogo. Bateu R$ 5,4759 no piso do dia, com o movimento acentuado pela interpretação de mais dois cortes do Fed este ano.


… Só depois de liquidado este ajuste às novidades do dia foi que a moeda americana então passou a subir, fechando em alta de 0,29%, em R$ 5,5189. A perspectiva para o real, porém, segue positiva, garantida pelo carry trade com a Selic a 15% por muito tempo.


MAIS AGENDA – O mercado espera um déficit de US$ 3,1 bilhões nas transações correntes em maio (mediana do Broadcast), após o saldo negativo de US$ 1,347 bilhão em abril. O resultado só não será pior em função do bom comportamento da balança comercial.


… Para o Investimento Direto no País (IDP), a mediana indica entrada líquida de US$ 4,5 bilhões em maio, resultado que deve ficar abaixo do saldo positivo de abril (US$ 5,491 bilhões). As expectativas vão de US$ 3,9 bilhões a US$ 5,9 bilhões. Os dados saem às 8h30.


… No início da tarde (14h30), o Banco Central divulgará os números semanais do fluxo cambial.


LULA – O presidente participa hoje de reunião do CNPE (9h30), que pode decidir o aumento da mistura do etanol na gasolina, de 27% para 30%. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também estará presente.


NOS EUA – As vendas de moradias novas (11h) podem registrar um tombo de 6,5% em maio, após a expansão de 10,9% em abril (11h). Já as 11h30, o DoE informará os estoques de petróleo na semana até dia 20 de junho.


A ATA NÃO VACILOU – Respeitando a adoção da estratégia “high for longer” do BC, pesquisa Broadcast apontou que a ampla maioria do mercado financeiro (32 de 37 casas consultadas) projeta a Selic engessada em 15% pelo menos até o final deste ano.


… Apenas uma parcela isolada (5 instituições) estima janela para retomada do afrouxamento monetário ainda este ano, entre novembro e dezembro. Dias atrás, o DI andou especulando sobre a chance de o juro já cair em janeiro.


… É esse o desafio do BC: continuar muito hawkish na comunicação, segurar as apostas de corte antecipado e ancorar as expectativas.


… Ontem, foi a melhora na percepção de risco global, com o cessar-fogo entre Israel e o Irã, que tirou prêmio da curva do DI, com exceção da ponta longa.


… No fechamento, o contrato para Jan/26 marcava 14,950% (de 14,962% no dia anterior); Jan/27, 14,215% (de 14,269%); e Jan/29, a 13,370% (de 13,390%). Jan/31 subiu a 13,550% (13,519%); e Jan/33, 13,650% (13,605%).


A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO – Em NY, momentaneamente, alguns agentes do mercado observaram um viés um pouco mais dovish na mensagem de Powell, quando ele reconheceu a chance de as tarifas virem mais brandas.


… “Podemos ver a inflação não tão forte quanto o esperado. Se for esse o caso, sugerimos cortar mais cedo”, foi o que ele disse, para depois complementar que as projeções do Fed são de alta da inflação por causa do tarifaço.


… Segundo Powell, a política protecionista do governo Trump deve começar a ser repassada para os preços a partir de agora, entre junho e julho, o que joga os holofotes sobre os próximos indicadores da inflação norte-americana.


… Ainda assim, afirmou, a maioria significativa dos formuladores de política monetária acha apropriado cortar o juro ainda este ano. Ao longo do pregão, o mercado desistiu do primeiro corte em julho e voltou a projetar setembro.


… Na plataforma FedWatch (CME), a aposta para setembro é amplamente majoritária (81%), contra 18,6% de julho. Powell esvaziou a lebre levantada por Christopher Waller e Michelle Bowman de um desaperto já mês que vem.


… Mas a perspectiva de ainda dois cortes do juro neste ano e o alívio com o cessar-fogo enfraqueceram o dólar.


… O índice DXY – que mede o desempenho da moeda dos EUA contra uma cesta de seis divisas fortes – furou o piso dos 98,000 pontos, com mínima de 97,707 pontos, e já acumula queda de mais de 1,50% nesta semana.


… Na mesma onda, as taxas dos Treasuries recuaram: Note de 2 anos a 3,816% (contra 3,847% na véspera) e de 10 anos a 4,297% (de 4,335%). NY observou o impacto deflacionário da nova derrocada registrada pelo petróleo ontem.


… Vindo de uma espiral de queda de quase 7% na véspera, o contrato do tipo Brent com vencimento em agosto derreteu mais 6,07% ontem e perdeu o nível dos US$ 70, negociado no fechamento dos negócios a US$ 67,14.


… A afundada cobrou, de novo, o seu preço da Petrobras: ON recuou 2,09% (R$ 34,17) e PN, -1,97% (R$ 31,37). Vale operou sem fôlego, praticamente estável (-0,02%, R$ 50,54), mas o Ibovespa conseguiu pegar o embalo externo.


… Entre as blue chips, a tração veio dos bancos, ignorando a ata hawkish do BC: Bradesco ON (+0,49%; R$ 14,26), Bradesco PN (+0,30%; R$ 16,54), Itaú (+1,89%; R$ 37,25), Santander (+1,82%; R$ 29,65) e BB (+1,66%; R$ 21,44).


… Mesmo com o cessar-fogo violado tanto por Israel como pelo Irã, as bolsas em Wall Street apostaram nos sinais de pacificação da “guerra de 12 dias” e ainda tiveram a garantia de Powell de pelo menos dois cortes de juro este ano.


… O Dow Jones completou o seu terceiro pregão consecutivo em terreno positivo. Subiu 1,19%, aos 43.089,02 pontos. O S&P 500 avançou 1,11%, aos 6.092,18 pontos, e o Nasdaq fechou em alta de 1,43%, aos 19.912,53 pontos.


EM TEMPO… EMBRAER inaugurou ontem novas instalações de serviços de manutenção, reparo e revisão para aviação comercial em um aeroporto no Texas, nos EUA, com investimento aproximado de US$ 70 milhões.


MULTIPLAN aprovou a distribuição de R$ 120 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2456 por ação, com pagamento até 30/6/26; ex em 30/6/25…


… Companhia também aprovou novo programa de recompra de até 10 milhões de ações.


LOCALIZA aprovou a distribuição de R$ 533,8 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,5061 por ação, com pagamento em 19/8; ex em 30/6.

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Um frágil cessar-fogo é suficiente para que se voltem a assumir riscos categoricamente. Ontem, SOX (semis) quase +4%. Expressa a mudança de abordagem. Contudo, há sérias dúvidas de que o programa nuclear iraniano tenha sido “aniquilado” como Trump afirma. A Agência de Inteligência de Defesa (Inteligência Militar) publicou um relatório de situação em que afirma que os ataques bloquearam as entradas de duas instalações nucleares, mas não destruíram as fábricas de processamento subterrâneas, e que várias centrifugadoras continuam intactas. Trump agora usa o termo “degradado” em vez de “aniquilado” para se referir às instalações nucleares do Irão. Mas para o mercado isto não parece importante. 


Ontem, o IFO Clima Empresarial na Alemanha melhorou (88,4 desde 87,5), mas a Confiança do Consumidor americana saiu inesperadamente fraca (93,0 vs. 99,8 esperado vs. 98,0 anterior). Powell (Fed) continuou com a sua mensagem-força de “esperar e ver” perante a Câmara de Representantes: “A política monetária está bem posicionada, à espera de conseguir avaliar com alguma clareza o impacto dos impostos alfandegários sobre a inflação e crescimento económico”. O mais relevante foi o que não disse: nenhuma referência a corrigir as recentes declarações dovish/suaves dos conselheiros Bowman e Goolsbee, portanto podem ser interpretadas como adequadas. Hoje presta contas (semestrais) no Senado, mas dificilmente acrescentará algo diferente. Com Nova Iorque fechada, FedEx reviu guidance em baixa devido a impostos alfandegários e caiu -6% em aftermarket.


Ásia subiu ligeiramente e os futuros europeus e americanos vêm suavemente em alta (+0,2%). Temos pouco conteúdo (apenas alguns dados de habitações nos EUA), à espera do mais importante da semana: o Deflator do Consumo Privado (PCE) americano, na sexta-feira, que se teme que aumente até +2,3% desde +2,1% (subjacente +2,6% vs. +2,5%). Provavelmente será o primeiro indício do aumento da inflação no 2.º semestre, o que levará a adiar qualquer descida de taxas de juros até a situação estar mais detalhada.


CONCLUSÃO: Recuperação do modo em alta perante a redução do risco geoestratégico, mais porque há um cessar-fogo que parece que todas as partes estão interessada em cumprir como mal menor aceitável, do que pela geoestratégia na região se estabilizar de forma fiável. Mas é suficiente para o mercado, por agora. E é isso que lhe importa a curto prazo. Regressamos rapidamente ao “modo reconstrutivo”, portanto as bolsas e obrigações saem beneficiadas. Hoje, quarta-feira, e amanhã, quinta-feira, deverão ser sessões de estabilização, após as subidas de ontem, com subidas suaves de bolsas (+0,2%/+0,5%?) e redução modesta das yields das obrigações (-1pb/-3pb?), USD débil (para 1,165/€?) e petróleo abaixo de 70 $/b. (Brent), mas sem se afastar desse nível, que parece uma espécie de solo aceitável. 


S&P500 +1,1% Nq-100 +1,5% SOX +3,8% ES50 +1,4% IBEX +1,4% VIX 17,5% Bund 2,54% T-Note 4,29 Spread 2A-10A USA=+50pb B10A: ESP 3,20% PT 3,01% FRA 3,24% ITA 3,48% Euribor 12m 2,110% (fut.2,078%) USD 1,162 JPY 168,5 Ouro 3.333$ Brent 68,2$ WTI 65,4$ Bitcoin +0,8% (106.349$) Ether +0,5% (2.436$). 


FIM

terça-feira, 24 de junho de 2025

Roger Scruton

 A cultura importa, Roger Scruton 


Uma dos últimos livros do maior filósofo inglês do século, Sir Roger Scruton (1944-2020). E coroando o esforço de uma vida a eleger a cultura, e seu principal conteúdo simbólico de fé e sentimento, religião e arte, como determinantes históricos do destino das sociedades humanas. Não que não trate da política, da economia, da educação e dos conflitos sociais, mas sempre subordinados a égide da religião e da arte, que é a condição de eternidade da humanidade, como se referia seu antecessor como o mais completo filósofo da cultura do século XX, Chesterton, ao afirmar a eternidade do homem através de Deus.

No primeiro parágrafo de sua dissertação, Scruton já anuncia as causas da crise cultural da humanidade: as ameaças interna e externa do multiculturalismo e do islamismo às tradições judaico-cristãs do Ocidente. E afirma a fonte na “Decadência do Ocidente”, de Oswald Spengler (1880-1936), que ressalta a crise do cristianismo como cerne de nossa própria crise cultural. 

A cultura é a transmissão simbólica para além dos objetos concretos produzidos, os costumes e maneiras de produzi-los (hoje chamado de  know-how), como aspiração a eternidade, a transmissão de gêneros, ideias e símbolos, para além de artefatos e ritos de geração em geração, desde a criação do espírito humano por Deus e para além de seus personagens, como Adão, Prometeu, Manu ou Pangu, segundo as tradições judaico-cristãs, grega, hindu e chinesa. Civilizações como continentes objetivos de manifestações dos conteúdos da cultura, como ritos, arte, literatura, língua, leis, armas e instrumentos, música, dança, culinária, habitação, vestimentas etc. 

A crise da cultura ocidental, no dizer de Scruton, é a crise não apenas da fé mosaica e cristã, mas a própria crise de discernimento, ou do juízo, como apontado por Kant (1724-1804) em “A Crítica do Juízo”, e que mereceu um livro de introdução a seu pensamento pelo próprio Scruton. E aqui, um traço pessoal acrescentado pelo autor: a relação que faz da manifestação do riso, exclusivo desse animal superior dotado de razão. Se os demais animais apenas arregacam os dentes diante do estranho, o homem reage com o humor da risada que denota a própria estranheza em face do que sua lógica inerente a ele poderia esperar. 

Scruton vê de maneira especialmente original os ready-made de Marcel Duchamp (1887-1968) e a atonalidade de Arnold Schönberg (1874-1951) como fatores marcantes da quebra do juízo estético da modernidade, onde não há limites para a transgressão, ou “a cultura do repúdio” como tão bem caracteriza. Fenômeno incensado pela imaginação filosófica relativista francesa da “teoria do discurso” de Michel Foucault (1926-1984) e do “desconstrutivismo” de Jacques Derrida (1930-2004).

A fala como opinião individual da apreciação estética cede lugar para “o lugar de fala” como renúncia a autoridade coletiva de apreciação, o que compromete a própria estética como ação essencial do homem. A origem recreativa da arte como necessidade do ócio, se perde pela apreciação da obscenidade e do sentimentalismo a que se reduz o simulacro da arte contemporânea, como pop music, hip-hop, stand comedy, ready made, instalações, graffiti e demais manifestações de uma “arte” que mais transgride sistemas de significação do que propriamente significa. A Madonna clássica com o filho no colo jorra ao léu o leite dos seios enquanto possuída por trás por um sátiro transsexual. 

O belo se torna o sinistro e não mais a medida do bem e do vero. A arte, que outrora foi sagrada como afirmação do divino no homem, se reduz a entretenimento e o ócio se torna negócio. Vide que em inglês “play” é a um só tempo tocar, encenar, brincar e jogar. 

A épica narrativa bíblica da interpretação do sonho do faraó por José, que dá ensejo a criação de um povo e sua cultura, se reduz na modernidade às interpretações da psicanálise de neuroses pessoais que trocam o ser pelo parecer. Enquanto a doença do multiculturalismo justifica a troca das virtudes pelos vícios do feminismo, gaysismo, racismo inverso, identitarismo, ambientalismo, globalismo, desconstrutivismo e demais barroquismos metonímicos! 

A caça às bruxas medievais é a caça da fé e da religião cristã; a caça da verdade pelo discurso ou narrativa; a caça da justiça pelo lawfare e ativismo judicial; a caça da vida espiritual pela adição às drogas; da liberdade de expressão pelos grupos de checagem de fatos das plataformas e suas “notas da comunidade”; da representação política pela representação teatral etc. O que não impede de Roger Scruton concluir seu libelo com uma nota de esperança pela onda de conservadorismo surgida na juventude das últimas décadas, cansada da intoxicação ideológica dos progressistas. 

Vale sempre a pena voltar ao grande polímata que foi Roger Scruton, protagonista herói de meu último livro “Curupira”.


Comary, 20 de junho de 2025

Ativos remanescentes

 *Ativos remanescentes do regime iraniano / Desafios não resolvidos para Israel:*


1. O regime iraniano não caiu (ainda)

2. As aspirações do regime de desenvolver armas nucleares permanecem; o programa foi danificado, mas não apagado

3. As ambições do Irã de desenvolver mísseis continuam; a infraestrutura foi duramente atingida, mas não eliminada

4. O objetivo do Irã de destruir Israel permanece inalterado

5. O Irã continuará operando de forma encoberta e enganando o Ocidente para reconstruir suas capacidades nucleares e de mísseis

6. Um futuro ataque israelense contra os programas nuclear/missilístico do Irã não será fácil — mesmo sob uma administração Trump, muito menos sob outra

7. O futuro das sanções ocidentais ao Irã continua incerto

8. O destino de 400 kg de urânio enriquecido a 60% é desconhecido


*Resumo:*


Israel obteve um sucesso tremendo. Se há dois anos você tivesse visto um curta-metragem mostrando o que aconteceu no Irã nos últimos 12 dias, teria achado que era ficção científica. Muitos não acreditavam que isso fosse possível — mesmo nas últimas semanas.


Esta foi uma operação histórica em qualquer parâmetro, certamente na história do Estado de Israel. Ela exigiu uma enorme imaginação para ser planejada. Como povo, os israelenses têm todo o direito de se orgulhar.


Dito isso, as ambições, astúcia e enganação do Irã não mudaram. Eles já estão trabalhando para reconstruir o que foi destruído e planejando com anos de antecedência.


Alguém precisará continuar impondo as linhas vermelhas, repetidamente. Isso será muito mais difícil do que impor limites ao Hezbollah — por causa da distância, violações de soberania, legitimidade internacional e complexidade de inteligência/militar.


Esse desafio está diante de nós e permanecerá até que o regime iraniano atual caia.


Israel deve agora estabelecer as bases para regras de engajamento claras e aplicáveis — enquanto ainda há um presidente favorável na Casa Branca, alguém que enxerga a aplicação dessas regras de maneira próxima à visão israelense.


Estabelecer princípios para aplicação das regras é, atualmente, o assunto mais importante para Israel em relação à ameaça iraniana — uma ameaça que foi severamente reduzida, mas que provavelmente voltará a crescer.


É preciso criar uma nova realidade — uma à qual o Irã se acostume, e que o mundo aceite: uma rotina de imposição.


Grupo de Noticias Likud Brasil: https://bit.ly/walikudbr

Fabio Alves

 FÁBIO ALVES: A HORA DO OURO


O ouro caminha para ameaçar a posição do dólar como o grande refúgio dos investidores em busca de proteção a um ambiente global de aguda incerteza, especialmente diante da escalada do conflito no Oriente Médio, após os Estados Unidos juntarem-se a Israel com ataques militares contra o Irã. Não há quem descarte novo recorde de alta no preço do metal ao longo das próximas semanas, caso a turbulência geopolítica aumente. Esse movimento não reflete apenas as características do ouro como um ativo de reserva de valor ou de proteção à inflação, mas é também uma história de corrosão do dólar e de outras moedas fortes, a exemplo do iene e até do euro, como refúgio para momentos de crise ou de grande instabilidade dos mercados globais. O caso do dólar é o mais emblemático. Em razão do crescente e preocupante déficit fiscal dos EUA nas últimas décadas, além da errática política econômica no atual mandato do presidente Donald Trump, a moeda americana perdeu prestígio entre investidores globais e também perdeu terreno como principal ativo nas carteiras dos maiores bancos centrais do mundo. Já o ouro, especialmente nos últimos dois anos, fez o caminho inverso. Há duas semanas, o Banco Central Europeu (BCE) divulgou um estudo mostrando que o ouro ultrapassou o euro como o segundo ativo de maior participação nas reservas dos bancos centrais, correspondendo a 20% do total global ao fim do ano passado, em comparação com 16% do euro e 46% do dólar. Conforme o estudo, esse salto do ouro foi resultado de um volume recorde de compra do metal pelos bancos centrais globais e da disparada no seu preço. A cotação máxima histórica é de US$ 3.509,90, atingida em abril passado. Em 2024, pelo terceiro ano seguido, os bancos centrais mundiais compraram mais de 1 mil tonelada de ouro para as suas reservas - um quinto da produção global anual. Em 2024, o preço do ouro saltou 25,5%, enquanto o dólar ganhou 7,1%. No acumulado deste ano, até a semana passada, antes de os EUA entraram diretamente no conflito do Oriente Médio, o ouro subia mais de 28%. Já o dólar, em comparação com uma cesta de seis moedas fortes, caía 9%. Contra o dólar ainda pesa a incerteza sobre o eventual impacto da guerra tarifária sobre a inflação e o crescimento da economia americana. As idas e vindas de Trump sobre as alíquotas de importação não ajudam a confiança de consumidores e empresários. Com a escalada no conflito no Oriente Médio, o que acontecerá com o preço do petróleo? De incerteza a incerteza, a única segurança parece estar no ouro. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista do Broadcast

Ata do Copom

1. O ambiente externo mantém-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos;

2. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica;

3. Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado algum dinamismo, mas observa-se certa moderação no crescimento;

4. O cenário prospectivo de inflação segue desafiador em diversas dimensões;

5. A conjuntura de atividade econômica doméstica segue marcada por sinais mistos com relação à desaceleração de atividade, mas observa-se certa moderação de crescimento. A divulgação do PIB do primeiro trimestre indicou, conforme esperado, um crescimento forte nos setores menos sensíveis ao ciclo econômico;

6. As expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, mantiveram-se acima da meta de inflação em todos os horizontes, tornando o cenário de inflação mais adverso. Nos horizontes mais curtos, a partir da divulgação dos dados mais recentes, observa-se uma queda nas expectativas de inflação;

Concluindo. O Comitê seguirá acompanhando o ritmo da atividade econômica, fundamental na determinação da inflação, em particular da inflação de serviços; o repasse do câmbio para a inflação, após um processo de maior volatilidade da taxa de câmbio; e as expectativas de inflação, que se mantêm desancoradas e são determinantes para o comportamento da inflação futura.

Produtividade é a saída

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