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O início da dominância fiscal

 *O início da dominância fiscal*


Nesta semana os agentes financeiros passaram a atribuir 99% de probabilidade a um corte de juros pelo FED na reunião de setembro. O movimento refletiu a divulgação de diversos indicadores apontando para desaceleração econômica nos EUA, desde pesquisas de confiança até dados de emprego, incluindo pedidos de seguro-desemprego, abertura de novas vagas e relatórios do setor privado.


O mercado de trabalho foi novamente o foco. Após as revisões baixistas divulgadas em meses anteriores, a tendência de desaceleração nas contratações ganhou força. Nesta semana, quatro dados reforçaram esse quadro: (i) pedidos de seguro-desemprego acima do esperado; (ii) relatório trimestral confirmando maior número de demissões e menor oferta de vagas, consolidando tendências já vistas em dados de maior frequência; (iii) relatório mensal do setor privado com criação de apenas 54 mil vagas, abaixo das expectativas e do patamar de 80 mil considerado o ponto de equilíbrio; e (iv) queda na abertura total de postos de trabalho, acompanhada de revisão negativa do dado anterior.


As falas recentes de dirigentes do FED têm destacado a maior preocupação com o emprego, e os dados reforçam a expectativa de cortes já nas próximas reuniões, com o mercado precificando entre dois e três cortes até o fim do ano. Apesar disso, a inflação permanece acima da meta, com sinais de pressão vindos do índice de preços ao produtor e dos custos de energia elétrica. Caso essas pressões se mantenham, as empresas terão de escolher entre repassar os custos, alimentando a inflação ao consumidor, ou absorvê-los, sacrificando margens.


Esse contexto sustenta a manutenção de prêmio de risco elevado na parte longa da curva americana, reflexo tanto da percepção de leniência do FED em relação à meta de inflação quanto da deterioração fiscal acelerada. Embora as tarifas implementadas ajudem marginalmente a reduzir o déficit, decisões judiciais contrárias à sua legalidade aumentaram a incerteza. A indicação de que o governo deve recorrer, somada às evidências de desaceleração econômica, trouxe algum alívio recente.


Esse ponto é crucial para os mercados globais: juros longos mais altos nos EUA tendem a pressionar também as curvas de outros países, especialmente aqueles com quadro fiscal frágil. A dinâmica é preocupante porque eleva o custo de financiamento da dívida pública e obriga governos a optar entre encurtar prazos de emissão – aumentando a vulnerabilidade a mudanças nas condições de mercado – ou aceitar custos de dívida persistentemente elevados. Países com déficits nominais, que gastam mais do que arrecadam depois dos juros, ficam particularmente expostos pela necessidade constante de financiamento.


Nesse contexto, destacamos Japão e Reino Unido como casos sensíveis. A taxa de 30 anos japonesa chegou a 3,2%, contra 2,2% no início do ano, enquanto a britânica está em 5,5%, maior nível desde 1998. O alívio na Treasury de 30 anos, que caiu 3,4% na semana para 4,8%, tende a reduzir parte dessa pressão.


Em nossa visão, economias desenvolvidas precisarão de ajustes fiscais relevantes para reduzir o prêmio de risco nas curvas de longo prazo, ou então de uma desaceleração global mais severa. Isso também limita a capacidade de resposta a choques econômicos, dado o menor espaço para políticas fiscais anticíclicas.


Nos mercados, o S&P500 subiu 0,3%, enquanto o Russel 2000, mais sensível à queda nos juros de curto prazo, avançou 1,1%. O Nasdaq ganhou 1,0%, em especial com a alta de 10,4% da Alphabet (Google) após resultados trimestrais robustos, e o Dow Jones caiu 0,3%.


O principal movimento, no entanto, foi na curva de juros: as taxas dos Treasuries de 2 e 10 anos recuaram 3,1% e 3,7%, para 3,5% e 4,1%, respectivamente. Os títulos longos valorizaram 2,3%, e o dólar caiu 0,1% globalmente.


Os mercados globais tiveram desempenho misto: o Nikkei subiu 1,9% e os emergentes 1,2%, enquanto o DAX recuou 1,3%. As bolsas chinesas registraram altas modestas (0,1% nas tradicionais e 0,7% nas de tecnologia). O ouro avançou 4,1%, refletindo preocupações fiscais e com a inflação, enquanto o petróleo caiu 4,1% após sinalização de maior oferta pela OPEP e receios de desaceleração econômica.


*O eterno retorno da velha política*


Localmente, os movimentos do mercado têm sido guiados pelo clima político, tanto interno quanto externo, enquanto os dados ainda sólidos da balança comercial continuam favorecendo a entrada de divisas. A perspectiva de enfraquecimento do atual governo nas próximas eleições vem se confirmando, com partidos de centro anunciando a saída de ministérios e com notícias indicando que o presidente Lula estaria sondando Gilberto Kassab como potencial vice para o próximo ano como forma de recompor a base política.


No cenário externo, o presidente Donald Trump encerrou a semana declarando que o Brasil tem tratado os EUA de forma “muito injusta” no comércio, em referência às tarifas aplicadas pelo país. As declarações foram feitas após o fechamento do mercado e, portanto, ainda não afetaram os preços dos ativos locais. Contudo, os recentes movimentos de aproximação entre China, Rússia e Índia podem levar Trump a adotar novas sanções contra o Brasil, em uma tentativa de forçar um realinhamento de influência em favor dos EUA.


Apesar dessas tensões, o Ibovespa renovou sua máxima histórica, encerrando a semana acima de 142 mil pontos, após alta de 0,9%. O dólar registrou queda de 0,3%, impulsionado pelo saldo positivo da balança comercial, que surpreendeu ao indicar resiliência nas exportações. Além disso, as emissões recentes de dívida externa realizadas pelo Tesouro Nacional, com a consequente internalização dos recursos, também colaboraram para pressionar a moeda americana para baixo.


A curva de juros apresentou movimentos distintos. A taxa dos títulos prefixados com vencimento em 2030 caiu 0,4%, para 13,3%, refletindo o ambiente mais favorável no curto prazo. Já a taxa dos títulos indexados à inflação subiu 1,0%, alcançando IPCA + 7,8%, em linha com a percepção de maior prêmio de risco no horizonte mais longo.


Qualquer necessidade estou à disposição.

Um abraço, Breno - Rubik Capital

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