domingo, 17 de agosto de 2025

Decisão do Fed x Trump

 *O canto da sereia do corte de juros*


A semana foi marcada pelo otimismo dos investidores globais, especialmente em função do aumento na probabilidade de cortes de juros nos EUA já na reunião de setembro. O principal fundamento para esse posicionamento foi a divulgação do índice de inflação ao consumidor, levemente abaixo das expectativas. O mercado de juros passou a precificar praticamente como certo um corte em setembro, mesmo após a divulgação de dados de inflação ao produtor significativamente acima do esperado.


O FED possui dois mandatos principais: (i) a estabilidade de preços, com a meta de manter a inflação abaixo de 2% no longo prazo, e (ii) a saúde do mercado de trabalho, sem uma meta numérica específica. Nesse contexto, um corte de juros em setembro poderia ser justificado pela expressiva revisão negativa na abertura de postos de trabalho, ao mesmo tempo em que a inflação ao consumidor mostra trajetória gradual de convergência à meta, ainda que permaneça acima dela.


Nesse cenário, a inflação ao produtor acima do esperado divulgada nesta semana ganha ainda mais relevância. Como indicador antecedente da inflação ao consumidor, dada a capacidade de repasse de custos pelas empresas para manter margens. O dado acima do esperado veio especialmente do setor de serviços, enquanto o segmento de bens tende a ser pressionado nas próximas divulgações pelo efeito das tarifas. Caso a pressão persista, dois cenários se tornam prováveis: (i) repasse de custos ao consumidor, pressionando os índices de inflação, ou (ii) absorção dos custos pelas empresas, com impacto negativo sobre suas margens.


No campo geopolítico, houve avanço nas conversas entre Trump e Putin no Alasca sobre a guerra da Ucrânia. O resultado pareceu positivo para a possibilidade de encerramento do conflito, ficando a decisão final sob responsabilidade da Ucrânia em aceitar ou não o acordo proposto pela Rússia. A divulgação ocorreu após o fechamento do mercado na sexta-feira, e seus efeitos devem ser refletidos na próxima semana, embora parte do movimento já estivesse precificado pelos agentes.


A expectativa de cortes de juros beneficiou especialmente empresas mais sensíveis ao ciclo econômico, com menor geração de caixa e maior alavancagem. Assim, o Russell 2000 subiu 3,1%, enquanto o S&P 500 avançou 0,9%. O Dow Jones teve alta de 1,7%, e o Nasdaq, mais atrelado às empresas de tecnologia, avançou apenas 0,4%.


Na curva de juros, a ponta curta recuou, com a taxa do título de 2 anos caindo 0,2 p.p., cotada a 3,8%. Já a ponta longa subiu, refletindo tanto a alta da inflação ao produtor quanto os dados fiscais piores que o esperado, o que elevou a taxa do título de 10 anos em 0,9 p.p., para 4,3%, levando à queda de 1,0% nos preços dos Treasuries de longo prazo. O dólar recuou 0,4% globalmente.


Os ativos globais também se beneficiaram da perspectiva de afrouxamento monetário, com o DAX subindo 0,8%, o Nikkei 2,6% e os mercados emergentes 1,0%. Na China, o adiamento de 90 dias nas tarifas comerciais com os EUA impulsionou ganhos de 2,6% nas ações tradicionais e 3,7% nas de tecnologia. O ouro caiu 1,8% e o petróleo recuou 0,8%.


*À espera do estrangeiro*


No Brasil, o destaque foi o IPCA abaixo do esperado, reforçando a tendência de desinflação. O dado reflete arrefecimento dos preços, especialmente em função da queda global das commodities e da apreciação cambial. Apesar disso, a inflação ainda se mantém acima do teto da meta, exigindo manutenção de uma política monetária restritiva por período prolongado. Parte do mercado, no entanto, passou a considerar cortes antes do previsto.


No campo fiscal, o governo anunciou um pacote de apoio aos produtores afetados pelas tarifas. A proposta, ainda pendente de aprovação, prevê cerca de R$ 30 bilhões, dos quais R$ 9,5 bilhões ficariam fora do arcabouço fiscal. Embora o valor seja relativamente pequeno diante do orçamento federal, o precedente de exclusões pode trazer riscos à credibilidade do regime fiscal. Caso o pacote seja utilizado como estímulo à atividade, o Banco Central pode enfrentar maior dificuldade na convergência da inflação.


O mercado local reagiu de forma moderada. O Ibovespa subiu 0,3% e o dólar caiu 0,4%. As taxas dos títulos públicos com vencimento em 2030 recuaram: -1,1% na taxa prefixada (13,3%) e -0,8% no papel indexado ao IPCA (IPCA+7,6%).


Em nossa visão, o Brasil se beneficiou ao longo do ano de forte fluxo estrangeiro em busca de ativos emergentes, aliado a valuations depreciados, o que justificou parte relevante da valorização observada até aqui. Entretanto, sem entrada consistente de novos fluxos, vemos dificuldade na sustentação desse movimento, especialmente diante das fragilidades fiscais. Optamos, portanto, por um posicionamento mais defensivo, reduzindo exposição a prefixados longos e aguardando um momento de maior assimetria para retomar posições mais relevantes.


Qualquer necessidade estou à disposição.

Um abraço, Breno - Rubik Capital

O efeito deleterio do Bolsa Família

 Do Editorial do Estadão de hojehttps://gilvanmelo.blogspot.com/2025/08/o-que-midia-pensa-editoriais-opinioes_17.html#more


O efeito deletério do Bolsa Família


O Estado de S. Paulo


Estudo mostra que mudanças no programa nos últimos anos, sobretudo o aumento do benefício, têm gerado impacto negativo sobre o mercado de trabalho e estimulado a informalidade


Com mais de 20 anos de existência num país onde as políticas públicas têm história errante, o Bolsa Família é um robusto programa de transferência de renda, uma marca já integrada ao imaginário nacional e uma força de irresistível apelo eleitoral – atributos que costumam converter críticas em crime de lesa-pátria. Mas, felizmente, não têm faltado estudos sérios destinados muito mais a aperfeiçoar o programa do que questionar sua existência. O mais recente deles, realizado por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), toca numa novidade: os efeitos do Bolsa Família sobre o mercado de trabalho mudaram. Para pior. Segundo o estudo, para cada duas famílias que recebem o auxílio, uma sai da força de trabalho.

Desde ja, o meu candidato

 🇧🇷 *Lauro Jardim: Com discurso de candidato a presidente, Tarcísio almoça em SP com o PIB- Globo*


O encontro foi na casa de Alexandre Bettamio, co-head de investment banking global do Bank of America, na Fazenda Boa Vista. Tarcísio falou por uma hora e meia. Fez uma longa apresentação sobre sua trajetória pessoal e política para cerca de 200 convidados. E foi interrompido várias vezes por aplausos.


Tarcísio abordou meticulosamente o que precisaria ser feito para colocar o Brasil nos trilhos, sempre dando exemplos de sua gestão em São Paulo. Quem esteve lá, achou o governador candidatíssimo à Presidência da República.


https://tinyurl.com/26a5snkb

Leitura de sábado

 *Leitura de Sábado: Tarifaço leva empresas da B3 a subirem preços e buscarem novos mercados*


Por Gabriel Baldocchi*


São Paulo, 11/08/2025 - Passado o impacto inicial do anúncio das tarifas de 50% pelo governo Donald Trump ao Brasil, as empresas listadas na B3 com negócios nos Estados Unidos mergulharam mais a fundo nas implicações concretas do custo adicional e começam a mapear estratégias de resposta à nova política. Para a maior parte delas, a percepção é de que há espaço para redirecionar as exportações a outros mercados. Outras acreditam que haverá disposição dos clientes em absorver os produtos nos EUA a um preço maior, enquanto um grupo menor de companhias se mobiliza para readequar as linhas de produção.


O setor privado ainda trabalha com o governo e clientes do lado de lá para buscar uma negociação mais favorável junto aos americanos. O Executivo também prepara um conjunto de medidas de apoio às empresas mais afetadas.


A fabricante de armas Taurus se tornou um caso emblemático do tarifaço. A empresa confirmou ao Estadão/Broadcast na última semana que vai transferir uma linha de montagem do Brasil para os EUA, como forma de fazer frente às novas tarifas de 50%, que entraram em vigor no dia 06. O mercado americano representa pouco mais de 80% das receitas da Taurus. Como consequência, a ação da companhia cai mais de 30% neste ano.


Na outra ponta, a Embraer saiu como a maior aliviada por ver as aeronaves excluídas da tarifa extra, restando apenas a cobrança adicional de 10% anunciadas inicialmente pelo governo Trump. Ainda assim, a fabricante de aeronaves calcula um impacto de US$ 65 milhões pelo adicional em 2025 e também sinalizou novos investimentos na produção nos EUA.


A Minerva está no grupo que avalia um novo arranjo de produção. Em teleconferência com investidores na última semana, a direção da companhia disse ver em países mais alinhados ao atual governo dos EUA, como a Argentina, uma alternativa de fornecimento ao mercado americano.


Segundo a Minerva, a diversificação da empresa hoje permite redirecionar os volumes antes enviados aos Estados Unidos para Europa, China, Chile e Oriente Médio, enquanto as plantas da Argentina e do Paraguai poderiam atender mais os Estados Unidos. "Países que ideologicamente são mais alinhados com os Estados Unidos tendem a ter tarifas mais amenas, menores e, às vezes, até benefícios adicionais", afirmou o presidente da Minerva Foods, Fernando Queiroz, na teleconferência com analistas, na quinta-feira, 07 para comentar os resultados do segundo trimestre.


A empresa, portanto, não espera impacto do tarifaço. Como precaução adicional, a Minerva diz ter reforçado os estoques nos EUA em R$ 900 milhões antes da entrada em vigor da tarifa, o que deve ajudar a companhia a atravessar os próximos meses.


Para a fabricante de material de construção Dexco, dona das marcas Deca e Duratex, as vendas ao mercado americano devem ser redirecionadas a outros países. A empresa diz que cerca de 3% da produção de painéis de madeira MDP e MDF do grupo vai para os Estados Unidos. O país representa menos de 1% do total das receitas, calcula o grupo.


Da mesma forma, a Braskem também enxerga espaço para mudar o destino das exportações. A petroquímica calcula que o mercado americano representou 0,7% da receita da companhia no primeiro semestre e avaliou que os produtos mais relevantes exportados para lá ficaram de fora da tarifa de 50%. O restante, segundo a empresa, será redirecionado a outros destinos.


As gigantes de celulose brasileira também sinalizaram intenção de buscar maior diversificação diante das tarifas americanas e já tomaram medidas para mitigar os impactos. "Privilegiávamos os Estados Unidos pelo preço, mas com o tarifaço, redirecionamos exportações", afirmou o presidente da Klabin, Cristiano Teixeira, em teleconferência de resultado com investidores, na quarta-feira, 06, dia em que as tarifas entraram em vigor.


Pelos cálculos da empresa, as medidas anunciadas englobaram 2% das exportações totais da companhia. Somente em 2024, a companhia vendeu mais de R$ 11 bilhões ao mercado externo.


Vai pesar


A Suzano adotou o mesmo caminho da Minerva. Com estoques reforçados, espera atravessar o segundo semestre sem nenhuma nova surpresa. Aos investidores, o presidente da empresa, Beto Abreu, afirmou que a companhia não tem intenção de mudar sua política comercial de longo prazo por instabilidades políticas.


"Temos clientes como a Kimberly-Clark e a Procter & Gamble que compram com exclusividade da Suzano há anos", disse, reforçando que a empresa quer manter sua diversificação entre mercados como a China, Europa e Estados Unidos.


No setor de calçados, um dos principais itens afetados pelo tarifaço, as empresas com exposição aos Estados Unidos admitem  que vão sofrer impactos, embora lembrem que o peso do país é menor no total dos negócios.


Enquanto esperam os esforços do governo brasileiro para tentar reverter as medidas, as fabricantes Grendene e Azzas já se preparam para aumentar preços nos produtos direcionados ao mercado americano. Na Azzas, grupo que reúne Arezzo e marcas como Farm, os reajustes já chegam a 30% nos preços. O país representa menos de 8% das vendas do segmento de calçados e bolsas.


"Em 2026, se não houver algo exorbitante, fora do que já está sendo colocado hoje, prevemos manutenção, e vamos ver se o consumidor vai aceitar pagar US$ 159,00 em um scarpin da Schutz que antes custava US$ 129,00", afirmou Alexandre Birman, diretor presidente do grupo.


*Com colaboração de Elisa Calmom, Leandro Silveira, Danielle Fonseca, Talita Nascimento, Circe Bonatelli e Vinicius Novaes


Contato: gabriel.baldocchi@estadao.com


Broadcast+

Amilton Aquino

 De vez em quando, reencontro alguém que me pergunta por que não escrevo mais nas redes sociais. A verdade é que não parei de publicar — a pessoa é que migrou do Facebook para o Instagram. Portanto, esclareço: este é meu primeiro texto no Instagram. 


Confesso que nunca gostei muito desta rede, pois ela consolida algo que já existia no Facebook, mas em menor grau: a superficialidade, a preponderância da imagem sobre a reflexão, o mundo das aparências, a disputa desenfreada por views (e, em alguns casos, pela monetização desses views — usando até mesmo crianças como isca). Esse foi, inclusive, o tema abordado pelo influenciador Felca nesta semana, e sobre o qual resolvi dar alguns pitacos.


Antes de tudo, preciso esclarecer: em meio à nossa odiosa polarização política, sou aquilo que alguns chamam pejorativamente de “isentão”. Portanto, não esperem de mim adesão cega a interpretações da esquerda ou da direita.


Dito isso, que conexão o tema da “adultização” tem com a política?


Bem, tudo que envolve a opinião pública passa, inevitavelmente, pela política. Não por acaso, a repercussão do vídeo do Felca não apenas motivou a apresentação de um projeto de lei para proibir crianças de terem contas em redes sociais, como já vem sendo usada pela esquerda para reforçar sua agenda de controle sobre as plataformas digitais.


E aqui, como sempre, tudo é relativizado para se ajustar às narrativas políticas do momento. Ora, as denúncias feitas pelo Felca não são nenhuma novidade. Há anos a direita chama atenção para abusos contra a infância e a adolescência, muitas vezes minimizados pela esquerda — como a presença de crianças em contextos de sexualização em paradas LGBT, o episódio do Queer Museu, o caso de outro museu em SP onde crianças foram estimuladas a tocar um homem nu, além de entrevistas polêmicas em que a p3d0filia foi relativizada por “especialistas” que buscavam suavizar a culpa de abusadores sob a justificativa de “distúrbios”.


Para quem não viu o vídeo do Felca: ele mostra diversos casos em que crianças e adolescentes são usados como isca para atrair adultos. Em apenas cinco minutos, o influenciador criou uma conta fake no Instagram e o algoritmo passou a entregar conteúdo focado na “sensualização de crianças”. Nos comentários, uma enxurrada de adultos compartilhando links para sites “especializados”.


E chegamos, então, aos tons de cinza que marcam a disputa entre liberdade de expressão e regulação, entre direita e esquerda. É óbvio que as big techs fazem vistas grossas a esse tipo de abuso. Na era da inteligência artificial, bastariam alguns ajustes nos algoritmos para que esse problema (e outros, como anúncios fraudulentos de falsificações de grandes marcas) fosse drasticamente reduzido. Mas por que não o fazem? Certamente porque isso rende muito dinheiro.


Portanto, as redes devem, sim, ser cobradas por ajustes em seus algoritmos para combater crimes há muito tipificados em lei. O que a esquerda tem tentado, nos últimos anos, é aproveitar os exageros bolsonaristas para pressionar as big techs a aplicar uma autocensura em conteúdos políticos — justamente no ambiente em que a direita conseguiu maior engajamento. Mas esse é outro assunto. O fato é que tentar criar um “Ministério da Verdade” que só pune um dos lados também é um abuso, cada vez mais evidente, inclusive para a imprensa que, durante certo tempo, fez vistas grossas à escalada autoritária do STF.

Tarcisio está certo

 Ratinho resumiu bem, porém não basta apenas eleger uma pessoa normal; é preciso também ter um plano de futuro para o País, mas o que move o Centrão não é exatamente qualquer preocupação com o Brasil e sim apenas com seus bolsos e seus redutos eleitorais.


‘Entre os muitos males que Lula e o PT causaram ao País, um dos mais degradantes foi a ascensão de Jair Bolsonaro. O populismo bolsonarista foi um subproduto dialético do populismo lulopetista. O antipetismo viabilizou a ascensão de Bolsonaro, e o antibolsonarismo viabilizou o retorno de Lula, mantendo o País cativo de um ciclo infernal de ressentimento, radicalização e estagnação. Rompê-lo é condição para avançar. Como resumiu singelamente Ratinho Jr., basta eleger “uma pessoa normal”.’

 

Segue o texto completo do editorial de hoje no Estadão. Se não tiverem tempo de ler tudo, leiam apenas o último parágrafo.


**********


Tarcísio está certo

O Estado de S. Paulo.

16 de ago. de 2025


Ele resumiu bem: ‘O Brasil não aguenta mais o Lula’ – e desbancá-lo é condição para superar o atraso. Mas os candidatos à direita devem saber que o Brasil também não aguenta mais Bolsonaro


“O Brasil não aguenta mais o PT, o Brasil não aguenta mais o Lula.” O desabafo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, num encontro promovido pelo BTG Pactual com outros presidenciáveis de centrodireita, como Ratinho Jr., Eduardo Leite e Ronaldo Caiado, vocaliza mais que um diagnóstico político. É a expressão condensada de um esgotamento histórico, comprovado por dados e pelo cotidiano. Não se trata de mera retórica eleitoral. O sentimento popular, traduzido em índices de rejeição, ecoa uma realidade objetiva: o modelo lulopetista é fiscalmente insustentável, economicamente estagnante, institucionalmente corrosivo e diplomaticamente anacrônico.


Na oposição, recorde-se, o PT sempre foi irresponsável, rejeitando marcos civilizacionais, a começar pela Constituição e o Plano Real. No governo, o resultado foi inequívoco: retrocesso na produtividade, deterioração fiscal, aparelhamento do Estado, corrosão da moralidade pública e uma política externa que confunde alinhamento com ditaduras e hostilidade ao Ocidente com “soberania”. Na economia, o lulopetismo substituiu reformas estruturais por expansão desenfreada do gasto corrente, subsídios distorcivos e intervencionismo improvisado. O preço está na dívida crescente, no déficit crônico, nos juros exorbitantes, na paralisia do investimento privado. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 45 anos o Brasil despencou do 48.º para o 87.º lugar no ranking de PIB per capita, aproximando-se da metade mais pobre do planeta – e isso tem relação direta com o fato de que o Brasil foi governado pelo PT em 16 dos últimos 22 anos.


A cultura institucional moldada pelo PT é adversa ao mérito e complacente com o clientelismo. A máquina pública foi loteada a aliados; as estatais, transformadas em cabides de emprego; o Congresso é tratado ora como inimigo, ora como balcão de negócios. Na política externa, Lula insiste em bajular autocratas e dar declarações contra o “imperialismo estadunidense”, mesmo enquanto China, Europa ou até o Vietnã negociam pragmaticamente com Washington. No campo moral, a marca é um relativismo corrosivo: o partido que reivindica o monopólio da ética capitaneou o maior escândalo de corrupção da história nacional.


Ao dizer que o Brasil “não aguenta mais”, Tarcísio verbaliza um limite estrutural. A população sente – e as projeções confirmam – que o País não suporta mais regimes fiscais que empilham déficits e empurram a conta para o futuro. A exaustão também é geopolítica e tecnológica: enquanto o mundo corre atrás da transição energética e da economia do conhecimento, o lulopetismo insiste em reviver debates marxistas antediluvianos, preso a um saudosismo sindical e a rancores de grêmio estudantil.


Não é preciso endossar candidaturas para reconhecer que os princípios defendidos pelos governadores durante o encontro apontam na direção certa: responsabilidade social sustentada por responsabilidade fiscal, reforma orçamentária, modernização administrativa, combate à corrupção e privilégios e uma visão de futuro conectada às oportunidades globais. É essa virada de página que importa.


Mas, para ser completa, ela não pode omitir um dado incômodo: o Brasil não aguenta mais o bolsonarismo também. Entre os muitos males que Lula e o PT causaram ao País, um dos mais degradantes foi a ascensão de Jair Bolsonaro. O populismo bolsonarista foi um subproduto dialético do populismo lulopetista. O antipetismo viabilizou a ascensão de Bolsonaro, e o antibolsonarismo viabilizou o retorno de Lula, mantendo o País cativo de um ciclo infernal de ressentimento, radicalização e estagnação. Rompê-lo é condição para avançar. Como resumiu singelamente Ratinho Jr., basta eleger “uma pessoa normal”.


Virar a página não é trocar um demagogo por outro. É abandonar a mentalidade retrógrada que nos prende a crises recorrentes, colocar a responsabilidade fiscal no centro da agenda, reafirmar o compromisso com instituições sólidas e abraçar o mundo como ele é, e não como o imaginário ideológico o descreve. O Brasil não aguenta mais Lula e Bolsonaro – e, se não superá-los de uma vez, estará condenado à mais profunda mediocridade. •

sábado, 16 de agosto de 2025

Luís Roberto Barroso

 “No livro “Sem ‘data venia’: um olhar sobre o Brasil e o mundo”, o ministro Luís Roberto Barroso dedica um tópico inteiro da parte autobiográfica da obra para falar sobre sua intimidade com os Estados Unidos (1ª ed. Rio de Janeiro: História Real, 2020, p. 30-34).


Sem ruborizar, louva os méritos dos EUA advindos da economia liberal, ao mesmo tempo em que confessa, ainda em solo norte-americano, ter se dado ao trabalho de registrar-se na embaixada brasileira em Washington para votar em Brizola, no primeiro turno das eleições de 1989. E em Lula, no segundo — o mesmo Brizola que, segundo Barroso, deu ocasião para que deixasse a carreira na procuradoria do estado do Rio de Janeiro, quando “a grana no serviço público ficou bem apertada” já no segundo mandato do governador socialista.


Barroso foi aluno de intercâmbio no Meio-Oeste dos EUA ainda aos 15 anos. Estudou em Yale. Trabalhou no escritório Arnold & Porter. Foi Visiting Scholar na Faculdade de Direito de Harvard.


Os EUA pareciam ser uma segunda casa. “Ia em janeiro, em julho e nos feriados prolongados, para estudar e escrever”, conta. E mais adiante confessa: “A verdade é que me apaixonara por Cambridge — cidade da Universidade de Harvard, ao lado de Boston”; confidenciando: “Fiz do lugar meu refúgio acadêmico, onde me escondo para escrever e estudar”, mesmo já após envergar a toga de ministro do Supremo.


Com todo direito, se gaba: “Hoje, tenho uma posição na Harvard Kennedy School, de Senior Fellow. Dou palestras para os professores, para estudantes e para o board do Carr Center for Human Rights Policy, ao qual sou afiliado.” Já ministro do STF, conta: “Volto a Yale uma vez por ano, para um encontro de juízes de supremas cortes de diferentes partes do mundo” (Global Constitutionalism Seminar).


Embora Barroso não conte no livro, jornalistas já apuraram que o ministro guarda parcela considerável do seu patrimônio em empresas americanas; é proprietário de imóveis nos EUA; e, segundo a Revista Timeline, o filho de Barroso vive nos EUA, onde trabalha numa instituição financeira.


Mesmo o famigerado “Perdeu, mané”, lacônico, mas cheio de significado, foi pronunciado em solo americano, quando Barroso se encaminhava para uma conferência do Grupo LIDE, em Nova Iorque.

A vida de Barroso é meio lá, meio cá. Se o Brasil é seu lar, os EUA são seu templo. Um lugar para comungar das oblações à deusa da razão. Um lugar para professar a fé do Iluminismo. Os EUA encarnam, em grande medida, os valores liberais que Barroso confessa, e se tornaram seu local de culto.


Quando teve seu visto cancelado por ordem do Secretário de Estado dos EUA, Barroso tremeu. Ninguém noticiou, mas me permito imaginar que, ao descobrir o infortúnio, anos a fio do esbulho constitucional que cometeu de repente lhe passaram às vistas como um filme. De chofre, as pupilas dilataram e escamas de mentiras quebraram e caíram dos olhos.


Se já ao senso comum parece que os tumultos de 8 de janeiro de 2023 não foram mais do que vandalismo, sem liderança, sem armas, sem vítimas, em pleno recesso, em pleno domingo… a Barroso, que sabe ponderar, deve ter ocorrido a epifania de enxergar o exagero que foi chamar aquilo de "tentativa de golpe de Estado", condenando milhares de pessoas à prisão só para garantir a ruína de um inimigo político.


Ao receber a notícia do visto cancelado, febril, a parcialidade exsudava pelos poros como um suor amarelo e acre: a bile dos juízes facciosos. Já com a perda do visto, Barroso evitou falar sobre o assunto. Seus pronunciamentos transpareciam o abalo. As olheiras, a voz fraca e reticente, o cenho deprimido, a postura cabisbaixa. Barroso se transfigurou.


Mas, agora que declarações de órgãos de Estado dos EUA dão conta de que o ministro se acha na iminência de sofrer as penas do Global Magnitsky Act, e ser listado entre violadores contumazes de direitos humanos, seria como morrer. Morrer em vida, e tornar-se o primeiro zumbi na Suprema Corte: eis aí uma minoria sem representatividade.”


Bruno Marques Rodrigues Aires é advogado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...