domingo, 15 de junho de 2025

Celso Lafer

 ‘Soft power’ e Joseph Nye


Celso Lafer · 15 jun. 2025


Suas formulações tiveram peso na teoria e na prática da ação diplomática de diversos países, inclusive o Brasil


Soft power tornou-se um termo de uso frequente na análise das relações internacionais. Foi cunhado e elaborado por Joseph Nye, recém-falecido aos 88 anos. Nye, destacado professor de Harvard, exerceu funções de responsabilidade diplomática nas Presidências Carter e Clinton. Afirmou-se como influente e criativo estudioso no campo das relações internacionais; suas formulações tiveram peso na teoria e na prática da ação diplomática de diversos países, inclusive o Brasil.


O ponto de partida de Nye foi realçar que a presença e a primazia dos EUA no mundo não se circunscrevem aos recursos de poder militar e econômico do seu hard power – (o poder duro). Transitam também pela força de atração da cultura, das ideias e das instituições: o seu soft power – (o poder brando). Este alicia preferências de outros atores internacionais e tem papel próprio na elaboração da agenda da política internacional, que incide muito especialmente no campo das afinidades relacionadas aos modos de conceber a vida em sociedade.


Hard power e soft power operam em dialética de complementariedade. Integram em conjunto o que pode ser qualificado de capital diplomático. Isso se traduz na capacidade de afetar o comportamento de outros Estados, não apenas pela força, mas também pela atração. Zelar pelo soft power dos EUA como componente do alcance do seu capital diplomático foi tema recorrente de Nye.


Por isso, foi crítico da intransitividade de Trump, que, exacerbando o seu unilateralismo decisionista, deixa de lado o papel do soft power, num processo de crescente dilapidação do capital diplomático dos EUA.


Nye evocava a Declaração de Independência dos EUA, que na sua fundamentação expressou “respeito decente pelas opiniões da humanidade”. O respeito pelo sentimento do justo e do injusto da consciência pública mundial é componente da efetividade do soft power. Não é a marca de Trump e de seu gosto pelo hard power.


A reflexão de Nye não se circunscreve àquilo que representa a perda do soft power para a diplomacia americana no atual sistema internacional permeado por tensões de hegemonia e conflitos de concepção sobre como lidar com a pauta da vida internacional. Tem um alcance muito mais amplo, que diz respeito às modalidades da condução da política externa.


Nye sublinha que a força do hard power é um meio para o exercício do poder, mas não é o único. Existe o poder que provém do soft power, que é menos do que comando, mas é mais do que influência. A dinâmica da dicotomia hard power/soft power é inerente à vida política no plano interno dos Estados. Nye inovou apontando que a dicotomia tem papel de relevo mesmo num sistema internacional heterogêneo, assimétrico e descentralizado que opera, com os riscos das armas, na situação limite paz/guerra.


O campo diplomático-estratégico é um campo global unificado pelos seus conflitos, pela técnica e também pelos seus problemas, que insere o mundo na vida dos países e das sociedades.


Daí a interdependência entre os Estados que resulta da porosidade de contextos e situações em que a conduta dos atores e os acontecimentos em diferentes partes do sistema afetam todos. É o caso paradigmático da mudança climática.


Nye aponta que as interdependências são complexas e assimétricas. Elas podem propiciar benefícios para os países, mas também podem gerar custos. Os custos podem gerar sensibilidades ou agravarse pelas vulnerabilidades econômicas ou de segurança. Os Estados calibram suas respostas levando em conta seus interesses e com base no capital diplomático dos seus recursos de poder (espaço, número, escala, vitalidade da economia, coesão nacional, localização no mundo, gravitação de valores).

Valho-me da reflexão de Nye para destacar a relevância da variável soft power na condução da política externa brasileira. O Brasil é país de escala continental, com fronteiras consolidadas, em paz com seus vizinhos, distante dos focos de tensão historicamente presentes no centro do sistema internacional e sem ameaças à sua independência nacional.


É um país de muitos recursos, mas neles não se inclui o

hard power do poder militar. É dotado de respeitável e acumulado capital diplomático. É sensível, mas não vulnerável, como outros, aos desafios dos custos da interdependência. Tem revelado capacidade de interagir construtivamente com todos os atores internacionais e atuar no plano multilateral, articulando consensos em temas globais. Esta capacidade resulta da vis atractiva do seu soft power, não do seu hard power.


A vocação brasileira de projetar influência externa reside, como pontua Rubens Ricupero, no estilo do nosso soft power de negociação, de conciliação, transação e exemplo. É o que nos permite contemplar a “ambição de ser potência de maneira distinta da tradicional” com outro modo de atuação que não é a da diplomacia de combate do hard power. Éo que nos vem da herança de Rio Branco e Rui Barbosa e seus sucessores, à qual a elaboração de Nye sobre o alcance do

soft power confere adicional coerência intelectual.


PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1992 E 2001-2002)

The Economist

 

A revista britânica The Economist voltou sua atenção ao Brasil, desta vez apontando uma crise de credibilidade crescente do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a publicação, o julgamento dos réus pelo 8 de janeiro em turmas menores, como a Primeira Turma do STF, sem passar pelo plenário completo, escancara um poder considerado “excessivo” concentrado em ministros específicos – com destaque direto para Alexandre de Moraes. A revista questiona duramente a falta de freios e contrapesos institucionais diante do que classifica como uma atuação “quase monárquica” no sistema de justiça brasileiro.

A crítica mais direta foi a associação do Brasil a um modelo de “julgamento por um sistema de juízes com poder excessivo”, comparando o que ocorre com Moraes ao que seria “um juiz estrela”. Além disso, a publicação internacional enfatizou os riscos de decisões concentradas e monocráticas, sugerindo que isso tem efeitos negativos não só internamente, mas também na imagem internacional do País. As repercussões são ainda maiores quando há, como citado, cobertura fotográfica e mediática constante das ações do ministro, como no julgamento de Jair Bolsonaro e outros acusados por tentativa de golpe.

O artigo ainda relembra críticas passadas contra ministros como Gilmar Mendes, acusado de reunir “pessoas influentes” em eventos privados, e Toffoli, que anulou provas da Odebrecht num ato visto como político. A Economist alerta para uma erosão da confiança popular no Judiciário, o que compromete o estado de direito sob o argumento de “proteger a democracia”.

Conclusão e Pergunta Final:

Diante do cenário retratado, com ministros acumulando funções de polícia, promotor e juiz, e decisões monocráticas se tornando regra, a própria função de um Supremo como órgão colegiado se dissolve. As críticas externas apenas refletem o que muitos brasileiros já sentem: a justiça parece ter perdido sua bússola. A pergunta que fica – e que exige reflexão profunda – é: Como o Brasil, sob o pretexto de “salvar a democracia”, chegou ao fundo do poço da insegurança jurídica institucionalizada? 

Amilton de Aquino

 Mais uma guerra! Mas esta não é uma guerra qualquer. Trata-se da luta pela própria existência de Israel, uma vez que o Irã — principal financiador do terrorismo islâmico e que há décadas jura exterminar os judeus do mapa — alcançou o nível de enriquecimento de urânio necessário para produzir armas nucleares.

Como sempre, o duplo padrão moral da esquerda mundial entra em cena quando o assunto envolve os judeus. Até o momento, os israelenses já eliminaram mais de 200 militares iranianos, incluindo mais da metade da alta cúpula do regime e cientistas envolvidos no programa nuclear. Sim, houve a morte de algumas dezenas de civis como efeito colateral — algo praticamente inevitável em tempos de guerra —, mas trata-se de um número pequeno diante dos alvos militares atingidos. Com exceção das residências de figuras-chave do regime, atingidas com precisão cirúrgica e mínimo impacto colateral, todos os alvos israelenses foram alvos militares válido — e todos devidamente divulgados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF). Já no Irã, imagens e informações vindas da população estão proibidas, e o acesso à internet bloqueado.
Por outro lado, até a manhã deste domingo, os iranianos haviam atingido apenas dois alvos militares israelenses, sem causar a morte de nenhum soldado. As únicas vítimas foram civis — onze pessoas, entre elas duas crianças —, mesmo tendo atingido dezenas de prédios residenciais.
Do ponto de vista estratégico, Israel mantém ampla vantagem. Seus caças circulam livremente pelo espaço aéreo iraniano, podendo atingir qualquer objetivo, especialmente após a redução adicional da já combalida capacidade defensiva iraniana — fragilizada desde os ataques do ano passado. Em outras palavras, se Israel quisesse provocar um massacre entre civis, como tenta o regime iraniano em território israelense, teria total capacidade para isso. Mas por que não o faz?
Primeiro, porque Israel aposta que a oposição interna ao regime dos aiatolás possa, eventualmente, derrubá-lo. Atacar a população civil poderia, ao contrário, fortalecer o apoio interno ao regime. Segundo, porque qualquer erro de cálculo israelense que resulte na morte de civis já é suficiente para gerar reações extremadas da comunidade internacional. E isso apesar de os israelenses avisarem previamente os civis iranianos sobre ataques a complexos militares, como anunciado neste sábado.
Mesmo diante da ampla desvantagem iraniana, as poucas mortes causadas em Israel já bastam para regozijar a esquerda nas redes sociais. Não há lamento pela morte de crianças — ao contrário, há exaltação das capacidades bélicas do Irã e torcida pela entrada da Rússia na guerra ao lado dos iranianos. Nesse cenário, as fake news também não incomodam: qualquer declaração vinda de Teerã é repetida sem filtro, como no caso da falsa notícia sobre a derrubada de quatro caças israelenses.
No campo diplomático, o espetáculo de hipocrisia continua. O agressor Putin tenta posar de mediador!!! Muitos condenam publicamente os ataques de Israel, enquanto, nos bastidores, diversos líderes — inclusive de países árabes — torcem pela queda do regime iraniano. Na ONU, o Irã segue se colocando como vítima, exigindo providências da comunidade internacional contra Israel e, pasmem, ameaçando atacar os Estados Unidos, o Reino Unido e a França. Esse é o nível de desconexão com a realidade do aiatolá que a esquerda internacional insiste em relativizar.
Enfim, apesar da covardia ocidental, Israel e Ucrânia seguem firmes na luta contra o eixo do mal que se ergue contra as democracias liberais, as mesmas democracias que os autoritários se aproveitam para divulgar suas fake news, com amplo apoio da esquerda. Contra tudo e contra todos, os israelenses já livraram o mundo de termos hoje Iraque e Síria como ameaças globais, ao neutralizar seus programas nucleares com ataques preventivos — os mesmos ataques que agora a diplomacia mundial critica, ignorando o real perigo que o Irã representa para a paz mundial.

Israel em defesa

 Israel exerce o direito de se defender


O programa nuclear iraniano é uma ameaça existencial a Israel e, por isso, é um alvo legítimo. Ademais, interromper a escalada nuclear do Irã será um alívio para o mundo


Em 1981, quando a Força Aérea de Israel destruiu o reator nuclear de Osirak, no Iraque de Saddam Hussein, houve muitas manifestações de indignação na comunidade internacional. Em 2007, o mesmo se repetiu após o bombardeio às instalações nucleares secretas do regime sírio. Mas o tempo se encarregou de mostrar quem estava certo. Por isso, o ataque israelense contra o Irã na madrugada de 13 de junho deve ser compreendido pelo que é: um ato preventivo de legítima defesa e um serviço à segurança regional e global.


A operação Leão em Ascensão, que envolveu cerca de 200 aeronaves e mais de uma centena de alvos, teve como objetivo impedir que a teocracia xiita que governa o Irã desde 1979 alcance a capacidade de fabricar armas nucleares. Realizada com precisão cirúrgica, a ofensiva atingiu centros de enriquecimento de urânio em Natanz, instalações de mísseis balísticos, depósitos militares, centros de comando e a cúpula do aparato militar iraniano, incluindo o chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, e o chefe do Estado-Maior, Mohammad Bagheri.


O momento foi calculado. Após quase 20 meses de confronto aberto com os braços armados de Teerã – Hamas, Hezbollah, Houthis –, Israel obteve superioridade tática. O Irã, isolado, exaurido, com sua defesa aérea degradada por ataques anteriores, vivia um raro momento de vulnerabilidade. Tel Aviv avaliou que a janela de oportunidade seria curta. E que esperar mais significaria correr o risco de uma bomba nuclear na mão de quem prometeu aniquilar Israel.


O histórico do regime iraniano justifica o ceticismo em relação às vias diplomáticas. Por décadas, Teerã violou suas obrigações no Tratado de Não Proliferação Nuclear. Há poucos dias, a Agência Internacional de Energia Atômica confirmou que o Irã está enriquecendo urânio em níveis próximos ao grau militar, operando instalações secretas e ocultando informações. Ao mesmo tempo, seguia promovendo negociações com os EUA enquanto acelerava seu programa. A confiança se esgotou.


A comunidade internacional pregava calma. Mas a história ensina que, diante de ameaças existenciais, a passividade cobra seu preço. A doutrina de sobrevivência israelense – expressa há décadas – é clara: não haverá um segundo Holocausto por omissão. A ofensiva atual, como as de 1981 e 2007, é guiada por esse princípio.


As consequências são imprevisíveis. O Irã já está retaliando com drones e mísseis, e pode promover atentados terroristas. Mas o custo da inação seria maior. O que está em jogo não é apenas a existência de Israel, mas a própria lógica da não proliferação nuclear. Um Irã armado com bombas nucleares não ameaçaria apenas Israel, mas desestabilizaria todo o Oriente Médio, empurrando outras potências regionais a buscarem seus próprios arsenais atômicos.


A aposta de Israel é arriscada, mas coerente com os sinais que o próprio Irã emitiu. A operação parece mirar não apenas as instalações nucleares, mas também desmantelar o “Eixo da Resistência” e enfraquecer estruturalmente o regime teocrático – eventualmente oferecendo à oposição oportunidades para uma mudança de regime. Se bem-sucedida, poderá abrir caminho para uma nova arquitetura de segurança regional – com maior aproximação entre Israel e os países árabes sunitas e, quem sabe, até mesmo condições futuras mais realistas para um Estado palestino estável.


Israel agiu sozinho, mas não agiu só por si. Agiu também por aqueles que, mesmo em silêncio ou em crítica pública, reconhecem a natureza predatória do regime iraniano. Os líderes ocidentais que hoje pedem “moderação” terão, como no passado, de admitir que foi Israel quem fez o que precisava ser feito.


O dia 13 de junho de 2025 pode marcar o início de uma nova era no Oriente Médio, menos marcada pela chantagem e mais próxima de uma estabilidade duramente conquistada. O tempo dirá. É cedo para prever os desdobramentos. Mas, se o ataque conseguiu de fato atrasar o programa nuclear iraniano e enfraquecer sua capacidade de agressão, o mundo terá um motivo concreto para agradecer – ainda que em silêncio.


https://www.estadao.com.br/opiniao/israel-exerce-o-direito-de-se-defender/

Operação do Mossad no Irã

 *A operação do Mossad dentro do Irã.* 


_Wall Street Journal_ revela novos detalhes: Israel vem trazendo centenas de drones e explosivos para dentro do Irã há meses — por meio de caminhões, malas e contêineres. Agentes do Mossad se posicionaram próximos a sistemas de defesa aérea iranianos e locais de lançamento de mísseis — e os atacaram. Isso contribuiu, entre outras coisas, para que nossos pilotos possam voar livremente nos céus do Irã e para dissuadir um ataque iraniano imediato contra Israel.


Grupo de Noticias Likud Brasil: https://bit.ly/walikudbr

Leitura de sábado 5

 Leitura de Sábado: Em primeira sessão pós-aumento de capital, Gol tem alta de 400%


Por Elisa Calmon e Amélia Alves*


São Paulo, 12/6/2025 - O primeiro pregão da Gol após o aumento de capital de R$ 12 bilhões promovido pela companhia gerou ruídos no mercado nesta quinta-feira, 12. Analistas relataram que investidores ainda buscam entender o novo formato de negociações diante da alta de 406,30%, cotada a R$ 52,01, sucessivos leilões e diluição de acionistas.


Na operação de aumento de capital, a Gol emitiu ações para atender os credores que colocaram dinheiro na companhia para saída do Chapter 11 nos EUA, anunciada na última sexta-feira, 6. O lote padrão de negociação, que é de 100 ações, passou hoje a ser de 1.000, o que dificultou a leitura do forte movimento altista pelos investidores nesta quinta-feira.


"Tem muita gente tendo de ajustar as suas posições no intraday quando se dá conta deste 'pequeno' detalhe", diz o sócio da Fatorial Investimentos, Fábio Lemos.


O especialista em investimentos do grupo Axia Investing, Felipe Sant'Anna, explica que o momento é de transição dos papéis, com a emissão de direitos de subscrição aos acionistas minoritários e bonificação.


"Essa alteração causou uma enorme confusão, mas as corretoras dizem que tudo vai se ajustar amanhã", diz, descrevendo o momento como "bastante bagunçado".


A Gol emitiu um número relevante de papéis na operação: 8.193.921.300.487 ações ordinárias e 968.821.806.468 preferenciais no aumento de capital. O preço estipulado foi de R$ 0,01 cada por preferencial e de R$ 0,0002857142 por cada ordinária. No fechamento de ontem, a PN, mais líquida, fechou em R$ 0,79.


Na época do anúncio do aumento de capital, o BTG Pactual avaliou, em relatório, que a operação marca "uma forte diluição dos acionistas anteriores". Enquanto isso, o Grupo Abra, holding de companhias aéreas, passou a deter direta ou indiretamente 80,21% do número total de ações ordinárias e 80,19% do número total de ações da Gol.


Diante da diluição, investidores precisam comprar mais papéis para atingir a mesma participação que tinham anteriormente. Esse é outro fator que pode ajudar a explicar a disparada vista hoje nos papéis.


Com o Chapter 11, que durou quase um ano e meio, a Gol conseguiu turbinar o caixa. No entanto, o cenário macroeconômico e dúvidas sobre o andamento da fusão com a Azul seguem no radar, gerando incertezas sobre o novo momento da empresa.


Contatos: elisa.ferreira@estadao.com ; amelia.alves@estadao.com


*Colaborou Isabela Mendes


Broadcast+

Leitura de sábado 4

 leitura de Sábado:Trump promete agir por cartas e escala guerra comercial após trégua com China


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 12/06/2025 - O renovado tom de desescalada da guerra comercial capitaneada por Washington durou menos do que Wall Street poderia prever. Em aparição inédita nas estreias musicais de Nova York desde que tomou posse, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu impor novas tarifas unilaterais a parceiros comerciais nos próximos dias por meio de cartas, encerrando o breve tom de trégua após o acordo com a China.


"Em um determinado momento vamos simplesmente enviar cartas. E acho que vocês entendem isso, dizendo que este é o acordo, é pegar ou largar", afirmou o republicano, a repórteres, ao comparecer à estreia do musical Les Misérables no Kennedy Center, em Nova York, nesta quarta-feira.


Segundo o chefe da Casa Branca, isso pode ocorrer nas próximas uma ou duas semanas, antes do prazo de 9 de julho para reintroduzir as chamadas tarifas recíprocas, anunciadas no início de abril. A fala de Trump ocorre enquanto investidores globais começavam a se posicionar em torno de sinais de melhora na relação entre os EUA e a China.


O analista do BMO Capital, Ian Lyngen, diz que não está claro se a nova tacada de Trump é só mais uma de seu manual de negociações. Mas, de toda forma, o foco do mercado está no fim da pausa das tarifas recíprocas no início de julho, conforme ele. "Isso não é negociação. É escalada. E força o capital institucional a reprecificar o risco geopolítico em todos os níveis", diz o CEO do Devere Group, Nigel Green. Na visão do especialista, a janela de otimismo que se abriu a partir do acordo dos EUA com a China se fechou. E as implicações vão muito além do comércio, avalia. A nova mudança de tom por parte de Trump reintroduz a imprevisibilidade na política econômica americana em um momento em que a confiança global estava apenas começando a se estabilizar, alerta.


O alemão Danske Bank diz que as negociações entre os EUA e seus parceiros comerciais podem ganhar corpo nos próximos dias em meio à nova ofensiva americana. "As negociações comerciais devem avançar, já que Trump anunciou planos de enviar cartas aos parceiros comerciais delineando tarifas unilaterais específicas e informando os países sobre o acordo", afirma, em nota a clientes.


Questionado por jornalistas, Trump disse estar aberto a prorrogar o prazo para concluir negociações com parceiros comerciais antes do fim da pausa de 90 dias, em 9 de julho. "Mas não acho que teremos essa necessidade", acrescentou o republicano, que foi vaiado e aplaudido em espetáculo no Kennedy Center.


Faltando menos de um mês para o fim da pausa tarifária, os EUA selaram apenas um acordo com o Reino Unido, no mês passado, e caminham na direção de um tratado com Pequim. Ainda há ao menos 18 parceiros comerciais importantes na fila para negociar com os americanos, incluindo Índia, Coreia do Sul, Japão e União Europeia, calcula o Danske Bank. Um documento de trabalho com detalhes de um possível acordo com o Canadá foi revelado pela imprensa local nesta semana.


O secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou hoje que o acordo comercial com o Reino Unido entrará em vigor nos próximos dias. Em uma postagem no 'X', mencionou novas cotas comerciais para automóveis britânicos e carne bovina e etanol americanos.


Ainda do outro lado do Atlântico, a consultora de risco político Eurasia considera "provável" que Trump consiga selar um acordo com a União Europeia até o fim da pausa tarifária, em 9 de julho. Tais chances são de 55%, calcula. A consultoria vê ainda probabilidade de 35% de uma "escalada contida" que resulte em tarifas adicionais dos EUA "contra-ataque contido" do bloco europeu. "Um acordo com a UE provavelmente levará mais tempo para ser finalizado do que acordos com outros parceiros comerciais, tornando uma trégua fundamental para a estabilização das relações bilaterais", diz o time de analistas da Eurasia.


O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, espera mais acordos com parceiros comerciais "muito rapidamente" na esteira do acordo preliminar com a China. Segundo ele, o governo americano trabalha para reduzir as incertezas, mas não está disposto a perder a oportunidade de eliminar o déficit que os EUA mantêm no comércio exterior. "Estamos agindo o mais rapidamente que conseguimos para obter os melhores acordos que conseguirmos", afirmou Bessent, durante sessão no Senado americano.


Por sua vez, a China indicou hoje que está determinada a cumprir o acordo comercial firmado com os EUA esta semana. Os detalhes do acordo ainda não foram divulgados. Os principais pontos negociados foram a flexibilização temporária das restrições às terras raras por parte de Pequim em troca de os americanos aliviarem restrições em exportações de produtos químicos e tecnológicos, incluindo motores de aeronaves.


A Capital Economics atenta que questões comerciais e econômicas mais amplas, que deveriam ser o foco das negociações entre chineses e americanos após a reunião de Genebra, não foram abordadas. E vê pouco avanço entre Pequim e Washington. "Mas isso parece ser suficiente para o presidente Trump. Na sua presidência, enquanto ele estiver satisfeito, tudo estará bem, mesmo que ambos os lados tenham feito pouco progresso", diz o economista-chefe da Capital Economics para a Ásia, Mark Williams. Ainda que Trump tenha celebrado o acordo preliminar com a China, um novo rompimento no relacionamento está a apenas uma publicação no Truth Social de distância, alerta.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


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Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...