domingo, 12 de outubro de 2025

Viva o vovô Amilton Aquino

 Enfim, a paz… e a hipocrisia


Os últimos dias foram desconcertantes para os pacifistas de fachada. Do surpreendente acordo de paz de Trump, passando pelos vergonhosos episódios de apoio explícito ao Hamas — comemorando o fatídico 8 de outubro! — até o prêmio Nobel da Paz para Maria Corina Machado, o silêncio do governo brasileiro tem sido ensurdecedor.


O Nobel da Paz que calou a esquerda


Que bom que o prêmio tenha sido concedido, pela primeira vez, a uma mulher latino-americana oposicionista de um regime ditatorial. Correto?


Não para a esquerda. Na sua escala de valores, o antiamericanismo do regime de Maduro conta mais do que os valores democráticos — ou a sororidade feminina que dizem defender. Mesmo considerando que a oposicionista à ditadura venezuelana seja uma social-democrata, e mesmo colocando panos quentes nas afrontas recentes de Maduro a Lula — inclusive com ameaça bélica ao Brasil —, vale ressaltar.


Mas não importa. Se do outro lado estão os EUA, passam por cima de qualquer divergência. Vale tudo. Vale defender terrorismo, sequestro, tortura, estupro, infanticídio — absolutamente qualquer atrocidade. Ainda mais quando o atual presidente dos EUA é nada menos que Trump, curiosamente também cotado para o Nobel por conseguir, até aqui, o mais difícil acordo das últimas décadas entre árabes e israelenses.


A indisfarçável simpatia pelo Hamas


Mas afinal, onde estão as comemorações dos “pacifistas” com o fim da guerra em Gaza?


Até agora, nada. Pelo contrário: exatamente no dia 7 de outubro ocorreram manifestações esquerdistas em várias grandes cidades ocidentais... em comemoração ao massacre!


Em São Paulo, professores defenderam abertamente os terroristas, com direito à fala de um médico que não só justificou as atrocidades como desumanizou os brasileiros mortos, chamando-os de “bandidos”!


Até mesmo nos EUA, vejam só, reverberam vozes de apoio ao Hamas em grandes veículos de comunicação. O New York Times, por exemplo, publicou uma reportagem com o título: “Hamas assume grande risco em acordo que liberta reféns”. Segundo o jornalista Adam Rasgon, o grupo perde poder de barganha, sem a certeza de conseguir tudo o que queria em troca!


Ou seja, ele quase lamenta que o Hamas não tenha outra coisa a não ser os reféns. Quem sabe, no futuro — fortalecido com 1.700 terroristas soltos em troca de 20 reféns vivos —, o Hamas aumente seu poder de barganha sequestrando mais algumas centenas de pessoas? Que tal?


Aliás, não custa lembrar que o líder do Hamas que comandou o 7 de outubro foi um dos mil terroristas libertados em troca de um soldado israelense — tendo sido, inclusive, curado de um câncer no cérebro ainda no cárcere…


Superioridade moral


Alguém reconhece a superioridade moral israelense em tais episódios? Por que tamanha desproporção em tais trocas? Por que premiar os terroristas com a vitória na guerra midiática?


Apenas meros detalhes no mundo das narrativas para o mainstream esquerdista. Não importam as grandes vitórias que Israel obteve em sete frentes de batalha contra os inimigos do ocidente. Na guerra da informação, o Hamas — mesmo encurralado — ainda sobrevive, graças à esquerda ocidental que comprou todas as suas narrativas: do “genocídio” (mesmo com os mais baixos índices de perdas civis em guerras urbanas da história) à fome generalizada — ainda que as imagens dos gazanos não revelem qualquer perda de peso, apesar dos dois anos de guerra; e apesar de as Forças Armadas israelenses serem as únicas do mundo a alertar civis antes de ataques e, claro, a alimentá-los.


Greta Thunberg e a “flotilha da selfie”


E, no universo paralelo das narrativas, Greta Thunberg desponta como a representante máxima do wokismo adolescente mundial. Como na primeira versão da “flotilha da selfie”, o desfecho foi o mesmo: interceptados e mandados de volta para casa. Uma pena — pois deveriam ter aportado em Gaza. Imaginem a cena da multidão cercando os barcos em busca da ajuda humanitária prometida… e não encontrando nada, ou quase nada, como constatou mais uma vez a marinha israelense.


Encenada a peça prevista, a ativista publicou um vídeo posando de “cidadã sueca raptada e torturada” pelos israelenses, quando, na verdade, o único incidente registrado foi uma mordida de uma “ativista”... em um soldado israelense. Além, claro, dos relatos suspeitos — para dizer o mínimo — dos “ativistas”, que reclamaram de ter que beber água de torneira, do tamanho das celas e até do ar-condicionado!


Mas eis que a cereja do bolo ainda estava por vir. Em nova postagem, Greta usou a imagem de um dos sequestrados israelenses — esquelético, cavando a própria cova (algo amplamente divulgado pela mídia, cujo material foi enviado pelo próprio Hamas como forma de pressão) — para ilustrar o sofrimento palestino! Sim, ela fez isso!


A desconexão com a realidade


Enfim, Greta é a prova cabal da desconexão com a realidade da esquerda internacional.


Não basta ser a favor da paz. É preciso ter compromisso com valores de fato. Os regimes autoritários são os maiores fomentadores de guerras — fato. Assim como é fato que a esmagadora maioria desses regimes é de esquerda, todas elas convenientemente ignoradas na “luta pela paz” dos pacifistas de fachada.


A esquerda deveria ter o compromisso moral de defender a única democracia do Oriente Médio que  sobrevive heroicamente, sendo atacada de todos os lados. Ao invés disso, prefere servir de megafone para terroristas que odeiam os valores que a esquerda diz defender no Ocidente. Definitivamente, isso não torna o mundo mais pacífico.

sábado, 11 de outubro de 2025

Eduardo Affonso

 Eduardo Affonso

É obrigatório chorar os mortos na internet

Morreu alguém relevante, torna-se quase mandatório exibir algum vínculo com o famoso que nunca soube da nossa existência

04/10/2025 00h05  

Claudia Cardinale, em 1961: atriz morreu recentemente — Foto: Pierre GUILLAUD / AF


Uma das melhores coisas de usar apenas socialmente as redes sociais — além de dar uma folga aos haters, claro — é não ter de fazer o obituário de cada celebridade que “nos deixa”.


Essa é uma das leis não escritas da internet: morreu alguém relevante, torna-se quase mandatório exibir algum vínculo com o famoso que nunca soube da nossa existência — mas, depois do último suspiro, é como se fosse o padrinho que nos pegou no colo, a tia de consideração que todo Natal mandava meias de presente.


Em cada um que morre, morremos um pouco. Vai com o morto parte da nossa história, da nossa memória afetiva. Estivemos vivos juntos — nós aqui, em Coxiporé do Norte, ele lá em Los Angeles ou no Leblon. Sob o mesmo sol — nós, na canícula; ele sob um ombrelone — e respirando o mesmo ar — vá lá, a atmosfera do mesmo planeta: a nossa com o monóxido de carbono da Avenida Brasil, a dele com a lavanda da Provença. Mas a morte nos irmana.


Claudia Cardinale, no auge da beleza, apareceu em inúmeros tributos on-line, inclusive na página de quem nem imaginava que ainda estivesse viva. Seu memorial virtual terá vindo poucas postagens depois do pesar pelo passamento de Robert Redford, inesquecível como Butch Cassidy (ou seria o Sundance Kid?), que os mais jovens só conhecem como o barbudo que acena, num meme. Pouco antes, no pesar por Terence Stamp, ora a foto do General Zod de “Superman”, ora a de Bernadette, em “Priscilla, a rainha do deserto”, quase nunca a do visitante sem nome de “Teorema”. Não nos iludamos: cada um de nós enterra um morto diferente, ainda que sob o mesmo nome.


Lamentar que Hermeto ou Arlindo Cruz “se foram” (dá-lhe eufemismo nessa hora!) supre o fato de nunca termos tido um único disco deles. Que o último filme do Gene Hackman que vimos tenha sido “Os imperdoáveis” ou “Operação França” (era ele, não?) é o de menos. Seu trágico fim é a chance de que precisamos para nos redimir de tê-lo esquecido esse tempo todo.


Por menos que se conheça a obra de alguém, a rede social impelirá a um panegírico post mortem, em sinal de pertencimento à tribo. Fará parte do luto, real ou performático, uma breve citação ao amor, meu grande amor, por Angela Ro Ro, ao insensato coração de Nana Caymmi ou, entregando a idade, um verso descontextualizado de “Rock’n’roll lullaby” por Francisco Cuoco.


Morremos muitos (você, eu, Ed Mort, Dora Avante, a velhinha, o analista, as cobras, as palavras) com o Veríssimo. Morre um tanto do que eu sei, mas não devia, e da implosão da verdade, com Marina Colasanti e Affonso Romano. No Facebook e no Instagram, com usuários cada vez mais velhos, lamentamos na dos outros nossa morte antecipada. É por nós que os sinos virtuais dobrariam, caso existissem; é a nós que todos os obituários se referem.


Se Françoise Hardy, Alain Delon e Rita Lee morreram, então é provável que ninguém escape da iniludível. E, cada vez mais solitários, será com a plateia amorfa e anônima das redes que compartilharemos a angústia de perceber que os da nossa idade não precisam mais dos artifícios de acidentes ou de overdoses para ir estudar a geologia dos campos santos.


Larguei de mão as redes sociais porque não me faz bem ser odiado e prefiro não odiar ninguém. Mas ando com uma paradoxal síndrome de abstinência desse velório virtual promovido cada vez que morremos um pouco. E como temos morrido ultimamente!

Bolivar Lamounier

 Nosso amargo legado. Por Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo -11 de outubro de 2025


De onde menos se espera – assim reza o ditado popular – é que não vem mesmo nada. Essa é uma das conclusões que poderíamos extrair do excelente texto intitulado Sistema disfuncional, publicado neste espaço pelo jurista Miguel Reale Júnior (4/10, A6). Eis como ele sintetiza sua reflexão sobre nossa trajetória política desde o começo da República: “O presidencialismo sem freios e contrapesos redundou num sistema de irresponsabilidade, gerador de conflitos entre (os) Poderes”.


Contrapesos no estrito sentido institucional nós tivemos, claro, desde o Poder Moderador estatuído pela Constituição de 1824, e nas posteriormente elaboradas em regimes democráticos, que sempre consagraram o modelo tripartite de Montesquieu. O problema, como bem assinala o professor Reale Júnior, é que nem o Poder Moderador do período monárquico nem o Supremo Tribunal Federal (STF), no republicano, atingiram o objetivo de conter os excessos do Executivo, do Legislativo e até, por vezes, algumas embutidas em ações isoladas de partidos políticos. Foi Rui Barbosa quem mais afirmativamente supôs que o STF pudesse cumprir de forma efetiva a função de “moderar” os conflitos políticos e os sempre presentes apetites de diferentes protagonistas da vida pública. Infelizmente, os incessantes embates que observamos no passado recente evidenciam que a aspiração de Rui Barbosa não tinha o lastro por ele imaginado; teria, talvez, se fosse uma Corte estritamente constitucional, mas não na amplitude que assumiu, como ápice do sistema Judiciário, em nossa experiência republicana.


A questão que me permito suscitar, como complemento à reflexão do dr. Reale, é se o problema não estará no próprio regime presidencialista. Cabe lembrar aqui uma avaliação feita em 1970 (no livro L’Échec au Roi) pelo mestre francês Maurice Duverger: “O sistema presidencial de governo – escreveu ele – só funciona nos Estados Unidos. Em outros países ele sempre degenerou em presidencialismo, ou seja, em ditadura”. Ressaltese que tal afirmação foi feita 46 anos antes da chegada de Donald Trump à Casa Branca; jamais saberemos se Duverger a reiteraria precisamente dessa forma nos dias de hoje.


No passado recente, mesmo antes do surgimento de Donald Trump, muitos autores importantes começaram a explorar os fatores que sempre dificultaram o funcionamento dos sistemas presidenciais fora dos Estados Unidos e, notadamente, na América Latina. No Brasil, um fator que salta aos olhos é a extrema fragilidade e fragmentação de nossas estruturas partidárias. A verdade é que o Brasil nunca teve, não tem atualmente e não é certo que venha a ter no futuro partidos políticos consistentes, responsáveis e de fato representativos perante seus supostos representados. Organizamos, com inegável êxito, a base sine qua non da democracia na acepção moderna do termo: a ampliação do sufrágio. Hoje, o eleitorado, tomado como proporção da população total, equivale a 72%, cifra praticamente idêntica à dos países economicamente mais avançados.


Tão grave quanto a inconsistência programática e o caráter oligárquico de sua organização interna é o fato de que, entre nós, deficientes não têm sido apenas partidos individuais, mas os próprios sistemas partidários. Essa característica tem a ver com a manifesta descontinuidade histórica de tais sistemas. A República extinguiu os partidos do período monárquico; o golpe armado encabeçado por Getúlio Vargas em 1930 extinguiu os partidos ditos “republicanos” da Primeira República, que, na realidade, não passavam de partidos únicos estaduais, mantidos em rédea curta pelos governadores, e o regime ditatorial instituído em 1937 impediu pura e simplesmente a organização da sociedade em partidos. Na mesma linha, o golpe militar de 1964 extinguiu os partidos que se haviam formado sob a Constituição de 1946, substituindo-os, nos termos do Ato Institucional número 2, por duas “organizações provisórias”, que viriam a ser a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). O governador Franco Montoro pitorescamente se referia ao primeiro como o partido “do sim” e ao segundo como o partido do “sim, senhor”. Mas o agudo escárnio de Montoro revelou-se equivocado, em grande parte graças a seus próprios esforços, tornandose de fato o principal veículo da redemocratização, conquistada no próprio Colégio Eleitoral que a corporação militar instituiu com o objetivo de impedir a ascensão de forças oposicionistas à Presidência da República.


O apanhado acima ajuda a compreender por que o Estado patrimonialista reinou soberano durante quase dois séculos até se desintegrar, deixando-nos o amargo legado dos “mensalões”, “petrolões” e “centrões”. Dado esse quadro, existe base para alguma esperança? Sim, existe. É uma questão de sobrevivência. Sem mudanças profundas nas instituições, mentalidades e comportamentos, a perspectiva será um crescimento econômico médio anual de 2,5%, significando nossa virtual inviabilidade como país. É pegar ou largar. Simples assim.

Gay Talese

 Gay Talese conta como fez suas grandes reportagens no livro 'Bartleby e Eu'


IVAN FINOTTI


Um dos criadores do "novo jornalismo" e um dos repórteres mais admirados do mundo, o americano Gay Talese, 93, lança um olhar autobiográfico aos primeiros anos de sua carreira em um livro recém-lançado no Brasil. Trata-se de "Bartleby e Eu", que saiu há dois anos nos EUA e agora chega ao país pela coleção Jornalismo Literário, da Companhia das Letras.


O nome da coleção já explica o que significa o "novo jornalismo", estilo de escrita que utiliza técnicas da literatura em reportagens, transformando textos de jornais e revistas em contos, ou mesmo em romances.


Talese é um de seus expoentes, ao lado de Joan Didion, Tom Wolfe, Hunter Thompson, Norman Mailer e Truman Capote, entre outros. E, em "Bartleby e Eu", ele conta um pouco desse início.


O subtítulo original (reflexões de um velho escrivão) foi mudado na versão brasileira para o longo "pelas ruas de Nova York, um mestre da reportagem narra a ascensão e a queda do sonho americano".


Talese começa a obra explicando como o conto "Bartleby, o Escrivão", de Herman Melville, é uma metáfora de sua carreira. A história de um funcionário de escritório que se recusa a sair da rotina é utilizada por ele para exemplificar os ninguéns, ou seja, pessoas cujas vidas são comuns demais para merecerem uma reportagem de jornal.


"Durante meu trabalho como jornalista e meu extenso período em que morei na cidade de Nova York, conheci muitas pessoas que, de um modo ou de outro, me fazem pensar em Bartleby", escreve ele, no segundo capítulo.


Dividido em três partes, a obra começa com os cerca de dez anos em que Talese trabalhou no jornal The New York Times, a partir de 1953.


Talese foi contratado pelo jornal, que já era o mais importante do mundo, para ser mensageiro aos 21 anos, quase imediatamente após se graduar como jornalista. Nesse cargo, usava as horas vagas para escrever reportagens que depositava, esperançoso, na mesa dos editores.


Essas matérias iniciais já eram sobre "ninguéns". Seu primeiro personagem foi James Torpey, o eletricista responsável pelas letras luminosas enormes que anunciavam as manchetes do New York Times na altura do quarto andar de um prédio na Times Square —chamada assim justamente porque a publicação teve ali sua sede no início do século passado.


Talese narra então sua saída do jornal para cumprir dois anos nas Força Armadas —onde continuou exercendo a profissão em jornais militares internos— e sua volta ao New York Times em 1956, desta vez para ficar até 1965.


Após o jornal, foi contratado pela prestigiosa revista Esquire para produzir longos perfis, Talese logo emplacou uma lista de quatro jornalistas do Times sobre os quais gostaria de escrever —o que foi aceito por seu chefe, com a condição de que Talese entrevistasse celebridades.


Os textos sobre os jornalistas —o editor-chefe, um correspondente internacional, um repórter e o chefe da seção de obituários— se tornariam, é claro, a gênese para a grande obra de Talese: "O Reino e o Poder - Uma História do New York Times", que lançaria em 1969.


O primeiro perfil a que se dedicou foi o do responsável pelos textos sobre as pessoas que morriam, um intelectual comunista que, naquele momento, certo de que em breve teria um problema de saúde fatal, andava escrevendo seu próprio obituário.


A reportagem foi uma sensação, mas não demoveu seu editor da promessa anterior. O próximo perfil assinado pelo jornalista seria o de uma celebridade. E ela seria Frank Sinatra.


Na segunda parte de "Bartleby e Eu", Talese se debruça sobre os bastidores da reportagem que o fez famoso, "Frank Sinatra está resfriado", publicada pela revista em abril de 1966.


Em 120 páginas, descobrimos as condições em que o repórter viajou a Los Angeles e suas tentativas infrutíferas para entrevistar Sinatra durante o mês de novembro de 1965 —algo que havia sido previamente acordado entre o assessor do cantor e o editor-chefe da Esquire, mas não foi cumprido.


Principalmente, ficamos sabendo como, aos poucos, Talese foi entendendo que teria que se virar comendo pelas beiradas. Ou seja, teria que entrevistar a entourage, os amigos, os funcionários, os puxa-sacos, os familiares —com alguma sorte, um ou outro inimigo— de Sinatra para poder entregar algo digno de publicação.


A saga começa por acaso, quando Talese aceita um convite de um casal de amigos para jantar em um clube privado. Quando chega lá, encontra o cantor no bar e o segue para a sala de jogos com mesas de sinuca. Ali, Sinatra se envolve em uma discussão com outro frequentador.


Talese detalha seu trabalho. Para anotar o que está vendo, ele se tranca em cabines de banheiro; jamais o faz em público. As anotações são feitas em pedaços da cartolina que vinham dentro de camisas recém-passadas por tinturarias (Talese é filho de alfaiate e sempre se vestiu elegantemente).


Antes de dormir, sempre que está apurando algo, ele transfere as anotações para o papel sulfite com sua máquina de escrever, mas agora com todos os detalhes e diálogos de que se lembra. É com esses papéis datilografados que, mais tarde, vai se sentar quando começar a escrever sua reportagem.


A de Frank Sinatra demorou cinco semanas para ser escrita (uma semana a mais do que a apuração) e rendeu 14 mil palavras (ou 70 mil caracteres, espalhados por 53 páginas datilografadas).


A última seção do livro é a mais recente reportagem de Talese, finalizada há dois ou três anos. Narra a história de um médico que em 2006 preferiu explodir seu apartamento em Nova York para não beneficiar sua ex-mulher com parte do dinheiro de uma venda.


O texto parece completamente fora do lugar neste livro marcado pelo jornalismo dos anos 1950 e 1960, mas Talese explica que o doutor o faz se lembrar de Bartleby. Então está bom.


Bartleby e Eu

Preço R$ 99,90 (336 págs.); R$ 44,90 (ebook)

Autoria Gay Talese

Editora Companhia das Letras

Tradução Laura Teixeira Motta


Foto: Gay Talese mostra os papelões recortados que usa para anotações, durante palestra a jornalistas da Folha, em 2012 - Daigo Oliva/Folhapress.


FSP 10.10.2025

Carta aberta ao ministro Barroso

 A carta aberta do pessoal da Lexum ao ministro Barroso permanece atual, e por isso merece ser reproduzida. 👊


Carta Pública ao Ministro Luís Roberto Barroso - Agosto/2025


Fique, Barroso. Tenha a coragem de assistir ao fim do que você começou.


De todas as estratégias possíveis, a mais covarde é a fuga disfarçada de cansaço. A história está repleta de engenheiros de ruínas que, ao verem o castelo desmoronar, saem pela porta dos fundos, de fininho, como se nada tivessem a ver com os escombros. Mas não, ministro Barroso — o senhor não vai sair assim.


Sabe por quê? Porque cada rachadura no prestígio da Suprema Corte brasileira carrega sua digital. Cada voto em que o juiz se fez legislador, cada frase em que a moral pessoal se travestiu de princípio constitucional, cada vez que a toga pesou mais do que o texto — tudo isso tem sua assinatura intelectual, moldada lá nos tempos de UERJ, quando o senhor, encantado com a living constitution, decidiu ensinar ao país que a Constituição era um romance em construção, escrito por intérpretes iluminados. De uma linha de pensamento ativista, porém respeitável, da tradição jurídica norte-americana, passamos a conviver com um neoconstitucionalismo tupiniquim, com uma demão de verniz acadêmico, mas que bem poderia ser batizado de doutrina do “perdeu, Mané, não amola”.


A prometida “recivilização” do país, por um autodeclarado iluminista, se concretizou em autoritarismo galopante.


Pois bem, o romance virou panfleto. A Corte virou trincheira. A Constituição, peça de ocasião. E agora, quando o país finalmente percebe o que aconteceu, o senhor cogita ir embora?


Não, Barroso. Isso não seria prudente. Seria simbólico. E o símbolo que se formaria seria implacável: o autor de uma doutrina que prometeu redenção, mas entregou autoritarismo revestido de empáfia, agora tenta escapar do veredito histórico.


Não como um magistrado que se despede após o serviço cumprido — mas como quem abandona o navio ao ouvir o estalo da madeira.

Roberto Campos, ao comentar a correção monetária, confessou ter criado um carneiro que virou um bode. Ele não se esquivou. Ele olhou para a distorção de sua ideia original e assumiu a paternidade do monstro. Já o senhor, quer sair de cena sem sequer reconhecer que o bode constitucional que nos coube nos últimos anos tem os traços exatos do seu neoconstitucionalismo messiânico.


Portanto, ministro, fique. Fique para ver a extensão da obra. Fique para explicar a erosão da legitimidade. Fique para ouvir a crítica dos que ainda acreditam que juízes devem julgar, não governar. Fique para entender que o Supremo não é palanque nem púlpito.


Ou então saia.


Mas saiba: sua saída não será apenas uma aposentadoria precoce.


Será uma confissão.

Gil Franco

 MINHA HUMILDE OPINIÃO: (epidérmica)


Não me importo com a vitória ou não do ego de Trump, sou um cara da Realpolitik. 

Mas tenha sido por acaso ou por um excelente planejamento estratégico, a invasão aérea do Catar criou uma janela de oportunidade (e que está sendo aproveitada por todos) para:


1) Permitir que Trump atingisse seus objetivos de se tornar politicamente relevante dentro e fora de seu país. Independentemente do mérito disso, sob apenas essa ótica ele sai vitorioso (mas há outros ganhos muito mais importantes). 

Sorte do politico que consegue contribuir com a Humanidade, ainda que através de seus feitos egocêntricos;


2) Arrefecer a Guerra, no momento exato em que as forças de Israel perdiam apoio interno e externo, dando um excelente pretexto para recuarem, sem que ficasse parecendo um recuo. Pessoalmente, acho isso um grande feito; não consigo achar melhor oportunidade para isso, qualquer outra opção teria custado muito mais a Israel moralmente (aqui independentemente de endossar ou não essa opinião). Terá sido muito melhor a aderência a um acordo agora do que qualquer outro desfecho mais adiante;


3) o fato de o Hamas ter concordado, e o Knesset idem, é um grande , imenso, feito dentro desse cenário de dois anos de 

guerra. Period.


4) A liberação dos reféns , ainda que em frangalhos, ainda que em corpos, ainda que em menos quantidade,  é uma imensa conquista de Israel e de seu governo. Tem um ar de vitória, e não de capitulação. Merece ser comemorada, por si só.


4) Guerras são horríveis sempre, o que não quer dizer que não aconteçam, nós é que, filhos da paz de 1945 tivemos a sorte de talvez termos vivido um dos momentos mais pacíficos da humanidade. Mas essa ordem mundial (imperfeita, porém tangível) foi erguida sobre os milhões de cadáveres das duas Grandes Guerras. Portanto, e infelizmente, o conceito de “paz mundial absoluta”, embora muito almejado, é advindo de nosso submissão irresistível ao “pensamento mágico”. Então por si só, uma trégua (ou, tomara, uma paz mais duradoura, é uma IMENSA conquista. 

5) (agora minha opinião): o Hamas pode se sentir vitorioso, mas sai enfraquecido, afinal, também recai sobre suas costas o imenso peso dos cadáveres e criancinhas que horrorizam o mundo. 

De modo que sorte do Trump de agora poder capitalizar para si esse feito. O feito em si supera tudo isso. 


(desculpa o textão, e se polemizar o apagarei rapidinho)

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Luciano Huck e o Will Bank

 Luciano Huck avalia compra do Will Bank, do Banco Master

 

O apresentador de televisão da TV Globo Luciano Huck está avaliando a compra do Will Bank, instituição financeira digital controlada pelo Banco Master, em conjunto com um grupo de investidores, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. A Folha reportou nesta quinta-feira (9) que quatro investidores, incluindo fundos de private equity e o estatal Banco de Brasília avaliavam a instituição, que tinha cerca de 9 milhões de clientes em abril. Huck é um desses interessados. O "Domingão com Huck", programa apresentado por Huck na Rede Globo, tem um de seus quadros patrocinados pelo Will Bank, as Willimpíadas. Com estreia prevista para o dia 12 de outubro, o quadro premiará o vencedor com R$ 1 milhão em barras de ouro. As provas, de acordo com material divulgado pelo Will Bank, envolvem testes inspirados em finanças pessoais, com 200 participantes. As conversas entre o Master e o grupo de Huck ainda são em estágio inicial, de acordo com uma das fontes. Procurado pela reportagem, Huck disse por meio de sua assessoria de imprensa que não comentaria o assunto por não ter "nada concreto" neste momento. Criada em 2017 e comprado pelo Master no ano passado, o Will Bank encerrou o primeiro semestre com R$ 14,4 bilhões de ativos, um prejuízo de R$ 244,7 milhões e um patrimônio líquido de cerca de R$ 300 milhões, segundo dados do Banco Central. A venda do Will Bank teria o potencial de reduzir o passivo do seu controlador, o Banco Master, de Daniel Vorcaro. Para honrar depósitos, o Master precisou recentemente recorrer a uma linha emergencial de R$ 4,5 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), instituição que cobre até R$ 250 mil em depósitos por investidor em caso de falência, liquidação ou intervenção de instituições financeiras. A linha teve vencimento no dia 1 de outubro, mas as tratativas em busca de reduzir o passivo do Banco Master continuam, centradas principalmente numa resolução para o Will Bank. Procurado, o Banco Master não comentou até a publicação desta reportagem,

Produtividade é a saída

  O mundo está girando (e rápido): o Brasil vai acompanhar ou ficar para trás? 🌎🇧🇷 Acabei de ler uma análise excelente de Marcello Estevã...