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 leitura de Sábado:Trump promete agir por cartas e escala guerra comercial após trégua com China


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 12/06/2025 - O renovado tom de desescalada da guerra comercial capitaneada por Washington durou menos do que Wall Street poderia prever. Em aparição inédita nas estreias musicais de Nova York desde que tomou posse, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu impor novas tarifas unilaterais a parceiros comerciais nos próximos dias por meio de cartas, encerrando o breve tom de trégua após o acordo com a China.


"Em um determinado momento vamos simplesmente enviar cartas. E acho que vocês entendem isso, dizendo que este é o acordo, é pegar ou largar", afirmou o republicano, a repórteres, ao comparecer à estreia do musical Les Misérables no Kennedy Center, em Nova York, nesta quarta-feira.


Segundo o chefe da Casa Branca, isso pode ocorrer nas próximas uma ou duas semanas, antes do prazo de 9 de julho para reintroduzir as chamadas tarifas recíprocas, anunciadas no início de abril. A fala de Trump ocorre enquanto investidores globais começavam a se posicionar em torno de sinais de melhora na relação entre os EUA e a China.


O analista do BMO Capital, Ian Lyngen, diz que não está claro se a nova tacada de Trump é só mais uma de seu manual de negociações. Mas, de toda forma, o foco do mercado está no fim da pausa das tarifas recíprocas no início de julho, conforme ele. "Isso não é negociação. É escalada. E força o capital institucional a reprecificar o risco geopolítico em todos os níveis", diz o CEO do Devere Group, Nigel Green. Na visão do especialista, a janela de otimismo que se abriu a partir do acordo dos EUA com a China se fechou. E as implicações vão muito além do comércio, avalia. A nova mudança de tom por parte de Trump reintroduz a imprevisibilidade na política econômica americana em um momento em que a confiança global estava apenas começando a se estabilizar, alerta.


O alemão Danske Bank diz que as negociações entre os EUA e seus parceiros comerciais podem ganhar corpo nos próximos dias em meio à nova ofensiva americana. "As negociações comerciais devem avançar, já que Trump anunciou planos de enviar cartas aos parceiros comerciais delineando tarifas unilaterais específicas e informando os países sobre o acordo", afirma, em nota a clientes.


Questionado por jornalistas, Trump disse estar aberto a prorrogar o prazo para concluir negociações com parceiros comerciais antes do fim da pausa de 90 dias, em 9 de julho. "Mas não acho que teremos essa necessidade", acrescentou o republicano, que foi vaiado e aplaudido em espetáculo no Kennedy Center.


Faltando menos de um mês para o fim da pausa tarifária, os EUA selaram apenas um acordo com o Reino Unido, no mês passado, e caminham na direção de um tratado com Pequim. Ainda há ao menos 18 parceiros comerciais importantes na fila para negociar com os americanos, incluindo Índia, Coreia do Sul, Japão e União Europeia, calcula o Danske Bank. Um documento de trabalho com detalhes de um possível acordo com o Canadá foi revelado pela imprensa local nesta semana.


O secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou hoje que o acordo comercial com o Reino Unido entrará em vigor nos próximos dias. Em uma postagem no 'X', mencionou novas cotas comerciais para automóveis britânicos e carne bovina e etanol americanos.


Ainda do outro lado do Atlântico, a consultora de risco político Eurasia considera "provável" que Trump consiga selar um acordo com a União Europeia até o fim da pausa tarifária, em 9 de julho. Tais chances são de 55%, calcula. A consultoria vê ainda probabilidade de 35% de uma "escalada contida" que resulte em tarifas adicionais dos EUA "contra-ataque contido" do bloco europeu. "Um acordo com a UE provavelmente levará mais tempo para ser finalizado do que acordos com outros parceiros comerciais, tornando uma trégua fundamental para a estabilização das relações bilaterais", diz o time de analistas da Eurasia.


O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, espera mais acordos com parceiros comerciais "muito rapidamente" na esteira do acordo preliminar com a China. Segundo ele, o governo americano trabalha para reduzir as incertezas, mas não está disposto a perder a oportunidade de eliminar o déficit que os EUA mantêm no comércio exterior. "Estamos agindo o mais rapidamente que conseguimos para obter os melhores acordos que conseguirmos", afirmou Bessent, durante sessão no Senado americano.


Por sua vez, a China indicou hoje que está determinada a cumprir o acordo comercial firmado com os EUA esta semana. Os detalhes do acordo ainda não foram divulgados. Os principais pontos negociados foram a flexibilização temporária das restrições às terras raras por parte de Pequim em troca de os americanos aliviarem restrições em exportações de produtos químicos e tecnológicos, incluindo motores de aeronaves.


A Capital Economics atenta que questões comerciais e econômicas mais amplas, que deveriam ser o foco das negociações entre chineses e americanos após a reunião de Genebra, não foram abordadas. E vê pouco avanço entre Pequim e Washington. "Mas isso parece ser suficiente para o presidente Trump. Na sua presidência, enquanto ele estiver satisfeito, tudo estará bem, mesmo que ambos os lados tenham feito pouco progresso", diz o economista-chefe da Capital Economics para a Ásia, Mark Williams. Ainda que Trump tenha celebrado o acordo preliminar com a China, um novo rompimento no relacionamento está a apenas uma publicação no Truth Social de distância, alerta.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


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