domingo, 15 de junho de 2025

Leitura de sábado 4

 leitura de Sábado:Trump promete agir por cartas e escala guerra comercial após trégua com China


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 12/06/2025 - O renovado tom de desescalada da guerra comercial capitaneada por Washington durou menos do que Wall Street poderia prever. Em aparição inédita nas estreias musicais de Nova York desde que tomou posse, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu impor novas tarifas unilaterais a parceiros comerciais nos próximos dias por meio de cartas, encerrando o breve tom de trégua após o acordo com a China.


"Em um determinado momento vamos simplesmente enviar cartas. E acho que vocês entendem isso, dizendo que este é o acordo, é pegar ou largar", afirmou o republicano, a repórteres, ao comparecer à estreia do musical Les Misérables no Kennedy Center, em Nova York, nesta quarta-feira.


Segundo o chefe da Casa Branca, isso pode ocorrer nas próximas uma ou duas semanas, antes do prazo de 9 de julho para reintroduzir as chamadas tarifas recíprocas, anunciadas no início de abril. A fala de Trump ocorre enquanto investidores globais começavam a se posicionar em torno de sinais de melhora na relação entre os EUA e a China.


O analista do BMO Capital, Ian Lyngen, diz que não está claro se a nova tacada de Trump é só mais uma de seu manual de negociações. Mas, de toda forma, o foco do mercado está no fim da pausa das tarifas recíprocas no início de julho, conforme ele. "Isso não é negociação. É escalada. E força o capital institucional a reprecificar o risco geopolítico em todos os níveis", diz o CEO do Devere Group, Nigel Green. Na visão do especialista, a janela de otimismo que se abriu a partir do acordo dos EUA com a China se fechou. E as implicações vão muito além do comércio, avalia. A nova mudança de tom por parte de Trump reintroduz a imprevisibilidade na política econômica americana em um momento em que a confiança global estava apenas começando a se estabilizar, alerta.


O alemão Danske Bank diz que as negociações entre os EUA e seus parceiros comerciais podem ganhar corpo nos próximos dias em meio à nova ofensiva americana. "As negociações comerciais devem avançar, já que Trump anunciou planos de enviar cartas aos parceiros comerciais delineando tarifas unilaterais específicas e informando os países sobre o acordo", afirma, em nota a clientes.


Questionado por jornalistas, Trump disse estar aberto a prorrogar o prazo para concluir negociações com parceiros comerciais antes do fim da pausa de 90 dias, em 9 de julho. "Mas não acho que teremos essa necessidade", acrescentou o republicano, que foi vaiado e aplaudido em espetáculo no Kennedy Center.


Faltando menos de um mês para o fim da pausa tarifária, os EUA selaram apenas um acordo com o Reino Unido, no mês passado, e caminham na direção de um tratado com Pequim. Ainda há ao menos 18 parceiros comerciais importantes na fila para negociar com os americanos, incluindo Índia, Coreia do Sul, Japão e União Europeia, calcula o Danske Bank. Um documento de trabalho com detalhes de um possível acordo com o Canadá foi revelado pela imprensa local nesta semana.


O secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou hoje que o acordo comercial com o Reino Unido entrará em vigor nos próximos dias. Em uma postagem no 'X', mencionou novas cotas comerciais para automóveis britânicos e carne bovina e etanol americanos.


Ainda do outro lado do Atlântico, a consultora de risco político Eurasia considera "provável" que Trump consiga selar um acordo com a União Europeia até o fim da pausa tarifária, em 9 de julho. Tais chances são de 55%, calcula. A consultoria vê ainda probabilidade de 35% de uma "escalada contida" que resulte em tarifas adicionais dos EUA "contra-ataque contido" do bloco europeu. "Um acordo com a UE provavelmente levará mais tempo para ser finalizado do que acordos com outros parceiros comerciais, tornando uma trégua fundamental para a estabilização das relações bilaterais", diz o time de analistas da Eurasia.


O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, espera mais acordos com parceiros comerciais "muito rapidamente" na esteira do acordo preliminar com a China. Segundo ele, o governo americano trabalha para reduzir as incertezas, mas não está disposto a perder a oportunidade de eliminar o déficit que os EUA mantêm no comércio exterior. "Estamos agindo o mais rapidamente que conseguimos para obter os melhores acordos que conseguirmos", afirmou Bessent, durante sessão no Senado americano.


Por sua vez, a China indicou hoje que está determinada a cumprir o acordo comercial firmado com os EUA esta semana. Os detalhes do acordo ainda não foram divulgados. Os principais pontos negociados foram a flexibilização temporária das restrições às terras raras por parte de Pequim em troca de os americanos aliviarem restrições em exportações de produtos químicos e tecnológicos, incluindo motores de aeronaves.


A Capital Economics atenta que questões comerciais e econômicas mais amplas, que deveriam ser o foco das negociações entre chineses e americanos após a reunião de Genebra, não foram abordadas. E vê pouco avanço entre Pequim e Washington. "Mas isso parece ser suficiente para o presidente Trump. Na sua presidência, enquanto ele estiver satisfeito, tudo estará bem, mesmo que ambos os lados tenham feito pouco progresso", diz o economista-chefe da Capital Economics para a Ásia, Mark Williams. Ainda que Trump tenha celebrado o acordo preliminar com a China, um novo rompimento no relacionamento está a apenas uma publicação no Truth Social de distância, alerta.


Contato: aline.bronzati@estadao.com


Broadcast+

Leitura de sábado 3

 Leitura de Sábado: estreia da JBS na Nyse é marco para internacionalização e plano de expansão


Por Leandro Silveira


São Paulo, 13/06/2025 - A JBS dá um passo decisivo em sua estratégia de internacionalização nesta sexta-feira, quando suas ações começam a ser negociadas na Bolsa de Nova York (Nyse), após anos de preparação e superação de obstáculos. A dupla listagem, que mantém a negociação de BDRs na B3, representa não apenas uma mudança de estrutura societária, mas uma aposta da companhia em atrair investidores globais e reduzir a distância que avalia ter em relação a concorrentes internacionais, como a Tyson Foods.


O mercado já precificava a listagem nos Estados Unidos, mas agora o foco se volta para os próximos passos, segundo disse ao Broadcast Agro o analista de Agro, Alimentos e Bebidas da XP Investimentos Leonardo Alencar. “A listagem só termina de fato em dezembro de 2026, quando teremos clareza sobre o free float e a liquidez. Até lá, o preço da ação ainda reflete mais o fluxo desse processo do que os fundamentos da empresa”, afirmou.


Os fundamentos, porém, são um dos principais trunfos da JBS na conquista do mercado global. Com diversificação geográfica e de proteínas, a companhia reduziu a volatilidade de seus resultados - um ponto-chave para investidores. “A JBS é uma commodity com recorrência. Em 2024, teve desempenho excelente, e 2025 segue positivo, mesmo com margens potencialmente menores”, destacou Alencar.


O desafio agora é convencer o mercado americano de que merece múltiplos mais altos. Enquanto a JBS opera hoje a cerca de 4,5 vezes EV (valor de mercado)/Ebitda, a Tyson Foods negocia a 6x e a Hormel, focada em processados, a 12x. A expectativa da empresa é que, ao se aproximar dos investidores internacionais, ocorra uma reavaliação gradual do seu valor de mercado. Projeções do Bradesco BBI apontam para um potencial de valorização de 50% a 149% caso a JBS se aproxime dos múltiplos de suas pares globais.


Do lado da JBS, o discurso é de otimismo. “A listagem aumentará nossa visibilidade internacional e fortalecerá nossa posição como líder global”, afirmou o CEO, Gilberto Tomazoni, em teleconferência com analistas e investidores. O CFO, Guilherme Cavalcanti, destacou que a base de acionistas estrangeiros já saltou de 65% para 80%, e que o spread da dívida caiu em antecipação à mudança. O acionista controlador e conselheiro da JBS, Wesley Batista, foi além: “O múltiplo lá [nos EUA] é infinitamente superior. É transformacional estar no maior centro financeiro do mundo”, comentou à CNN Money.


Com a listagem consolidada, a JBS mira agora a inclusão no S&P 500 - o que exigirá ajustes como aumento do free float (fração de ações de uma empresa que estão disponíveis para negociação livre no mercado de ações). A empresa espera entrar no índice Russell em junho de 2026 e no S&P 500 em um momento posterior. A possibilidade de a JBS se tornar a primeira empresa brasileira a integrar o S&P 500 é tratada como um marco. "Nós vamos perseguir isso", afirmou Batista. "Nós acreditamos que vamos estar lá e vamos celebrar muito."


A empresa também sinaliza que a maior liquidez pode abrir portas para aquisições. “Crescer faz parte do nosso DNA”, disse Batista, citando alimentos industrializados (como pizzas e margarinas) como eventual foco de expansão da atuação da JBS. "Estando listados na Nyse acessando um volume de recursos detido pelos maiores fundos de investimento dos Estados Unidos, logicamente isso vai abrir condições para a JBS", acrescentou.


Se já pensa nos próximos passos após a dupla listagem, a JBS completou caminho até a Nyse que não foi livre de controvérsias. A empresa enfrentou resistência de grupos ambientalistas, como o Greenpeace, e críticas de políticos americanos. A senadora democrata Elizabeth Warren questionou doações de US$ 5 milhões da subsidiária Pilgrim’s Pride a comitês ligados a Donald Trump, sugerindo possível influência na aprovação da listagem pela SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos. Consultorias de governança como ISS e Glass Lewis também recomendaram que acionistas votassem contra a reestruturação, embora o fundo Mason Capital tenha defendido a operação como “oportunidade multibilionária”.


Alencar lembra que o processo foi longo e marcado por incertezas. “A expectativa da empresa já existia há muito tempo, mas faltava o aval da SEC. Havia ainda a dúvida sobre a posição do BNDES, que no passado foi contra, mas acabou se abstendo na votação decisiva", explicou o analista da XP.


Enquanto o mercado acompanha os primeiros pregões em Nova York, o desafio da JBS será equilibrar as promessas de valorização com a necessidade de provar que sua diversificação e governança estão à altura dos padrões globais. Como resume Alencar: "Ainda estamos no começo. O verdadeiro teste virá quando a poeira da listagem baixar, e os investidores passarem a olhar apenas para os fundamentos".


Contato: leandro.silveira@estadao.com


Broadcast+

Leitura de sábado 2

 Leitura de Sábado:Exportação da China ao Brasil é recorde, guerra tarifária é só um dos motivos


Por Daniel Tozzi Mendes


São Paulo, 11/6/2025 - As exportações da China ao Brasil atingiram US$ 29,5 bilhões no período de janeiro a maio, um recorde na série histórica iniciada em 1997, crescendo mais rápido que a de outros parceiros comerciais do País no mesmo período. No entanto, a expansão está relacionada a mais fatores do que à guerra tarifária lançada pelos Estados Unidos, segundo especialistas ouvidos pelo Broadcast.


Nos cinco primeiros meses de 2025, as importações brasileiras cresceram 9,22% em relação a igual período do ano passado, para US$ 112,5 bilhões, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A compra de produtos da China, porém, foi a que mais cresceu, com alta de 26,5%. As importações vindas de outros parceiros comerciais, como Estados Unidos (9,9%) e União Europeia (4%) cresceram bem menos, enquanto as de produtos do Mercosul caíram 1,8% no mesmo intervalo.


O crescimento nas importações da China, à primeira vista, corrobora a expectativa de que o país asiático teria de inundar outros mercados com seus produtos para compensar a queda no volume exportado aos Estados Unidos, com quem trava uma guerra tarifária desde fevereiro.


Especialistas, porém, apontam que o efeito do redirecionamento da produção da China ainda vai ganhar força no decorrer do ano, e que por enquanto a expansão reflete fatores como a atividade econômica interna aquecida. Além disso, também houve a compra de uma plataforma de petróleo vinda da China no mês de fevereiro, que custou cerca de US$ 2,7 bilhões e ajudou a inflar o número das transações comerciais entre os dois países no período.


  


O economista da corretora CM Capital Matheus Pizzani, que acompanha os dados da balança comercial brasileira mensalmente, observa que no início do ano o crescimento das importações chinesas no Brasil foi impulsionado pelos chamados bens de capital - maquinários e equipamentos usados pelas empresas para produzir outros bens e serviços. Os bens finais, como automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, só começaram uma tendência de aumento a partir de abril.


Esse movimento, segundo ele, pode refletir "em alguma medida" o efeito da guerra tarifária e o atrito entre China e Estados Unidos. Pizzani reforça que a continuidade do crescimento das importações dos bens finais dependerá do cenário da economia doméstica. "São bens que, no limite, não são essenciais. A demanda por eles depende diretamente no nível da atividade e da confiança das pessoas em adquiri-los", reforça.


  


Além da economia doméstica aquecida, a economista da Tendências Consultoria, Gabriela Faria, lembra que o crescimento das importações no ano até aqui foi beneficiado pelo bom momento do setor agropecuário, que demanda itens como adubos e fertilizantes. "A safra de soja foi muito boa e com boa remuneração aos produtores. Eles conseguiram se preparar para fazer novos investimentos", diz ela.


O presidente da Associação da Câmara de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, destaca que a queda no preço de commodities nos últimos meses diminuiu o custo de muitos dos bens produzidos pela China, o que favoreceu a produção e, consequentemente, a exportação para o Brasil. "Era um cenário anterior ao tarifaço dos Estados Unidos. As medidas do Donald Trump vieram apenas consolidar uma tendência que já era imaginada", pontua.


Castro observa ainda que a China tem focado em produtos de alto valor agregado, o que ajuda a turbinar os valores envolvidos nas importações feitas pelo Brasil. "Invariavelmente, mais produtos que eles venderiam para os americanos vão chegar aqui. É claro que o Brasil não tem como substituir os Estados Unidos, afinal de contas nosso mercado é bem menor, mas devemos ficar com alguma coisa", avalia ele.


O presidente da Associação Brasileira de Importadores (Abimp), Michel Platini, considera que parte dos produtos chineses que agora chegam ao Brasil só entrou no País por causa do fechamento do mercado americano em meio à escalada tarifária.


Ele explica que os custos estavam em baixa na China no início do ano, o que incrementou a produção, ao mesmo tempo em que os EUA anunciaram tarifas acima de 100% ao país asiático. "O investimento nessa produção já havia sido feito, mas um mercado importante [os EUA] foi praticamente fechado, houve essa necessidade de redirecionamento", diz ele.


O cenário, acrescenta Platini, "deu fôlego" a um movimento já bastante consolidado dos consumidores brasileiros, de comprar itens do segmento têxtil, utensílios domésticos e de bazar vindos da China a partir de plataformas como Mercado Livre, Amazon e Temu. Ele acrescenta que o aumento da entrada desses itens por aqui só não foi mais forte por conta da greve de servidores da Receita Federal em terminais alfandegários, que perdura desde novembro do ano passado.




Contato: daniel.mendes@estadao.com


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Mercado em resposta

 Leitura de Sábado: Resgate em ativos de risco desacelera, mas não por apetite de investidores


Por Bruna Camargo


São Paulo, 13/06/2025 - O resgate de investimentos em ações e multimercados está desacelerando, mas o movimento ainda não é resultado de um forte retorno do apetite a risco dos investidores. Embora a recuperação da Bolsa brasileira neste primeiro semestre ofereça algum ânimo, a cautela ainda predomina e impede grandes apostas para além do conforto da renda fixa. Por outro lado, o momento traz oportunidades, tanto para o investidor que quer voltar a inserir risco nas carteiras quanto para o assessor que pode reforçar relacionamentos e o educacional sobre a importância da diversificação.


Dados divulgados pela Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que os fundos multimercados tiveram resgate líquido de R$ 16,2 bilhões em maio, valor inferior ao registrado em abril, de R$ 20,8 bilhões. Os fundos de ações também tiveram saídas líquidas em maio, de R$ 3,4 bilhões, menos que os R$ 7,7 bilhões em abril.


A avaliação de especialistas é que o principal motivo da desaceleração nos resgates de fundos é a diminuição dos estoques, não a volta do apetite a risco. “Como tivemos uma melhora no cenário de curto prazo, com a Bolsa ‘andando’ e o real com alguma valorização, o ímpeto de tirar dinheiro de posições de risco diminuiu e, como o estoque está baixo, ele incomoda menos nas carteiras”, observa Rodrigo Marcatti, economista e presidente executivo (CEO) da Veedha Investimentos.


“Temos duas formas de olhar os dados [da Anbima]. Quando olhamos o montante que tínhamos nos fundos de ações e nos multimercados há um ano, há 24 meses, vimos boa parte do estoque migrando para outras aplicações. Ficaram no estoque os investidores mais perenes, então o movimento de saída tende a ficar menor ao longo do tempo. De forma complementar, tem a dinâmica do histórico recente dessas classes ser um pouquinho melhor também. Então, a combinação dessas duas frentes acaba gerando esse efeito, com uma dinâmica marginalmente mais positiva”, avalia Pedro Vendramini, CEO da One Wealth. No entanto, na gestora de patrimônio, a alocação em risco segue em níveis historicamente baixos.


O apetite ainda não voltou, mas já voltou às conversas, segundo Marcatti, da Veedha. “A renda fixa ainda gera um prêmio que é difícil de abrir mão, com um carrego na casa de 14% ou 15%. Por que trocar isso por um ativo de mais incerteza em um cenário completamente nebuloso, sem saber se os juros de fato chegaram no teto, começo da discussão para as eleições do ano que vem, e vaivém de tributação? Analistas têm mil motivos para alocar em Bolsa neste momento, mas ao olhar os prêmios de risco, fica difícil tomar a decisão de mudança”, afirma o economista.


Na KAT Investimentos, o movimento é de maior estabilidade, uma vez que a valorização de quase 14% do Ibovespa neste ano ajuda a trazer o investidor brasileiro “de volta ao jogo”, segundo Carlos Gonçalves, líder de produtos da assessoria. “Muito do movimento de alta foi devido ao fluxo estrangeiro, com a rotação [de carteiras] que está acontecendo no mundo, com uma melhora do ambiente para trabalhar a classe de ativos”, diz Gonçalves, acrescentando ver com bons olhos risco em mercados emergentes e Europa neste momento.


Chance de aproximação


Em cenários como o atual, um dos pontos positivos para os assessores de investimentos é a chance de reforçar o vínculo com seus clientes. “Quando há um horizonte de mais diversificação e apetite a risco tem mais oportunidade de falar de cenário e construir raciocínio com o cliente do que quando só se está vendendo taxa de produto. Quando o cenário obriga a diversificar mais, o investidor separa ‘o joio do trigo’, pois verá se a conversa do profissional tem fundamento”, afirma Marcatti, da Veedha. “O educacional é o nosso dia a dia, e temos que trazer o cliente de volta para conversas mais maduras”, concorda Gonçalves, da KAT.


Como levar o risco de volta aos portfólios?


O dinheiro “novo” de clientes com perfil para tomada de risco tem para onde ir. Marcatti, da Veedha, considera um asset allocation completo, olhando para oportunidades em renda variável - via ações diretas ou fundos - e fundos de investimento imobiliário (FIIs). Mas a dificuldade ainda paira sobre a alocação em multimercados, que historicamente já representou de 20% a 30% de uma carteira moderada ou arrojada, hoje encolheu para um ou dois fundos, no máximo, de nomes “consagrados” que o cliente tope investir. “O investidor ‘médio’ vai procurar se expor a um pouco mais de risco de forma mais conservadora. Ele não vai ‘de peito aberto’”, observa Vendramini, da One Wealth.


Gonçalves, da KAT, prefere a exposição a risco via fundos de fundos (FoFs, na sigla em inglês), uma vez que dá acesso a produtos “de ótima gestão e que muitas vezes estão fechados na indústria”, diz. “É preciso um olhar para o futuro. O Brasil não consegue seguir com os juros nesse patamar, então entendemos que quem já se posicionar agora, fazer o ‘dever de casa’ e se beneficiar do ‘carrego’”, afirma.


Contato: bruna.camargo@estadao.com


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Ataques de Israel

 https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/06/14/produo-de-gs-suspensa-em-parte-do-campo-de-south-pars-no-ir-aps-ataque-israelense.ghtml


*Produção de gás é suspensa em parte do campo de South Pars, no Irã, após ataque israelense*


_Campo é uma das duas principais instalações de produção de hidrocarbonetos do país_


Por da Reuters e Parisa Hafezi e Enas Alashray — Londres


A produção de gás foi suspensa em parte do campo South Pars, no Irã, após um ataque israelense ao local neste sábado, informou a agência de notícias semioficial Tasnim. "Devido a um incêndio em uma das quatro unidades da Fase 14 de South Pars, a produção de 12 milhões de metros cúbicos de gás da plataforma da Fase 14 foi temporariamente interrompida até que esta seção da refinaria volte a operar", disse a Tasnim.


O ataque resultou em um incêndio que, segundo o ministério do petróleo iraniano, foi posteriormente controlado. O campo South Pars, localizado na província de Bushehr, no sul do Irã, é uma das duas principais instalações de produção de hidrocarbonetos do país.


Na sexta-feira, Israel lançou uma ofensiva aérea abrangente contra o Irã, matando comandantes e cientistas, além de bombardear instalações nucleares e infraestrutura energética, em uma tentativa declarada de impedir o desenvolvimento de uma arma atômica.

Resumo Semanal

 *O átimo de inflexão do dólar*


A semana terminou bastante agitada nos mercados globais após os ataques israelenses a instalações iranianas, o que ofuscou os dados econômicos divulgados. Foram publicados indicadores de inflação nos Estados Unidos levemente abaixo do esperado, especialmente no núcleo do índice de preços ao consumidor, acompanhados de uma surpresa negativa nos pedidos de seguro-desemprego. Adicionalmente, o resultado orçamentário do governo americano apresentou déficit superior ao previsto.


O conjunto recente de dados tem apontado para uma desaceleração marginal da economia americana, ainda que com uma inflação persistentemente acima da meta e com maior resistência para convergir aos níveis desejados pelo Federal Reserve. Nesse contexto, Donald Trump tem mantido um tom crítico ao presidente do FED, Jerome Powell, por não ter retomado o ciclo de cortes de juros, mesmo com sinais de perda de tração na atividade. Esse debate ganha ainda mais importância ao considerarmos o atual déficit nominal dos EUA, de 7,3% do PIB — sendo 3,6% de déficit primário (diferença entre receitas e despesas do governo) e 3,7% referentes aos juros da dívida. Dessa forma, a manutenção da política monetária restritiva torna-se especialmente sensível diante da necessidade de refinanciamento de cerca de US$ 10 trilhões nos próximos 12 meses.


Nesse ambiente, o ataque de Israel ao Irã pode gerar desdobramentos de segunda ordem bastante relevantes, sobretudo por se tratar da principal região exportadora de petróleo do mundo. Vale destacar que, nas últimas semanas, os EUA davam sinais de avanço nas negociações com o Irã para retirada de algumas sanções, o que permitiria ao país ampliar suas exportações da commodity. Com isso, a expectativa de aumento de oferta vinha pressionando os preços do petróleo para baixo.


Após os ataques, no entanto, os contratos da commodity encerraram a semana com alta de 10,7%. Caso o conflito se prolongue ou afete a infraestrutura logística da região, há potencial para um repique inflacionário global, o que poderia comprometer a capacidade do FED de retomar cortes de juros no curto prazo.


Esse cenário levou à retirada de risco por parte de investidores globais, resultando em quedas de 0,4% no S&P 500 e de 1,4% no Russell 2000, além de retrações no Dow Jones (-1,3%) e no Nasdaq (-0,6%).


As taxas de juros americanas recuaram ao longo de toda a curva, influenciadas tanto pelos sinais de desaceleração da atividade quanto pela busca por ativos mais seguros. Os yields dos títulos de 2 e 10 anos fecharam a semana cotados a 3,9% e 4,4%, respectivamente, após recuarem 2,2%. Esse movimento impulsionou a valorização dos títulos públicos de longo prazo, que subiram 1,2%.


O aumento da percepção de risco também elevou a demanda por ativos tradicionais de proteção, como o ouro, que avançou 3,6%. Caso o conflito no Oriente Médio se intensifique, será possível avaliar se o dólar perderá sua função histórica de porto seguro — hipótese levantada por alguns agentes do mercado, dada a deterioração institucional dos EUA e o elevado nível de endividamento público. Nesta semana, a moeda americana recuou 1,1%, apesar da recuperação parcial após os ataques.


A retirada de risco foi generalizada e afetou a maioria dos ativos globais. O índice DAX caiu 3,2%, e o Nikkei recuou 0,2%. Já os mercados emergentes apresentaram leve alta de 0,4%, sustentados pelo avanço nos preços do petróleo, mesmo com quedas nas bolsas chinesas: -0,7% na de tecnologia e -0,3% na tradicional.


Não realizamos grandes alterações na alocação global dos fundos. Mantemos uma postura conservadora em relação à bolsa americana, com viés vendido, e seguimos alocados em títulos prefixados, aproveitando o cenário de desaceleração econômica. Adicionalmente, apesar de vermos um quadro estrutural desafiador para o dólar, entendemos que a conjuntura atual permite a manutenção de uma posição tática comprada, como já destacado anteriormente.


*Entre moinhos e tributos*


Os ativos locais se beneficiaram da alta do petróleo e do resultado de inflação abaixo das expectativas, superando os efeitos negativos da proposta de aumento de impostos via Medida Provisória enviada pelo governo. O principal destaque entre os dados econômicos recentes foi o desempenho da inflação, que surpreendeu amplamente os agentes financeiros com um resultado significativamente abaixo do esperado. Esse dado reforça a visão de desaceleração econômica e aumenta a incerteza quanto à necessidade de nova alta da taxa Selic na próxima reunião do Copom.


No início da semana, o governo enviou ao Congresso a Medida Provisória com as alternativas ao aumento do IOF. A proposta, no entanto, enfrentou forte resistência, especialmente após as críticas públicas do deputado Hugo Motta, mesmo após reuniões divulgadas no final de semana anterior. Isso evidencia uma crescente deterioração da articulação política do governo, que tem encontrado dificuldades para obter apoio legislativo para novas medidas arrecadatórias, diante de um Congresso reticente à criação de novos impostos e que pressiona por cortes de gastos do Executivo.


Nesse contexto, o Ibovespa subiu 0,8% na semana, desempenho que foi exclusivamente sustentado pela valorização de 9,8% das ações da Petrobras, impulsionadas pela alta do petróleo. Excluindo esse efeito, o índice teria registrado queda de 0,7%. O recuo nos demais setores refletiu tanto o impacto da proposta de aumento da tributação — sobretudo sobre os Juros sobre Capital Próprio (JCP) — quanto a retirada de risco por parte dos investidores globais. Ainda assim, o dólar acompanhou a tendência internacional e recuou 0,3%.


As taxas dos títulos públicos com vencimento em 2030 apresentaram comportamento atípico. A taxa do título prefixado caiu 1,5%, encerrando a semana em 13,6%, beneficiada pelo alívio nos juros globais e pelo resultado benigno da inflação. Em contrapartida, a taxa do título indexado à inflação subiu 0,3%, para IPCA + 7,5%, refletindo abertura da taxa de juro real, mesmo diante da perspectiva de menor inflação.


Mantemos posicionamento conservador nos ativos locais, especialmente na bolsa, por acreditarmos que a sensibilidade a uma possível desaceleração global pode comprometer o atual patamar de preços. Adicionalmente, a aproximação do calendário eleitoral, em um ambiente de queda de popularidade do governo, pode levar à intensificação do uso de políticas fiscais expansionistas. Ainda assim, avaliamos que o ciclo de alta de juros esteja em sua fase final, o que motiva o aumento do nosso posicionamento em títulos prefixados e indexados à inflação — movimento que implementamos ao longo desta semana.


Qualquer necessidade estou à disposição.

Um abraço, Breno - Rubik Capital

Bancos e a IA

 ESTADÃO: INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS SE ABREM À INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


19:03 14/06/2025 

Por Matheus Piovesana


São Paulo, 14/06/2025 - A inteligência artificial (IA) já começa a entrar de forma mais efetiva nas operações dos bancos brasileiros. Ainda são operações não tão significativas, mas poucos têm dúvida de como isso deve avançar nos próximos anos.

No evento Febraban Tech, realizado em São Paulo na semana passada, o diretor da Caixa Pedro Pedrosa disse, por exemplo, que o banco tem adotado a lA generativa (que usa uma base de dados já existente para criar algo novo) para uma série de processos.Ao mesmo tempo, afirmou que é preciso ter cuidado e encarar os projetos como experimentação, para evitar perdas ou erros.Um dos casos de uso, segundo ele, é o da novação de dívidas (a transformação de uma dívida em outra, com extinção da antiga) contidas no Fundo de Compensação por Variações Salariais (FCVS), um legado do antigo Banco Nacional da Habitação absorvido pela Caixa. Com o auxílio de lA, nos testes iniciais, os analistas responsáveis por avaliar os processos aumentaram de um para até 20 o número de processos avaliados ao dia.Por outro lado, segundo Pedrosa, com a forte demanda do mercado por soluções de lA generativa, é preciso ser cuidadoso com a adoção das ferramentas. "Primeiro, como esse termo está muito no hype, tem uma corrida para usar, e eu acho que a gente precisa encarar como uma experimentação antes de ganhar escala. Temos tomado um pouco de cuidado e tentado tocar na experimentação", disse Pedrosa. Mas ressaltou que já está muito claro que a lA generativa fará parte das estratégias de negócio das empresas, incluindo as não financeiras.

MODELOS DE IA. A vice-presidente de Negócios Digitais e Tecnologia do Banco do Brasil, Marisa Reghini, por sua vez, afirmou que o banco está integrando dois modelos de inteligência artificial generativa aos canais internos para ganhar eficiência no atendimento aos clientes e também aos funcionários.

Duas soluções fazem parte deste esforço: uma que tira dúvidas dos funcionários sobre normativos do Banco Central durante atendimentos aos clientes, e outra que tira dúvidas sobre transações. "No próximo passo, estamos integrando essas duas soluções com os canais internos do banco", disse a executiva.


O CIO e diretor das áreas de Inovação e Sistemas do Bradesco, Edilson Reis, disse que as ferramentas de lA generativa têm conseguido resolver dúvidas e demandas dos clientes em um grau alto, o que reduz a demanda pelo atendimento humano:"Temos 3 milhões de clientes digitais que têm o chat com a BIA (a assistente virtual do Bradesco, um chatbot de lA generativa). Temos um grau de resolutividade da ordem de 85% a 90%. Para todo atendimento que esse cliente faz no chat pessoa física, apenas de 10% a 15% derivam para um atendimento humano."A BIA, criada em 2016, tem ganhado novos papéis dentro do banco. Além do atendimento aos clientes, foram criadas frentes destinadas aos funcionários e às equipes de tecnologia, por exemplo.AGENTES DE IA. Os maiores bancos do País acreditam que os chamados agentes de inteligência artificial, que usam dados de outros sistemas para realizar tarefas e comandos, passarão a ter um uso amplo em breve, talvez no próximo ano. Na visão de executivos de tecnologia das instituições, é possível que haja estruturas para o uso dessa tecnologia ainda em 2025.

"Eu acredito que vamos ter uma infraestrutura adequada para o uso de agentes até o final do ano. Tem protocolos indo nessa direção para ajudar", disse o CIO do Santander

Brasil, Richard da Silva. “Para mim, será a nova transformação digital que vamos viver, porque não é só tecnologia pela tecnologia, vamos ter de revisitar a arquitetura dos nossos sistemas, e os modelos internos do banco", disse Marisa Reghini, do BB. Reis, do Bradesco, afirmou que a evolução de fato tem sido rápida, mas que a tecnologia ainda precisa caminhar. "Para casos específicos a gente já começa fazer, mas eu concordo que a tecnologia ainda não está pronta."

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...