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As falcatruas de um criptoboy

 *AS FALCATRUAS DE UM CRIPTOBOY*


O jovem paulistano que lavou bilhões de reais do crime organizado com moedas virtuais



Allan de Abreu

13 set 2025_08h02


Embora não precisasse, Dante Felipini começou a trabalhar muito cedo, aos 14 anos, como garçom em bufê de festas infantis. Durante a graduação em direito, empregou-se em três locais diferentes como estagiário: em um cartório de notas, uma vara cível e um escritório de advocacia.


Foi nessa época que aprendeu a operar no mercado de ações da Bolsa de Valores de São Paulo. Comprava ações de empresas semifalidas e esperava alguma valorização, como fez com uma companhia do empresário Eike Batista, na qual investiu 1 mil reais e, em oito meses, lucrou 9 mil reais.


Com esse excedente, comprou algumas armas de airsoft de fornecedores do Paraná e do Vale do Paraíba e as revendeu em uma página do Facebook. Também abriu uma empresa, montou um site na internet e trocou a casa dos pais por um flat próximo da Avenida Paulista. Em 2017, porém, as vendas começaram a cair, e o jovem desistiu da empreitada. Comprou um automóvel usado e virou motorista de aplicativo. Com o restante de sua reserva financeira, investiu em bitcoins, moeda virtual que vivia um processo frenético de valorização – no início de 2017, 1 bitcoin valia 995 dólares; doze meses depois, passou a valer 20 mil dólares.


Felipini decidiu apostar tudo nesse novo mercado. Ingressou em um grupo de operadores de criptomoedas no Facebook chamado Bitcoin Brasil e começou a participar de eventos pelo país. Até que foi procurado por um amigo cujo pai havia morrido e deixara grandes dívidas tributárias. Para evitar que o fisco sequestrasse o dinheiro das contas bancárias do falecido, o rapaz pediu a Felipini que investisse 150 mil reais em criptomoedas – aplicação mais difícil de ser rastreada pela Receita Federal –, em troca de uma remuneração. Deu certo: a operação nunca foi descoberta pelo fisco. 


Seu próximo passo na nova carreira foi investir 100 mil reais em criptomoedas para um empresário chinês radicado em São Paulo. Até a década passada, os lojistas do comércio popular paulistano faziam operações dólar-cabo para enviar dinheiro aos fornecedores de mercadorias na China sem pagar tributos. Depois, passaram a adotar criptoativos para movimentar dinheiro entre os países, à margem do câmbio oficial, evitando assim o pagamento de impostos. Satisfeito, o empresário começou a levar mais e mais lojistas chineses para negociar com Felipini.


Dois anos depois, através de sua empresa Makes Exchange, ele passou a fazer operações de câmbio para a compra de criptomoedas nos Estados Unidos. De acordo com a Polícia Federal, em seus quatro primeiros anos de existência, entre 2017 e 2021, a Makes recebeu em suas contas bancárias cerca de 7 bilhões de reais no total. Três bancos – UBS, Topázio e MS Bank (atualmente Braza Bank) – se negaram a fazer essas operações de câmbio. Outros três – Genial, Master e Santander – aceitaram.


Por meio da compra e venda de criptoativos, Felipini também passou a lavar dinheiro para o tráfico internacional de cocaína, sob as vistas grossas dos bancos brasileiros. Relatórios da PF obtidos pela piauí revelam que Felipini lavou dinheiro para narcotraficantes do PCC e membros da máfia calabresa ‘Ndrangheta, além de criminosos albaneses, que embarcavam toneladas de cocaína para a Europa em portos do Nordeste. Em 2022, o bando usou uma das empresas de fachada de Felipini para transformar 26,4 milhões de reais em criptomoedas.


Em 2 de janeiro de 2023, quando já morava em Dubai, o brasileiro foi batizado como membro do Hezbollah. Para alguns amigos, ele enviou um vídeo feito no Vale do Bekaa, no Líbano, em que aprende a atirar com um fuzil AK-47. Era a primeira vez na vida que o jovem paulistano empunhava uma arma de fogo. Felipini pôs todo o seu conhecimento no mercado de criptomoedas a serviço de pessoas ligadas à organização. Entre outubro de 2022 e agosto de 2023, converteu em criptomoedas 847 mil reais a pedido do empresário sírio Mohamad Khir Abdulmajid, dono de uma rede de tabacarias em Belo Horizonte e acusado de recrutar brasileiros para serem treinados pelo Hezbollah.


https://piaui.folha.uol.com.br/as-falcatruas-de-um-criptoboy/

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