segunda-feira, 15 de setembro de 2025

BDM Matinal Riscala

 BDM: Fed começa a cortar juro

 

... Semana quente com as reuniões do Fed e Copom na superquarta começa com dados fracos da China. Nos Estados Unidos, está contratado o primeiro corte de 25pbs, e, aqui, a manutenção da Selic em 15%. Também o BoE, BoJ e o PBoC têm reuniões de política monetária. O Brasil ainda espera retaliações de Trump após a condenação de Bolsonaro, enquanto na Câmara cresce a pressão dos oposicionistas para a anistia. Tarcísio volta hoje a Brasília com a missão de convencer Motta. No Senado, o governo conta com a resistência de Alcolumbre.

 

PRIMEIRO A CHINA - Divulgados no final do domingo, os números da produção industrial (+5,2%) e vendas no varejo (+3,4%) em agosto vieram abaixo do consenso, que projetava alta de 5,8% (5,7% em julho) e 3,8% (3,7% em julho), respectivamente.


A SUPERQUARTA - A não ser que venham novas sanções de Washington que possam afetar a economia brasileira, por exemplo, um recuo nas isenções das tarifas, o mercado seguirá reagindo prioritariamente à queda dos juros americanos.

 

... Já novas aplicações da Lei Magnitsky para os demais ministros do STF, em particular para os juízes da Primeira Turma (Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin) só afetariam no caso de representarem pressões para os bancos brasileiros.

 

... O aumento do diferencial das taxas favorece o fluxo para os ativos domésticos e tem sustentado o entusiasmo do Ibovespa e, em especial, o câmbio, enquanto os juros futuros esvaziaram as chances de um corte antecipado da Selic, que deve ficar para janeiro.

 

... Em Nova York, o mercado espera pelas projeções econômicas do Fed, que serão atualizadas nesta reunião e podem influenciar as expectativas.

 

... No último documento, há 90 dias, os dirigentes esperavam quedas de 25 pbs agora em setembro e em dezembro, mas com a deterioração do mercado de trabalho há grandes chances de os Fed boys projetarem cortes também em outubro.

 

... As estimativas de inflação também serão monitoradas para medir o que o Fed espera como efeitos das tarifas sobre o nível de preços, e delas dependem um grau maior de cautela para as próximas reuniões - o que frustraria a aposta majoritária dos investidores.

 

... Como sempre, o mercado dará atenção máxima à mensagem de Powell, que concede entrevista meia hora após a decisão do Fed.

 

... Em declaração a jornalistas neste domingo, Trump voltou a chamar Powell de “incompetente”, disse que ele está “machucando o mercado imobiliário” e garantiu que o Fed vai decidir “um grande corte” do juro, nesta semana.

 

... O presidente também renovou seu pedido de urgência para o Tribunal de Apelações permitir a demissão da diretora do Fed Lisa Cook.

 

... Hoje, o Senado americano pode confirmar a nomeação de Stephen Miran para a diretoria do Fed.

 

NO BRASIL - Embora a atividade econômica tenha moderado, há pelo menos três fatores que devem justificar a manutenção da Selic em 15% e um discurso ainda conservador: o mercado de trabalho aquecido, a resiliência da inflação de serviços e as expectativas desancoradas.

 

... As revisões para o IPCA na Focus, sobretudo para 2027, são um ponto positivo, mas as estimativas continuam bem acima do teto da meta.

 

... Com o BC mantendo seu discurso conservador e diante de algumas surpresas de alta na inflação corrente - com uma piora marginal também na composição do IPCA - as chances de queda em dezembro podem ser completamente esvaziadas após o Copom.

 

... Segundo pesquisa realizada pelo Valor, 33 das 118 instituições consultadas esperam que o Copom dê início ao seu ciclo de afrouxamento monetário ainda em 2025. Na curva de juros, essa probabilidade era de apenas 14% no fechamento de sexta-feira.

 

... Na melhor hipótese, portanto, o Copom pode retirar do comunicado o trecho onde indica a possibilidade de retomada do ciclo de altas.

 

LULA NO NYT - Em artigo publicado neste domingo no The New York Times, intitulado “A democracia e a soberania brasileira são inegociáveis”, o presidente rebateu acusações de Trump e Marco Rubio, negando que o julgamento de Bolsonaro tenha sido “uma caça às bruxas”.

 

... “Estou orgulhoso do STF por sua decisão histórica, que salvaguarda nossas instituições e o Estado Democrático de Direito.”

 

... Afirmando que o tarifaço de 50% contra o Brasil tem motivação política e “busca a impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro”, Lula dirige-se diretamente a Trump, dizendo que “continua aberto a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos”.

 

... Em um trecho, reconhece a legitimidade das intenções de Trump com suas medidas no comércio exterior, como manter empregos e incentivar a indústria americana, mas repete dados da balança comercial entre os dois países - desequilibrada em favor dos Estados Unidos.

 

... O presidente também defende no artigo a regulação das plataformas digitais, o PIX e medidas para reduzir o desmatamento na Amazônia, objetos de investigação no processo aberto da Seção 301, que visa identificar ações “injustas” contra os Estados Unidos.

 

PRESSÃO PELA ANISTIA - A semana promete ser decisiva para as discussões sobre um projeto de anistia na Câmara.

 

... O governador Tarcísio de Freitas, que assumiu a articulação da proposta, deve voltar hoje a Brasília para dar sequência às negociações. Depois da condenação de Bolsonaro no STF, a oposição deve aumentar a pressão sobre o presidente da Casa, Hugo Motta.

 

... A reunião de líderes partidários, que acontece às terças-feiras pela manhã, deve discutir o tema e tentar definir um calendário.

 

... Bolsonaristas insistem em uma proposta “ampla, geral e irrestrita”, que prevê o perdão aos condenados pelo 8 de janeiro de 2023 e também para o ex-presidente. O PL quer votar a urgência do projeto já amanhã, 16, embora não haja um texto de consenso.

 

... No sábado, em Itu, o presidente do partido de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, disse que a condenação do STF foi “exagerada”, mas deve ser “respeitada”. Na Folha, ele reconheceu que houve um planejamento para golpe de Estado, que não se consumou.

 

... No Senado, o governo do presidente Lula avisou a base aliada que não apoiará nenhuma iniciativa que confronte o entendimento do Supremo Tribunal Federal. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre, trabalha há meses numa proposta alternativa.

 

... Alcolumbre é próximo de Alexandre de Moraes e sua ideia seria apresentar um projeto que reduza a dosimetria das penas.

 

EMENDAS - No site Metrópoles, em ofensiva contra a anistia, o governo pagou R$ 3,2 bilhões em emendas durante o julgamento de Bolsonaro, a maioria (R$ 2,9 bilhões), de caráter individual. É o tipo de rubrica do Legislativo que tende a garantir retorno eleitoral aos seus autores.

 

... O restante corresponde a emendas remanescentes do antigo e do novo orçamento secreto: R$ 142 milhões (4,3%) de bancadas estaduais, além de R$ 80,8 (2,4%) de comissões temáticas e R$ 60,2 milhões (1,85%) do relator do Orçamento.

 

DATAFOLHA - A maioria dos brasileiros é contra o Congresso aprovar uma anistia para livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes.

 

... A ideia é rejeitada por 54%, contra 39% que a defendem - 2% se dizem indiferentes ao assunto e 4% não souberam opinar.

 

... Além disso, 61% são contra qualquer tipo de perdão aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando bolsonaristas depredaram as sedes dos três Poderes. Outros 33% são a favor de anistia aos manifestantes.

 

... No STF, a expectativa é de que seja publicado nesta semana o acórdão do julgamento, que abrirá espaço para os recursos da defesa.

 

A CHAPA DA FARIA LIMA - No Globo, o colunista Lauro Jardim disse que o mercado quer Zema como vice de Tarcísio para 2026.

 

... No Estadão de domingo, “o Centrão se prepara para pular fora do barco bolsonarista, vai apoiar a anistia, mas não vai rasgar as vestes por causa do capitão reformado do Exército, que pode até mesmo perder a patente, a depender do veredito do Superior Tribunal Militar”.

 

CPMI DO INSS - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito quer ouvir hoje o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, que já estava convocado, mas foi preso pela Polícia Federal na última sexta-feira.

 

MAIS AGENDA - Antes do Copom, são importantes hoje a edição da pesquisa Focus (8h25) e o IBC-Br de julho (9h), que deve registrar a terceira queda consecutiva, com recuo de 0,3% em julho (mediana de pesquisa Broadcast), após -0,10% em junho.

 

... O recuo nas vendas do varejo restrito e na produção industrial deve moderar o desempenho do IBC-Br do mês, reforçando a avaliação de perda de dinamismo da atividade doméstica no início do terceiro trimestre, segundo economistas.


... Já no Boletim Focus, o foco segue nas expectativas para IPCA/2027, que podem ser favorecidas pela queda do dólar abaixo de R$ 5,40.

 

... Amanhã, terça-feira, a taxa de desemprego no trimestre encerrado em julho deve recuar para 5,7%, de 5,8% no trimestre encerrado em junho, que é a mínima histórica, impulsionada pelo ritmo da atividade doméstica. As projeções variam de 5,6% a 6%.

 

LÁ FORA - A semana começa com feriado no Japão (Dia do Respeito ao Idoso), balança comercial na Zona do Euro em julho (6h) e o Índice Empire State de Atividade Industrial de setembro, nos Estados Unidos (9h30), com previsão de forte queda em relação a agosto (11,90).

 

... São destaques ainda na agenda dos Estados Unidos as vendas no varejo e a produção industrial, ambas de agosto, nesta terça-feira.

 

... Na quarta-feira, será divulgada a inflação ao consumidor de agosto na Zona do Euro.

 

... A decisão do BoE para o juro no Reino Unido será na quinta-feira. A do BoJ japonês e a do PBoC da China, saem na sexta-feira.

 

TIKTOK - A rede social chinesa tem até esta quarta-feira, 17, para se desfazer de seus ativos nos Estados Unidos e este foi o tema discutido na Espanha em negociações nesse domingo, que “estão indo muito bem”, segundo o presidente americano.

 

...  As conversas entre o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, em Madri também incluíram o impasse comercial entre Washington e Pequim, e foi a isso que Trump se referiu.

 

RÚSSIA VS UE - Ainda sobre questões comerciais, o presidente disse que a Europa continua importando petróleo da Rússia, que ele está pronto a impor “grandes sanções quando todas as nações da Otan PARAREM DE COMPRAR PETRÓLEO DA RÚSSIA”.

 

SE JOGOU - Ganhando tempo, enquanto o governo Trump não anuncia uma retaliação imediata à condenação de Bolsonaro pela trama golpista, o dólar voltou à faixa de R$ 5,35, no nível mais barato em três meses, desde junho.

 

... É verdade que o câmbio pôde contar na sexta-feira com o alívio técnico do leilão de linha de US$ 1 bilhão promovido pelo BC para rolar o vencimento de outubro, em que a oferta integral foi absorvida pelo mercado.

 

... Mas o contexto que justifica o real apreciado é mais amplo. Chegou a hora de o Fed abrir o ciclo de relaxamento monetário e, o melhor, sinalizar cortes em série do juro, na estratégia que torna o carry trade ainda mais vantajoso.

 

... Em paralelo, apesar do dólar menos pressionado e da rodada de melhora das expectativas de inflação, o Copom não parece querer desapegar da taxa Selic de 15% tão cedo, mantendo o diferencial dos juros superatrativo.

 

... A tendência de o BC manter no comunicado desta semana o trecho que aponta horizonte “bastante prolongado” para a Selic a 15% deve esvaziar a especulação de corte antecipado da política monetária, em dezembro.

 

... Como se nota, o cenário está todo endereçado para o investidor desarmar parte das posições compradas no dólar, embora os ruídos fiscais, políticos e eleitorais ainda prometam impor níveis de suporte (piso) à moeda americana.

 

... Empolgada pela perspectiva de afrouxamento monetário mais rápido pelo Fed daqui para frente, a Buysidebrazil reduziu sua projeção para a taxa de câmbio no ano de R$ 5,65 para R$ 5,50. A de 2026 caiu de R$ 5,70 para R$ 5,50.


... A consultoria entende que o enfraquecimento global do dólar tende a ser o fator predominante e prevê o índice DXY furando a linha dos 97,000 pontos, contra os 97,550 pontos da sexta-feira, quando fechou estável (+0,02%).


... O euro também pouco oscilou (-0,02%, a US$ 1,1740), a libra caiu 0,12%, p US$ 1,3565, o iene perdeu terreno, a 147,59 por dólar e, aqui, sem novas sanções de Trump, o dólar à vista fechou em baixa firme de 0,71%, a R$ 5,3541.

 

... Descolada do câmbio, a curva do DI preferiu uma acomodação, perto da estabilidade, enquanto lá fora as taxas dos Treasuries testaram um ajuste em alta, depois da queda recente do juro da Note de 10 anos abaixo dos 4,0%.

 

... O yield do título deste prazo se afastou das mínimas em cinco meses e subiu para 4,061%, contra 4,021% na véspera, e o retorno do papel de 2 anos avançou para 3,557%, de 3,539%. Mas o Fed dovish vem aí para dar teto.

 

... Por aqui, o contrato de DI para Jan/26 marcou 14,900% (de 14,898% no ajuste anterior); Jan/27, 14,025% (de 14,022% na véspera); Jan/29, 13,210% (de 13,206%); Jan/31, 13,430% (de 13,442%); e Jan/33, 13,555% (13,577%).11

 

... Pouco influenciou os negócios o volume de serviços divulgado pelo IBGE em julho. A alta de 0,3% na margem ficou levemente abaixo da mediana das estimativas, de 0,4%. Na base anualizada, a expansão de 2,8% veio em linha.

 

... O indicador reforçou os sinais de desaceleração gradual da atividade econômica no terceiro trimestre. “Introduz um leve viés de baixa para o nosso tracking do PIB no terceiro trimestre”, avaliou o Itaú Unibanco, em nota.

 

... Em comunicado divulgado depois dos dados, o Santander informou que a expectativa é de queda de 0,5% no IBC-Br de julho (hoje), alta de 0,4% no PIB entre julho e setembro e crescimento acumulado de 2% no PIB deste ano.

 

SE PROTEGEU - No day after de seu mais novo recorde histórico, o Ibovespa não comprou o alívio do câmbio e preferiu chamar alguma realização de lucro, caso os Estados Unidos revidassem o Brasil no final de semana.

 

... Mas o volume baixo de negócios na bolsa, de apenas R$ 16,3 bilhões, indicou que o fôlego vendedor foi limitado. No fechamento do pregão, o índice à vista registrava desvalorização de 0,61%, aos 142.271,58 pontos.

 

... Alvos diretos da Lei Magnitsky, os papéis dos bancos não esconderam os receios de a diplomacia americana dar o troco pela condenação de Bolsonaro pelo STF. Como resultado, quase todo o setor financeiro caiu na última sessão.

 

... Itaú recuou 1,50%, a R$ 37,38; Bradesco PN cedeu 1,17%, a R$ 16,83; Bradesco ON caiu 1,10%, a R$ 14,41; e Santander perdeu 1,10%, a R$ 28,66. A exceção foi de BB, que subiu 0,41%, a R$ 22,31. No mês, registra rali de 4,5%.

 

... Entre as blue chips das commodities, a apatia do minério de ferro (-0,06%) se refletiu na Vale (-0,04%, a R$ 57,00).

 

... Já Petrobras operou na contramão do petróleo: ON, -0,88%, a R$ 33,75; e PN, -0,67%, a R$ 31,18.

 

... Lá fora, Trump disse que sua paciência com Putin está se esgotando, renovou ameaças de sanções econômicas e pediu a aliados ocidentais que imponham “tarifas significativas” à China e à Índia pela compra de petróleo russo.

 

... A cobrança pode ficar em até 100%, segundo a Bloomberg, como pressão contra a guerra na Ucrânia. O barril do Brent para novembro chegou a saltar 2% no momento de maior estresse, mas fechou em alta de 0,93%, a US$ 66,99.

 

... Destaques entre as altas no Ibovespa, as ações dos frigoríficos subiram em bloco. Hoje, o Brasil deve receber uma missão sanitária do governo mexicano para renovar e habilitar frigoríficos para a exportação de carne bovina.

 

... A expectativa é que o México autorize 14 novas fábricas a comercializar a proteína, disseram fontes do governo brasileiro ao Broadcast, animando os papéis da JBS (+1,93%), Marfrig (+2,63%), Minerva (+2,47%) e BRF (+1,31%).

 

... Em NY, o Nasdaq não quis saber de interromper seu rali e partiu para nova marca inédita, aos 22.141,10 pontos, em alta de 0,44%. O desfecho garantido de que o Fed vai começar uma bateria de cortes do juro levanta o astral.

 

... Assim, não passou de pura correção a queda do Dow Jones na sexta-feira, de 0,59%, aos 45.834,22 pontos, enquanto o S&P 500 preferiu se manter praticamente estável, em leve queda de 0,05%, aos 6.584,29 pontos.

 

... A confiança do consumidor, elaborada pela Universidade de Michigan, teve queda inesperada, de 58,2 em agosto para 55,4 em setembro, pior nível em quatro meses, e contrariou a expectativa dos analistas de alta para 59,3.


... Embutidas no indicador, as expectativas de inflação em 12 meses se mantiveram em 4,8%, ratificando o início do ciclo de corte de juros pelo Fed, neste momento em que o emprego fraco tem feito a diferença à política monetária.

 

CIAS ABERTAS - PETROBRAS concluiu a aquisição de participação de 27,5% no bloco exploratório 4 em São Tomé e Príncipe; estatal passou a compor o consórcio do bloco em conjunto com a Shell (que detém 30% e opera o ativo)...

 

... Galp e a agência nacional de São Tomé e Príncipe ANP-STP também possuem fatias no bloco, de, respectivamente, 27,5% e 15%...

 

... Petrobras iniciou neste sábado parada programada de manutenção da Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP), com investimentos previstos de R$ 1 bilhão...

 

... Segundo a companhia, a intervenção vai se prolongar até dezembro e contemplará um projeto estratégico para produção de diesel S-10.


MASTER deve apresentar alternativas para o BC esta semana, segundo fontes do Valor, depois de Daniel Vorcaro ter se reunido na semana passada com Galípolo...

 

... Lauro Jardim (O Globo) informou que o dono do Master e o governador do DF, Ibaneis Rocha, ainda não desistiram do negócio com o BRB e contrataram um importante político e advogado para ajudar no lobby.

 

ELETROBRAS informou que foi realizado na última quarta-feira leilão de sobras de ações na B3, em continuidade ao processo de incorporação da Eletropar, aprovado em assembleia geral extraordinária de abril...

 

... O leilão foi realizado com a venda de 16.376 ações ON da Eletrobras, ao preço médio de R$ 45,6024 por ação, já deduzidas as taxas aplicáveis...

 

... O valor obtido com a alienação dessas ações será pago aos antigos acionistas da Eletropar, que possuem direito a um número fracionado de ações de emissão da Eletrobras.

 

CEMIG firmou acordo para pagamento de R$ 1,250 bilhão em indenização relativo a plano de saúde de aposentados e pensionistas titulares, ativos e inscritos.

 

VIVARA. Citi tem recomendação de compra para a ação, com preço-alvo de R$ 34; marca Life é prioridade da companhia em alocação de capital, destacou o banco.

 

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: A semana passada foi bastante boa para as bolsas, com Nova Iorque +1,6% e Europa +1,4% (ESP +3,1%). Materializaram-se os desenvolvimentos mais prováveis e razoáveis: o BCE repetiu em 2,00/2,15% Depósito/Crédito, sem orientar movimentos seguis e reviu em alta o PIB e a inflação; e a inflação americana aumentou até +2,9% desde +2,7%. Sem dano para o mercado entre ambas as referências, este continuou a subir. Mas o recente bom tom das obrigações após algumas semanas complicadas no verão é mais chamativo do que a subida das bolsas: o T-Note já se aproxima muito de 4%, enquanto Itália está prestes a tornar-se a nova França: 3,54% vs. 3,48%. As obrigações reajustam-se internamente na Zona Euro sem dar lugar a tensões sérias. E isso acresce serenidade às bolsas. Na sexta-feira, Fitch baixou o rating a FRA (A+ Estável desde AA- Negativa), mas subiu o de PORT (A Estável desde A- Estável), enquanto o S&P subiu o de ESP (A+ Estável desde A Estável). A deterioração de umas obrigações é contrastada pela melhoria de outras, portanto as bolsas não só não sofrem, ganham serenidade.


Esta semana, a Fed de quarta-feira decide quase tudo, embora também tenhamos BoE, BoJ, BoC e Norges. O mais provável é que a Fed baixe -25 p.b. até 4,00/4,25%, dececionando a minoria que conserva a esperança de -50 p.b. E acreditamos que esse corte será acompanhado de umas estimativas de PIB 2025/27 parecidas às de junho (+1,4%/+1,6%/+1,8%) ou milimetricamente inferiores, de inflação talvez um pouco superiores (desde +3,0%+2,4%/+2,1%) e semelhantes de desemprego (4,5%/4,5%/4,4%). Isso deverá reajustar um pouco em alta as perspetivas de taxas de juros do diagrama de pontos (gráfico onde os conselheiros se posicionam sobre taxas de juros futuras), mas seria um ajuste fino, sem mudanças relevantes. Se estamos mais ou menos certos, a Fed transmitirá um pouco de deceção à ala mais dovish/suave (i.e., otimista sobre descida de taxas de juros) do mercado e resultará numa semana menos generosa em subidas do que a anterior, ou até lateral. Em baixa, é difícil.


Também teremos descidas de taxas de juros do Canadá (-25 p.b., até 2,50%) e talvez da Noruega (-25 p.b., até 4,00%), mas o Reino Unido e o Japão repetirão (4,00% e 0,50%, respetivamente). China publicou, esta madrugada, macro fraca (Preços Habitação -2,5%; Prod. Industrial +5,2%; Vendas a Retalho +3,4%), mas não influencia o mercado. E a única referência relevante de hoje é o Empire Manufacturing (13:30 h; +4,3 vs. +11,9), mas tampouco influenciará grande coisa, considerando que todos esperamos e temos a atenção na Fed de quarta-feira. De segunda a quarta-feira, o mercado deverá permanecer à espera, movendo-se num intervalo estreito, sem fazer nada de especial. E depois, de acordo com o que a Fed diga, mas não é impossível que deixe o mercado um pouco frio. Poderá ser uma semana difícil.


NY +0,8% US tech +0,6% US semis +0,6% UEM +0,5% España +0,7% VIX 14,7% Bund 2,65% T-Note 4,03% Spread 2A-10A USA=+49pb B10A: ESP 3,22% PT 3,06% FRA 3,43% ITA 3,48% Euribor 12m 2,168% (fut.2,127%) USD 1,173 JPY 173,0 Ouro 3.652$ Brent 65,9$ WTI 61,9$ Bitcoin +1,3% (115.651$) Ether +2,9% (4.550$) 


FIM

Deu no NYT

 DEU NO NEW YORK TIMES 


[O BRASIL CONSEGUIU O QUE OS ESTADOS UNIDOS NÃO CONSEGUIRAM]


Em tempos em que democracias vacilam diante de líderes que não aceitam a derrota eleitoral, o Brasil trilhou um caminho que os Estados Unidos não ousaram percorrer: levou à Justiça — e condenou — um ex-presidente, quatro milicos militares e dois milicos civis que conspiraram contra a ordem constitucional. 


No artigo publicado hoje (12/9) pelo New York Times, Filipe Campante e Steven Levitsky (autor de Como as Democracias Morrem) se reúnem para refletir sobre os limites do poder e a coragem das instituições.


Uma leitura indispensável sobre o contraste entre duas nações e o futuro da democracia.


Introdução e tradução: Edward Magro 


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O Brasil conseguiu o que os Estados Unidos não conseguiram


Por Filipe Campante e Steven Levitsky no NYT 


Na quinta-feira (11/9), o Supremo Tribunal Federal do Brasil fez o que o Senado e os tribunais federais dos Estados Unidos tragicamente não fizeram: levou à Justiça um ex-presidente que atacou a democracia.


Em uma decisão histórica, o Supremo decidiu, por 4 votos a 1, condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro por conspiração golpista e tentativa de golpe após sua derrota nas eleições de 2022. Ele foi sentenciado a 27 anos de prisão. A menos que consiga um recurso bem-sucedido — o que é improvável —, Bolsonaro se tornará o primeiro líder golpista da história do Brasil a cumprir pena em regime fechado.


Esses acontecimentos contrastam fortemente com os Estados Unidos, onde o ex-presidente Trump, que também tentou derrubar uma eleição, não foi enviado à prisão, mas sim de volta à Casa Branca. Trump, talvez reconhecendo a força desse contraste, chamou o processo contra Bolsonaro de “caça às bruxas” e descreveu sua condenação como “uma coisa terrível. Muito terrível”.


Mas Trump não se limitou a criticar os esforços do Brasil para defender sua democracia: ele também puniu o país. Citando o processo judicial contra Bolsonaro antes mesmo de a decisão sair, o governo Trump impôs uma tarifa exorbitante de 50% sobre a maioria das exportações brasileiras e aplicou sanções a vários funcionários do governo e juízes do Supremo. O ministro Alexandre de Moraes, que conduziu o caso, foi alvo de sanções especialmente severas com base na Lei Magnitsky Global.


Foi uma medida sem precedentes. O governo mirou um ministro da Suprema Corte de um país democrático com sanções até então reservadas a violadores notórios de direitos humanos, como Abdulaziz al-Hawsawi, implicado no assassinato em 2018 do colaborador do "Washington Post" Jamal Khashoggi, e Chen Quanguo, um dos arquitetos da perseguição do governo chinês à minoria uigur. Após o veredicto contra Bolsonaro, o secretário de Estado Marco Rubio reforçou a política de Trump (e a analogia), declarando que os Estados Unidos “responderiam adequadamente a essa caça às bruxas”.


Em resumo, o governo Trump procurou usar tarifas e sanções para intimidar os brasileiros a enfraquecer seu sistema judicial — e, com ele, sua democracia. Na prática, a administração americana está punindo o Brasil por fazer aquilo que os próprios EUA deveriam ter feito, mas não fizeram: responsabilizar um ex-presidente por tentar derrubar uma eleição.


As democracias contemporâneas enfrentam crescentes desafios de políticos e movimentos antiliberais que chegam ao poder pelo voto e depois subvertem a ordem constitucional. Líderes eleitos como Hugo Chávez na Venezuela, Recep Tayyip Erdogan na Turquia, Viktor Orbán na Hungria, Nayib Bukele em El Salvador e Kais Saied na Tunísia politizaram órgãos do Estado e os usaram para enfraquecer adversários e se consolidar no poder.


Uma lição dos anos 1920 e 1930 — a última vez em que democracias ocidentais enfrentaram ameaças internas desse tipo — é que forças antiliberais raramente jogam limpo nas eleições. Não hesitam em recorrer à demagogia, à desinformação e até à violência para conquistar e manter o poder. Como os liberais europeus aprenderam à época, a passividade diante dessas ameaças pode custar caro. Democracias não se defendem sozinhas: precisam ser defendidas. Mesmo os mecanismos constitucionais mais bem desenhados não passam de papel se não houver líderes dispostos a aplicá-los.


Na última década, Estados Unidos e Brasil enfrentaram ameaças antiliberais. As semelhanças são impressionantes. Ambos elegeram presidentes com instintos autoritários que, após perderem a reeleição, atacaram as instituições democráticas.


Trump violou a regra fundamental da democracia ao se recusar a aceitar a derrota nas eleições de 2020 e tentar anular os resultados em uma campanha que culminou na insurreição de 6 de janeiro de 2021.


Bolsonaro, político de extrema-direita eleito em 2018, inspirou-se fortemente no manual de Trump. Atrás nas pesquisas à medida que se aproximavam as eleições de 2022, Bolsonaro passou a questionar a integridade do processo eleitoral. Atacou repetidamente as autoridades eleitorais e tentou deslegitimar — e até eliminar — o sistema de votação eletrônica brasileiro. Disse que a única forma de perder seria por fraude, insinuando que uma vitória da oposição seria ilegítima.


Após perder por pequena margem para Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro, como era esperado, se recusou a admitir a derrota. Em 8 de janeiro de 2023, milhares de seus apoiadores invadiram o Congresso, o Supremo e o Palácio do Planalto. Embora a revolta tenha lembrado os eventos de 6 de janeiro nos EUA, o ataque de Bolsonaro à democracia foi além do de Trump. Apoiado na tradição de envolvimento militar na política brasileira, Bolsonaro — ex-capitão do Exército — cultivou alianças com setores das Forças Armadas. Sem um partido sólido ou base legislativa, apoiou-se nos militares.


Investigações da Polícia Federal revelaram abundantes evidências de que Bolsonaro e alguns aliados militares conspiraram para derrubar a eleição e impedir a posse de Lula. O complô teria incluído planos para assassinar Lula, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e o ministro Moraes. Felizmente, o alto comando do Exército, pressionado pelo governo Biden, recusou-se a aderir à tentativa de golpe.


Assim, tanto nos EUA quanto no Brasil, presidentes eleitos atacaram instituições democráticas para se manter no poder após perder a reeleição. Ambos fracassaram — a princípio.


É aqui que as histórias passam a divergir. Os americanos fizeram pouco para proteger sua democracia do líder que a havia atacado. Os tão exaltados freios e contrapesos constitucionais do país não conseguiram responsabilizar Trump. A Câmara aprovou seu impeachment em janeiro de 2021, mas o Senado o absolveu, permitindo que ele concorresse de novo. O Departamento de Justiça demorou quase dois anos para abrir processo contra Trump. Ele foi indiciado em agosto de 2023, mas a Suprema Corte, sem pressa, deixou o caso se arrastar. Em julho de 2024, decidiu que presidentes têm imunidade total, inviabilizando o processo. O Partido Republicano nomeou Trump para a reeleição em 2024 e, quando ele venceu, os processos federais foram arquivados.


Essas falhas institucionais tiveram um custo enorme. O segundo governo Trump tem sido abertamente autoritário, usando o Estado como instrumento para punir críticos, ameaçar rivais e intimidar empresas, imprensa, universidades, escritórios de advocacia e organizações da sociedade civil. Tem contornado rotineiramente a lei e, por vezes, desafiado a Constituição. Menos de nove meses após o início do segundo mandato, os EUA já atravessaram a fronteira para o autoritarismo competitivo.


O Brasil seguiu outro caminho. Marcados pela memória da ditadura militar, juízes e líderes do Congresso perceberam cedo a ameaça representada por Bolsonaro. Como disse Moraes a um de nós: “Percebemos que podíamos ser Churchill ou Chamberlain. Eu não queria ser Chamberlain”.


Vendo-se como barreira contra o autoritarismo, os juízes reagiram com firmeza. Quando surgiram evidências de que a campanha de Bolsonaro usara desinformação em massa em 2018, o Supremo abriu o chamado Inquérito das Fake News, reprimindo agressivamente o que considerava desinformação perigosa. Moraes, que assumiu a presidência do TSE em 2022, liderou a ofensiva: suspendeu contas de ativistas pró-Bolsonaro em redes sociais, ordenou a remoção de conteúdos considerados ameaçadores à democracia, mandou revistar casas de empresários suspeitos de financiar golpe e até prendeu um deputado que pregava ditadura e a dissolução do tribunal (foi solto após nove meses). Medidas controversas no Brasil, e certamente destoantes da tradição liberal dos EUA, mas alinhadas a como Alemanha e outras democracias europeias regulam o discurso antidemocrático.


No dia da eleição, o TSE tomou medidas para garantir a lisura do processo: mandou desmontar barreiras ilegais montadas pela polícia rodoviária pró-Bolsonaro e anunciou rapidamente os resultados, sem dar tempo para contestação. Crucialmente, líderes de direita, incluindo governadores e chefes do Congresso, reconheceram de imediato a vitória de Lula.


Depois do 8 de janeiro, que deixou clara a ameaça de Bolsonaro, os tribunais agiram com firmeza para barrar seu retorno ao poder. Em junho de 2023, o TSE cassou seus direitos políticos por oito anos, inviabilizando uma candidatura em 2026. Em fevereiro de 2025, Bolsonaro foi formalmente acusado de conspiração golpista, no processo que resultou em sua condenação nesta quinta-feira.


Embora apoiadores tenham ido às ruas protestar, a maioria dos políticos conservadores aceitou o processo. Alguns criticaram o que chamam de “excessos judiciais”, outros ventilaram propostas de impeachment de ministros ou anistia a Bolsonaro e aos golpistas de 8 de janeiro, mas o Congresso — de maioria conservadora — não levou adiante essas ideias. De fato, muitos parecem satisfeitos em ver Bolsonaro fora de 2026, o que abre espaço para um candidato mais convencional da direita.


Ao contrário dos EUA, as instituições brasileiras agiram com rapidez e eficácia para responsabilizar um ex-presidente. É justamente essa eficácia que colocou o país na mira de Trump. Sem saída no Brasil, Bolsonaro buscou apoio em Washington. Seu filho Eduardo pressionou a Casa Branca durante meses. Trump, que dizia que o caso “se parecia muito com o que fizeram comigo”, foi convencido.


Ao tentar intimidar autoridades brasileiras para livrar Bolsonaro, o governo Trump rompeu quase quatro décadas de política americana para a América Latina. Desde o fim da Guerra Fria, os EUA vinham defendendo a democracia na região — como mostrou o apoio de Biden contra o golpe de Bolsonaro. Agora, em uma guinada que lembra as intervenções antidemocráticas da Guerra Fria, o país tenta subverter uma das democracias mais importantes da região.


Com todas as suas falhas, a democracia brasileira hoje é mais saudável que a americana. Conscientes do passado autoritário do país, juízes e políticos brasileiros não tomaram a democracia como garantida. Já suas contrapartes nos EUA falharam. Em vez de minar os esforços do Brasil, os americanos deveriam aprender com eles.

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Filipe Campante é professor de Economia na Johns Hopkins. Steven Levitsky é professor de Ciência Política em Harvard e autor, com Daniel Ziblatt, de "Tyranny of the Minority" (A Tirania da Minoria) e "How Democracies Die" (Como as Democracias Morrem).


(*) Livre tradução por minha conta e risco


Edward Magro 


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domingo, 14 de setembro de 2025

As falcatruas de um criptoboy

 *AS FALCATRUAS DE UM CRIPTOBOY*


O jovem paulistano que lavou bilhões de reais do crime organizado com moedas virtuais



Allan de Abreu

13 set 2025_08h02


Embora não precisasse, Dante Felipini começou a trabalhar muito cedo, aos 14 anos, como garçom em bufê de festas infantis. Durante a graduação em direito, empregou-se em três locais diferentes como estagiário: em um cartório de notas, uma vara cível e um escritório de advocacia.


Foi nessa época que aprendeu a operar no mercado de ações da Bolsa de Valores de São Paulo. Comprava ações de empresas semifalidas e esperava alguma valorização, como fez com uma companhia do empresário Eike Batista, na qual investiu 1 mil reais e, em oito meses, lucrou 9 mil reais.


Com esse excedente, comprou algumas armas de airsoft de fornecedores do Paraná e do Vale do Paraíba e as revendeu em uma página do Facebook. Também abriu uma empresa, montou um site na internet e trocou a casa dos pais por um flat próximo da Avenida Paulista. Em 2017, porém, as vendas começaram a cair, e o jovem desistiu da empreitada. Comprou um automóvel usado e virou motorista de aplicativo. Com o restante de sua reserva financeira, investiu em bitcoins, moeda virtual que vivia um processo frenético de valorização – no início de 2017, 1 bitcoin valia 995 dólares; doze meses depois, passou a valer 20 mil dólares.


Felipini decidiu apostar tudo nesse novo mercado. Ingressou em um grupo de operadores de criptomoedas no Facebook chamado Bitcoin Brasil e começou a participar de eventos pelo país. Até que foi procurado por um amigo cujo pai havia morrido e deixara grandes dívidas tributárias. Para evitar que o fisco sequestrasse o dinheiro das contas bancárias do falecido, o rapaz pediu a Felipini que investisse 150 mil reais em criptomoedas – aplicação mais difícil de ser rastreada pela Receita Federal –, em troca de uma remuneração. Deu certo: a operação nunca foi descoberta pelo fisco. 


Seu próximo passo na nova carreira foi investir 100 mil reais em criptomoedas para um empresário chinês radicado em São Paulo. Até a década passada, os lojistas do comércio popular paulistano faziam operações dólar-cabo para enviar dinheiro aos fornecedores de mercadorias na China sem pagar tributos. Depois, passaram a adotar criptoativos para movimentar dinheiro entre os países, à margem do câmbio oficial, evitando assim o pagamento de impostos. Satisfeito, o empresário começou a levar mais e mais lojistas chineses para negociar com Felipini.


Dois anos depois, através de sua empresa Makes Exchange, ele passou a fazer operações de câmbio para a compra de criptomoedas nos Estados Unidos. De acordo com a Polícia Federal, em seus quatro primeiros anos de existência, entre 2017 e 2021, a Makes recebeu em suas contas bancárias cerca de 7 bilhões de reais no total. Três bancos – UBS, Topázio e MS Bank (atualmente Braza Bank) – se negaram a fazer essas operações de câmbio. Outros três – Genial, Master e Santander – aceitaram.


Por meio da compra e venda de criptoativos, Felipini também passou a lavar dinheiro para o tráfico internacional de cocaína, sob as vistas grossas dos bancos brasileiros. Relatórios da PF obtidos pela piauí revelam que Felipini lavou dinheiro para narcotraficantes do PCC e membros da máfia calabresa ‘Ndrangheta, além de criminosos albaneses, que embarcavam toneladas de cocaína para a Europa em portos do Nordeste. Em 2022, o bando usou uma das empresas de fachada de Felipini para transformar 26,4 milhões de reais em criptomoedas.


Em 2 de janeiro de 2023, quando já morava em Dubai, o brasileiro foi batizado como membro do Hezbollah. Para alguns amigos, ele enviou um vídeo feito no Vale do Bekaa, no Líbano, em que aprende a atirar com um fuzil AK-47. Era a primeira vez na vida que o jovem paulistano empunhava uma arma de fogo. Felipini pôs todo o seu conhecimento no mercado de criptomoedas a serviço de pessoas ligadas à organização. Entre outubro de 2022 e agosto de 2023, converteu em criptomoedas 847 mil reais a pedido do empresário sírio Mohamad Khir Abdulmajid, dono de uma rede de tabacarias em Belo Horizonte e acusado de recrutar brasileiros para serem treinados pelo Hezbollah.


https://piaui.folha.uol.com.br/as-falcatruas-de-um-criptoboy/

sábado, 13 de setembro de 2025

Leitura de sábado

 *LEITURA DE SÁBADO: CARLOS SLIM TEM MAIOR POSIÇÃO INDIVIDUAL EM BONDS DA BRASKEM IDESA*


15:00 13/09/2025 


Por Cynthia Decloedt e Talita Nascimento  

São Paulo, 09/09/2025 - O empresário mexicano Carlos Slim tem se movimentado e montado posição no mercado secundário de bonds, já se preparando para uma renegociação de dívidas da Braskem Idesa (subsidiária mexicana da Braskem), da qual detém cerca de 25% das ações. Segundo fontes próximas ao assunto, ele já teria uma das maiores fatias desses títulos, o que lhe dá vantagens na negociação e pode levá-lo a aumentar a participação acionária na empresa. Normalmente, a conversão de dívida em ações é uma das estratégias utilizadas em reestruturações de dívida.


A situação da Braskem Idesa, conforme mostrou o Broadcast, se agravou pela dificuldade de gerar caixa após falhas de fornecimento da petroleira estatal mexicana, a Pemex, e do atraso de uma parada de manutenção. A renegociação em curso, que conta com a Lazard Inc., o Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP e o Sainz Abogados para auxiliar a Braskem Idesa em sua avaliação de opções econômico-financeiras, está diante de uma empresa com problemas de liquidez e que precisa de novos prazos para os vencimentos de bonds.


A expectativa de alguns interlocutores é, no entanto, de que as conversas levarão a um corte (haircut) profundo no valor da dívida da companhia. "A situação de liquidez da Idesa é mais crítica do que se imagina e a reestruturação será dura", disse uma das fontes com conhecimento do assunto.


Outra fonte próxima à empresa acrescenta que a Idesa segue adimplente e que, neste momento, renegocia as condições de vencimentos que ainda estão por vir. Para a Braskem, que atualmente tem 75% de participação na Idesa, os impactos são limitados e, eventualmente, positivos. "A visão, inclusive de analistas do setor, é a de que toda essa questão não afeta, ao menos a princípio, o caixa da Braskem", disse a fonte próxima à empresa. Isso porque, além de ainda não haver atrasos, essas dívidas não poderiam ser cobradas da empresa-mãe brasileira. "Uma solução para a Braskem Idesa pode melhorar o valor de mercado da Braskem", acrescentou outra fonte que é interessada no assunto e acompanha de perto os movimentos.


A dívida líquida da Braskem Idesa é de cerca de US$ 2 bilhões, com alavancagem de 10,21 vezes (dívida líquida sobre EBITDA recorrente). Em 2029, se concentram 44% dos vencimentos da empresa, somando US$ 995 milhões. Procurada, a Braskem não comentou até o fechamento desta reportagem.

Leitura de sábado

 *LEITURA DE SÁBADO: GOOGLE CLOUD AVALIA TORNAR BRASIL UM HUB PARA TREINAMENTO DE MODELOS DE IA*


15:00 13/09/2025 

Por Aramis Merki 


São Paulo, 10/09/2025 - As condições de energia limpa e barata no Brasil colocam o país como um possível centro de treinamento dos modelos de inteligência artificial (IA), aponta Thomas Kurian, presidente global do Google Cloud. Segundo ele, a big tech está avaliando a demanda de empresas ao redor do mundo para usarem data centers brasileiros. Nesta quarta-feira, a empresa anunciou que vai instalar na sua infraestrutura sediada em São Paulo os chips TPU Trillium, que têm foco em processamento de IA.


Os serviços de computação em nuvem da big tech são usados por nove dos dez principais laboratórios de inovação do mundo, e essas instituições podem escolher a localização onde os seus dados ficam armazenados. Segundo Kurian, o Google Cloud já discute com alguns clientes para que a localização da nuvem fique no Brasil. 


Além disso, a sexta geração de TPUs - uma tecnologia de processadores criada pelo Google - servirá para clientes brasileiros que queiram rodar suas aplicações de IA localmente. Esta preferência pode existir por motivos de latência (tempo que os dados levam para serem transmitidos) ou mesmo por exigência regulatória.


*Mídias generativas*


Segundo Kurian, o uso da capacidade de processamento do Google para geração de mídias que vão além do texto já se equipara ao do Gemini, a inteligência artificial generativa da empresa. Há um pacote de ferramentas que o Google chama de mídia generativa, com aplicações para criar imagens, vídeos e áudios. No uso corporativo, o executivo aponta como exemplo o Chirp, que cria vozes personalizadas que estão sendo usadas em call centers. "É uma forma de a empresa ter uma voz para a marca."


O que levou o Google a arquitetar os TPUs foi justamente a necessidade de mais capacidade de processamento para o seu assistente de voz. Em 2015, a companhia notou que se 30% dos usuários fizessem suas pesquisas em áudio, todos os processadores ficariam dedicados a isso. O uso dos TPUs no Brasil, portanto, é importante para viabilizar as IAs generativas de mídias.


*Outros lançamentos*


O Google Cloud também anunciou que organizações brasileiras poderão usar a versão do modelo de linguagem Gemini 2.5 mantendo dados em seus próprios data centers. A mudança permitirá que organizações tenham acesso à tecnologia mais recente sem comprometer requisitos de segurança nem desempenho. A Serpro, empresa estatal de tecnologia da informação, já utiliza os serviços do Google e será diretamente beneficiada.


Kurian destaca que o setor privado também tem interesse na forma, por trazer mais confidencialidade. "Existem empresas de saúde que querem isso porque têm registros de indivíduos que são identificáveis. Alguns bancos também estão usando esta configuração", diz. Além da questão de segurança, há ganhos no desempenho, segundo o Google Cloud.

Fernando Schuller

 Fernando Schüler estreia com o pé direito no Estadão. 👏👏👏


Divórcio brasileiro surgiu com clareza no julgamento de Bolsonaro 

Por Fernando Schüler 


“Para alguns, é o triunfo da democracia! Virada de página histórica! Assim mesmo, com pontos de exclamação. Sempre achei graça em um certo triunfalismo. Ele nos faz pensar que vivemos em um mundo sem contradição. O que por vezes é perigoso. Bolsonaro, por óbvio, tem lá seus pecados. Deveria ter reconhecido a derrota, conduzido a transição, passado a faixa. Deveria ter pedido a seus apoiadores que fossem para casa, antes daquele Natal. Dito isso, nenhum país precisa abrir mão da regra do jogo para defender sua democracia. E isso pela razão singela de que a preservação das regras e ritos republicanos faz parte da essência da própria democracia. E que não passa de uma estupidez sugerir que isso possa ser um estorvo, em algum sentido.


É exatamente este o sentido do voto do ministro Fux no julgamento. Ele diz coisas simples: se um partido vai à Justiça Eleitoral contestar o resultado de algumas urnas, como fez o PL, após as eleições, exerce seu direito. E triste do País que converte direitos em crimes, numa estranha alquimia. E o que faz um ex-presidente, sem foro privilegiado, julgado pelo Supremo, e ainda mais em uma de suas Turmas? Leio em alguns editoriais sobre “excessos” no STF, mas que tudo era necessário para condenar Bolsonaro. Será mesmo? Em algum momento, no embalo dos afetos políticos, aceitamos a tese de que os instrumentos de nossa democracia eram lentos e ingênuos demais para dar conta da defesa da própria democracia. E que por isso precisávamos de um pequeno leviatã solto por aí, falando grosso, censurando de ofício e ajustando as regras à base de pontos de exclamação. Tudo para nos devolver uma democracia liberal novinha em folha, sabe-se lá quando. 


De minha parte, vejo nisso não muito mais do que uma reedição de nossa velha tradição de um autoritarismo instrumental. A tentação do “jeito”, do “foro eterno”, das limitações à ampla defesa, da moça do batom dando um golpe de Estado, da censura prévia reiterada, da imunidade parlamentar indo para o espaço e tudo mais. Muita gente enxerga nisso apenas uma mania legalista meio “anglo-saxônica”, como escutei, dias atrás, em um debate. Discordo. A fidelidade à regra é a virtude republicana que se estende pelo tempo. E qualquer um sabe disso quando tem seus próprios direitos feridos. Quando sua empresa precisa de segurança jurídica; quando uma mulher exige direitos iguais; quando um cidadão demanda liberdade de dizer o que pensa, em um tuite ou na tribuna do Congresso.


No fundo, é este o divórcio brasileiro. Ele surgiu com clareza no julgamento de Bolsonaro. Não uma divergência entre esquerda ou direita, mas sobre o sentido da regra em uma democracia republicana. O ministro Fux terminou calado e mesmo hostilizado por um voto “exageradamente apegado à lei”, como escutei de um advogado. Há certa ironia e diria que uma imensa verdade, nessa afirmação. Algo que só o tempo dirá, como de resto sempre acontece, com quem tem a razão.”

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...