FÁBIO ALVES: AS TENTAÇÕES AO COPOM
Faz muito tempo que uma reunião do Copom não acontece em meio a uma irrefutável queda tanto nas expectativas inflacionárias dos analistas, quanto na inflação implícita nas taxas dos títulos públicos, mostrando um progresso efetivo da política monetária restritiva que levou os juros a 15%. Mas a melhora ainda é incipiente, e o perigo é de o Banco Central baixar a guarda e afrouxar a sinalização dos seus próximos passos. Esta é a primeira reunião que o Copom deverá deixar a taxa Selic parada após ter indicado, em junho, que pretende mantê-la inalterada por “período bastante prolongado”. Assim, a atenção recairá sobre o comunicado que acompanhará o anúncio da decisão amanhã. O desafio do Copom é dissuadir o mercado de apostar num eventual início de um ciclo de corte de juros antes do desejável, o que colocaria a perder todo o esforço do BC em levar as expectativas inflacionárias em direção à meta de 3%. Como, porém, não evitar uma sinalização mais suave no comunicado sem reconhecer o progresso na queda das projeções de inflação e no câmbio sob controle, apesar dos ruídos nos ambientes doméstico e externo? Finalmente, a estimativa para o IPCA de 2026 cedeu abaixo do teto da meta, de 4,50%, caindo para 4,44%. Já as projeções para 2025, que no pior momento do ano chegaram a bater em 5,68%, agora apontam para uma inflação de 5,09%. Na sua última reunião, em junho, o Copom trabalhou com uma cotação do dólar a R$ 5,60. De lá para cá, o presidente americano Donald Trump anunciou uma tarifa de importação de 50% para os produtos brasileiros, causando barulho político e apreensão entre os empresários. Mesmo assim, o dólar ainda se encontra ao redor de R$ 5,60. Aliás, essa é uma grande incerteza para o Copom, uma vez que a sua decisão antecederá o prazo dado por Trump para a sobretaxa de 50% entrar em vigor, a partir de 1º de agosto. Supondo que não se chegue a um acordo, o impacto sobre a economia brasileira deve ser setorial, afetando produtores agrícolas e de metais, além de empresas como a Embraer. Logo, seria razoável imaginar que a economia brasileira desaceleraria um pouco mais do que num cenário sem tarifa de importação, pois as exportações representam parcela pequena do PIB. Se o câmbio seguir comportado, o impacto sobre a inflação também seria comedido. Qualitativamente, na fotografia de hoje, o balanço de riscos do Copom não se alteraria muito em razão da tarifa de importação. Assim, é preciso que o recado do BC seja crível: a pausa do aperto monetário vale até o fim do ano, pelo menos.
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