*O átimo de inflexão do dólar*
A semana terminou bastante agitada nos mercados globais após os ataques israelenses a instalações iranianas, o que ofuscou os dados econômicos divulgados. Foram publicados indicadores de inflação nos Estados Unidos levemente abaixo do esperado, especialmente no núcleo do índice de preços ao consumidor, acompanhados de uma surpresa negativa nos pedidos de seguro-desemprego. Adicionalmente, o resultado orçamentário do governo americano apresentou déficit superior ao previsto.
O conjunto recente de dados tem apontado para uma desaceleração marginal da economia americana, ainda que com uma inflação persistentemente acima da meta e com maior resistência para convergir aos níveis desejados pelo Federal Reserve. Nesse contexto, Donald Trump tem mantido um tom crítico ao presidente do FED, Jerome Powell, por não ter retomado o ciclo de cortes de juros, mesmo com sinais de perda de tração na atividade. Esse debate ganha ainda mais importância ao considerarmos o atual déficit nominal dos EUA, de 7,3% do PIB — sendo 3,6% de déficit primário (diferença entre receitas e despesas do governo) e 3,7% referentes aos juros da dívida. Dessa forma, a manutenção da política monetária restritiva torna-se especialmente sensível diante da necessidade de refinanciamento de cerca de US$ 10 trilhões nos próximos 12 meses.
Nesse ambiente, o ataque de Israel ao Irã pode gerar desdobramentos de segunda ordem bastante relevantes, sobretudo por se tratar da principal região exportadora de petróleo do mundo. Vale destacar que, nas últimas semanas, os EUA davam sinais de avanço nas negociações com o Irã para retirada de algumas sanções, o que permitiria ao país ampliar suas exportações da commodity. Com isso, a expectativa de aumento de oferta vinha pressionando os preços do petróleo para baixo.
Após os ataques, no entanto, os contratos da commodity encerraram a semana com alta de 10,7%. Caso o conflito se prolongue ou afete a infraestrutura logística da região, há potencial para um repique inflacionário global, o que poderia comprometer a capacidade do FED de retomar cortes de juros no curto prazo.
Esse cenário levou à retirada de risco por parte de investidores globais, resultando em quedas de 0,4% no S&P 500 e de 1,4% no Russell 2000, além de retrações no Dow Jones (-1,3%) e no Nasdaq (-0,6%).
As taxas de juros americanas recuaram ao longo de toda a curva, influenciadas tanto pelos sinais de desaceleração da atividade quanto pela busca por ativos mais seguros. Os yields dos títulos de 2 e 10 anos fecharam a semana cotados a 3,9% e 4,4%, respectivamente, após recuarem 2,2%. Esse movimento impulsionou a valorização dos títulos públicos de longo prazo, que subiram 1,2%.
O aumento da percepção de risco também elevou a demanda por ativos tradicionais de proteção, como o ouro, que avançou 3,6%. Caso o conflito no Oriente Médio se intensifique, será possível avaliar se o dólar perderá sua função histórica de porto seguro — hipótese levantada por alguns agentes do mercado, dada a deterioração institucional dos EUA e o elevado nível de endividamento público. Nesta semana, a moeda americana recuou 1,1%, apesar da recuperação parcial após os ataques.
A retirada de risco foi generalizada e afetou a maioria dos ativos globais. O índice DAX caiu 3,2%, e o Nikkei recuou 0,2%. Já os mercados emergentes apresentaram leve alta de 0,4%, sustentados pelo avanço nos preços do petróleo, mesmo com quedas nas bolsas chinesas: -0,7% na de tecnologia e -0,3% na tradicional.
Não realizamos grandes alterações na alocação global dos fundos. Mantemos uma postura conservadora em relação à bolsa americana, com viés vendido, e seguimos alocados em títulos prefixados, aproveitando o cenário de desaceleração econômica. Adicionalmente, apesar de vermos um quadro estrutural desafiador para o dólar, entendemos que a conjuntura atual permite a manutenção de uma posição tática comprada, como já destacado anteriormente.
*Entre moinhos e tributos*
Os ativos locais se beneficiaram da alta do petróleo e do resultado de inflação abaixo das expectativas, superando os efeitos negativos da proposta de aumento de impostos via Medida Provisória enviada pelo governo. O principal destaque entre os dados econômicos recentes foi o desempenho da inflação, que surpreendeu amplamente os agentes financeiros com um resultado significativamente abaixo do esperado. Esse dado reforça a visão de desaceleração econômica e aumenta a incerteza quanto à necessidade de nova alta da taxa Selic na próxima reunião do Copom.
No início da semana, o governo enviou ao Congresso a Medida Provisória com as alternativas ao aumento do IOF. A proposta, no entanto, enfrentou forte resistência, especialmente após as críticas públicas do deputado Hugo Motta, mesmo após reuniões divulgadas no final de semana anterior. Isso evidencia uma crescente deterioração da articulação política do governo, que tem encontrado dificuldades para obter apoio legislativo para novas medidas arrecadatórias, diante de um Congresso reticente à criação de novos impostos e que pressiona por cortes de gastos do Executivo.
Nesse contexto, o Ibovespa subiu 0,8% na semana, desempenho que foi exclusivamente sustentado pela valorização de 9,8% das ações da Petrobras, impulsionadas pela alta do petróleo. Excluindo esse efeito, o índice teria registrado queda de 0,7%. O recuo nos demais setores refletiu tanto o impacto da proposta de aumento da tributação — sobretudo sobre os Juros sobre Capital Próprio (JCP) — quanto a retirada de risco por parte dos investidores globais. Ainda assim, o dólar acompanhou a tendência internacional e recuou 0,3%.
As taxas dos títulos públicos com vencimento em 2030 apresentaram comportamento atípico. A taxa do título prefixado caiu 1,5%, encerrando a semana em 13,6%, beneficiada pelo alívio nos juros globais e pelo resultado benigno da inflação. Em contrapartida, a taxa do título indexado à inflação subiu 0,3%, para IPCA + 7,5%, refletindo abertura da taxa de juro real, mesmo diante da perspectiva de menor inflação.
Mantemos posicionamento conservador nos ativos locais, especialmente na bolsa, por acreditarmos que a sensibilidade a uma possível desaceleração global pode comprometer o atual patamar de preços. Adicionalmente, a aproximação do calendário eleitoral, em um ambiente de queda de popularidade do governo, pode levar à intensificação do uso de políticas fiscais expansionistas. Ainda assim, avaliamos que o ciclo de alta de juros esteja em sua fase final, o que motiva o aumento do nosso posicionamento em títulos prefixados e indexados à inflação — movimento que implementamos ao longo desta semana.
Qualquer necessidade estou à disposição.
Um abraço, Breno - Rubik Capital
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