domingo, 7 de setembro de 2025

Reag se desmanchando

 *Executivos da gestora Reag acertam buyout com controlador*


Mansur sai da estrutura de REAG3 com earnout em cinco anos e empresa busca novo investidor


Um grupo de executivos da Reag Investimentos assinou no sábado um management buyout, num acordo que marca a saída do controlador João Carlos Mansur do negócio, que detinha uma participação de 87% do capital, e visa abrir espaço para buscar um novo sócio. A transação foi de R$ 100 milhões em assunção de dívida, referente a empresas adquiridas nos últimos anos, e inclui um earnout em cinco anos.


Pelo acordo, Mansur terá o direito de receber 5% da receita da companhia pelo período de cinco anos e ainda levar uma fatia de 15% do valor da transação no caso de venda da companhia. O Pipeline apurou que o grupo de executivos já abriu conversas com outras instituições financeiras para vender uma posição acionária.


Com a venda do controle, Mansur, atualmente presidente do conselho de administração, deve deixar seu assento no board.


É um modelo semelhante ao fez a também encrencada Virgo com a Riza. À frente da costura, aliás, está o mesmo assessor financeiro: Marcão Gonçalves, da CVPar. A venda do controle da empresa foi a solução encontrada para contornar a crise reputacional, após a companhia ser investigada pela Operação Carbono da Polícia e Receita Federal, que tinha como alvo instituições financeiras suspeitas de serem usadas para ocultar o patrimônio do crime organizado


Segundo a Reag Investimentos, a operação foi estruturada de modo a alinhar os interesses de longo prazo da empresa e assegurar a continuidade de suas atividades e a preservação de seus clientes e empregados, considerando o atual cenário de incertezas e riscos no curto prazo. Agora, os sócios da REAG3, liderados por Dario Tanure, ainda terão o desafio de comprovar ao mercado que a transação de fato segrega os grupos e que o problema financeiro e reputacional não está na asset e no wealth.


A Reag Investimentos passou a ser listada em bolsa após a compra da GetNinjas, e soma um valor de mercado de R$ 412 milhões na bolsa. A empresa tinha, em julho, R$ 340 bilhões sob gestão.


https://pipelinevalor.globo.com/negocios/noticia/executivos-da-gestora-reag-acertam-buyout-com-controlador.ghtml

Leitura de domingo

 *Leitura de Domingo: Captações no exterior crescem 6% no acumulado ano e devem superar 2024*


Por Cynthia Decloedt e Aline Bronzati


São Paulo e Nova York, 03/09/2025 - Empresas e o Tesouro brasileiro já captaram no mercado de dívida norte-americano, até esta quarta-feira (03), um volume de recursos superior ao mesmo período do ano passado, mesmo diante da guerra tarifária dos EUA e da imposição de sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil, Alexandre de Moraes.


No acumulado do ano, foram levantados US$ 18 bilhões por meio da emissão de títulos de dívida (bonds), contra US$ 17 bilhões no mesmo intervalo de 2024. Nos dois últimos dias que abriram o mês de setembro e marcam o início da segunda principal janela para captações no mercado norte-americano, Tesouro Nacional, Petrobras e Suzano levantaram US$ 3,750 bilhões.


Conforme as indicações de banqueiros que assessoram companhias e governos na oferta desses papéis, esse número deve crescer e tem o potencial de ultrapassar, ainda nesta janela, os US$ 19,5 bilhões captados em todo o ano passado. Entre os próximos potenciais emissores estão o grupo de saúde Rede D'Or, Vamos, BTG Pactual e Embraer, que devem captar o mínimo de US$ 500 milhões. Podem também acessar o mercado Prumo e Aura Minerals, com valores menores, em torno de US$ 300 milhões.


Para todo o ano, se espera que emissores brasileiros captem ao redor de US$ 30 bilhões em 2025. O volume, caso alcançado, deve superar a média dos últimos anos, de cerca de US$ 23 bilhões.


A fila de setembro foi aberta pelo Tesouro ontem (02), que emitiu US$ 1,75 bilhão em bônus no exterior, após atrair demanda de quase US$ 4 bilhões. Para o executivo de um banco internacional, a operação sinaliza que o apetite do investidor estrangeiro por títulos do Brasil não foi afetado pelas tensões nas relações comerciais entre o País e os EUA em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.


A estatal Petrobrás também não encontrou dificuldades em emplacar sua emissão de US$ 2 bilhões em títulos de 5 e 10 anos, com uma demanda perto de US$ 6 bilhões. Já a Suzano emplacou a terceira emissão deste início de setembro, captando US$ 1 bilhão também nesta terça-feira.


Contato: colunabroadcast@estadao.com


Broadcast+

O início da dominância fiscal

 *O início da dominância fiscal*


Nesta semana os agentes financeiros passaram a atribuir 99% de probabilidade a um corte de juros pelo FED na reunião de setembro. O movimento refletiu a divulgação de diversos indicadores apontando para desaceleração econômica nos EUA, desde pesquisas de confiança até dados de emprego, incluindo pedidos de seguro-desemprego, abertura de novas vagas e relatórios do setor privado.


O mercado de trabalho foi novamente o foco. Após as revisões baixistas divulgadas em meses anteriores, a tendência de desaceleração nas contratações ganhou força. Nesta semana, quatro dados reforçaram esse quadro: (i) pedidos de seguro-desemprego acima do esperado; (ii) relatório trimestral confirmando maior número de demissões e menor oferta de vagas, consolidando tendências já vistas em dados de maior frequência; (iii) relatório mensal do setor privado com criação de apenas 54 mil vagas, abaixo das expectativas e do patamar de 80 mil considerado o ponto de equilíbrio; e (iv) queda na abertura total de postos de trabalho, acompanhada de revisão negativa do dado anterior.


As falas recentes de dirigentes do FED têm destacado a maior preocupação com o emprego, e os dados reforçam a expectativa de cortes já nas próximas reuniões, com o mercado precificando entre dois e três cortes até o fim do ano. Apesar disso, a inflação permanece acima da meta, com sinais de pressão vindos do índice de preços ao produtor e dos custos de energia elétrica. Caso essas pressões se mantenham, as empresas terão de escolher entre repassar os custos, alimentando a inflação ao consumidor, ou absorvê-los, sacrificando margens.


Esse contexto sustenta a manutenção de prêmio de risco elevado na parte longa da curva americana, reflexo tanto da percepção de leniência do FED em relação à meta de inflação quanto da deterioração fiscal acelerada. Embora as tarifas implementadas ajudem marginalmente a reduzir o déficit, decisões judiciais contrárias à sua legalidade aumentaram a incerteza. A indicação de que o governo deve recorrer, somada às evidências de desaceleração econômica, trouxe algum alívio recente.


Esse ponto é crucial para os mercados globais: juros longos mais altos nos EUA tendem a pressionar também as curvas de outros países, especialmente aqueles com quadro fiscal frágil. A dinâmica é preocupante porque eleva o custo de financiamento da dívida pública e obriga governos a optar entre encurtar prazos de emissão – aumentando a vulnerabilidade a mudanças nas condições de mercado – ou aceitar custos de dívida persistentemente elevados. Países com déficits nominais, que gastam mais do que arrecadam depois dos juros, ficam particularmente expostos pela necessidade constante de financiamento.


Nesse contexto, destacamos Japão e Reino Unido como casos sensíveis. A taxa de 30 anos japonesa chegou a 3,2%, contra 2,2% no início do ano, enquanto a britânica está em 5,5%, maior nível desde 1998. O alívio na Treasury de 30 anos, que caiu 3,4% na semana para 4,8%, tende a reduzir parte dessa pressão.


Em nossa visão, economias desenvolvidas precisarão de ajustes fiscais relevantes para reduzir o prêmio de risco nas curvas de longo prazo, ou então de uma desaceleração global mais severa. Isso também limita a capacidade de resposta a choques econômicos, dado o menor espaço para políticas fiscais anticíclicas.


Nos mercados, o S&P500 subiu 0,3%, enquanto o Russel 2000, mais sensível à queda nos juros de curto prazo, avançou 1,1%. O Nasdaq ganhou 1,0%, em especial com a alta de 10,4% da Alphabet (Google) após resultados trimestrais robustos, e o Dow Jones caiu 0,3%.


O principal movimento, no entanto, foi na curva de juros: as taxas dos Treasuries de 2 e 10 anos recuaram 3,1% e 3,7%, para 3,5% e 4,1%, respectivamente. Os títulos longos valorizaram 2,3%, e o dólar caiu 0,1% globalmente.


Os mercados globais tiveram desempenho misto: o Nikkei subiu 1,9% e os emergentes 1,2%, enquanto o DAX recuou 1,3%. As bolsas chinesas registraram altas modestas (0,1% nas tradicionais e 0,7% nas de tecnologia). O ouro avançou 4,1%, refletindo preocupações fiscais e com a inflação, enquanto o petróleo caiu 4,1% após sinalização de maior oferta pela OPEP e receios de desaceleração econômica.


*O eterno retorno da velha política*


Localmente, os movimentos do mercado têm sido guiados pelo clima político, tanto interno quanto externo, enquanto os dados ainda sólidos da balança comercial continuam favorecendo a entrada de divisas. A perspectiva de enfraquecimento do atual governo nas próximas eleições vem se confirmando, com partidos de centro anunciando a saída de ministérios e com notícias indicando que o presidente Lula estaria sondando Gilberto Kassab como potencial vice para o próximo ano como forma de recompor a base política.


No cenário externo, o presidente Donald Trump encerrou a semana declarando que o Brasil tem tratado os EUA de forma “muito injusta” no comércio, em referência às tarifas aplicadas pelo país. As declarações foram feitas após o fechamento do mercado e, portanto, ainda não afetaram os preços dos ativos locais. Contudo, os recentes movimentos de aproximação entre China, Rússia e Índia podem levar Trump a adotar novas sanções contra o Brasil, em uma tentativa de forçar um realinhamento de influência em favor dos EUA.


Apesar dessas tensões, o Ibovespa renovou sua máxima histórica, encerrando a semana acima de 142 mil pontos, após alta de 0,9%. O dólar registrou queda de 0,3%, impulsionado pelo saldo positivo da balança comercial, que surpreendeu ao indicar resiliência nas exportações. Além disso, as emissões recentes de dívida externa realizadas pelo Tesouro Nacional, com a consequente internalização dos recursos, também colaboraram para pressionar a moeda americana para baixo.


A curva de juros apresentou movimentos distintos. A taxa dos títulos prefixados com vencimento em 2030 caiu 0,4%, para 13,3%, refletindo o ambiente mais favorável no curto prazo. Já a taxa dos títulos indexados à inflação subiu 1,0%, alcançando IPCA + 7,8%, em linha com a percepção de maior prêmio de risco no horizonte mais longo.


Qualquer necessidade estou à disposição.

Um abraço, Breno - Rubik Capital

Paulo Roberto de Almeida 7/9

 O Estado da Nação, num 7 de setembro


Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Declaração sobre a situação presente no Brasil 


Caros concidadãos, brasileiras e brasileiros,

Tomei esta iniciativa de me dirigir diretamente a vocês por considerar que o Brasil, como país, como Estado e sociedade, vive um dos momentos mais cruciais de toda a sua história republicana, quiçá de toda a sua existência como nação independente e soberana.

Estamos, todos nós, o povo, seus empresários e trabalhadores, os dirigentes do país, sendo atacados de maneira indigna, ilegítima e imoral, pelo chefe de Estado de uma grande nação estrangeira, que sempre foi o principal aliado e grande parceiro do Brasil nos últimos 200 anos, mas que agora se crê o imperador do mundo, capaz de expedir decretos contra quem ele acha que contraria seus interesses pessoais, contra quem não se submete às suas vontades imperiais, inclusive por meio de leis nacionais às quais ele atribui poderes extra territoriais, as quais ele acha que têm alcance universal.

Ao mesmo tempo, a nação atravessa uma de suas controvérsias políticas mais nocivas na vida da República, uma divisão entre correntes e movimentos opostos, às quais a mídia tem dado o nome de polarização, mas que nada mais é senão um enfrentamento suicidário entre dois agrupamentos sectários, que tem paralisado não só a condução normal dos poderes do Estado, da vida parlamentar, mas também a gestão e o encaminhamento dos mais graves desafios que se colocam ao Brasil num momento de profunda crise fiscal, dessa série de ataques externos que ameaçam nossa economia e nossa política externa, um contexto dos mais impactantes para o futuro do país.

Tenho a percepção de que já chegamos à beira de um precipício que pode nos arrastar para ainda mais decadência e sofrimentos para o povo, a partir da qual decidi manifestar minha opinião, depois de um momento reflexivo sobre minhas modestas capacidades de contribuir para a superação dessa grave e dupla crise que enfrenta a nação. O Brasil precisa se unir para enfrentar os insanos ataques externos, que infelizmente têm partido dos próprios representantes políticos que deveriam estar unidos na defesa da nossa economia e do nosso povo, de gente que não hesita em colocar seus interesses pessoais à frente do bem-estar de milhões de brasileiros cujo emprego e renda são ameaçados por um fora da lei internacional.

Essa divisão odiosa entre os que compactuam com os ataques estrangeiros, e que até os estimulam, acintosamente contra a própria pátria, e aqueles que, equivocadamente, buscam uma aliança com outros poderes que tampouco são condizentes com valores e princípios de nossa diplomacia tradicional, faz com que o Brasil se perca num redemoinho de contradições.

Não tenho, infelizmente, quaisquer habilidades políticas para me envolver nessas querelas divisionistas que infelicitam a nação, muito menos as a de entrar na arena política com o objetivo de encarnar os mais altos interesses do país e do Estado, não os objetivos mesquinhos pelos quais se digladiam vergonhosamente as duas tribos de “irmãos inimigos”, as duas correntes opostas que assaltaram a vida política da nação nas últimas duas décadas, e que podem levar a sociedade inteira a uma nova crise, talvez similar àquelas que levaram a vida política do Brasil aos extremos do Estado Novo, em 1937, às sucessivas ameaças de interrupção do mandato do grande estadista que foi Juscelino Kubitschek, enfim à descida aos extremos que resultou no golpe de Estado de 1964, que infelicitou a nação durante mais de duas décadas. 

Cabe, sim, a alguns dos representantes políticos que se acreditam estadistas fazer um chamamento à união daqueles comprometidos com a preservação da democracia no Brasil, com a defesa dos nossos interesses nacionais em face das insidiosas ameaças e ações ilegais no plano do Direito Internacional, contra o prejudicial divisionismo político que impede a gestão normal dos assuntos políticos. O Brasil precisa dar um basta a essas divisões internas, precisa se unir contra os ataques externos, precisa dar um sonoro não aos que apoiam essas ações ilegítimas, ilegais e imorais que nos vêm do exterior a partir do próprio país, precisa sair, de uma vez por todas, do facciosismo das tribos políticas inimigas, precisa encontrar a paz interior para melhor defender os interesses de toda a nação na esfera internacional.

Este é o apelo que faço hoje, neste 7 de setembro de 2025, aos que se julgam estadistas dentre os representantes eleitos, no sentido de que se coordene um chamamento à nação com o objetivo de que possamos nos unir numa causa que é bem maior do que os interesses partidários da esquerda e da direita, uma proclamação para que tomemos um outro caminho, que não o da bifurcação entre os extremos, o do congraçamento num projeto de reconstrução da país, em suas diferentes vertentes, o da política, o da economia, o da vida social, o da educação, o de uma política externa verdadeiramente autônoma em face dos conflitos entre as grandes potências, nos quais não devemos nos imiscuir e não podemos tomar partido. Está na hora de tomarmos um outro rumo, rejeitando totalmente essa polarização estéril para marcharmos juntos num projeto que possa nos orgulhar como nos tempos de Juscelino, desenvolvimento com democracia, crescimento com divisão dos benefícios sociais, soberania com inserção internacional.

Este é o sentido desta minha mensagem, convidando personagens políticos não comprometidos com nenhuma das facções que continuam a dividir o país, mas que empreendam um projeto com o objetivo de refletir conjuntamente sobre os meios e modos de superar a atual divisão sectária e retomar a nossa boa tradição política: o respeito ao povo trabalhador, a justa repartição dos frutos de um desenvolvimento autônomo, o respeito internacional por meio de uma diplomacia alheia a essa Segunda Guerra Fria que, levada aos extremos, pode ameaçar o futuro da própria humanidade.

Está na hora de se oferecer à nação um novo projeto de desenvolvimento nacional, acima das atuais divisões políticas e capaz de encontrar uma solução à crise econômica que inevitavelmente se avizinha. Todos estão convidados a participar da elaboração de ideias que possam contribuir para a reconstrução de nossa pátria. Este momento é decisivo na vida da nação. Cidadãos conscientes: vamos assumir nós mesmos essa grande tarefa. 

Esta é a minha mensagem neste 7 de setembro de 2025. Obrigado pela atenção.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5050, 7 de setembro de 2025, 3 p.

Leitura de sábado

 *Leitura de Sábado:com moratória da soja, varejo europeu ameaça avaliar tradings individualmente*


Por Gabriel Azevedo


São Paulo, 05/09/2025 - Grandes redes varejistas e empresas alimentícias da Europa enviaram uma carta aos presidentes globais das maiores tradings de soja ameaçando avaliar individualmente cada empresa caso a Moratória da Soja seja suspensa no Brasil. O documento, obtido com exclusividade pelo Broadcast Agro, é assinado por gigantes como Tesco, Sainsbury's, Marks & Spencer, ASDA, Lidl, Aldi e Co-op, e representa a mais contundente pressão internacional desde que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspendeu práticas coletivas do acordo em 18 de agosto.


"Na ausência de um mecanismo setorial como a Moratória da Soja da Amazônia, avaliaremos o desempenho de cada empresa individualmente segundo nossas próprias políticas de compras", diz a carta enviada nesta sexta-feira (5) aos CEOs Juan Luciano (ADM), Greg Heckman (Bunge), Brian Sikes (Cargill), Michael Gelchie (Louis Dreyfus) e Wei Dong (Cofco International).


O documento, com cópia para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, e o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, faz duas exigências específicas às tradings. Primeira: "reafirmar publicamente a data de corte de 2008 para a Amazônia em todas as compras de soja - diretas e indiretas - no bioma amazônico, consistente com seus próprios compromissos, políticas e obrigações legais individuais". Segunda: manter a conformidade através de "medida de conformidade interina em base de empresa individual até que uma solução de longo prazo seja garantida".


A carta surge em momento de múltiplas frentes de batalha jurídica sobre o acordo. O Cade abriu processo administrativo contra 30 empresas e duas entidades setoriais por suspeita de cartel, suspendendo auditorias conjuntas e troca de informações do Grupo de Trabalho da Soja (GTS). A decisão foi revertida por liminar da 20ª Vara Federal do Distrito Federal em 26 de agosto, mas o órgão antitruste recorrerá. Paralelamente, o Supremo Tribunal Federal (STF) julga quatro ações contra leis estaduais que retiram incentivos fiscais de signatários da moratória. O julgamento da lei de Mato Grosso foi suspenso por pedido de vista do ministro Edson Fachin, com placar parcial de 3 a 1 pela constitucionalidade.


"Estamos escrevendo a vocês em momento crítico para o futuro da Moratória da Soja da Amazônia - uma iniciativa que suas empresas defenderam, protegendo a Amazônia por quase duas décadas e corretamente aclamada como uma das medidas de conservação mais significativas deste século", afirma a carta.


Os varejistas dizem que "proteger a Amazônia permanece parte crucial de nossos esforços coletivos para atingir nossas metas climáticas e manter a credibilidade internacional do Brasil como pilar responsável na agricultura global".


Os signatários reconhecem a liminar obtida pela Abiove, mas alertam que "ação é necessária para remover qualquer incerteza de mercado neste período sobre as proteções deste ecossistema vital". O documento cita que "o próprio Cade confirmou que empresas podem continuar aplicando a data de corte de 2008 independentemente e em linha com a legislação nacional".


Sobre a decisão de agosto do Cade, os varejistas afirmam: "O anúncio de agosto pela autoridade de concorrência do Brasil de suspender a Moratória da Soja da Amazônia representa séria ameaça a este acordo vital. Acolhemos seus esforços para recorrer da decisão e defender sua legalidade."


A pressão ocorre dois meses antes da COP30, em Belém (PA), e três meses antes da entrada em vigor da Regulamentação Europeia de Produtos Livres de Desmatamento (EUDR). As empresas afirmam que suas políticas individuais "tipicamente refletem os benchmarks independentes amplamente reconhecidos para fornecimento responsável de soja, que incluem a data de corte de 2008 na Amazônia".


A carta inclui ressalva jurídica explícita: "Para evitar dúvidas, esta carta não constitui acordo entre concorrentes: espera-se que cada destinatário determine sua própria abordagem independentemente, e cada signatário avaliará o desempenho do fornecedor individualmente e em linha com suas próprias políticas de compras."


Além das já citadas, assinam o documento: Waitrose, Morrisons, Ocado, 2 Sisters Food Group, Avara Foods, The Compleat Food Group, Cranswick, Dunbia, Kepak, National Pig Association (NPA), Dew Valley, Greencore, Park Cakes, Princes Group, Samworth Brothers, Sofina e Troy Foods. Juntas, essas empresas representam parte substancial do mercado consumidor europeu de produtos derivados de soja, especialmente na alimentação animal para produção de carnes, ovos e laticínios.


A moratória, criada em 2006, proíbe a compra de soja de áreas da Amazônia desmatadas após julho de 2008. No ciclo 2022/23, o monitoramento identificou 7,3 milhões de hectares de soja no bioma, dos quais 250 mil hectares estavam em desacordo. As tradings coordenam o pacto através da Abiove e Anec, que defendem o acordo como essencial para acesso ao mercado europeu. Produtores representados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e federações estaduais consideram o mecanismo uma "dupla penalização" além do Código Florestal.


Contato: gabriel.azevedo@estadao.com


Broadcast+

Tesouro americano

 *Tesouro americano resiste a sanções contra bancos brasileiros*


_Tese do aumento da pressão contra o Brasil vem do Departamento de Estado, e decisão final é de Trump_


O Departamento do Tesouro americano está resistindo à aplicação de sanção ou multa contra o Banco do Brasil e outras instituições brasileiras.


As medidas têm sido defendidas pelo Departamento de Estado, composto por funcionários idelogicamente comprometidos contra o regime chavista venezuelano e, por extensão, sensíveis aos apelos do deputado Eduardo Bolsonaro contra o governo brasileiro.


A decisão final cabe ao presidente Donald Trump. O deputado tem procurado fazer chegar a Trump a mensagem de que é preciso aumentar a pressão sobre o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e em favor da anistia de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.


Para isso, esteve nos últimos dias em Washington com Kimberly Guilfoyle, mulher de Donald Trump Jr.; Jason Miller, ex-assessor do presidente que atua como lobista; e Sebastian Gorka, comentarista da mídia conservadora e assessor do presidente americano para o Contraterrorismo no mandato anterior.


Mas o lugar no qual Eduardo Bolsonaro tem mais entrada é o Departamento de Estado. Ele esteve com Darren Beattie, subsecretário interino para Diplomacia Pública e Assuntos Públicos, e também ex-assessor de Trump; e Ricardo Pitta, conselheiro-sênior do secretário Marco Rubio.


Pitta nasceu na Venezuela, de onde migrou para os Estados Unidos em 2007, aos 14 anos, cultiva grande hostilidade ao chavismo e exerce muita influência sobre a embaixada americana em Brasília.


O Tesouro iniciou os preparativos para adotar medidas contra bancos brasileiros, enviando cartas para o BB e grandes instituições privadas com escritórios nos Estados Unidos, para verificar se estão cumprindo as determinações da Lei Magnitsky, de não ter relacionamento com Moraes.


Os bancos estão preparando suas respostas, que esbarram em um obstáculo: a lei brasileira proíbe a quebra do sigilo bancário.


A Lei Magnitsky cita “apoio material” como motivo suficiente para a sanção. O termo é propositalmente vago, para que a lei funcione como uma válvula, apertada ou afrouxada de acordo com as circunstâncias políticas.


Os tecnocratas do Tesouro, e o próprio secretário Scott Bessent, resistem no entanto a punir grandes bancos, a começar pelo BB, por três razões:


O impacto sobre o mercado de ações e o sistema financeiro americanos.


O risco de ações judiciais contra o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac), do Tesouro, encarregado de aplicar a Lei Magnitsky, desenhada para ser empregada contra violadores dos direitos humanos.


O incentivo que o uso indiscriminado dessa ferramenta de pressão pode representar para os outros países substituírem o dólar por outras moedas, apesar de todas as dificuldades que essa troca implica.



A lei prevê multas para empresas americanas e sanções para estrangeiras. O inverso — sanções contra empresas americanas e multas contra estrangeiras — precisaria passar pelo escrutínio da Justiça americana.


Bancos grandes como o BB têm subsidiárias nos EUA, que em tese são empresas americanas e poderiam ser multadas. Esses bancos, por terem matriz noutro país, poderiam também ser sujeitos a sanções.


A medida mais contundente seria bloquear o acesso de um banco ao sistema de compensação em dólares e, com ele, a quaisquer transações fora do Brasil. Isso levaria a uma fuga de grandes clientes e ao colapso da instituição.


A Magnitsky prevê ainda sanções secundárias, contra empresas que por sua vez se relacionam com instituições sancionadas. Mas é muito improvável que sejam adotadas, segundo a minha apuração.


Diferentemente de outras leis sobre sanções dos EUA, que estão mais circunscritas aos critérios do Tesouro, a aplicação da Magnitsky sofre bastante interferência dos Departamentos de Estado e de Justiça.


Quando há divergências, como é o caso agora, a última palavra é da Casa Branca. Mais precisamente, neste caso, do presidente Trump, por causa de seu perfil concentrador.


Bessent tem bastante influência sobre Trump. No dia 6 de abril, no fim de semana seguinte ao chamado “Dia da Libertação” (2 de abril), em que Trump anunciou o tarifaço, o secretário voou para Mar-a-Lago, balneário do presidente na Flórida, para explicar que o tarifaço estava reduzindo a confiança do mercado nos títulos do Tesouro, levando ao aumento dos juros de longo prazo.


Trump seguiu o conselho de Bessent e anunciou moratória de 90 dias sobre as “tarifas recíprocas”.


Mas Bessent preza acima de tudo seu cargo. Se vier uma ordem definitiva de Trump, ele cumprirá.


https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/lourival-santanna/internacional/tesouro-americano-resiste-a-sancoes-contra-bancos-brasileiros/#goog_rewarded

Leitura de sábado

 *Leitura de Sábado: liquidação e interdição estão entre 4 saídas para Master após recusa do BC*


Por Célia Froufe e Cícero Cotrim


Brasília, 03/09/2025 - Após a recusa pelo Banco Central da compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) na noite desta quarta-feira, 3, há pelo menos quatro saídas para a instituição de Daniel Vorcaro: intervenção, liquidação, oferta de compra dos ativos por um terceiro ou uma nova configuração da operação pelo BRB. O mercado financeiro estava apreensivo com a possibilidade de o negócio ir para a frente porque via no Master atitudes do que não se poderia fazer à frente do banco e julgava que a punição deveria ser um exemplo. “O Master exagerou”, disse uma fonte à Broadcast.


Tanto a intervenção quanto a liquidação extrajudicial são regimes de resolução à disposição do BC para lidar com problemas graves em instituições financeiras. A primeira destina-se a interromper o funcionamento de uma instituição e retirá-la do Sistema Financeiro Nacional (SFN). A segunda é adotada quando ainda se avalia haver alguma possibilidade de recuperação. Pelo regimento da autarquia, cabe ao diretor de Fiscalização, Ailton Aquino, propor à diretoria colegiada a decretação de qualquer uma dessas alternativas, inclusive no caso Master.


Como mostrou o Estadão/Broadcast, o "risco-CPF" já estava por trás da divisão interna no BC sobre o desfecho da operação entre BRB e Master. Aquino vinha dando sinais favoráveis, enquanto o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, Renato Gomes, vinha se mostrando resistente à aprovação.


A avaliação é a de que a intervenção é vista como uma saída “muito traumática” para os envolvidos. Há, no entanto, quem aposte que, no caso do Master, não há outra solução possível. “Tenta-se evitar uma intervenção ao máximo”, considerou uma fonte do mercado financeiro. O melhor caminho seria optar por uma liquidação organizada. Para isso, seria preciso acionar o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que tem um “caixa” de cerca de R$ 114 bilhões, e usar uma parte desses recursos para sanar a questão. Uma pessoa que acompanha o tema ponderou que, agora que a operação com o BRB foi rejeitada, o ônus fica exclusivamente com o Master.


Como o BC não “costura” operações de fusão e aquisição - apenas avalia se o negócio para em pé -, o Master poderia tentar ainda vender seus ativos para um terceiro interessado. Muitas opções circularam no mercado recentemente como alternativas ao negócio. A quarta opção seria a de o BRB reformular sua proposta, como já antecipou a instituição de Brasília. Segundo interlocutores, o banco pode tanto pedir reconsideração por parte do BC quanto apresentar uma nova proposta para atender aos pontos levantados pela autoridade monetária.


Esta última opção, conforme uma fonte que acompanha o processo, é pouco viável depois que a negativa já foi dada pelo BC. Se a proposta do BRB - que já tinha ficado com o good bank - for ainda mais reduzida além do que já foi até aqui, na prática a instituição estaria adquirindo “uma carteira” e não mais a fatia de um banco. Desde o anúncio da operação, houve uma desconfiança em relação à entrada de um banco regional na aquisição do Master. Uma coisa, comentaram observadores, é procurar abrir um nicho diferente no negócio num momento de ampliação de atuação. Outra é entrar numa operação de um banco praticamente falido e que tem características muito diferentes da de sua atuação - o Master é voltado mais para investimentos e o forte do BRB é o financiamento imobiliário no Centro-Oeste.


De qualquer forma, a cúpula do BC considerou analisar o caso em busca de uma solução possível. A avaliação sobre a recusa do negócio é a de que o BC foi muito correto em não “jogar o pepino para a frente”. Foram muitas as conversas de representantes da autarquia com agentes do setor privado desde o anúncio da operação.


Contato: celia.froufe@estadao.com


Broadcast+

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...