quarta-feira, 30 de julho de 2025

OESP

 Opinião do jornal O Estado de São Paulo


"Eduardo Bolsonaro tem de ser cassado

Por atuar deliberadamente para prejudicar o Brasil, o deputado não pode continuar como parlamentar. Que a Câmara não repita com ele o erro que cometeu há 25 anos, ao deixar impune o pai dele

30/07/2025 | 03h00

Diante das barbaridades protagonizadas pelo então deputado federal Jair Bolsonaro, este jornal pediu a sua cassação em janeiro de 2000, classificando-o pelo que ele era – um dejeto da democracia, alguém desqualificado que se servia das mesmas liberdades democráticas que sempre desejou eliminar. Passados pouco mais de 25 anos, é preciso dizer o mesmo sobre seu filho Eduardo Bolsonaro. Por atuar deliberada e sistematicamente para prejudicar o Brasil, em nome dos interesses particulares de sua família, Eduardo Bolsonaro precisa ter cassado seu mandato de deputado federal. Trata-se da única reação cabível por parte de uma democracia digna do nome.


Eduardo já fez de tudo, mas não há afronta à democracia que não possa ser superada por outra maior. Não lhe pareceu suficiente, por exemplo, regozijar-se do lobby que fez junto ao governo dos EUA como forma de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a desistir dos processos contra seu pai, tornando-se responsável, em grande medida, pelo tarifaço convertido em chantagem explícita do presidente americano, Donald Trump, contra o Brasil e a favor de Jair Bolsonaro. Também não lhe bastou arvorar-se em negociador diplomático e pedir sanções contra autoridades brasileiras, entre as quais os presidentes da Câmara e do Senado, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o presidente Lula da Silva. Era preciso, como fez o pai durante as décadas que passou no Congresso, enxovalhar a instituição parlamentar que ele mesmo integra: nesta semana, o deputado admitiu na caradura que está sabotando o esforço da comitiva de senadores brasileiros que viajou aos EUA para tentar abrir algum canal de diálogo com o Congresso e o governo americanos a fim de evitar as tarifas impostas por Trump.


Dias antes, reclamou dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD), por se pronunciarem sobre o tarifaço sem mencionar o que realmente importa para os Bolsonaros – a liberdade de Jair Bolsonaro. Ainda acusou Tarcísio de tê-lo desrespeitado por dialogar com empresários paulistas e com o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, para discutir a crise. Segundo a cartilha bolsonarista, qualquer ação que se afaste da defesa direta da impunidade para o ex-presidente e outros golpistas equivale a uma declaração de guerra.


A lista de suas imposturas também envolveu uma live nas redes sociais, na qual o irascível “Zero Três” não só manteve o diapasão alto nos ataques ao STF como recorreu a uma intimidação de fazer corar vítimas de gângsteres, milicianos e contraventores do gênero. Ao mencionar a Polícia Federal e citar o delegado responsável pelos principais inquéritos contra Bolsonaro, subiu alguns graus do “jus sperniandi” de quem se enxerga um injustiçado para fazer ameaça explícita: “Vai lá, cachorrinho da Polícia Federal que tá me assistindo, deixa eu saber não”, avisou. “Se eu ficar sabendo quem é você, eu vou me mexer aqui. Pergunta ao tal delegado Fábio Alvarez Shor (que investigou Bolsonaro em diversos inquéritos) se ele conhece a gente”. Um assombro.


Com o prazo expirado da licença que o deputado tirou para sabotar o Brasil em solo americano, e sem planos imediatos de retornar ao País, esperava-se que ele renunciasse ao mandato que os paulistas infelizmente lhe deram. Nos últimos dias, difundiu-se na imprensa a possibilidade de a Câmara adotar o mesmo artifício usado no caso do deputado Chiquinho Brazão, réu pelo assassinato da vereadora carioca Marielle Franco: deixar que as faltas às sessões cumprissem a função da perda do mandato. Será um erro gravíssimo. A fim de cuidar da própria imagem, não bastará ao Legislativo federal recorrer a essa solução. Afinal, Eduardo Bolsonaro passou dos limites e merece não a inércia corporativista da Casa, mas uma punição dura, real e imediata.


Há 25 anos, quando poupou o então deputado Jair Bolsonaro, a Câmara escolheu desmoralizar-se. Que não repita esse erro agora com Eduardo Bolsonaro."

Josué Leonel

 *Copom e Fed pré-tarifas testam alívio na curva: Mercado Hoje*


Por Josue Leonel

(Bloomberg) -- Copom deve manter a Selic em 15% e mercado

buscará em eventuais citações do efeito das tarifas americanas

sinais que apontem a continuidade do aperto ou sinalizem o

início futuro dos cortes. Evidências preliminares de alguma

abertura para negociações entre Brasil e EUA, além da leitura de

alguns analistas de que as taxações podem reduzir a atividade e

a inflação, trouxeram alívio à curva longa de juros nas últimas

sessões e as precificações de taxas caíram para 2026. Presidente

Lula, no entanto, diz ao NYT que ninguém do governo dos EUA

“quer conversar” com o Brasil e não há “motivo para ter medo” de

criticar Trump.

Mercado também reagirá à decisão do Fed, que deve manter

sua taxa, com investidor atento à coletiva de Jerome Powell e

eventuais dissidências no comitê. Agenda nos EUA ainda pode

gerar volatilidade com PIB, ADP e balanços. Minério cai com

China. No Brasil, saem IGP-M e resultado do governo central. No

corporativo, Petrobras eleva produção com Búzios. Bradesco, pós-

fechamento, tem expectativa de balanço sólido. Santander cai na

Espanha com despesa no Brasil.

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*T

Às 7:32, este era o desempenho dos principais índices:

S&P 500 Futuro +0,1%

STOXX 600 +0,1%

FTSE 100 -0,2%

Nikkei 225 estável

Shanghai SE Comp. +0,2%

MSCI EM estável

Dollar Index estável

Yield 10 anos estável a 4,3243%

Petróleo WTI -1% a US$ 68,55 barril

Futuro do minério em Singapura -0,8% a US$ 101,95

Bitcoin +0,7% a US$ 118307,5

*T

 

Internacional

Mercados mistos antes de decisão do Fed e balanços; minério

cai

* Bolsas operam sem direção clara e rendimentos dos treasuries

têm oscilação modesta antes da decisão do Fed, enquanto

investidores avaliam balanços

* Índice europeu Stoxx 600 opera de lado com resultados abaixo

do esperado do HSBC e acima do previsto do UBS; americanas Meta

e Microsoft divulgam balanços

* Dólar cai contra a maioria dos pares do G-10

* Fed deve anunciar às 15:00 manutenção de sua taxa entre 4,25%

e 4,50% pela quinta reunião consecutiva; presidente Jerome

Powell, que tem sofrido pressão de Trump para cortar o juro, dá

coletiva a seguir

** Dissidências de uma ou mais autoridades podem enviar a

mensagem de que alguns membros do comitê preferem reduzir juros

mais cedo

* Mais cedo, dados do PIB e ADP mostram pulso da economia

americana, a dois dias do payroll e também do fim do prazo de

negociação das tarifas

* Minério de ferro e cobre recuam por frustração dos

investidores com uma reunião na China, em que autoridades

prometeram implementar políticas para apoiar a economia, de

acordo com a agência oficial de notícias Xinhua, mas sem

detalhes sobre medidas em larga escala

* Petróleo tem baixa, mas sustenta maior parte dos fortes ganhos

da véspera depois que Trump reiterou a possibilidade de impor

penalidades adicionais à Rússia


Para acompanhar

Copom pré-tarifas em meio à queda do DI longo; IGP-M,

primário

* Copom deve manter a Selic em 15% e sinalizar que a política

continuará restritiva, mas pode suavizar a mensagem, segundo a

Bloomberg Economics

* Visão mais branda do cenário de tarifas e perspectiva de

trégua comercial entre EUA e China ajudou os ativos brasileiros

nesta terça-feira

** Curva do DI ampliou a aposta em Selic final mais baixa; taxa

precificada para julho de 2026 caiu de 13,9% em 18 de julho,

menos de duas semanas atrás, para 13,6% ontem

** Também cresceu a chance de um corte da Selic no 1º tri de

2026: curva aponta redução de 12,1 pontos em janeiro e 20,7

pontos em março

* FGV divulga às 8:00 IGP-M de julho, estimativa -0,86%

* Tesouro divulga às 14:30 resultado primário do governo central

de junho, estimativa -R$ 41,1 bi

* BC divulga fluxo cambial semanal às 14:30

* Balanços hoje: Bradesco, Tim Brasil, EcoRodovias, Isa Energia

* Prévia: Bradesco deve reportar mais um trimestre “sólido”

* Prévia: Tim Brasil deve ter 2T ‘estável’ com alta no pós-pago


Outros destaques

Lula fala ao NYT; Brasil tenta negociar tarifas

* Brasil não prefere EUA como parceiro comercial à China, disse

o Lula em entrevista ao New York Times

** Brasil tem relação comercial “extraordinária” com China,

afirmou

** Não há “motivo para ter medo” de criticar Trump; Brasil não

negociará com os EUA “como se fosse um país pequeno contra um

país grande”, diz Lula

** Ninguém do governo dos EUA “quer conversar” com o Brasil

sobre comércio, segundo ele

* Líder do governo no Senado, Jaques Wagner descarta conversa

entre Lula e Trump até 1º de agosto: Estado

* Governo espera manifestação do representante dos EUA para

avançar em negociação: Globo

* Alckmin diz que Brasil negocia redução tarifas para todos

setores e que plano de contingência só será apresentado se

taxação americana for aplicada

* Lula tem às 15:00 reunião com CEO Global da Airbus

Helicopters, Bruno Even, e às 16:00 participa da sanção de

projeto de lei


Empresas

Petrobras, Santander, Suzano, Ambipar

* Petrobras: Produçãoóleo e gás 2T 2.909 mil boe/dia; +7,8% a/a

** Produção aumentou após a rápida expansão do campo offshore de

Búzios

* Santander Brasil: Lucro líquido gerencial 2T de R$ 3,66 bi

frustra estimativas

** Santander cai na Espanha, com lucro recorde no segundo

trimestre ofuscado por uma despesa inesperada de US$ 540 milhões

em suas operações brasileiras para refletir “as expectativas de

um ambiente econômico mais complexo”

* Suzano avalia acelerar expansão nos EUA devido às tarifas:

Valor

* CVM decide contra necessidade de OPA por ações da Ambipar

BDM Matinal Riscala

 A esperança é a última que morre

 Resumir

30 de julho de 2025

Superquarta tem Copom, Fed, PIB e relatório de emprego nos EUA, além dos balanços da Meta, Microsoft, Santander e Bradesco


A esperança é a última que morre

… Superquarta agitada tem muito mais do que as reuniões do Copom (18h30) e do Fed (15h), em que os juros devem se manter estáveis. Em coletiva (15h30), Powell não se dobrará às pressões por corte antecipado, preferindo esperar pelos impactos da negociação final das tarifas. Dois indicadores importantes saem nos Estados Unidos antes da decisão de política monetária: relatório de emprego da ADP (9h15) e o PIB do segundo trimestre (9h30). Após o fechamento, Meta e Microsoft soltam balanços. Aqui, Santander vem antes da abertura e Bradesco, à noite. Na agenda dos indicadores domésticos, o déficit do Governo Central em junho (14h30) é destaque. O protagonismo do dia continua com o tarifaço. O mercado começa a apostar em um desfecho mais positivo, sem ruptura total.


… Oficialmente, não há nenhuma garantia ou segurança de que o pior será evitado. Mas o investidor vai costurando informações daqui e dali para comprar a percepção de que algum progresso vai sair, faltando dois dias para os 50%.


… Sem mencionar o Brasil, o secretário do Comércio americano, Howard Lutnick, reconheceu ontem que os Estados Unidos podem voltar atrás e isentar alguns produtos que não são cultivados por lá, como café, cacau e manga.


… A possibilidade de que estes itens entrem com tarifa zero coincide com o bastidor apurado pela Folha de que os alimentos possam ter tratamento diferenciado, na solução negociada para evitar que a inflação americana escale.


… Fontes do Broadcast que acompanham as tratativas confirmam que o governo brasileiro avalia pedir a exclusão dos alimentos do tarifaço, mas que a prioridade, no momento, ainda é tentar adiar ou reverter a taxação de 50%.


… Alckmin negou, por meio de sua assessoria, que o foco seja tentar poupar alguns setores específicos e a Embraer dos sobretaxas. O esforço continua concentrado, segundo ele, em derrubar ou atrasar o prazo da alíquota dos 50%.


… Setores de aço e alumínio esperam ficar de fora do tarifaço, porque já pagam sobretaxa de 50% e, se alíquotas somadas chegarem a 100%, o porcentual poderia inviabilizar por completo a venda dos produtos aos americanos.


… O mercado financeiro também resolveu ler com alívio (mais abaixo) os comentários de Haddad de que os canais de diálogo com o governo de Washington “estão sendo desobstruídos, vagarosamente, mas estão”.


… Em entrevista à CNN Brasil, o ministro admitiu quetodo o mundo está “pisando em ovos” para saber o que o governo Trump quer, mas que há condições para não tornar a próxima sexta-feira (1º de agosto) um “dia fatídico”.


… Haddad negou que o governo tenha demorado para negociar e disse que conversava com o secretário do Tesouro americano desde maio, mas depois o diálogo foi interrompido para a negociação se concentrar na Casa Branca.


… O ministro assegurou que Lula está aberto a dialogar e a telefonar para Trump, desde que seguido um protocolo para evitar o “papelão” passado por Zelensky no Salão Oval em fevereiro, quando foi humilhado pelo republicano.


… “Você não vai querer que o presidente Lula se comporte como o Bolsonaro se comportava, abanando o rabo e falando ‘I love you’, batendo continência”, completou. Integrantes do governo temem um tratamento desrespeitoso.


… O Globo informou, citando auxiliares do Palácio do Planalto, que Lula só tomaria a iniciativa de um telefonema depois de esgotadas todas as possibilidades de negociação, como último recurso para acabar com a crise.


… Em Washington, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, descartou uma conversa de Lula e Trump até o prazo fatal de sexta-feira. “O encontro de dois presidentes da República não se prepara da noite para o dia.”


SEM RETALIAÇÃO – Apesar do gelo de Trump, o investidor recebeu com alívio a informação de Haddad de que uma retaliação não é cogitada no plano de contingência desenhado para socorrer as empresas afetadas pelo tarifaço.


… “Esse tipo de coisa na mesma moeda não está na ordem de considerações, porque estamos pensando no povo brasileiro”, disse. “Não podemos cometer o erro simétrico de encarecer aquilo que melhora a produtividade.”


… Dourando a pílula, o ministro afirmou que o tarifaço pode ter efeito desinflacionário ao Brasil, porque aumentará a oferta de produtos em território nacional, devendo causar uma surpresa positiva em relação aos alimentos.


… Haddad não quis revelar antecipadamente as medidas que fazem parte do plano de contingência. Também Simone Tebet não entrou em detalhes. Só disse à Globonews que o plano é “muito menos fiscal do que se espera”.


… Por conta própria, enquanto o governo federal não lança o plano de contingência, os Estados mais impactados pelo tarifaço começaram a anunciar medidas de concessão de crédito às empresas para evitar demissões.


… Tarcísio lançou uma linha de crédito de R$ 200 milhões com juros subsidiados para exportadores paulistas.


… No Paraná, o governador Ratinho Júnior (PSD) anunciou um pacote que inclui a liberação de créditos do ICMS para que as empresas vendam esses valores no mercado ou usem como aval para novos empréstimos.


… No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite anunciou programa de crédito de R$ 100 milhões por meio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul para socorrer exportadores gaúchos que vendem aos Estados Unidos.


… O Ceará estuda liberar créditos do ICMS para exportadores. O Rio, segundo Estado que mais exporta aos americanos (especialmente petróleo, ferro e aço) criou um grupo de trabalho para avaliar os impactos da taxação.


ALCKMIN E AS BIG TECHS – Citadas na carta de Trump do anúncio das tarifas de 50% para produtos brasileiros, as gigantes de tecnologia Meta, Google, Amazon, Visa e Expedia se reuniram ontem, pela segunda vez, com o vice.


… Alckmin disse o governo montou uma mesa de trabalho para debater, além de regulamentação, inovação tecnológica, segurança jurídica e oportunidade econômica. “Vamos aprender e não devemos ter muita pressa.”


LEILÕES CAMBIAIS – A Febraban informou que não recebeu demandas de seus associados sobre eventual necessidade de leilões de câmbio, seja à vista ou de linha, e que os mercados seguem funcionando normalmente.


… A nota da entidade veio em resposta à apuração do Broadcast de que, com o câmbio próximo de R$ 5,60, bancos estariam pedindo leilões de dólar à vista para aliviar o impacto sobre os exportadores do tarifaço de Trump.


CHINA PODE GANHAR TRÊS MESES – O secretário do Tesouro, Scott Bessent, reconheceu que acrescentar mais 90 dias à trégua tarifária com Pequim é uma opção, que será levada a Trump hoje para ele dar a palavra final.


… O prazo vence daqui a duas semanas, no dia 12 de agosto, mas tudo aponta para uma extensão a Pequim.


RACHA NO FED – Não será nenhuma surpresa se o placar vier com dois votos a favor de um corte no juro, porque Christopher Waller e Michelle Bowman vêm indicando que não querem esperar até setembro para relaxar a taxa.


… Mas é bastante garantida a aposta de que os falcões vão vencer essa, mantendo os juros no atual nível, entre 4,25% e 4,50%, pela quarta vez consecutiva, ainda que Powell possa abrir alguma porta dovish para setembro.


… Devido a um problema pessoal, o Fed informou que a dirigente Adriana Kugler não participará da reunião do Fomc desta quarta-feira, que contará então com a participação de apenas 11 integrantes, contra os 12 votos habituais.


… Powell vem dizendo que espera ver um efeito mais significativo das tarifas às importações sobre a inflação a partir dos dados de junho, que serão divulgados entre julho e agosto. O mercado de trabalho também segue no radar.


… O payroll de sexta-feira tem potencial de continuar calibrando as apostas sobre o timing do ciclo de cortes.


… Hoje, às 9h15, o relatório da ADP sobre a criação de empregos no setor privado deve apontar a abertura de 113 mil postos de trabalho em julho, revertendo o fechamento de 33 mil vagas observado no mês de junho.


MAIS AGENDA – Diante das incertezas sobre os reflexos da política tarifária, as expectativas para o PIB dos Estados Unidos no segundo trimestre estão espalhadas, de 0,8% a 3,8%. A mediana no Broadcast aponta para 2,3%.


… Se confirmado, o dado, que sai às 9h30, deve reverter a retração de 0,5% observada no trimestre anterior.


… Ainda entre os indicadores americanos, serão divulgadas as vendas pendentes de imóveis, às 11h00, com previsão de queda de 1,6%, além dos estoques de petróleo do DoE, às 11h30, com recuo de 1,6 milhão de barris.


… Também é dia de PIB na zona do euro (6h), França (2h30), Alemanha e Itália (5h) e Portugal (5h30). O Canadá divulga decisão monetária às 10h45 e deve manter o juro em 2,75%, enquanto as incertezas comerciais persistem.


… À noite (22h30), a China divulga o PMI do setor industrial e de serviços em julho.


AQUI – No Broadcast, o mercado projeta um déficit primário de R$ 41,100 bilhões (mediana) em junho para as contas do Governo Central em junho, às 14h30. As projeções, todas negativas, variam de R$ 48,600 bi a R$ 18,098 bi.


… Haddad disse ontem que a equipe econômica não tem “nenhuma expectativa” de mudar nem de descumprir a meta fiscal de 2025 e 2026, uma vez que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) já foi encaminhada ao Congresso.


… Às 8h, o IGP-M de julho deve recuar 0,88%, queda menos intensa do que a de 1,67% observada em junho. Todas as projeções são de deflação, de 1,19% a 0,66%. O BC divulga o fluxo cambial semanal às 14h30.


BALANÇOS – Abrindo a safra dos bancos, o Santander deve apresentar lucro líquido de R$ 3,757 bilhões no segundo trimestre, segundo o Broadcast, com alta de 12,7% na base anualizada e queda de 2,7% contra o primeiro trimestre.


… Essa redução na margem deve ser explicada pela pisada no freio da instituição financeira na concessão de crédito, diante da Selic de 15%, que cria um ambiente mais desafiador para as pessoas físicas e para as empresas.


… Já os resultados do Bradesco, depois do fechamento, devem melhorar, com expectativa de lucro líquido de R$ 5,976 bilhões, uma alta de 26,7% na comparação anual e de 1,9% contra os três primeiros meses do ano.


COPOM COPIA E COLA – Ninguém espera nada diferente do que Selic estável em 15% e o BC deve manter o tom do comunicado para não dar margem de dúvida sobre a intenção de manter o juro por período “bastante prolongado”.


… Se o Copom vai incorporar as tarifas de 50% ao balanço de riscos é o suspense. O BofA tem dúvidas sobre a abordagem do tarifaço. Se considerar o câmbio, o risco é de alta. Se considerar a atividade global, é de baixa.


… Até que as coisas se definam melhor na disputa protecionista, a palavra de ordem ainda é cautela, evitando qualquer sinalização diferente de que o conservadorismo será mantido até o primeiro trimestre do ano que vem.


… Do último Copom para cá, a boa notícia é que as expectativas de inflação caíram, com a mediana para o IPCA de 2026 abaixo do teto da meta no boletim Focus, em 4,44%. Já o mercado de trabalho continua aquecido.


… Resistente à política monetária, a taxa de desemprego se mantém nos menores níveis da série histórica.


SINAIS DE FUMAÇA – As indicações de que pode haver algum tipo de diálogo entre o Brasil e os Estados Unidos sobre o tarifaço deram fôlego aos ativos domésticos, numa recuperação parcial do pessimismo da 2ªF.


… Ainda que não existam atos concretos que levem a um acordo para barrar a tarifa de 50%, o combo de declarações de Haddad, Alckmin e de Howard Lutnick provocou alguma descompressão.


… O mercado andava precisando desse alívio. Desde o anúncio de Donald Trump, em 9 de julho, os estrangeiros retiraram quase R$ 7 bilhões de recursos da B3.


… Após três dias de perdas consecutivas, o Ibovespa subiu 0,45%, aos 132.726 pontos. Na máxima do dia, rompeu os 133 mil pontos (133.346), mas perdeu força ao fim do pregão. O giro, abaixo da média, ficou em R$ 16,3 bilhões.


… Embraer subiu 3,76%, a R$ 68,74, voltando a rondar os R$ 70 após sete pregões, na esperança de ser poupada do tarifaço. Foi a maior alta do índice. Mas ainda está longe dos R$ 83 de antes do anúncio da tarifa de 50%.


… A própria companhia tem se engajado com autoridades na tentativa de restaurar a alíquota zero de importação. O presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, está nos EUA para comandar as negociações muito de perto.


… Petrobras (ON +1,63%, a R$ 35,59; PN +1,31%, a R$ 32,44) aproveitou o salto de 3,52% no Brent/set, a US$ 72,51 por barril, depois que Donald Trump deu 10 dias para a Rússia acabar com a guerra da Ucrânia.


… Na mesma onda, Brava Energia subiu 2,74% (R$ 19,88) e Petrorecôncavo avançou 1,73% (R$ 13,56).


… Vale ficou no lado negativo (-0,62%; R$ 54,82), na contramão do minério de ferro em Dalian, que subiu 0,63%.


… Magazine Luiza liderou as perdas com -2,79% (R$ 6,98), seguida de Pão de Açúcar (-1,99%; R$ 3,45) e Raízen (-1,39%; R$ 1,42).


… Entre os bancos, Bradesco caiu 0,19% na véspera do balanço, a R$ 15,41 no papel PN. Itaú PN subiu 0,58% (R$ 34,67), a unit do Santander teve alta de 0,11%, a R$ 26,37, e Banco do Brasil ficou estável (+0,05%), em R$ 19,95.


… A expectativa em torno das negociações Brasil-EUA queimou prêmios nos juros, o que ajudou a sustentar a alta das ações.


… O alívio no câmbio e o recuo nos rendimentos dos Treasuries depois do relatório Jolts (abaixo) contribuíram para DIs mais leves.


… O DI para Jan/26 caiu a 14,910% (de 14,927% no ajuste anterior); Jan/27, a 14,155% (de 14,215%); Jan/29, a 13,380% (13,531%); Jan/31, mínima de 13,600% (contra 13,785% na véspera); e Jan/33, 13,720% (13,902%).


… O dólar à vista fechou em baixa de 0,36%, a R$ 5,5695, depois de testar novamente os R$ 5,60, nível que tem se provado resistente, diante do carry trade atrativo com a Selic a 15% ao ano, que não deve sair daí tão cedo.


… O rali do petróleo, além de um leilão de linha pelo BC, também ajudaram na desvalorização do dólar por aqui, na contramão do que ocorreu no exterior.


… A moeda brasileira teve a segunda melhor performance entre as principais divisas emergentes e de exportadores de commodities.


RECUO ESTRATÉGICO – Depois de recordes sucessivos, as bolsas de Nova York deram um tempo, com investidores buscando a cautela antes da entrevista de Jerome Powell hoje à tarde.


… O dia ruim em Wall Street respondeu a balanços decepcionantes e ao relatório Jolts, que mostrou queda um pouco maior que a esperada no número de vagas de trabalho em aberto nos EUA.


… O relatório Jolts mostrou 7,4 milhões de vagas em aberto nos EUA em junho, menos que as 7,7 milhões em maio, mas na análise da Bloomberg, o número se manteve num nível que indica demanda estável por trabalhadores.


… O Jolts ajudou a reduzir os juros dos Treasuries, mas isso não animou as bolsas.


… Pressionado pelos recuos de UnitedHealth (-7,46%), Boeing (-4,37%) e Merck (-1,70%), que divulgaram balanços ruins, o Dow Jones caiu 0,46%, aos 44.632,99 pontos.


… Outro tombo foi de Whirlpool, que despencou 13,43%, após cortar a projeção de lucro e de dividendos para 2025.


… Quebrando uma sequência de seis altas consecutivas, o S&P 500 perdeu 0,30%, aos 6.370,89 pontos; e o Nasdaq cedeu 0,38%, aos 21.098,29 pontos.


… “O mercado teve um bom desempenho e agora está em modo de digestão. Alguns indicadores técnicos sugerem que uma retração pode estar a caminho”, disse Jay Woods, da Freedom Capital Markets, à CNBC.


… “Esta é uma pausa, período para focar em nomes individuais impulsionados pelos lucros, enquanto o mercado observa a evolução da narrativa do Fed. Espero alguma clareza após a coletiva de imprensa de Powell”, disse Woods.


… Nos Treasuries, o juro da T-Note de 2 anos recuou a 3,879%, de 3,920% na sessão anterior, e o da T-Note de 10 anos caiu a 4,324%, de 4,417%. O do T-Bond de 30 anos recuou a 4,860%, de 4,962%


… As negociações comerciais entre EUA e China, que entraram no segundo dia, não tiveram muito peso no mercado, que esta semana está mais interessado no Fed, no PIB, payroll e lucros das magníficas.


… “Os investidores agora estão mais focados em dados concretos para validar as perspectivas econômicas e políticas, em vez de interpretar acordos comerciais de forma exagerada”, disse à Bloomberg Dilin Wu, da Pepperstone Group.


… No câmbio, o índice DXY subiu 0,25%, a 98,886 pontos, mas numa perspectiva mais ampla operou de forma divergente ante moedas fortes e emergentes.


… De um lado, ainda foi sustentado pelo acordo com a UE, que beneficia os EUA. De outro, caiu ante divisas de países exportadores.


… No fim dos negócios em Nova York, o euro caía a US$ 1,1556 e a libra seguia estável em US$ 1,3357. Já o iene tinha leve alta a 148,46/US$.


GAZA – Netanyahu acusou o premiê britânico, Keir Starmer, de recompensar o “terrorismo monstruoso” do Hamas e “punir vítimas”, ao anunciar que o Reino Unido tem planos de reconhecer o Estado Palestino antes de setembro.


… Semana passada, o governo Macron já havia anunciado a mesma decisão, provocando a ira de Israel.


COMPANHIAS ABERTAS NO FOCO – PETROBRAS informou produção média de 2,879 milhões de barris diários de óleo equivalente (boed) no segundo trimestre, alta de 8,1% em um ano…


… Já o volume de vendas de derivados no mercado interno subiu 0,8% na mesma base comparativa, para 1,714 milhão de barris por dia (Mbpd). Os dados não empolgaram o investidor no after market em NY…


… O ADR equivalente ao papel ON fechou em queda de 0,31% e o PN subiu só 0,12%.


MOTIVA (ex-CCR) registrou lucro líquido de R$ 897 milhões no 2TRI, salto de 234,9% na comparação anual; Ebitda somou R$ 2,1 bilhões, aumento de 24,5% em relação ao mesmo período de 2024.


BB superou marca de R$ 6 bilhões de contratações do novo consignado privado. Desde o lançamento, em março, já foram realizadas cerca de 600 mil operações, com valor médio de R$ 10,1 mil por empréstimo. (Valor)


AMBIPAR. Colegiado da CVM decidiu que não estão configurados os requisitos necessários para a imposição da obrigação de realização de oferta pública de aquisição (OPA) por aumento de participação na companhia.


SIMPAR. Subsidiária Ciclus Rio, que atua com tratamento de resíduos, recebeu primeiro desembolso do BNDES referente ao financiamento do Fundo Clima, no valor de R$ 50 milhões.


CARNE. Setor no Brasil perderá até US$ 1 bi neste ano se houver tarifa de 50% dos EUA, segundo Abiec; expectativa era de exportação de 400 mil toneladas de carne para os EUA em 2025, mas número poderá ficar abaixo (Exame)…


… No ano passado, foram enviadas 220 mil toneladas da proteína brasileira para os EUA.


MINERAÇÃO. Fusões e aquisições do setor no Brasil dobraram no primeiro semestre, segundo a KPMG; movimento foi puxado por interesse de grupos estrangeiros. (Reuters)

terça-feira, 29 de julho de 2025

Fabio Alves

 FÁBIO ALVES: AS TENTAÇÕES AO COPOM


Faz muito tempo que uma reunião do Copom não acontece em meio a uma irrefutável queda tanto nas expectativas inflacionárias dos analistas, quanto na inflação implícita nas taxas dos títulos públicos, mostrando um progresso efetivo da política monetária restritiva que levou os juros a 15%. Mas a melhora ainda é incipiente, e o perigo é de o Banco Central baixar a guarda e afrouxar a sinalização dos seus próximos passos. Esta é a primeira reunião que o Copom deverá deixar a taxa Selic parada após ter indicado, em junho, que pretende mantê-la inalterada por “período bastante prolongado”. Assim, a atenção recairá sobre o comunicado que acompanhará o anúncio da decisão amanhã. O desafio do Copom é dissuadir o mercado de apostar num eventual início de um ciclo de corte de juros antes do desejável, o que colocaria a perder todo o esforço do BC em levar as expectativas inflacionárias em direção à meta de 3%. Como, porém, não evitar uma sinalização mais suave no comunicado sem reconhecer o progresso na queda das projeções de inflação e no câmbio sob controle, apesar dos ruídos nos ambientes doméstico e externo? Finalmente, a estimativa para o IPCA de 2026 cedeu abaixo do teto da meta, de 4,50%, caindo para 4,44%. Já as projeções para 2025, que no pior momento do ano chegaram a bater em 5,68%, agora apontam para uma inflação de 5,09%. Na sua última reunião, em junho, o Copom trabalhou com uma cotação do dólar a R$ 5,60. De lá para cá, o presidente americano Donald Trump anunciou uma tarifa de importação de 50% para os produtos brasileiros, causando barulho político e apreensão entre os empresários. Mesmo assim, o dólar ainda se encontra ao redor de R$ 5,60. Aliás, essa é uma grande incerteza para o Copom, uma vez que a sua decisão antecederá o prazo dado por Trump para a sobretaxa de 50% entrar em vigor, a partir de 1º de agosto. Supondo que não se chegue a um acordo, o impacto sobre a economia brasileira deve ser setorial, afetando produtores agrícolas e de metais, além de empresas como a Embraer. Logo, seria razoável imaginar que a economia brasileira desaceleraria um pouco mais do que num cenário sem tarifa de importação, pois as exportações representam parcela pequena do PIB. Se o câmbio seguir comportado, o impacto sobre a inflação também seria comedido. Qualitativamente, na fotografia de hoje, o balanço de riscos do Copom não se alteraria muito em razão da tarifa de importação. Assim, é preciso que o recado do BC seja crível: a pausa do aperto monetário vale até o fim do ano, pelo menos.

Mais imbróglio Master

 *Proposta de intervenção no Master racha diretoria do Banco Central*


Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro, não só é contra a operação – como informou neste domingo o colunista Lauro Jardim – como vem defendendo uma intervenção no Master, em razão de irregularidades constatadas pelo grupo de trabalho interno que escrutina os termos do negócio e a saúde financeira dos dois bancos.


De acordo com fontes a par das discussões internas, já existe inclusive uma minuta do ato de intervenção pronta.


Gomes conta com o apoio do diretor de regulação, Gilneu Vivan, mas está em rota de colisão com Aílton Aquino, diretor de Fiscalização. As três diretorias são diretamente relacionadas ao caso. Gabriel Galípolo, presidente do BC, tem tentado se equilibrar entre as pressões e evitar a intervenção.


Entre as irregularidades constatadas pela verificação interna da autarquia estão uma compra de carteira de créditos do Master pelo BRB no fim de 2024. Além do valor, próximo dos R$ 12 bilhões, há suspeita de que os créditos não tenham lastro.


Procurado, o BC informou por meio de sua assessoria que não vai comentar o assunto. O Master também preferiu não se pronunciar sobre o caso.


Seu controlador, Daniel Vorcaro, está em férias na França, em Saint-Tropez.


Hecatombe no mundo político



Uma intervenção no Master a esta altura do campeonato provocaria uma espécie de hecatombe no mundo político. Desde que o negócio foi anunciado, senadores e deputados já conseguiram abortar uma CPI para investigar o negócio, articulando a retirada de assinaturas do pedido de abertura da comissão.


Políticos de diversos partidos também integram um forte lobby nos bastidores do Congresso e do Executivo pela aprovação da compra do Master pelo BRB, o banco estatal do Distrito Federal.


Em março, o banco de Brasília se propôs a pagar R$ 2 bilhões por 58% do Master e ainda deixar o controle na mão dos atuais donos. Na prática, a operação representa um salvamento, já que o Master enfrenta problemas de liquidez.


O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, declarou que a operação de compra prevê que a instituição assuma o pagamento de apenas uma parte dos CDBs já distribuídos pelo banco paulista ao mercado.


Os CDBs do Master são vendidos a investidores com a promessa de um rendimento acima do padrão do mercado e o pagamento de comissões também mais altas do que a média aos agentes vendedores – o que suscitou uma série de dúvidas acerca da capacidade da instituição de honrar seus compromissos.


O banco também já arrecadou R$ 1,867 bilhão com a venda de letras financeiras a fundos de previdência estaduais e municipais. Os papéis prometem rendimento bem acima do CDI e foram recusados pela área técnica da Caixa por serem considerados “arriscados demais” pela estatal em meados do ano passado.


Além disso, o banco também é investigado pela Polícia Federal (PF) em um inquérito que apura a suspeita de fraude em precatórios pelos controladores da instituição para inflar artificialmente o valor dos ativos no balanço do banco.


Os precatórios e seu valor são um dos pontos mais polêmicos na discussão em torno da saúde financeira do Master, porque eles representam parte significativa dos ativos. No mercado, esses papeis vêm sendo tratados como a “parte podre” do banco.


Esse item foi classificado pela firma de auditoria KPMG como um “principal assunto de auditoria”, ou seja, um assunto que suscitou análise mais detalhada e exigiu uma observação à parte justamente por causa da dificuldade em calcular o valor dos papéis.


De acordo com especialistas ouvidos pela equipe da coluna, aumentar o valor dos ativos é importante para que o banco mantenha o indicador mínimo de solidez financeira exigido pelo Banco Central para autorizar uma instituição financeira a continuar operando – o índice de Basileia. É esse índice que mostra se um banco tem condições de absorver eventuais perdas e proteger seus clientes.


Todos esses itens vêm sendo analisados ao longo dos últimos meses pelo BC. Os detalhes das apurações ainda não vieram à tona, mas pelo tamanho da cizânia já é possível afirmar que nenhuma decisão será tomada sem trauma.


https://oglobo.globo.com/blogs/malu-gaspar/post/2025/07/proposta-de-intervencao-no-master-racha-diretoria-do-banco-central.ghtml

O império do dólar

 As moedas nacionais sem lastro em coisa alguma é uma realidade muito recente. Data de 1971, quando o governo Nixon decidiu romper a paridade do dólar com o ouro, de US$ 35/onça. Estava, assim, desfeito o acordo monetário de Bretton Woods, que, em 1944, havia determinado essa paridade e as cotações fixas das diversas moedas europeias em relação ao dólar. Esse arranjo foi feito porque o diagnóstico, na época, era que desvalorizações competitivas haviam sido um dos fatores que levaram à instabilidade política e à eclosão da guerra.


A não ser para países absolutamente fechados econômica e financeiramente, o câmbio fixo exige ajustes da economia que podem ser inviáveis politicamente. A Grécia é o exemplo clássico de país que optou pelo câmbio fixo (o Euro) e precisou fazer ajustes que lhe custaram 25% do PIB, enquanto a Argentina (e o Brasil em menor escala) foram exemplos de países que preferiram largar o câmbio fixo para não enfrentar os ajustes necessários em suas economias.


Nesse sistema de moedas fiduciárias sem lastro, o que vale é a confiança. O dólar conquistou o seu lugar como moeda internacional porque seu emissor, os Estados Unidos, são confiáveis. Há instituições que funcionam, principalmente um Banco Central independente. Isso garante, dentro do possível, que a inflação relativa a outros países não vai comer o valor da moeda.


Confiança, portanto, é o nome do jogo. Sem o dólar ou outra moeda com governança confiável, os países precisariam confiar uns nos outros para as suas transações comerciais e financeiras. Por exemplo, em 2024, o Brasil teve superávit de US$ 44 bilhões com a China. Isso significa que teríamos esse montante de yuans nas reservas brasileiras se o BC brasileiro não exigisse que os exportadores brasileiros trouxessem dólares para trocar por reais. Isso significaria algo como 13% das nossas reservas internacionais. Em cerca de 8 anos aceitando yuans, 100% das nossas reservas seriam na moeda chinesa. Hoje esse montante é de cerca de 4%.


Por que o BC não faz isso? Porque o yuan não é uma moeda conversível, ou seja, não é aceita universalmente. Se fizesse isso, a credibilidade das reservas como um seguro não existiria mais, e o câmbio do real para o dólar estaria na lua.


O dólar, portanto, tem esse papel por ser conversível, e é conversível por ter uma governança confiável. Mas não só. Além disso, é emitido por um país cuja economia é suficientemente grande para servir de lastro. A ideia de que a moeda fiduciária não tem lastro algum é falsa. O lastro das moedas nacionais é a sua própria economia. A base monetária precisa acompanhar o crescimento do PIB, e a governança confiável serve para garantir isso. O Euro assumiu um firma segundo lugar como moeda de reserva internacional, roubando espaço do dólar, porque, além de ter uma governança confiável, representa uma economia suficientemente grande para servir de lastro.


Chegamos agora ao governo Trump. Suas ações minam os pilares da confiança nas instituições americanas. A sua imprevisibilidade de regras no comércio internacional, os seus ataques ao Fed, a aprovação de uma legislação que aumentará ainda mais o déficit, são características de países pouco confiáveis.


Mas o dólar não perderá a sua hegemonia da noite para o dia. Primeiro, porque sua economia ainda é a maior e mais dinâmica do mundo, é difícil encontrar um lastro dessa natureza. Segundo, porque não há substitutos à altura: o Euro é uma experiência multinacional muito recente, e que ainda precisa ser provada pelo tempo, e o yuan é emitido por um país que controla o fluxo de capitais discricionariamente. E, finalmente, porque, no fundo, os agentes econômicos ainda acreditam nas instituições americanas, vendo o trumpismo como um soluço que passa. Tendo dito isso, Trump age no sentido de enfraquecer o dólar, não fortalecê-lo.


Para quem quiser aprofundar, dedico o primeiro capítulo do meu livro Descomplicando o Economês à natureza da moeda fiduciária e o capítulo 6 às crises cambiais. Disponível na Amazon.

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal


SESSÃO: Ontem, sessão de mais a menos que acabou com a Europa em negativo (-0,3%) e Nova Iorque plana. Tudo isso numa sessão onde o acordo alcançado no domingo entre os EUA e a Europa foi o protagonista. Os EUA irão impor impostos alfandegários de 15% às importações de produtos europeus (incluindo automóveis, anteriormente com 27,5%). A realidade é que o pacto é claramente beneficioso para os EUA, o que finalmente acabou por prejudicar as bolsas na Europa e o euro, que cedeu -1,3% (1,159 €/$), recebendo perspetivas de crescimento mais erráticas.


Para hoje, os resultados empresariais voltam a ter a atenção. Ontem, no fecho, Acciona, Acciona Energía e ESSILORLUXOTTICA (ADR +1%) bateram expetativas. À primeira hora, Unicaja surpreende positivamente e sobe as guias 2025 e Endesa em linha. Além disso, hoje será a ver de P&G (antes da abertura; 1,422 $; +1,6%), UPS (11:00 h; 1,563 $; -13%), STARBUCKS (após o fecho; 0,646 $; -30,4%), VISA (após o fecho; 2,847 $; +18%), KERING (após o fecho; 3,262 €; -55%) e L´ORÉAL (após o fecho; 6,916 €; +1,4%), entre outros. 


No plano macro, o mais destacável será a Confiança do Consumidor de julho nos EUA (15 h; 96,0 esp. vs. 93,0 ant.) que não acreditamos que tenha força para direcionar o mercado. Hoje será uma sessão de transição, quiçá de ligeiras subidas (+0,2%?) e à espera de referências importantes da semana. Quarta-feira temos PIBs 2T na Europa (+1,2% esp. vs. +1,5% ant.) e nos EUA (+2,4% vs. -0,5%) além da reunião de taxas de juros da Fed (manter em 4,25%/4,50%). Na quinta-feira, reunião do BoJ (manter taxas de juros em 0,50%), Deflator PCE dos EUA a aumentar (+2,5% vs. +2,3%) e resultados de Meta, Apple e Amazon. Na sexta-feira, Criação de Emprego Não Agrícola nos EUA (115k vs. 147k). Veremos…


S&P500 +0,02% Nq100 +0,36% SOX +1,62% ES-50 -0,27% VIX 15,03% +0,1pb. Bund 2,69%. T-Note 4,41%. Spread 2A-10A USA=+49,2pb B10A: ESP 3,27% ITA 3,53%. Euribor 12m 2,13% (fut.12m 2,11%). USD 1,159. JPY 172,2. Ouro 3.315$. Brent 70,4$. WTI 67$. Bitcoin +0,8% (118.069$). Ether +2,8% (3.790$).


FIM

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...