segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Warren Buffet

 Aos 95 anos, Warren Buffett deixa Berkshire Hathaway em ótima forma para seu sucessor


Empresa do megainvestidor reporta resultados robustos do terceiro trimestre, com suas enormes reservas de caixa em níveis recordes


Por Dow Jones — Nova York 


A Berkshire Hathaway divulgou no sábado resultados robustos do terceiro trimestre e suas enormes reservas de caixa atingiram níveis recordes. Isso dará a Greg Abel, o executivo da Berkshire que sucederá Warren Buffett, de 95 anos, como diretor-presidente no final do ano, uma base robusta para iniciar seu mandato como líder do maior conglomerado do mundo, com valor de mercado de US$ 1 trilhão. 


O lucro operacional da Berkshire após impostos subiu 33% no terceiro trimestre em relação ao ano anterior, para US$ 13,5 bilhões, e as reservas de caixa e equivalentes atingiram US$ 381 bilhões no final do trimestre, ante US$ 344 bilhões no trimestre encerrado em 30 de junho. 


Esses números, no entanto, não foram tão impressionantes quanto pareciam. Excluindo as oscilações de lucro relacionadas à variação cambial, os lucros operacionais da Berkshire aumentaram 17% em relação ao ano anterior, para US$ 13,2 bilhões, enquanto os lucros por ação superaram a estimativa consensual em cerca de 7%. Também houve um problema quanto ao momento da compra de mais de US$ 20 bilhões em Treasuries. Ajustando para esse fator, o caixa ficou em torno de US$ 359 bilhões, dando a Abel ampla margem para investimentos e potenciais aquisições. 


“Os resultados em geral foram bons e o setor de seguros teve um desempenho forte” , diz Jim Shanahan, analista da Edward Jones. 


Os investidores podem ficar desapontados com o fato de a Berkshire não ter recomprado nenhuma ação no terceiro trimestre, dando continuidade a uma tendência que vem desde maio de 2024. Aparentemente, Buffett não considera as ações suficientemente baratas para comprar, apesar de uma queda de mais de 10% no preço das ações desde que atingiram o pico pouco antes da assembleia anual em 3 de maio, quando Buffett anunciou que deixaria o cargo de diretor-presidente no final do ano, permanecendo como presidente do conselho. 


A seca de recompras de ações da Berkshire continuou em outubro, com a empresa não recomprando nenhuma ação de 30 de setembro até 20 de outubro, data do relatório com os resultados do terceiro trimestre, segundo estimativas com base nas informações sobre o número de ações no relatório da Berkshire. O total de ações da Berkshire é de cerca de 1,438 milhão de ações Classe A, com as ações classe B convertidas em uma quantidade equivalente de ações classe A. 


Desde a reunião de 3 de maio, as ações ficaram mais de 30 pontos percentuais abaixo do S&P 500, um dos piores períodos durante os 60 anos de mandato de Buffett como diretor-presidente. 


As ações classe A da Berkshire fecharam a sexta-feira a US$ 715.740 e as ações classe B a US$ 477,54, ambas com alta de 5% no ano e cerca de 13 pontos percentuais abaixo do índice S&P 500. As ações da Berkshire agora são negociadas a um múltiplo mais razoável de 1,5 vezes o valor contábil, abaixo dos 1,8 vezes atingidos na alta de maio. 


Os lucros de subscrição de seguros foram expressivos no terceiro trimestre, beneficiando-se das margens excepcionais da seguradora de automóveis Geico e da ausência de grandes furacões nos Estados Unidos durante o período. Os lucros do negócio ferroviário da Berkshire, a BNSF, aumentaram 5% em relação ao ano anterior. 


No lado negativo, a receita de investimentos caiu 13% devido à redução das taxas de juros de curto prazo, e os lucros da Berkshire Hathaway Energy (BHE), a grande empresa de serviços públicos, recuaram 9%. 


A BHE se beneficiou significativamente dos créditos fiscais federais para energia eólica e possui um dos maiores portfólios de energia eólica do país. No entanto, a lei “One Big Beautiful Bill”, aprovada no início deste ano, restringe esses créditos, o que pode afetar negativamente os resultados, afirmou a empresa. 


“Atualmente, estamos avaliando as potenciais implicações da lei nos resultados financeiros e nos investimentos de capital da BHE relacionados a projetos de energia renovável, armazenamento e tecnologia neutra, incluindo o impacto potencial na economia e viabilidade de tais projetos”, disse a Berkshire em seu relatório divulgado no sábado. 


Houve alguma fragilidade nos negócios de consumo da Berkshire; a Pilot, operadora de postos de parada para caminhões, teve um prejuízo inesperado de US$ 17 milhões no terceiro trimestre, contra um lucro de US$ 217 milhões no mesmo período do ano anterior. A Berkshire pagou cerca de US$ 13 bilhões por esse negócio. 


Também houve alguns indícios de que a Berkshire reduziu sua participação nas ações da Apple no terceiro trimestre. A estimativa é de que a Berkshire possa ter vendido cerca de 30 milhões de ações no período, reduzindo sua participação para 250 milhões de ações, que valeriam US$ 67 bilhões. A Berkshire divulgará sua participação na Apple e o restante das participações em seu portfólio de ações de aproximadamente US$ 300 bilhões em meados de novembro. 


Buffett e seus gestores de investimento, Todd Combs e Ted Weschler, continuaram encontrando poucas oportunidades de compra no mercado de ações no terceiro trimestre. As vendas líquidas de ações — ou seja, vendas menos compras — foram de cerca de US$ 6 bilhões no trimestre e US$ 10 bilhões no ano. Houve apenas US$ 6,4 bilhões em compras no último trimestre. 


“É decepcionante que Buffett continue à margem. Ele perdeu a alta do mercado de ações enquanto acumulava dinheiro”, diz Shanahan. A Berkshire, no entanto, concordou em pagar quase US$ 10 bilhões pelo negócio químico da Occidental Petroleum em outubro, em um acordo que parece bastante atraente. 


E com relação às ações da Berkshire? Shanahan está otimista, tendo elevado a recomendação das ações de neutra para compra em setembro e as incluído na lista Focus da Edward Jones. As ações caíram nos últimos seis meses, à medida que o prêmio Buffett se deteriorou — e à medida que os investidores se preocupam com a queda na lucratividade do setor de seguros, bem como na receita de investimentos em 2026. 


Uma questão fundamental será Abel, suas habilidades de liderança e o quão bem ele conseguirá ocupar o lugar de Buffett. Shanahan está otimista. “Há uma boa chance de Abel demonstrar força como operador”, diz Shanahan. “Eu também gosto das características defensivas das ações.” 

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Esta semana pode voltar a ser moderadamente em alta, como a anterior: alguma macro americana benigna, muitos resultados e 4 bancos centrais a repetirem taxas de juros. A escassa macro americana que será publicada (hoje, ISM Industrial; na quarta-feira, Inquérito ADP de Emprego Privado; na sexta-feira, Confiança da Univ. Michigan) poderá ser um pouco melhor do que o esperado. Pensamos que as empresas de semis que publicam (ON Semi, AMD y ARM) não irão dececionar e que os 4 bancos centrais que se reúnem repetirão taxas de juros sem acrescentar ruído nem tensão.


Esta manhã temos diferenças interna na Fed sobre taxas de juros e o petróleo sobe um pouco, porque a OPEP+ aumentará produção mais devagar em 2026.


Bessent (Tesouro EUA) volta ao ataque: afirma que taxas de juros demasiado elevadas poderão ter provocado uma recessão imobiliária que já teria começado. Fed: Waller pronuncia-se a favor de outra descida de taxas de juros em dezembro, mas Logan e Schmid afirmam que o emprego não o necessita, Hammack que a atual política monetária é “apenas” restritiva e Bostic que defendeu baixar taxas de juros, mas com as suas reservas. Uma grande confusão de opiniões. O mais provável é que a Fed não volte a baixar taxas de juros na reunião seguinte de 10 de dezembro.


O petróleo aumenta quase +1%, porque a OPEP+ acordou aumentar produção apenas +137.000b/d a partir de dezembro e deixa em suspenso aumentos seguintes para 1T'26.


O mercado está um pouco inquieto pelos novos máximos. Principalmente em tecnologia. Particularmente em IA. É normal. Convém dizer algo sobre isto. O ceticismo afeta principalmente OpenAI, que não avalia ainda e cuja suposta avaliação para uma futura OPV parece ser revista continuamente em alta (pelo menos de forma não oficial), mas não tanto a empresas avaliadas consolidadas (Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia…) que geram recorrentemente lucros gigantescos (Meta ca.90.000M$, Nvidia ca.110.000M$, Microsoft ca.120.000M$...) e que têm caixa líquida positiva. Esta combinação reduz a probabilidade de cometer erros graves de sobreavaliação visto que, em paralelo, a contínua expansão dos seus lucros (lucros reais hoje, não uma esperança futura como acontecia na bolha da Internet de 2000) reduz os multiplicadores aos quais avaliam (PER, etc) simplesmente a deixar passar o tempo. Portanto, se existir algum excesso no mercado, defendemos que este seria mais de velocidade, mas não devido a erros de avaliação. 


Pode acontecer um reajuste de preços, claro, mas terminaria por se resolver com o passar do tempo… de forma que causaria uma dor passageira, mas não responderia a erros de base que forçassem uma mudança relevante numa estratégia de investimento de médio e longo prazo não especulativa. Pelo menos não na nossa, que gira em torno de Tecnologia de elevada capitalização, Semis, Cibersegurança, Defesa, Infraestrutura e Bancos (ainda um pouco mais de tempo), principalmente. E, enquanto acontece ou não esse hipotético reajuste de preços, impossível de antecipar em relação ao timing, esta semana as bolsas provavelmente avançarão um pouco mais.


NY +0,3% US tech +0,5% US semis +0,2% UEM -0,7% España -0,1% VIX 17,4% Bund 2,63% T-Note 4,08% Spread 2A-10A USA=+50pb B10A: ESP 3,14% PT 2,99% FRA 3,41% ITA 3,38% Euribor 12m 2,196% (fut.2,230%) USD 1,154 JPY 177,9 Ouro 4.017$ Brent 65,2$ WTI 61,4$ Bitcoin -1,9% (107.573$) Ether -3,1% (3.719$)


CONCLUSÃO: Embora insistimos que gostaríamos que o mercado descansasse e desse 2025 por terminado, é improvável que isto se cumpra. Mas é verdade que hesita e que avança mais lentamente a partir de agora. Esperemos que isso aconteça. Os futuros vêm a subir um pouco e as obrigações corrigiram milimetricamente nos últimos dias, o que é são. É provável que o ISM Industrial americano, que sai hoje às 15 h, bata expetativas (49,2 desde 49,1), porque o PMI saiu bom na semana passada, portanto isso poderá apoiar uma sessão um pouco em alta, apesar dos recentes novos máximos. Há um pouco de tensão pelos preços, mas não argumentos sólidos que apoiam uma mudança para pior. 


FIM

BDM Matinal Riscala

 *Bom Dia Mercado*


Segunda Feira, 03 de Novembro de 2.025.


… A Opep+ voltou a aumentar a produção de petróleo em reunião neste domingo, mas congelou a oferta no 1Tri/2026, enquanto a indústria na China perde força em outubro, mas ainda está em expansão. Vários índices PMI medem a atividade global esta semana, inclusive nos Estados Unidos (hoje), onde o shutdown suspende a divulgação do payroll. O fim do horário de verão no hemisfério Norte muda o pregão na B3, que vai até 17h55. Na agenda do Brasil, destaque para o Copom, que deve manter a Selic na quarta, e mais balanços do 3Tri, incluindo Itaú e Petrobras. Também esta semana, o governo espera retomar as negociações sobre o tarifaço, enquanto a COP30, em Belém do Pará, movimenta o noticiário.


PETRÓLEO… – O barril do Brent subia 0,73% (US$ 65,24) na abertura dos negócios eletrônicos, após a Opep+ anunciar neste domingo sua decisão de manter o aumento da produção em dezembro, em 137 mil bpd, mas congelar a oferta no primeiro trimestre de 2026.


… O cartel anunciou em comunicado que não aumentará a produção em janeiro, fevereiro e março do próximo ano.


… Novas sanções ocidentais contra a Rússia trazem mais desafios, uma vez que Moscou deve ter dificuldades para aumentar a produção desde que os Estados Unidos e o Reino Unido impuseram sanções sobre a Rosneft e a Lukoil.


… Os preços de petróleo caíram ao menor patamar em cinco meses em 20 de outubro, para US$ 60 o barril, mas desde então se recuperaram diante das sanções à Rússia e o otimismo com as conversas entre os Estados Unidos e seus parceiros comerciais.


… Para Jorge Leon, economista da empresa de pesquisa Rystad Energy, as “sanções sobre os produtores russos injetaram uma nova dose de incerteza sobre as previsões de oferta, e o grupo sabe que uma superprodução agora pode ter efeitos colaterais no futuro”.


… E CHINA – Ainda no domingo à noite, Pequim anunciou queda do PMI industrial para 50,6 em outubro, abaixo da máxima de seis meses de 51,2 registrada em setembro e da estimativa de consenso do mercado de 50,9. Mas ainda em território de expansão.


… A desaceleração ocorreu em meio ao crescimento mais fraco tanto nos novos pedidos quanto na produção.


… Ainda assim, os novos pedidos, impulsionados por uma demanda interna mais forte e promoções de vendas, registraram o quinto aumento mensal consecutivo. Enquanto isso, as vendas externas caíram no ritmo mais acelerado desde maio, refletindo a incerteza comercial.


… Vários índices PMI industrial e de serviços serão divulgados durante a semana, na Europa e nos Estados Unidos, onde são esperados para hoje as leituras finais do PMI da S&P (11h45) e do ISM (12h), que deve melhorar sobre setembro (49,1), mas ainda abaixo de 50 (49,6).


… Vários índices PMI industrial e de serviços serão divulgados durante a semana, na Europa e nos Estados Unidos, onde são esperados para hoje as leituras finais do PMI da S&P (11h45) e do ISM (12h), que deve melhorar sobre setembro (49,1), mas ainda abaixo de 50 (49,6).


… Mais cedo, saem os índices industriais da S&P Global/HCOB da Alemanha (5h55), Zona do Euro (6h) e do Reino Unido (6h30). O PMI industrial global será divulgado às 13h. À noite, saem os dados do Japão, que manteve os mercados fechados hoje no feriado do Dia da Cultura.


… Além do payroll (sexta), o apagão dos dados do shutdown nos Estados Unidos, que já se estende por mais de um mês, suspende a divulgação do relatório Jolts (amanhã), mas mantém a pesquisa ADP, com empregos no setor privado em outubro (na quarta-feira).


… Vários Fed boys têm falas previstas para esta semana, já hoje com Mary Daly (14h) e Lisa Cook (16h), importantes depois que Powell endureceu a mensagem no último Fomc e ressaltou que o Comitê está dividido sobre os próximos passos da política monetária.


… BC da Austrália (amanhã), BoE do Reino Unido e Banxico do México (quinta-feira) também decidem sobre taxas de juros.


… Na sexta-feira, encerrando a semana, o dia começa com os números da balança comercial da China em outubro e, nos Estados Unidos, sai a preliminar de novembro do sentimento do consumidor de Michigan, com as expectativas inflacionárias.


HORÁRIO DE VERÃO – Estados Unidos e Canadá atrasaram os relógios em uma hora neste domingo, com cidades como Nova York, Washington, Boston, Filadélfia e Miami ficando duas horas atrás do horário de Brasília.


… A Bolsa de Nova York passa a operar das 11h30 às 18h (de Brasília).


… No viva-voz da Nymex, os contratos futuros de petróleo passam a ser negociados entre 11h e 16h30 (de Brasília) e, na Comex, os contratos futuros de cobre passam a ser negociados das 10h10 às 15h e os de ouro das 10h20 às 15h30 (de Brasília).


… Na CBOE, o período regular de negociação dos contratos do índice de volatilidade VIX passa a ser das 11h30 às 18h15 (de Brasília).


… A B3 vai ampliar o horário de funcionamento para acompanhar o fim do horário de verão em Nova York, com o mercado à vista e fracionário iniciando às 10h e encerrando às 17h55. No mercado a termo, as negociações ocorrerão das 10h às 18h25.


… O mercado de opções funcionará das 10h05 às 17h55, e no mercado futuro de câmbio, o pregão funcionará das 9h às 18h30.


BALANÇOS DA SEMANA – Ritmo intenso de resultados corporativos na B3, com a divulgação de 43 balanços nesta semana.


… Destaque para Itaú e Klabin, amanhã (terça-feira), Eletrobras (quarta), Suzano, Lojas Renner e Magazine Luiza na quinta, além de Petrobras.


… Hoje, saem TIM e BB Seguridade (após o fechamento). Em Nova York, tem AMD e AIG amanhã.


COPOM – A reunião do Comitê de Política Monetária na quarta-feira é o principal destaque da agenda, com a unanimidade das expectativas apontando para a manutenção da taxa Selic em 15%. A atenção estará voltada para algum sinal de flexibilização.


… A recente melhora nas expectativas de inflação e os primeiros sinais de desaceleração da atividade, no entanto, não devem ser suficientes para que o Banco Central altere sua mensagem conservadora e autorize apostas na antecipação do ciclo de cortes do juro.


… Na hipótese mais otimista, as projeções do mercado apontam para o começo do afrouxamento monetário em janeiro, sendo que os mais conservadores só esperam uma ação do Copom em março. Por isso, o tom do comunicado será importante.


… De acordo com pesquisa do Valor com 120 instituições financeiras, as casas que esperavam o primeiro corte em março cresceram de 26% no levantamento de setembro para 40% nesta sondagem, após a comunicação mais hawkish do BC.


… Para os economistas do Itaú, o Copom até deve mencionar em seu comunicado alguma melhora na inflação corrente, mas sem dar sinal sobre o patamar da Selic, de modo a garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária.


… O Itaú estima que o Copom “não mudará a sua sinalização de manutenção de juros no nível de 15% ao ano por período bastante prolongado, diante da desancoragem das expectativas, da resiliência do mercado de trabalho e das projeções de inflação acima da meta”.


… Para o economista-chefe do banco, Mario Mesquita, a melhora de expectativas, mesmo que expressiva, ainda deixa as projeções de mercado consistentemente acima da meta, além de o desemprego ter estabilizado nas mínimas históricas.


… Também o economista Marco Caruso, diretor de política monetária do Santander, espera um comunicado praticamente inalterado, com o BC mantendo o trecho no qual indica o “período bastante prolongado” para a manutenção da Selic nos atuais 15%.


… Em relatório, ele diz que “embora as condições macroeconômicas tenham melhorado ligeiramente, as expectativas de inflação continuam altas, e uma postura rígida continua a sustentar a credibilidade do BC em um ambiente ainda livre de pressão por cortes”.


BANDEIRA DA ANEEL – O anúncio da bandeira vermelha patamar 1 para novembro, mesma classificação de outubro, levou a uma onda de revisões em alta no mercado para o IPCA deste mês, mas não abalou as estimativas para o ano.


… A perspectiva de que a Aneel acione a bandeira amarela em dezembro alivia as projeções de inflação mais à frente.


… O BMG não descarta alteração até para bandeira verde em dezembro e, por enquanto, mantém a estimativa para o último mês do ano em 0,55%, apesar de ter elevado de novembro de 0,15% para 0,25% e mantido em 4,6% no ano.


… A Quantitas elevou a previsão para o IPCA de novembro de 0,28% para 0,32%, mas reduziu a aposta para dezembro de 0,49% para 0,45% e manteve a projeção para o índice oficial fechado de 2025 em 4,58%.


… A projeção da Warren subiu de 0,06% a 0,21% em novembro, mas caiu de 0,47% a 0,31% em dezembro. No ano, segue em 4,3%. A Terra ajustou de 0,27% para 0,42% (novembro), de 0,72% para 0,57% (dezembro) e manteve em 4,8% (ano).


MAIS AGENDA – Hoje, o IPC-S (8h) deve registrar uma boa desaceleração, de 0,65% em setembro para 0,13% em outubro, com o alívio da tarifa de energia elétrica. A alta em 12 meses deve desacelerar de 3,78% em setembro para 3,62% em outubro.


… Às 8h25, mais uma edição da pesquisa Focus monitora as estimativas para o IPCA, que, na semana anterior, caíram de 4,97% para 4,92% em 2025 e de 3,96% para 3,89% em 2026. Para 2027, a estimativa subiu de 3,84% para 3,85% e, para 2028, avançou de 3,60% para 3,70%.


… Ainda nesta segunda-feira, o BC fará entrevista coletiva (10h) sobre novas regras de movimentação de contas de clientes e de capital mínimo de instituições reguladas aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pela diretoria da autoridade monetária.


… Outros destaques da agenda dos indicadores são a produção industrial de setembro, amanhã, que deve recuar de 0,80% em agosto para 0,40%, a balança comercial de outubro (quinta-feira) e o IGP-DI de outubro (sexta-feira).


AGENDA FISCAL – A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado marcou para amanhã (terça-feira) a votação do projeto que aumenta a faixa de isenção do imposto de renda para salários de até R$ 5 mil/mensais.


… Também consta da pauta o PL que eleva a tributação das bets e as alíquotas da CSLL para fintechs e bancos.


… O relator do projeto do IR, Renan Calheiros (MDB), pretende manter em seu relatório a essência do texto aprovado na Câmara, com pequenas mudanças de redação que não obrigarão a matéria a voltar para nova apreciação dos deputados.


… Para aumentar a arrecadação, Renan apresentou o PL que eleva para 15% a CSLL para seguradoras, instituições de pagamento (como fintechs), corretoras de mobiliários e outras entidades financeiras específicas. Os bancos passarão a ter tributação de 20%.


… A tributação das bets aumenta de 12% para 24%, sendo que parte dos 12% adicionais será repassada para Estados e municípios, entre 2026 e 2028, de modo a compensar perdas que terão com as mudanças do imposto de renda.


… O PL da arrecadação prevê ainda um programa para que pessoas que ganham até R$ 7.350 possam renegociar dívidas com a Receita Federal.


SEGURANÇA NA PAUTA – Após a megaoperação do governo do Rio nos complexos do Alemão e da Penha, na semana passada, a Câmara dos Deputados intensifica a pauta dedicada a projetos sobre segurança pública. O governo também reage.


… Na semana passada, o presidente Lula enviou o PL Antifacção, que endurece as penas e amplia os instrumentos de combate às organizações criminosas. A proposta soma-se à PEC da Segurança Pública, que foi enviada ao Congresso em abril, mas enfrenta resistências.


… A aprovação do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, teve um aumento expressivo de 10 pontos percentuais após a megaoperação policial realizada na última terça-feira, considerada a mais letal da história do País ao deixar 121 mortos.


… O episódio está sendo usado politicamente pela direita como uma oportunidade de recuperar o discurso diante da recente escalada de Lula nas pesquisas eleitorais. Na Quaest, porém, a aprovação do presidente não sofreu alteração.


… No Senado, deve ser instalada a CPI do crime organizado e a Comissão de Segurança votará a convocação do ministro Ricardo Lewandowski.


COP30 – A Cúpula de Líderes reúne-se em Belém do Pará na quinta-feira (6) e sexta-feira (7), com a presença do presidente Lula, ministros de Estado, além de vários representantes mundiais, entre os quais, o presidente da França, Emmanuel Macron.


… Desde a quarta-feira, Lula deve ter reuniões bilaterais com autoridades de outros países que vão participar da COP30.


O TARIFAÇO – O mercado monitora ainda as movimentações para o próximo encontro do Brasil com os Estados Unidos para discutir tarifas.


… No Estadão, uma das reuniões de negociação poderá ocorrer nesta semana, em Washington, quando o governo Lula poderá propor um acordo comercial mais abrangente e horizontal ou a discussão por setores econômicos, com concessões pontuais e reduções de tarifa.


… Uma das propostas é sugerir o objetivo de elevar o comércio bilateral para US$ 200 bilhões até 2030 e sinalizar compras na área de Defesa.


… O presidente Lula e sua equipe pediram, sem sucesso, que Trump aceitasse uma trégua e suspendesse a taxação inicialmente para que os dois governos negociassem. O americano não cedeu ao que foi chamado de um pedido de “boa vontade”.


… Após o encontro com Trump na Malásia, Lula disse que enviaria aos Estados Unidos as três autoridades políticas mais envolvidas: o vice-presidente Geraldo Alckmin (ministro do MDIC) e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Itamaraty).


… No Valor, o governo Lula considera que a bola está com os Estados Unidos e prevê nova reunião sobre tarifaço em 15 dias.


… A avaliação dos negociadores brasileiros é que Trump deve tentar barganhar em torno do tarifaço e ampliar seu discurso de vitória, o que não é um problema para o Brasil, desde que o discurso não implique em qualquer sinal de rendição.


… Nesta semana, a Suprema Corte dos Estados Unidos ouvirá o recurso de Trump contra decisões de tribunais de instâncias inferiores de que o uso de tarifas sob o pretexto de “emergência internacional” pelo presidente americano usurpa a autoridade do Congresso.


JANEIRO NO PÁREO – Último canal a reagir à potência da política monetária, o mercado de trabalho doméstico segue aquecido, como confirmou a Pnad na sexta-feira. Nem por isso inviabiliza um corte da Selic no início de 2026.


… A taxa de desemprego medida pela pesquisa do IBGE ficou em 5,6% no trimestre móvel terminado em setembro, resultado idêntico ao período dos três meses terminados em agosto e ainda na mínima histórica do levantamento.


… O indicador, porém, veio marginalmente acima da mediana do mercado, de 5,5%, indicando que, embora o mercado de trabalho continue exibindo bastante resistência, pode estar dando os primeiros sinais de desaceleração.


… A perda de fôlego gradual do emprego já havia sido apontada por economistas semana passada também para o Caged nos cálculos com ajuste sazonal, na média trimestral dos postos criados e ainda no acumulado em 12 meses.


… Embora acomodado no high, o mercado da mão de obra pode estar batendo agora em seu limite das forças e não parece abalar a visão no mercado financeiro de desaquecimento da atividade econômica neste segundo semestre.


… Se for isso mesmo e o emprego não pregar, daqui para frente, mais surpresas de alta, pode entrar como argumento contra a necessidade de o Copom estender o seu discurso de conservadorismo para o ano que vem.


… Em paralelo, a melhora das expectativas de inflação para os horizontes mais longos e relevantes para a política monetária (2027 e 2028), além do alívio na inflação corrente e na atividade, testam o coração de pedra do BC.


… Alvo de grande suspense, o comunicado do Copom da quarta vem para calibrar as chances de o ciclo de relaxamento monetário da taxa Selic ser antecipado de março para janeiro, depois de juro a 15% por tanto tempo.


… Não é muito fácil de imaginar que o BC amoleça tanto a sua comunicação a ponto de entregar todo o jogo agora. Mas o DI devolveu prêmio na sexta, movida pela esperança de que o Copom libere as apostas de corte em janeiro.


… Só o Jan/26 (14,894%) ficou perto do ajuste de 14,895%. Já o Jan/27 caiu a 13,845% (de 13,926% na véspera); Jan/29 recuou a 13,075% (de 13,205%); Jan/31 cedeu a 13,360% (de 13,480%); e Jan/33, a 13,525% (de 13,631%).


… Os contratos futuros de juros também se aproveitaram do câmbio comportado para desarmar pressão de risco.


… Em dia de briga entre comprados e vendidos pela formação da ptax de outubro e em meio a relatos de fluxo de recursos externos à bolsa brasileira, o dólar terminou a sessão praticamente estável (-0,02%), cotado a R$ 5,3803.


… A moeda americana chegou ao último pregão de outubro com alta acumulada de 1,08% no mês, revertendo parcialmente o recuo de 1,83% em setembro. Mas no ano ainda registra perdas de 12,94% em relação ao real.


… Outubro foi um mês mais complicado, marcado por um pico no sentimento de aversão ao risco, devido ao aumento das tensões entre China e EUA, o que levou os estrangeiros a elevarem as apostas contra o real.


… Segundo reportagem do Valor, apesar de o diferencial de juros entre o Brasil e Estados Unidos manter a nossa moeda atrativa, a posição líquida dos gringos a favor do dólar cresceu em torno de US$ 13 bilhões no mês passado.


… Estável na sexta-feira, o dólar resistiu à alta da moeda em escala global, desencadeada pela cautela do Fed.


O COLETIVO DO FED – Powell não está sozinho quando avisa que uma nova redução do juro em dezembro é incerta.


… Quatro dirigentes do Fed foram nesta mesma linha durante participação em eventos públicos na sexta-feira.


… “Não fiquem à frente de nós”, recomendou Raphael Bostic às apostas mais dovish no mercado. Ele ainda disse que ficou satisfeito com o comentário do presidente do Fed de que um corte do juro em dezembro não está garantido.


… O colega Jeffrey Schmid, que já foi dissidente na última reunião, quando votou por estabilidade, alertou que a economia mostra um impulso contínuo, que a inflação continua muito alta e que um corte pode trazer perigo.


… “Não acho que uma redução de 25 pontos nos juros fará muito para resolver as tensões no mercado de trabalho. No entanto, um corte pode ter efeitos mais duradouros na inflação se o compromisso com a meta for questionado.”


… Seguindo o mesmo raciocínio, Lorie Logan, que é suplente nas reuniões deste ano, ressaltou que teria preferido manter os juros inalterados na reunião de outubro e ponderou que acha difícil realizar outra redução em dezembro.


… “A inflação continua muito alta e parece provável que exceda a meta de 2% por muito mais tempo”, disse a dirigente de Dallas, citando que a perspectiva econômica atual não justifica flexibilizações na política monetária.


… Beth Hammack concorda que a economia está perdendo mais do lado da inflação do que do emprego, endossa o discurso de Powell de que a política monetária não está em curso predeterminado e que tem tempo até dezembro.


… Na outra ponta, Christopher Waller, que está louco para ser escolhido por Trump como sucessor no comando do Fed, defende mais um corte em dezembro e diz que a “névoa de dados [com o shutdown] não nos diz para parar”.


… Stephen Miran também não nega sua fama dovish e disse, em uma entrevista ao New York Times publicada no sábado, que o Fed corre o risco de induzir a economia a uma recessão se não reduzir rapidamente as taxas de juros.


… Pegando carona, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, reiterou seu apelo para o Fed acelerar os cortes nas taxas e acusou o BC comandado por Powell de já ter mergulhado alguns setores da economia em um processo recessivo.


SEM TRAVESSURAS – Avaliando que o melhor era absorver o recado de que pode vir uma pausa no juro americano em dezembro, ao invés de sair medindo forças com o Fed, o índice DXY rondou a linha dos 100 pontos na sexta-feira.


… Subiu 0,27%, a 99,804 pontos, atingindo o nível mais elevado em três meses. No mês, acumulou ganhos de 2,07%. O euro caiu a US$ 1,1530, a libra esterlina registrou queda para US$ 1,3142 e só o iene subiu, a 154,12 por dólar.


… Com parte do Fed colocando à prova a flexibilização de sua política, a taxa da Note-2 anos teve oscilação marginal, a 3,594% (de 3,608%). Mas estrategistas do Barclays recomendam posição comprada nos bônus deste vencimento.


… A instituição financeira avalia que, embora o BC americano queira preservar a sua flexibilidade, os indicadores recentes de inflação e emprego ainda sugerem espaço para nova queda dos rendimentos no curto prazo.


… O yield da Note de 10 anos se manteve acima de 4%, a 4,092%, contra 4,086% no pregão anterior.


… As bolsas de NY terminaram a sessão no campo positivo, embora os discursos cautelosos dos quatro Fed boys possa ter limitado o apetite. O Dow Jones fechou praticamente estável, em leve alta de 0,09%, aos 47.562,87 pontos.


… O S&P 500 ganhou 0,26%, aos 6.840,20 pontos, e o Nasdaq só avançou mais firmemente (+0,61%, aos 23.724,96 pontos), porque a Amazon saltou 9,58%, na repercussão animada ao balanço trimestral acima do esperado.


DOCES – O Ibovespa ganhou para a sua coleção mais um recorde duplo e está agora a um pulo dos 150 mil pontos.


… Já são oito pregões subindo direto e cinco consecutivos batendo marcas históricas, tendo como gatilho a diplomacia de Trump com a China, que leva o investidor a voltar a olhar o Brasil com mais carinho e interesse.


… Outubro terminou para a bolsa com chave de ouro, no patamar inédito dos 149.540,43 pontos, em alta de 0,51%, depois de ter acelerado durante o pregão até os 149.635,90 pontos no pico intraday de todos os tempos.


… O índice à vista acumulou ganho de 2,26% no mês e agora registra valorização de 24,32% no ano.


… Entre as blue chips, a Vale roubou a cena (+2,27%; R$ 65,26) após o balanço, tendo ainda no radar um possível pagamento de dividendos extraordinários, admitido pelo vice-presidente executivo de Finanças e RI, Marcelo Bacci.


… Segundo anotou o Broadcast, a mineradora está prestes a romper, nos próximos pregões, os R$ 300 bilhões em valor de mercado, cifra que não atinge desde março do ano passado. Até sexta-feira, valia R$ 296,2 bilhões.


… Próximo da fila dos balanços (amanhã), Itaú PN avançou 0,38%, para R$ 39,44. Bradesco PN registrou valorização de 0,33% (R$ 18,16); Bradesco ON subiu 0,26%, a R$ 15,47; Santander, +1,73% (R$ 31,14); e BB, +1,25% (R$ 21,90).


… Petrobras, também às vésperas do balanço (quinta), contrariou o petróleo e caiu 0,47% tanto no papel PN, a R$ 29,75, quanto no ON, a R$ 31,51. Pesou o anúncio da queda de 1,7% no preço do gás natural, em vigor desde sábado.


… Com a reunião da Opep+ no radar e a perspectiva de que o aumento na produção viria moderado (como veio mesmo), o contrato do Brent para dezembro fechou praticamente estável (+0,10%), a US$ 65,07 por barril na ICE.


COMPANHIAS ABERTAS – PETROBRAS anunciou o aumento do preço do querosene de aviação (QAV) em R$ 0,05 por litro, ou 1,4%, em vigor desde sábado.


BRASKEM. Um grupo de bancos formado por Crédit Agricole, ING Groep, Sumitomo Mitsui Banking Corporation e BNP Paribas contratou a FTI Consulting como assessora financeira para negociar a dívida com a empresa.


BANCO DO BRASIL comunicou a renúncia de João Fruet, diretor de corporate e banco de investimento; ele será substituído por Julio César Vezzaro, que era diretor de corporate bank…


… No lugar de Vezzaro, foi indicado José Salvador Constantino Zarcos Filho.


BB SEGURIDADE informou que João Vagner de Moura Silva, diretor de finanças do BB, foi nomeado vice-presidente do Conselho de Administração, para completar o mandato 2025-2027, em posição que estava vaga até então.


BRADESPAR. Diretoria decidiu submeter ao Conselho de Administração a proposta para pagamento de JCP no montante de R$ 310 milhões, o equivalente a R$ 0,7405 por ação ordinária e R$ 0,8146 por ação preferencial…


… Proposta será deliberada em reunião do colegiado no próximo dia 12; se aprovado, provento será pago em 24/11.


AZUL fechou acordo global com comitê de credores para plano de reorganização no Chapter 11.


QUALICORP anunciou, por meio de fato relevante, o fechamento da transação para a venda de 100% do capital social da Gama Saúde para o empresário Fernando Vieira, controlador da holding ESB Corp, por R$ 163,912 milhões…


… O negócio, anunciado em agosto e aprovado pela ANS em outubro, conclui o processo de alienação da subsidiária.


PORTO SEGURO informou que controlada Porto Serviço aprovou a incorporação das empresas CDF Assistência e Suporte Digital e Porto Assistência Participações. Com isso, o capital social passa a ser de R$ 1,02 bilhão.


EQUATORIAL distribuirá R$ 1,819 bi em JCP, a R$ 1,45 por ação; ex na próxima quinta-feira…


… A empresa concluiu a venda de sua operação de transmissão para a Verene Energia, empresa controlada pela Caisse de Dépôt et Placement du Québec. O valor pago pelo ativo foi atualizado para R$ 5,389 bi, de R$ 5,188 bi.


RAÍZEN ENERGIA aprovou, em Assembleia Geral Extraordinária realizada no sábado, uma ampla reorganização societária que integra o processo de simplificação e consolidação das suas operações no setor de bioenergia.


NEOENERGIA comunicou que recebeu correspondência da Previ informando que vendeu a totalidade das ações ordinárias que detinha na companhia por meio do Plano de Benefícios 1 para a Iberdrola Energia.


ENERGISA. Consumo consolidado de energia elétrica nas áreas de concessão da empresa alcançou 10.515,7 gigawatts-hora (GWh) no 3TRI, alta anual de 2%, segundo prévia operacional.

Paulo Roberto de Almeida

 Devo participar, na próxima sexta-feira 7/11, de um seminário organizado pelo Prof. Antonio Carlos Lessa (IREL-UnB) sobre temas correntes da atualidade internacional, como já anunciei aqui mesmo. Constato agora, que além do Prof. Carlos Pio, velho amigo, estará presente ao evento a Profa. Erica Resende, co-organizadora de um livro sobre o Mercosul para o qual fui honrado em preparar um prefácio, como registro abaixo.

Como creio que esse prefácio ainda possui certo valor substantivo (uma vez que o Mercosul não fez praticamente progresso algum, desde 2012), permito-me postar novamente este registro e depois o próprio Prefácio. (PRA: 2/11/2025)


2420. “Mercosul: a visão dos primeiros vinte anos e as perspectivas futuras”, Brasília, 23 agosto 2012, 6 p. Prefácio ao livro Mercosul: 21 anos: Maturidade ou Imaturidade?; Organização: Erica Simone Almeida Resende (UFRRJ) e Maria Izabel Mallman (Puc-RS). (Curitiba: Editora Appris, 2013, 350 p.; ISBN: 978-85-8192-111-2; p. 5-12); disponível no Blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/11/mercosul-21-anos-prefacio-uma-obra.html . Relação de Publicados n. 1079.


Mercosul: a visão dos primeiros vinte anos e as perspectivas futuras

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor de Economia Política no

Centro Universitário de Brasília (Uniceub)

In: Erica Simone Almeida Resende e Maria Izabel Mallman (org.):

Mercosul: 21 anos: Maturidade ou Imaturidade?

(Curitiba: Editora Appris, 2012, 350 p.; ISBN: 978-85-8192-111-2; p. 5-12). Relação de Publicados n. 1079.


O Mercosul atingiu, ao que parece, a sua maioridade – convencionalmente fixada aos 21 anos – em meio ao que constitui, possivelmente, a sua mais grave crise, passadas duas décadas de sua criação e implementação progressiva, a partir de 1991. A crise, para todos aqueles que seguem os assuntos correntes do bloco do Cone Sul, foi constituída pela “suspensão” da participação do Paraguai de suas reuniões formais e pela “admissão plena” da Venezuela no que parece constituir uma “união aduaneira em implementação”, segundo a designação usualmente empregada para caracterizar o grupo. Ambas medidas foram adotadas na reunião de cúpula ocorrida em Mendoza, em junho de 2012, na ausência de qualquer delegação – técnica, ministerial ou presidencial – do Paraguai, a despeito do fato de que os principais instrumentos constitutivos do Mercosul, e até o Protocolo de Ushuaia sobre a cláusula democrática do bloco, sempre explicitaram a necessidade de consenso, ou da presença plena de todos os membros, para quaisquer decisões a serem adotadas formalmente pelo grupo. Ora, não foi exatamente isso que ocorreu na reunião de Mendoza (a três membros), ou nos encontros subsequentes entre os membros “remanescentes”, em presença da Venezuela (que não tinha ratificado nenhum dos instrumentos relevantes do bloco até essa data, a despeito de compromisso firmado por meio de seu protocolo de acesso em 2006). 

Na verdade, a crise do Mercosul data de pelo menos uma década atrás, quando os mecanismos de liberalização comercial intra-bloco e de coordenação das medidas de política comercial, em relação a terceiras partes, foram sendo erodidos pela inadimplência dos países membros em relação aos dispositivos principais da zona de livre comércio – que deveria vigorar desde 1995 – e da união aduaneira, que deveria ter realizado as derradeiras convergências das exceções nacionais admitidas anteriormente nos cinco ou seis anos decorridos desde sua institucionalização pelo Protocolo de Ouro Preto de 1994, ou seja, ao início deste milênio. Essa crise apenas formalmente pode ser atribuída à crise cambial e financeira vivida pelo Brasil em 1999 – e que redundou na mudança de seu regime cambial de um sistema de bandas para um de flutuação – uma vez que a Argentina, prisioneira de seu regime cambial de livre conversibilidade e de rigidez na paridade com o dólar, estabelecido em 1991, já vinha enfrentando sérios desequilíbrios nos intercâmbios comerciais dentro e fora do bloco e, de forma geral, na sua conta de transações correntes. O Brasil, justamente, era possivelmente um dos poucos países com os quais a Argentina conseguia ainda realizar um superávit bilateral, em grande medida em função do comércio administrado no petróleo, no trigo e no setor automotivo, e tinha revelado, desde antes, notável tolerância em relação aos sucessivos descumprimentos argentinos com respeito ao livre comércio intra-bloco. 

O Mercosul tinha alcançado, então (ou seja, em 1998), o máximo de comércio intra-bloco desde sua criação em formato quadrilateral em 1991 – embora este formato derivasse inteiramente do esquema bilateral Brasil-Argentina em curso desde meados da década anterior, consolidado no Tratado de Integração de 1988, cujas cláusulas de liberalização comercial e de constituição de um mercado comum foram reformuladas e aceleradas na Ata de Buenos Aires, de 1990 –, em patamares de intercâmbio não restabelecidos até bem adentrada a primeira década do milênio, mas já numa situação de erosão institucional, e de não cumprimento de suas regras comerciais básicas, da qual ele ainda parece não ter se recuperado. Ao adentrar em sua segunda década, o Mercosul parecia ter perdido o estímulo inicial para avançar a fases mais exigentes do desejado objetivo do mercado comum, estabelecido em seus instrumentos constitutivos. 

Em resumo, as rupturas comerciais e cambiais demarcadas pela crise brasileira de 1999 e pela crise geral da economia argentina de 2001 romperam um movimento ascensional de integração seguido na década anterior e são, provavelmente, muito mais graves do que a pretensa “ruptura democrática” ocorrida no Paraguai, em junho de 2012, seguida da “ruptura institucional” que foi a admissão irregular da Venezuela no seguimento da sanção unilateral imposta pelos três outros membros plenos ao Estado guarani. Mais graves porque a “ruptura democrática” supostamente ocorrida no Paraguai será, provavelmente, superada pela realização de novas eleições em abril de 2013, ao passo que a inadimplência registrada em relação aos dispositivos básicos do Mercosul, em sua feitura comercial e econômica, não parece perto de ser superada pela adesão de todos os membros, e principalmente pela Venezuela, às regras essenciais do bloco no futuro previsível. A dinâmica integracionista perdida entre 1999 e 2001 não está perto de ter sido recuperada desde então; ao contrário: como ilustrado na velha canção de roda, o que era vidro se quebrou. O Mercosul certamente não foi feito de aço...

Estaria o Mercosul, nessas condições, destinado ao fracasso e a seu eventual desaparecimento? Provavelmente não, inclusive porque construções burocráticas desse porte, sustentadas politicamente, raramente vão à falência ou desaparecem, podendo, no máximo, subsistir em meio à indiferença geral e ao total descompromisso com seu mandato original, ainda que continuando a drenar recursos e energias de seus membros por um bom tempo antes de sua decadência efetiva. Mas este não é certamente o caso do Mercosul, que deve subsistir como um importante foro de coordenação política dos países membros, ainda que suas promessas comercialistas originais tenham sido gradativamente abandonadas em favor de uma configuração de natureza essencialmente política a partir das posses respectivas do presidente Lula, no Brasil, e de Nestor Kirchner, na Argentina, em 2003. Se algo deve ocorrer a partir da admissão formal da Venezuela, se ela for de fato confirmada institucionalmente e na prática, será, na verdade, um reforço ainda maior de seus componentes políticos, em detrimento de seus fundamentos econômicos, ou especificamente comerciais. 

Essa evolução certamente não corresponde aos objetivos originais do Mercosul, embora ele deva continuar representando um importante processo de integração no contexto regional que é o seu – ou seja, o da América do Sul – e mantenha, do ponto de vista do relacionamento externo, excelentes oportunidades de investimentos diretos estrangeiros, dadas a dimensão de seu mercado, os recursos naturais existentes, as fontes de energia disponíveis (agora reforçadas pela “adesão” da Venezuela) e outros fatores atraentes do ponto de vista dos empresários locais e de terceiros países. Esse desvio de objetivos e, possivelmente, essa mudança de perfil institucional não devem obstar a que o Mercosul continue a ser um dos mais importantes blocos econômicos (e políticos, sublinhe-se) do hemisfério sul, o que provavelmente é mais devido à soma conjunta de suas potencialidades reais (ou seja, dos países membros, em especial do Brasil) do que propriamente em função da excelência de sua organização interna ou adequação às normas do sistema multilaterais de comércio. 

Em outros termos, a despeito das frustrações ocorridas em sua trajetória econômica e comercial, e dos fracassos relativos no acabamento de seus objetivos institucionais, o Mercosul deve continuar a ser um espaço econômico de relativa magnitude material, e de grande importância política, não apenas para seus membros efetivos, mas também para a região, como um todo, e possivelmente também no âmbito hemisférico e no contexto do sistema multilateral de comércio, a despeito do enorme peso representado pelo Nafta nesta parte do planeta, e pelos vínculos de seus membros, em especial os EUA, com a maior parte dos países latino-americanos (os quais estão, inclusive, ligados ao hemisfério setentrional por acordos de liberalização comercial bem mais abrangentes e ambiciosos do que, até agora, os esquemas mantidos pelos países do Mercosul e pela quase inexpressiva Comunidade Andina de Nações). Não obstante os percalços, portanto, o Mercosul deverá continuar exercendo certa força gravitacional em seu imediato entorno regional, bem como alguma atração do ponto de vista do comércio, dos investimentos e de projetos conjuntos de cooperação com ampla gama de parceiros externos, a começar pela União Europeia e outros protagonistas mundiais, a começar pela China e os emergentes da Ásia e das demais regiões.

As evidências acima, de puro realismo político e de grande relevância econômica, justificam plenamente, portanto, a oportunidade da publicação do presente livro como um balanço oportuno e uma avaliação ponderada, em torno dos sucessos e das frustrações do Mercosul, ao iniciar-se a terceira década de sua existência. Os capítulos constantes desta obra – sobre o desenvolvimento do Mercosul, suas vicissitudes comerciais, sua dimensão securitária (ou seja, de defesa), a representação parlamentar, o funcionamento de seu sistema de solução de controvérsias, as questões de direitos humanos e institucional, sua importância para o Brasil e para a região, além de diversos outros temas paralelos –contribuem para uma visão ampla, embora diversificada metodologicamente, do itinerário do bloco e de seu potencial integrador, em sua dimensão própria e para o continente como um todo. 

Como esperado, ou inevitável, em toda e qualquer compilação coletiva de estudos individuais, a metodologia e as abordagens adotadas podem divergir entre si, e mesmo as perspectivas analíticas não exibem, necessariamente, unidade conceitual ou uniformidade de propósitos. Estas características não impedem, contudo, o fato de ser esta obra um compêndio útil e oportuno para uma visão abrangente quanto aos fundamentos históricos, o itinerário prático e o funcionamento operacional do bloco mais importante da América do Sul, quiçá do hemisfério sul. Os organizadores lograram realizar um equilíbrio satisfatório entre os temas mais gerais, e conceituais, da primeira parte, e aqueles mais voltados para os aspectos práticos, na segunda parte, a qual transcende, inclusive, o contexto puramente nacional para tecer considerações sobre o contexto regional e as implicações do Mercosul para o desempenho da integração latino-americana, de modo mais amplo. Apropriadamente, a obra se conclui com as interrogações suscetíveis de serem feitas em torno do futuro do Mercosul nos próximos vinte anos, uma perspectiva agora tornada mais aleatória, em função das desventuras do Paraguai e das incertezas legítimas associadas ao ingresso da Venezuela bolivariana no bloco. 

No conjunto, os textos aqui compilados oferecem um vasto panorama sobre o Mercosul, em todos os seus estados e em várias de suas dimensões. Particularmente importantes são os capítulos que tratam dos fatos objetivos relativos ao Mercosul, seja no plano comercial, seja no âmbito de seu impacto sobre a diplomacia brasileira ou o funcionamento do sistema de solução de controvérsias. Embora os capítulos conceituais, ou mais especulativos, sejam igualmente relevantes, qualquer empreendimento político coletivo – como é o processo de integração do Mercosul – sempre oferece a possibilidade de interpretações diversas quanto aos seus elementos inerentemente deixados ao arbítrio das decisões políticas (e de sua consideração por acadêmicos trabalhando nesses temas). 

Pode-se aderir, por exemplo, à interpretação de que o Mercosul em sua primeira fase era excessivamente comercialista – ou neoliberal, como pretendem alguns – e que sua “correção” de natureza mais política, ou “social” na segunda, ou terceira, fase (ou seja, pós crise dos anos 1999-2002) era não apenas desejável como também necessária. Mas deve-se reconhecer que o que realmente faz diferença, em qualquer processo, são os resultados práticos, ou efetivos, como aumento ou diminuição de comércio, melhoria das condições de produtividade interna e de competitividade externa, criação de mais riqueza e prosperidade para as pessoas comuns (ou seja, mais emprego, maiores salários, e aumento da disponibilidade de bens e serviços de qualidade e a preços convidativos). No caso em espécie, não há como não reconhecer uma transformação do Mercosul e sua passagem de uma vertente econômica e comercial da primeira década – que é, finalmente, a essência do que estava escrito nos seus tratados constitutivos – para suas inclinações mais políticas e sociais da segunda década, sem que se disponha, ainda, de um balanço objetivo quanto aos méritos respectivos de uma e outra abordagem para fins dos objetivos originais do esquema de integração.

O presente livro ajuda a ver mais claro o que foi de fato relevante no Mercosul, nas suas diversas dimensões, nestas duas primeiras décadas e contribui para a construção de uma avaliação ponderada do que foi possível alcançar, ou não, no período decorrido desde sua fundação. Na verdade, a grande pergunta a ser feita, após concluir a leitura deste livro, sobretudo de seus capítulos descritivos e de avaliação, é a de saber se, ao cabo destas primeiras duas décadas, a região meridional e o continente sul-americano encontram-se, atualmente, mais ou menos integrados, em melhores condições sociais e de bem-estar, comparativamente ao quadro anterior, e se o processo de integração contribui, positiva ou negativamente para o atual estado de coisas. Provavelmente vai se descobrir que os laços comerciais, os investimentos recíprocos e os fluxos de serviços e de pessoas se intensificaram e se diversificaram, ao longo do período, mas é também visível que os processos de integração, ou seus projetos institucionais, não caminharam, exatamente, para uma convergência de propósitos ou homogeneidade de procedimentos. Parece claro, por exemplo, que entre a metodologia econômica do Mercosul e a abordagem fundamentalmente política da Alba existem enormes diferenças de visão e de intenções. 

O futuro de médio prazo – ou seja, ultrapassada a situação corrente de estagnação, ou longa recessão, nos países desenvolvidos – dirá se o Mercosul continuará como uma grande promessa de integração comercial, caminhando no sentido de seu aprofundamento econômico e reforço institucional, ou se ele vai tornar-se irrelevante, como outros experimentos latino-americanos do passado, que figuram apenas, nos registros históricos, como os precedentes dos processos atuais. Uma visão abrangente do passado recente pode ajudar a ver mais claro nas possibilidades futuras: este livro é um bom começo para esse empreendimento. Tenham bom proveito em sua leitura, como eu tive ao preparar este prefácio.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, agosto de 2012

Blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/11/mercosul-21-anos-prefacio-uma-obra.html

domingo, 2 de novembro de 2025

Jotinha 0211

 💢 *BGC Liquidez | 📮 Jotinha News*

_Nov-2/25_


—> *Entre a prudência e o protagonismo: a aposta de Tarcísio* <—


Tarcísio agiu com precisão política ao escolher a moderação diante da megaoperação no Rio — *uma decisão amadurecida com seus principais conselheiros*. Ao contrário do que desejam os setores mais radicais, evitou colocar-se na linha de fogo da esquerda ao não atacar Lula diretamente. Sabe que o eleitorado ultraconservador tende a vir naturalmente, sem necessidade de gestos de confronto.


Ao evitar associar-se integralmente a uma ação militar de alto risco no RJ — sujeita a tragédias e imprevisibilidades —, Tarcísio preservou imagem e capital político. Preferiu o caminho institucional: apoio à operação, solidariedade às forças de segurança, ao governador Claudio Castro e às famílias dos policiais, sem transformar o episódio em palanque e sem correr o risco de ser rotulado como um “oportunista”.


Ao evitar críticas ao Judiciário, manteve intacta a reaproximação institucional e reforçou a imagem de equilíbrio. De forma calculada, delegou ao secretário de Segurança, Guilherme Derrite, a missão de vocalizar o tema e liderar o projeto que classifica facções e milícias como organizações terroristas — uma pauta de alto impacto que prolonga o protagonismo do governo paulista.


Tarcísio consolidou-se ao centro — espaço onde pretende expandir sua base, especialmente entre o eleitorado feminino e moderado, tradicionalmente mais avesso a embates. Seu foco é conter concessões fiscais ao governo federal e evitar choques diretos com Eduardo Bolsonaro, seu principal concorrente pelo espólio político da direita. O objetivo é preservar energia até fevereiro, quando o cenário poderá oferecer o _timing_ ideal para o lançamento de sua candidatura. Sua escolha foi tática: sabe que o RJ não é terreno para amadores — e optou por tempo, prudência e cálculo político.


Você concorda?


José Dezene - @Jotinha_SA

_Essas informações expressam minhas opiniões pessoais e nada tem relação a opinião desta instituição ou se trata de um produto da BGC Liquidez._


https://x.com/jotinha_sa/status/1984839233647870308?s=46&t=ufI-7TD0L62FoAH_iFkx8w

Amilton Aquino

 A TEMPESTADE PERFEITA DA SEGURANÇA PÚBLICA


Cláudio Castro é um governador sem qualquer carisma, que chegou ao poder por acaso, após uma longa sequência de prisões e afastamentos de seus antecessores por corrupção. Mas tenho que reconhecer que é dele uma das falas mais importantes de um governador sobre o nosso dia a dia de violência e impunidade. Um diagnóstico preciso, curiosamente muito claro para o cidadão comum, mas incompreensível para o nosso mainstream político-jurídico-acadêmico:


“Nós temos hoje uma tempestade perfeita. Nós temos a ADPF das Favelas (…) que impôs regras para a polícia entrar nas favelas. Ela criou um conceito de extraordinariedade (...) Para a polícia entrar na favela, precisa acontecer algo extraordinário. Ela tirou a ideia de ostensividade e criou a ideia de extraordinariedade. Faz isso na zona sul… Tira a polícia da zona sul… (em tom de desafio)


Então é o seguinte: o pobre deixou de ter o direito de ter a polícia todo dia. E o que aconteceu? As facções dominaram os territórios onde a polícia não tem mais condições de entrar de forma ordinária.


Então me perguntam: governador, a operação vazou (pois o Doca conseguiu escapar)? É claro que vazou. Eu tenho que avisar a dez órgãos! Como não vai vazar? (...) Hoje toda operação vaza.


A ADPF fez o mato crescer. Quando você não apara o mato todo dia, ele cresce.


E aí vem o segundo vetor: criou-se a audiência de custódia. Antigamente o cidadão era preso e ficava na cadeia até a primeira audiência. Agora não. Agora tem que ser em 24 horas. E há uma orientação do Conselho Nacional de Justiça para que penas até quatro anos de prisão sejam respondidas em liberdade.


E o que está acontecendo? Todo mundo que assalta hoje (se for preso) está solto em 24 horas. A polícia está prendendo o mesmo cidadão 20, 30, 40 vezes! É o famoso prende e solta. Hoje, quando o policial prende um cidadão, ele brinca: ‘Pô, tio! Me libera aí. Amanhã eu tô aqui de volta’.


E aí vem o terceiro fator. Você tem a lei de armas e a lei de drogas. Quando um traficante é preso com um fuzil na mão, ele deveria responder pelo porte do fuzil, com pena de 16 a 24 anos, mais associação ao tráfico, com pena de três a dez anos. A sexta turma do STJ tomou uma decisão vinculante que desqualifica o crime de armas para o crime de drogas ‘com o agravante de crime de arma’. (...) Na prática, em vez de responder por 19 a 34 anos de prisão, ele agora responde por quatro a dez anos. E como ele sai com um sexto da pena, em oito meses ele está em casa.”


Palmas para o governador. Gaguejando aqui e ali, colocou o dedo na ferida e, de quebra, expôs todo o sistema de justiça, o mesmo que ainda neste ano poderá colocá-lo também na longa lista de governadores cassados e afastados do Rio, sob acusação de abuso de poder econômico na campanha de reeleição.


Está claro, para mim, que a deflagração da operação às vésperas do seu julgamento foi a última aposta do governador — e ela ocorre poucos dias após a fala desastrosa de Lula, que apontou os traficantes também como vítimas dos consumidores de drogas.


Ou seja, Castro criou um fato político com potencial de retirar votos decisivos de Lula num tema em que o PT nada contra a opinião da maioria da população.


A DESCONEXÃO DA ESQUERDA COM A REALIDADE


Como era de se esperar, as primeiras pesquisas sobre o assunto apontam amplo apoio popular à megaoperação de 87,6% dos moradores das favelas, segundo o instituto Atlas/Intel. Para o resto da população, que não faz ideia do que é conviver de perto com bandidos com fuzis, a aprovação é menor, mas ainda assim expressiva. 


No centro do debate está a condescendência da esquerda com o crime organizado — fruto de uma crença revolucionária, desde Rousseau, de que “o homem é naturalmente bom, mas corrompido pela sociedade”. O problema seria sempre o sistema, não o indivíduo.


Michel Foucault completa essa visão vitimista ao afirmar que “a prisão fabrica o delinquente”. Portanto, é preciso desencarcerar: prender só piora a situação.


É sintomático que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski — um entusiasta das teses esquerdistas do desencarceramento e das audiências de custódia — transforme o trabalho da polícia numa eterna rotina de “enxugar gelo”, como tão bem expôs o governador Cláudio Castro. Não por acaso, sua principal marca é o programa Pena Justa, que foca na melhoria das condições carcerárias, na ressocialização dos presos e em programas de saúde para grupos específicos, como LGBTQIA+, um grupo que ultrapassou tantos os limites do razoável que teve recentemente a separação formal dos gays, lésbicas e simpatizantes.


Ou seja, nada mais desconectado da percepção geral da sociedade, sobretudo das populações faveladas, que vivem sob o domínio do Estado paralelo das facções.


O DIREITO PENAL DO INIMIGO


Em meio ao caos instalado, ganha força o debate sobre temas polêmicos, como o enquadramento do PCC e do CV como grupos terroristas, o uso de táticas de guerra em vez de simples operações policiais e até a aplicação do Direito Penal do Inimigo.


A tese, do jurista alemão Günther Jakobs — muito reverberada pelo MBL — defende um regime penal mais severo para indivíduos considerados inimigos da sociedade, com suspensão de direitos fundamentais e julgamentos acelerados.


Segundo a tese, nos confrontos com a polícia, os faccionados com fuzis nas mãos devem ser abatidos, pois trata-se de uma guerra pela reconquista dos territórios pelo Estado. Tais indivíduos não teriam os mesmos direitos do cidadão comum.


Claro que essas teses causam estranhamento na imprensa. Mas a viralização das falas de representantes das forças de segurança do RJ em telejornais aumentou ainda mais a aprovação popular à megaoperação e as tentativas de endurecimento contra o crime — principalmente após dias em que, até aqui, não surgiu um único caso de vítima inocente entre os 117 mortos, descontados os quatro policiais.


AS PRIMEIRAS RACHADURAS NO CONSENSO WOKE


Não por acaso, algumas surpresas surgiram na cobertura do caso. A começar pela postura isenta da Rede Globo, que chegou a elogiar a estratégia das forças policiais de empurrar os criminosos para a mata, para onde ocorreram a maioria das mortes.


Também digna de nota foi a fala do ministro Gilmar Mendes, que reconheceu, em plenário, que “de alguma forma nós introjetamos a ideia de que esses territórios podem estar ocupados e que… nós tenhamos que pedir licença para lá estar”! Um lampejo de lucidez em meio ao mundo paralelo do STF — logo aparteado por Flávio Dino, ministro que conta com a simpatia dos faccionados, a ponto de entrar em seus territórios sem maiores preocupações com segurança.


Por fim, o presidente do PT no Rio de Janeiro, Washington Quaquá, afirmou que a operação foi “necessária”, embora tenha criticado seu planejamento.


A GUERRA DAS NARRATIVAS


Ainda é cedo para medir o impacto político desse episódio nas eleições de 2026, mas a cautela do governo já revela preocupação.

O antídoto ao sucesso da megaoperação é que o governo realizou, há alguns meses, “a maior operação de desmonte do crime organizado sem dar um único tiro”, contra os “tubarões do PCC” que operavam na Faria Lima.


De fato, um gol do governo. Só falta agora convencer os cidadãos de que é possível reconquistar os territórios tomados pelas facções apenas com inteligência — sem polícia, sem risco e sem enfrentamento.


Enquanto isso, a disputa de narrativas nas redes sociais segue. E neste debate o governo perde. E de goleada.

sábado, 1 de novembro de 2025

André Lara Resende

 O brilhante economista André Lara Rezende traz, em seu artigo hoje no Valor, uma reflexão contundente sobre a questão do endividamento público. Vale muito a pena ler.


Minha humilde visão, na ótica do financiador do estado, cito alguns fatores que determinam os limites de endividamento, público e privado, de uma economia:

a. O relevante para endividamento não é o tamanho. Mas sim os custos de se financiá-lo no longo prazo e a sua taxa de crescimento.
b. A análise de solvência baseada apenas no tamanho da dívida é míope, pois não aborda outras questões como a taxa de crescimento de longo prazo da economia, muito ligada ao aumento da produtividade e à tendência da evolução do estoque de capital humano.
c. A microestrutura de financiamento da dívida também é extremamente relevante neste contexto. Questões como dimensão e sofisticação do mercado de capitais e financeiro, participação de capital estrangeiro e adequação do apetite de risco dos financiadores domésticos no processo de financiamento de longo prazo e o papel dos bancos neste processo são muito importantes.
d. Há também a questão da ligação íntima entre a política monetária, cambial e financiamento público. Por exemplo: o percentual do financiamento público feito através do BC, o tamanho das reservas cambiais necessárias e seu custo e forma de financiamento, o impacto das estratégias do Tesouro na curva de juros e o caráter de quase moeda dado à dívida pública quando os seus prêmios de liquidez são baixos.
e. A capacidade de poupança interna de uma economia. Economias com elevado estoque de poupança, diversificado em várias classes de ativos externos e internos ou com taxas elevadas de poupança interna, podem ter endividamento maior.
f. Qual é a natureza do gasto público sendo financiado por dívida? Seria este direcionado para despesas correntes ou para investimentos em infraestrutura econômica e social visando aumentos futuros de produtividade? E qual é a sua efetividade?
g. O contexto político no qual se decide o tamanho do endividamento. A sociedade está alinhada com o endividamento atual à luz da qualidade dos gastos do Estado e da sua dimensão?
h. O nível de conversibilidade da moeda local. Economias com baixa conversibilidade e controles de capital podem conviver com endividamento elevado por maior tempo. Economias mais abertas estão mais sujeitas à avaliação relativa quanto ao tamanho e crescimento das suas dívidas em relação a seus pares.

Considerando-se tudo isso, eu concordo com o autor.

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Fabio Alves