terça-feira, 21 de outubro de 2025

Especial

 *ESPECIAL: PANE NA AWS ESCANCARA DEPENDÊNCIA DA ECONOMIA GLOBAL NOS SERVIÇOS EM NUVEM*


Por Circe Bonatelli e Aramis Merki II


 São Paulo, 20/10/2025 - A pane no serviço de nuvem da Amazon, a AWS (Amazon Web Services), causou problemas em diversas empresas ao redor do mundo nesta segunda-feira, 20, e escancarou o tamanho da dependência que a economia global tem em relação a esse tipo de atividade.


 "Há alguns provedores muito grandes que dominam o mercado de nuvem. E todo mundo está sujeito a incidentes", afirmou Henrique Cecci, diretor sênior de pesquisa da consultoria Gartner. A AWS é a maior empresa de armazenamento e processamento de dados na nuvem no mundo, concentrando em torno de 35% de participação de mercado. Na sequência estão Microsoft (25%), Google (10%), Alibaba (7,5%) e Huawei (4%), de acordo com estimativas da Gartner.


 O representante da consultoria observou que cerca de 35% de todos os serviços digitais realizados ao redor do mundo - de internet banking a streaming de vídeo, de sistemas de vendas a folhas de pagamento, entre outros - dependem de armazenamento e processamento de dados na nuvem que ocorrem em servidores de terceiros, como a AWS.


 O problema da ASW teve raiz no US-East-1, um centro de data centers localizado na Virgínia do Norte, nos Estados Unidos. O complexo é um dos mais importantes do mundo e responde por cerca de um terço da capacidade operacional da AWS. A causa da falha ainda não foi esclarecida. Informações preliminares apontam para os servidores DNS, que, essencialmente, traduzem os dados da internet para endereços de IP.


 "Incidentes globais como esse são um lembrete claro de como nosso mundo se tornou dependente de softwares e sistemas digitais que funcionem conforme o esperado", declarou Rob van Lubek, vice-presidente da Dynatrace, empresa de monitoramento de infraestrutura e serviços digitais. "Os ambientes de TI atuais são muito mais complexos e interconectados do que muitos imaginam, portanto, quando ocorre uma interrupção, os efeitos em cadeia podem se espalhar rapidamente por todos os setores e afetar o dia a dia das pessoas."


 Quando uma dessas grandes provedoras sofre com panes, os principais afetados são as empresas de países onde as economias são mais desenvolvidas e digitalizadas. Entram aí gigantes como Estados Unidos e China, até emergentes como Brasil, Índia e África do Sul, além de países maduros, como França e Inglaterra.


 A plataforma DownDetector, que contabiliza falhas em sites e aplicativos, acumulou 11 milhões de registros, sendo 3 milhões nos Estados Unidos. Globalmente, foram mais de 2,5 mil empresas com alta nas reclamações de instabilidade até o início da tarde. No Brasil, houve falhas e lentidão nas operações do PicPay, do Mercado Pago e do Mercado Livre, entre outros.


 A AWS reconheceu o problema pela primeira vez às 03h11 (de Brasília) em seu blog de atualizações de serviço. No comunicado mais recente, às 17h03 (de Brasília), a informação era que a recuperação em todos os serviços "continua a evoluir". A página indica que 101 serviços da empresa foram afetados pela pane.


Riscos e soluções


 Para o consultor Bruno Diniz, da Spiralem, o armazenamento de dados na indústria financeira é um tema crítico, que precisa estar contemplado em planos de recuperação de desastres. Na visão do especialista, os principais agentes do mercado no Brasil já abordam a questão com a devida importância. Estratégias para resiliência da infraestrutura tecnológica, como o uso de múltiplos serviços de nuvem, são importantes, aponta Diniz.


 O presidente da Associação Brasileira de Fintechs, Diego Perez, afirmou que a blindagem para empresas mitigarem riscos em relação aos servidores está na forma de redundância. Ou seja, ter mais de um fornecedor de armazenamento em nuvem. O problema, sobretudo para startups e empresas de menor porte, é que esta estratégia acarreta em mais custos. Outra dificuldade é que são poucas empresas neste ramo, as conhecidas big techs. Perez aponta que existem prestadores de serviços alternativos, mas que não têm estrutura suficiente para dar suporte eficiente.


 Para Cecci, da Gartner, a tendência é que aumente a cobrança por regulamentação do setor, que hoje é inexistente. Isso, porém, esbarra na resistência das big techs e, principalmente, do governo norte-americano, favoráveis a um mercado desregulamentado. "Sou cético de que a regulamentação seja capaz de evoluir muito", disse. Outra tendência, em sua visão, é que muitas empresas devem pensar em contratar diferentes fornecedores, para garantir a redundância dos sistemas. "Não é rápido, nem barato, mas pode ser uma solução."


 Em um comunicado, a organização de direitos humanos Artigo 19 apontou que o incidente de hoje é sinal de como a concentração no setor de tecnologia pode trazer impactos negativos para a economia. "Precisamos urgentemente de diversificação na computação em nuvem. A infraestrutura que sustenta o discurso democrático, o jornalismo independente e as comunicações seguras não pode depender de um punhado de empresas", diz o texto assinado por Corinne Cath-Speth, responsável pela área de tecnologia na instituição.

BDM Matinal Riscala

 *Rosa Riscala: Queda da gasolina não muda aposta para Selic*


Agenda do dia tem relatório de produção e vendas da Vale e o balanço da Netflix em NY, ambos após o fechamento


… Sem indicadores nesta terça-feira, investidores devem continuar surfando na onda do possível acordo entre Estados Unidos e China, enquanto esperam o relatório de produção e vendas da Vale e o balanço da Netflix em NY, ambos após o fechamento. Lagarde (BCE), Bailey (BoE) e Waller (Fed) falam hoje, sem muito status, já que o corte de 25pbs no juro americano na próxima semana rouba a cena. A aposta quase unânime dos mercados impulsiona o real, que tende a ganhar com o maior diferencial das taxas, e o Ibov, que busca os 145 mil. Já a queda da gasolina e a melhora das expectativas de inflação animam o recuo dos juros, mas sem mudar a convicção de que o BC só agirá em 2026.


DURO NA QUEDA – Pouco antes da notícia que o Ibama concedeu à Petrobras a licença de perfuração do poço exploratório na bacia da Foz do Amazonas, a petroleira anunciou a redução do preço da gasolina em 4,9% (R$ 0,14 por litro), para R$ 2,71 em média, a partir de hoje.


… Esta foi a segunda queda de preço do combustível este ano, após quase cinco meses de estabilidade, em uma decisão que já era esperada em meio da baixa das cotações do petróleo, mas que ainda não era precificada, gerando baixa nas projeções da inflação.


… Nos cálculos da Necton Investimentos ao Broadcast, a medida vai resultar em recuo da ordem de 1,5% dos preços da gasolina ao consumidor final, o que deve trazer um impacto negativo de aproximadamente 0,08 ponto no IPCA de 2025.


… A corretora reduziu em 0,1 ponto porcentual a sua estimativa para a inflação deste ano, agora em 4,6%, e outras casas estão revisando.


… O ajuste negativo da gasolina coincidiu com o bom ambiente do cenário externo, que derruba o dólar, e a melhora das expectativas mostradas no Boletim Focus desta semana, com queda da estimativa do IPCA/2027 (de 3,90% para 3,83%) e deste ano (de 3,68% para 3,60%).


… Na curva dos juros futuros, houve devolução de prêmios (inclusive acompanhando o dólar), mas a mensagem conservadora do Banco Central comandado por Galípolo prevalece para que o mercado projete a Selic mantida em 15% por um “longo período”.


… O timing previsto para o primeiro corte de 25pbs segue concentrado em março do próximo ano, que reúne praticamente 100% das apostas, embora uma parcela significativa do mercado (55%) acredite que possa ser antecipado para janeiro.


… O Copom ainda quer ver o mercado de trabalho, nas máximas históricas, esfriar, antes de precipitar um ciclo de quedas.


… Nesta segunda, no lançamento do programa Reforma Casa Brasil, o presidente Lula começou uma leve pressão ao seu “menino de ouro”.


… O Banco Central, disse ele, “vai precisar começar a baixar os juros porque todo mundo sabe o que nós herdamos [do governo passado] e todo mundo sabe que estamos preparando esse País para ter uma política monetária mais certa”.


… Lula exaltou os programas do seu governo e afirmou que quer que os empresários e banqueiros ganhem dinheiro, mas que eles “não precisam extorquir o povo”. “Um dos papéis mais importantes do Estado é olhar para pessoas que o mercado não tem interesse em olhar.”


2026 JÁ CHEGOU – Também presente no lançamento do programa Reforma Casa Brasil, o ministro Haddad queixou-se das reclamações que costumam ser feitas à política fiscal, afirmando que elas ocorrem porque o governo mira o “andar de cima, não os mais pobres”.


… “Vocês ouvem falar muito da questão fiscal, que o governo gasta muito, que o governo só pensa em taxar bets e banqueiro. Eu quero dizer, presidente Lula, o senhor vai terminar o seu mandato com o melhor resultado fiscal desde 2015.”


… Haddad disse que, pela primeira vez, um governo resolveu diminuir o déficit público brasileiro cortando o que chamou de “bolsa-empresário”.


… O ministro repetiu que o terceiro mandato de Lula vai ser marcado pela menor inflação acumulada em quatro anos no Plano Real e a maior alta da renda do salário desde o Plano Real, além da menor taxa de desemprego da série histórica do IBGE e o maior PIB desde 2010.


… Já Lula aproveitou para cartear marra em cima de Trump, às vésperas do encontro que está sendo articulado entre os dois presidentes para o fim do mês, quando o governo espera conseguir a revogação das tarifas de 50%, que estão em vigor desde julho.


… O presidente voltou a dizer que o Brasil não “abaixou a cabeça” quando foi “sobretaxado e ofendido” pelos Estados Unidos.


… “Todo mundo sabe que, quando o Trump sobretaxou o Brasil e ofendeu o Brasil, a gente não abaixou a cabeça. Embora a gente não seja tão grande como eles, a gente tem caráter, tem dignidade, que muitas vezes eles não sabem que a gente tem.”


… O Reforma Casa Brasil é um programa que pretende atingir a classe de menor poder aquisitivo, após o governo ter lançado o novo modelo de financiamento imobiliário para a classe média. Serão disponibilizados R$ 40 bilhões em crédito subsidiado para melhorias nas casas.


ENCONTRO NA MALÁSIA – O Ministério das Relações Exteriores admitiu oficialmente que há uma “janela” de oportunidade para um possível encontro entre o presidente Lula e Donald Trump, no dia 26 de outubro, próximo domingo, em Kuala Lumpur.


… Os dois líderes estarão no mesmo evento, na abertura da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).


… Uma reunião poderia ser incluída nos encontros bilaterais de Lula e Trump, se o presidente dos Estados Unidos demonstrar interesse em conversar, disse o embaixador Everton Frask Lucero, ao ser questionado sobre um encontro na Malásia.


… Na pauta dessa conversa, o Brasil vai levar, além da sobretaxa de 40% aos produtos brasileiros, as sanções às autoridades pela aplicação da Lei Magnitsky, aplicada contra o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, e um pedido para que Trump não ataque a Venezuela.


… No Valor, auxiliares do governo Lula monitoram a escalada de tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela, e avaliam que uma eventual invasão americana pode atrapalhar a negociação que o Brasil vem estreitando no âmbito do tarifaço.


… Esse impacto se daria porque, em caso de ocupação do território venezuelano, o Brasil terá que se manifestar em defesa da América Latina.


… Interlocutores do presidente rechaçam a possibilidade de o Brasil ceder na proteção da região para negociar a tarifa com os Estados Unidos. Segundo eles, a gestão petista não irá barganhar as sanções em troca de se manter imparcial nesse conflito.


… Lula deve aconselhar Trump a não intervir na Venezuela para evitar um problema ainda maior na região, que seria desestabilizada, e se colocar à disposição do governo americano para uma mediação, como um dos líderes principais da AL.


MEU AMIGO XI – Novos comentários de Trump de que espera chegar a um entendimento sobre tarifas com Xi Jinping mantiveram o entusiasmo em Wall Street, com alta das bolsas. “Eu amo minha relação com o presidente Xi e vamos alcançar um bom acordo para ambos os lados.”


… O presidente reiterou que se encontrará com Xi Jinping no fim de outubro, na Coreia do Sul, e ontem disse que pretende viajar à Pequim no início de 2026. “Fui convidado para ir à China e farei isso bem no início do ano que vem. Já estamos com tudo definido.”


… Trump mostrou-se confiante em um acordo, dizendo que “eles [os chineses] nos ameaçaram com terras raras, e eu os ameacei com tarifas”. Voltou a lembrar das taxas de até 155%, aliviando em seguida. “Espero não aplicar essas tarifas no dia 1º de novembro.”


… Em paralelo, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, encontra-se com representantes chineses nesta semana.


GEOPOLÍTICA – Apesar do otimismo em relação às tensões entre os Estados Unidos e a China, os conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu deram sustentação aos ativos de segurança, com ganho do ouro, avanço do dólar e queda dos juros dos Treasuries.


… Trump avaliou que a Ucrânia “ainda pode vencer a guerra contra a Rússia, mas não acho que vá acontecer”.


… Moscou disse que Sergei Lavrov teve uma “conversa construtiva” com Marco Rubio nesta segunda-feira, quando articularam um encontro em breve entre Trump e Putin, em Budapeste. O Kremlin quer que a cúpula também melhore as relações bilaterais com Washington.


… Zelensky, que não se sabe se será convidado, afirmou que Budapeste não é o melhor local para negociações do fim da guerra na Ucrânia devido à postura pró-Rússia do primeiro-ministro Viktor Orbán. Ainda assim, disse que compareceria, se for chamado.


… Já sobre Israel e Hamas, Trump disse que, “se o grupo [Hamas] não for bom, vamos erradicá-los, se necessário”.


SHUTDOWN – Diretor do Conselho Econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, previu em entrevista à CNBC nesta segunda-feira que a paralisação do governo americano, que entra hoje no vigésimo primeiro dia, deve terminar “em algum momento nesta semana”.


MAIS AGENDA – Já no período de silêncio do Fed para a reunião da semana que vem, Christopher Waller fala duas vezes em evento hoje (10h e 16h30), mas não vai dar nenhuma pista sobre os rumos da política monetária.


… Lagarde (BCE) discursa em conferência às 8h e o presidente do BC inglês (BoE), Andrew Bailey, fala às 7h30.


… O parlamento japonês vota a indicação como primeira-ministra de Sanae Takaichi, que promete expansão fiscal.


… Entre os balanços, antes da abertura, saem os resultados da GM e Coca-Cola. Após o fechamento, junto com Netflix, sai Western Alliance.


BOULOS NOMEADO – Após meses de espera, o presidente Lula anunciou ontem à noite o deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) como o novo ministro da Secretaria Geral, no lugar de Márcio Macêdo (PT), numa reacomodação com vistas às eleições de 2026.


… A pasta é a responsável pelo diálogo e articulação do governo com os movimentos sociais, de quem Lula estaria afastado.


JORGE MESSIAS – Ainda hoje, há expectativa de que o presidente faça a indicação do AGU para o STF, antes de viajar à Indonésia e à Malásia.


ADIADA DE NOVO – A Comissão de Orçamento voltou a adiar a sessão que analisaria hoje o relatório final da LDO 2026, a pedido do governo.


CANTOU VITÓRIA – O corte de quase 5% no preço da gasolina anunciado pela Petrobras, que veio finalmente, depois de toda a especulação da semana passada, despertou a esperança de o BC não estourar o teto da meta de inflação.


… Reportagem do Valor aponta que a queda no valor do litro do combustível aumenta de modo significativo a probabilidade de a inflação chegar ao fim do ano dentro do intervalo de tolerância da meta definido pelo CMN.


… Como se viu pelos cálculos do mercado, a gasolina mais barata retira aproximadamente 0,1 ponto do IPCA de 2025. Além da Necton, pelo menos outras três instituições revisaram ontem em baixa as estimativas para a inflação.


… Depois do anúncio da Petrobras, a Warren passou a prever um IPCA em 4,4% em 2025, contra 4,5% antes, enquanto a XP Investimentos avisou que deve revisar sua estimativa de 4,7% para um número entre 4,5% e 4,6%.


… O ASA estima alívio de 0,12 ponto da gasolina na inflação e baixou sua projeção para o IPCA de 4,7% para 4,5%.


… O estouro do teto da meta pelo BC era dado como praticamente certo até abril, quando as projeções para os preços rondavam 5,7%. Mas de lá para cá, o dólar caiu bem, a atividade perdeu ritmo e o Copom não amoleceu.


… Galípolo ganha com o reajuste da Petrobras um trunfo que pode fazer toda a diferença para o alcance da meta.


… Antecipando os efeitos desinflacionários da gasolina e o ambiente mais positivo no relatório Focus para o IPCA no horizonte relevante da política monetária, a curva do DI finalmente deixou ontem os riscos fiscais em segundo plano.


… O contrato de juro para Jan/27 fechou na mínima intraday, abaixo de 14%, a 13,955% (contra 14,013% no pregão anterior); Jan/29 caiu a 13,225% (de 13,336%); Jan/31, a 13,510% (de 13,612%); e Jan/33, 13,670% (de 13,745%).


… O dólar também entrou como aliado extra para os juros futuros queimarem os prêmios de risco.


… A moeda operou relaxada pelo corte de juro do Fed semana que vem, enquanto o Copom não pega leve, tornando o carry trade ainda mais atraente. Além disso, alivia a percepção de que Trump vai se entender com a China.


… Completando uma sequência de quatro quedas, o dólar caiu 2,49% e furou a marca de R$ 5,40, a R$ 5,3708. Como anotou o Broadcast, a moeda volta a níveis anteriores ao susto da ameaça de Trump de tarifar a China em 100%.


SONHANDO ALTO – Depois de um período de acomodação aos recordes históricos, o Ibovespa dá sinais de que quer voltar para o jogo. Retomou ontem os 144 mil pontos, tendo superado os 145 mil pontos no pico intraday (145.216).


… O índice à vista encerrou em alta de 0,77%, aos 144.509 pontos, ou seja, a dois mil pontos de sua máxima de fechamento de todos os tempos. A bolsa pode chegar lá de novo, se Trump deixar rolar a química com a China.


… O Fed já vem embalando NY, com efeitos positivos por aqui. Falta agora Washington parar de brincar de gato e rato com Pequim e resolver as suas diferenças comerciais, para o mercado poder operar com previsibilidade.


… No ambiente ontem de apetite por risco, os bancos emplacaram ganhos firmes: Itaú, +1,79% (R$ 38,16); Bradesco PN +1,87% (R$ 18,01); e Santander, +2,48% (R$ 28,90). Só BB ON foi na direção oposta e perdeu 0,62% (R$ 20,77).


… Vale parou de cair depois de dois pregões, desafiou a queda de 0,58% do minério e avançou 1,28%, para R$ 60,90, na véspera de seu relatório trimestral de produção e vendas, que ajudará a projetar o balanço do próximo dia 30.


… Apesar da conquista da autorização do Ibama para realizar perfurações na Foz do Amazonas, Petrobras teve um dia morno, porque a repercussão positiva à Margem Equatorial foi ofuscada pelo queda do preço da gasolina.


… Além disso, o petróleo Brent voltou a refletir os temores sobre excesso de oferta e caiu 0,45%, cotado a US$ 61,01, ajudando a roubar o fôlego da Petrobras: ON recuou 0,25%, a R$ 31,56, e PN terminou estável (+0,07%; R$ 29,75).


… Com os mercados globais resolvendo apostar ontem que Trump pode não estar falando sério quando lança as ameaças protecionistas contra os chineses, as bolsas em NY encontraram espaço para altas consistentes.


… O índice Dow Jones subiu 1,12%, aos 46.706,58 pontos; o S&P 500 ganhou 1,07%, aos 6.735,13 pontos; e o Nasdaq avançou 1,37%, aos 22.990,54 pontos. Por trás dos ganhos, além da China, está a aposta certa no Fed dovish.


… Mais do que precificada para um corte do juro semana que vem, a taxa da Note-2 anos praticamente não se mexeu, fechando a 3,457% (de 3,456% no pregão anterior). O CPI na sexta-feira não tem potencial para mudar o Fed.


… Mas, segundo o Brown Brothers Harriman (BBH), uma surpresa [para cima] nos números da inflação ao consumidor pode reverter a tendência de queda do dólar, que ontem subiu com os conflitos geopolíticos.


… O DXY avançou 0,15%, a 98,586 pontos. O euro (-0,08%; US$ 1,1645) fechou estável e a libra perdeu 0,12%, a US$ 1,3407. No Japão, a provável vitória de Takaichi desperta temor de iene fraco (-0,08%), que fechou a 150,73/US$.


COMPANHIAS ABERTAS – PETROBRAS assinou com a PPSA um acordo de equalização de gastos e volumes (AEGV) decorrente do acordo de individualização da produção (AIP) da jazida compartilhada do Pré-Sal de Jubarte…


… Valor devido pela Petrobras à PPSA é de R$ 1,54 bilhão, a ser pago em parcela única até o fim de outubro; segundo a estatal, R$ 1,47 bilhão já estava provisionado nas suas demonstrações contábeis do segundo trimestre de 2025.


JHSF informou que o São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional acaba de concluir sua quinta expansão de capacidade, com a adição de novos hangares, pátios e uma nova taxiway…


… Com conclusão desta etapa, aeroporto passa a contar com 16 hangares distribuídos em aproximadamente 50 mil metros quadrados, além de 80 mil metros quadrados adicionais de pátios, já com ocupação integral.

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Nova semana e nova sessão de recuperação nas bolsas (EUA +1,0%; Europa +1,3%; tech +1,2%; semis +1,6%) graças ao enfraquecimento em 2 dos 4 nós presentes atualmente no mercado. Por um lado, melhoria na frente comercial após as mensagens tranquilizadoras de Trump sobre as negociações com a China, especialmente na sua reunião com Xi Jinping (29 de outubro/1 de novembro). E na frente micro, assimila-se, pouco a pouco, que os problemas dos bancos regionais americanos Zions e Western Alliance não deverão afetar o setor em geral, dissipando alguns fantasmas associados aos acontecimentos em 2023. Isto eclipsou a nova descida de rating de França (S&P na sexta-feira, Fitch há um mês) que quase não teve impacto nas obrigações: Bund 2,58% (sem alterações); T-Note 3,98% (-3 p.b.).


Hoje continuamos com notícias positivas para o mercado: (i) EUA anuncia um acordo de terras raras com a Austrália, que inclui um investimento superior a 2.000 M$ para o desenvolvimento de minas e processamentos nos próximos 6 meses e acesso preferente às reservas da Austrália (~4.ª mundial). Cabe destacar que a China é a principal produtora a nível mundial, com 60% do total e 80% do processo de refinação. (ii) Confirma-se a nomeação de Takaichi como Primeira-Ministra no Japão, obtendo maioria simples em ambas as Câmaras (Congresso 237 vs. 233 maioria e Senado 125 vs. 124 maioria). Positivo para bolsas, mas negativo para obrigações e yen perante a expetativa de uma política fiscal mais expansiva.


O resto da sessão estará marcado pelos resultados empresariais. O saldo atual de EPSs é muito positivo nos EUA, com um crescimento de +17,9% vs. +8,5% esperado, e hoje ganhará inércia com a publicação de empresas de defesa como Northrop Grumman (pré-abertura Nova Iorque; 6,49 $; -7%), Lockheed Martin (pré-abertura Nova Iorque; 6,35 $; -7%) e a nossa preferida RTX (pré-abertura Nova Iorque; 1,41 $; -3%), Coca-Cola (pré-abertura Nova Iorque; 0,78 $; +2%), General Motors (11:30 h; 2,24 $; -24%) e Intuitive Surgical (21:00 h; 1,99 $; +8%), embora a mais relevante será o fecho americano: Netflix (21:00 h; 6,93 $; +24%). 


Em qualquer caso, teremos de esperar pela próxima semana para as “Magníficas” (exceto Tesla, que publica amanhã), que permitirão uma interpretação sobre as avaliações de IA. Na Europa, destaca L’Oreal, também no fecho do mercado europeu, e Enagás, melhores do que o esperado, esta manhã.


NY +1,0% US tech +1,2% US semis +1,6% UEM +1,3% España +1,4% VIX 18,2% Bund 2,58% T-Note 3,98% Spread 2A-10A USA=+52pb B10A: ESP 3,11% PT 2,95% FRA 3,37% ITA 3,37% Euribor 12m 2,14% (fut.2,11%) USD 1,163 JPY 175,9 Ouro 4.337$ Brent 61,1$ WTI 57,6$ Bitcoin -2,8% (107.977$) Ether -2,8% (3.885$)


CONCLUSÃO: Esperamos uma sessão ligeiramente em alta graças a uma temporada de resultados que vai ganhando intensidade, sendo o principal ponto de interesse esta semana até à publicação da primeira macro relevante, esta sexta-feira (inflação americana e PMIs).


FIM

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Bankinter Portugal Matinal

 Análise Bankinter Portugal 


SESSÃO: Mau aspeto para encerrar a semana. Repentino refúgio para a qualidade: ouro quase 4.400 $/onça e yield T-Note < 4%, por exemplo. Causas: possibilidade de uma intensificação mais complexa e agressiva do que o esperado nas negociações comerciais EUA/CH (reunião Trump/Putin a 29 de outubro) e, principalmente, quedas significativas por parte de um par de bancos regionais americanos (-13% Zions Bancorp. e -11% Western Alliance) perante incumprimentos de certa dimensão. Ontem, a minúscula subida de tecnologia (+0,1%) contra o mercado (todos os restantes setores caíram; bancos -2,8%) salvou o fecho de Nova Iorque (-0,6%), que poderia ter sido muito pior devido aos problemas dos bancos regionais… que faz lembrar o que lhes aconteceu em 2023. Isto acontece mesmo após a publicação de bons resultados e guidances por parte dos bancos grandes americanos, portanto a correção parte desde níveis superiores e tem a sua origem nas dúvidas sobre a qualidade de crédito dos bancos americanos de tamanho mais modesto e alcance regional. Lembrete na frente comercial: Trump ameaçou, na sexta-feira (10) com impostos alfandegários de 100% à China a partir de 1 de novembro, após as novas restrições da China às exportações de terras raras.


BBVA só consegue 25,5% de Sabadell, portanto a OPA fracassa. Esta foi a nossa estimativa sobre o desenvolvimento desde o primeiro momento, em maio de 2024. Estimamos que a partir de agora BBVA será extremamente generoso com os seus dividendos para reter acionistas e que poderá subir um pouco ao retirar este peso de cima, que foi um erro estratégico e de planeamento desde o início. Sabadell também irá subir por motivos semelhantes.


NY +0,4% US tech +0,7% US semis +3% UEM +1% España -0,1% VIX 20,6% Bund 2,57% T-Note 4,03% Spread 2A-10A USA=+53pb B10A: ESP 3,10% PT 2,95% FRA 3,34% ITA 3,38% Euribor 12m 2,163% (fut.2,192%) USD 1,166 JPY 176,1 Ouro 4.207$ Brent 62,4$ WTI 58,8$ Bitcoin -1,7% (111.093$) Ether -2,9% (4.002$)


CONCLUSÃO: Tom repentinamente mau porque aos incumprimentos em 2 bancos regionais americanos acrescenta-se o endurecimento das negociações EUA/CH, a cautela crescente perante uma hipotética sobrevalorização da IA e o encerramento parcial do governo americano, que parece que continuará durante algum tempo, porque ambas as partes carecem de estímulos para chegar a um acordo. Como este último obriga a ir às cegas em relação à macro americana, porque não são publicados indicadores federais e, também, não sai um grande fluxo resultados (apenas Amex, entre as grandes: EPS +14%), hoje não há solução: sessão tocada com certa vontade, de modo que poderíamos pensar em retrocessos superiores a -1% na Europa e ca.-0,5% em Wall St., como aproximação. É grave? Não. Até parece são que o mercado corrija e se limpe um pouco. A não ser que a situação dos bancos regionais americanos se complique seriamente, os problemas para o mercado não deverão escalar. Há umas semanas caíram First Brands (peças sobressalentes para automóveis) e Tricolor (venda de carros usados), mas são considerados casos isolados por sobrealavancagem e gestão imprudente. Veremos se o desenvolvimento é semelhante com os bancos regionais americanos, que deverá ser o mais provável. Hoje, ouro e T-Note impagáveis, portanto, a não ser que aconteça algo estranho e novo este fim de semana, deverão corrigir na segunda-feira e as bolsas deverão subir, embora com pouca alegria, de momento.


FIM

BDM Matinal Riscala

 *Bom Dia Mercado*


Segunda Feira, 20 de Outubro de 2.025.


*China, Gaza e Rússia: a tensão que move a semana*


… A semana começa com uma bateria de indicadores informados hoje pela China, incluindo o PIB/3Tri, que desacelerou o crescimento de 5,2% para 4,8%. Apesar do ritmo mais fraco da economia, o PBoC manteve os juros estáveis, em meio às tensões comerciais com os Estados Unidos. Os mercados aguardam mais animados o encontro de Trump e Xi no final do mês, após Washington sinalizar um novo recuo. A nota de apreensão vem do Oriente Médio, após Israel e Hamas terem violado o cessar-fogo. A agenda de indicadores está concentrada na sexta-feira, com o IPCA-15 aqui e o CPI americano, como única exceção na divulgação de dados no shutdown, que completa 20 dias.


ALIVIOU – Trump surpreendeu o mercado, na sexta-feira, mudando a conversa sobre a China, quando disse que a tarifa de 100% anunciada por ele poucos dias atrás, em retaliação às novas restrições de Pequim na exportação de terras raras, não era “sustentável”.


… Os sinais de distensão foram reforçados pela confirmação do presidente de que pretende se encontrar com Xi Jinping nas “próximas semanas”, durante a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, na Coreia do Sul, possivelmente, entre os dias 29 de 30.


… Trump disse também que a sua relação com a China tem sido “construtiva”, e que [por isso] não iria antecipar as novas tarifas aos produtos chineses, previstas para entrar em vigor a partir de 1º de novembro. Levou as bolsas em Nova York às máximas do dia.


… No sábado, a AFP noticiou que China e Estados Unidos concordaram em abrir uma nova rodada de negociações comerciais já nesta semana.


… No domingo, em entrevista exibida pela Fox Business, o presidente Trump disse que não quer “destruir” a China, que o presidente Xi Jinping é “inteligente” e parece querer negociar as tarifas. “É a coisa certa a fazer.”


… A bordo do Air Force One, na volta do fim de semana, Trump antecipou sua exigência para revogar as tarifas aos produtos chineses, dizendo que eles precisam “retomar a compra de soja, pelo menos nos volumes de antes”, e parar de mandar fentanil para os Estados Unidos.


CHINA HOJE – Sob pressão, Pequim confirmou as expectativas de desaceleração, como crescimento de 4,8% do PIB/3Tri na base anualizada, um pouquinho melhor que o esperado (4,7%), mas abaixo de sua meta de 5%.


… Também as vendas no varejo recuaram, de 3,4% em agosto para 3% em setembro, contra 2,9% das estimativas.


… Só a produção industrial em setembro surpreendeu com forte alta de 6,5%, bem acima do consenso (5%) e de agosto (5,2%).


… Ainda nesta segunda-feira, o PBoC chinês manteve as taxas de juros de referência (LPR) inalteradas pelo quinto mês consecutivo, apesar de desaquecimento econômico: a taxa de um ano permaneceu em 3,0% e a de cinco anos ficou em 3,5%.


… A semana em Pequim será marcada pela realização da Quarta Sessão Plenária do Partido Comunista chinês, que discutirá o Plano Quinquenal do período 2026-2030, com possível foco no desenvolvimento tecnológico de indústrias de ponta.


RÚSSIA X UCRÂNIA – Na mesma entrevista à Fox Business, no domingo, Trump também falou sobre a Rússia, afirmando que tem “boa relação” com Putin e acredita que um acordo com a Ucrânia acontecerá, mas que Moscou “levará alguma coisa” de territórios ucranianos.


… No Washington Post, Putin pediu a Trump que Kiev entregue o controle total de Donetsk, uma região estratégica no leste da Ucrânia, como condição para cessar a guerra entre os dois países. A exigência foi feita no telefonema entre eles, ocorrido na semana passada.


… Já o Financial Times revelou que Trump instou Zelensky a aceitar os termos da Rússia para encerrar a guerra, durante tensa reunião na Casa Branca, na sexta-feira, quando alertou o líder ucraniano que Putin havia ameaçado “destruir” a Ucrânia caso o país não concordasse.


… Trump planeja um novo encontro com Putin em breve e essa expectativa gera especulações sobre a chance de flexibilizar as sanções à Moscou.


ISRAEL X HAMAS – No evento de maior tensão geopolítica do fim de semana, o acordo celebrado por Trump no Oriente Médio foi ameaçado por uma série de ataques de Israel contra dezenas de alvos do Hamas em Gaza.


… Israel alegou que o Hamas teria violado o cessar-fogo, disparando contra suas tropas em Rafah; prometeu responder com firmeza e assim foi feito. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que a guerra em Gaza não terminará até que o Hamas se desarme.


… Netanyahu orientou o exército a tomar “ações fortes” contra quaisquer violações do acordo, mas não ameaçou retornar à guerra. No fim de domingo, as Forças de Defesa de Israel anunciaram que retomariam o cessar-fogo, embora prontos para responder a qualquer nova violação.


… O Egito, envolvido nas negociações de cessar-fogo em Gaza, disse que contatos ininterruptos estão em andamento para desescalar a situação entre Israel e Hamas, enquanto Trump enviou o seu vice, JD Vance, para liderar uma delegação a Israel nesta semana.


… Questionado sobre a situação no Oriente Médio, Trump disse que o cessar-fogo em Gaza continua em vigor e minimizou os ataques do Hamas no fim de semana. “Alguns rebeldes podem estar por trás, talvez a liderança do Hamas não esteja envolvida.”


COLÔMBIA ENTRA NA MIRA – Em nova frente de confronto, Trump foi à sua redes Truth Social para acusar o presidente colombiano, Gustavo Petro, de traficante e “líder de drogas ilegais”, anunciando o fim dos subsídios americanos ao país.


… Petro respondeu no X, negou qualquer vinculação com o narcotráfico e disse que Trump foi “grosseiro e ignorante” com os colombianos.


NO KINGS – Milhares de manifestantes se reuniram neste sábado em Washington, Nova York e outras cidades dos Estados Unidos para protestar contra as políticas autoritárias do governo Trump, em clima de festa de rua, com bandas e muitas pessoas fantasiadas.


SHUTDOWN – Com a paralisação do governo entrando no vigésimo dia, democratas dizem que nenhum avanço é possível sem o envolvimento do presidente Trump, mas que ele não demonstra urgência em intermediar um compromisso que encerraria o impasse.


… O líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, e o líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, disseram que os republicanos mostram “pouca seriedade nas negociações” e que o líder da maioria no Senado, John Thune, não apresentou nenhuma proposta até o momento.


… Os líderes republicanos se recusam a negociar até um projeto de lei de financiamento de curto prazo para reabrir o governo, enquanto os democratas insistem que não concordarão sem garantias sobre a extensão dos subsídios de seguro de saúde.


… Na Associated Press, Trump não parece ter pressa, enquanto se ocupa das questões externas.


BRASIL & EUA – O presidente Lula desembarca na Indonésia nesta quinta-feira, em escala para a Malásia, onde ficará até o dia 28, quando espera encontrar-se com Donald Trump na Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).


… O Planalto está confiante na reaproximação entre os dois países após a conversa amistosa de Marco Rubio com Mauro Vieira, na Casa Branca.


… Segundo a mídia apurou, Lula planeja alertar Trump de que uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela poderia desestabilizar governos vizinhos e fortalecer o crime organizado na América Latina, produzindo o efeito contrário ao que se deseja.


… Trump autorizou a CIA a operar secretamente para derrubar Nicolás Maduro e deslocar navios de guerra ao Caribe.


… Apesar do otimismo, o governo brasileiro admite que ainda não conseguiu resultados concretos em seus pleitos; seguem vigentes o tarifaço de 50%, a cassação de vistos e o cerco da Lei Magnitsky a autoridades do Judiciário e do Executivo.


… Entre os temas de interesse mútuo, os Estados Unidos querem avançar sobre as pautas do etanol e de minerais críticos – já que as reservas brasileiras de terras raras, entre outros recursos, podem ajudar a reduzir a dependência americana de fontes da China.


… O Brasil quer o processamento nacional, com investimentos norte-americanos, o que pode ser um complicador.


… Integrantes do governo Lula veem a expansão chinesa como a grande disputa de fundo de Trump na América Latina, mas dizem que o País não vai abrir mão da relação comercial e econômica privilegiada com Pequim.


… Na Folha, se Trump pedir um afastamento da China, deve ouvir um sonoro “no way”, resumiu uma autoridade do Planalto.


… Uma das possíveis concessões seria no acesso do etanol americano – a diferença de tarifas pré-sobretaxas (18% no Brasil a 2,5% nos Estados Unidos) é uma queixa recorrente, mas o Brasil deve pedir também uma contrapartida no açúcar, que entra no país por meio de cotas.


… Está no radar também que Trump possa anunciar uma exceção ao café a todos os países, por causa da inflação interna recorde registrada após o tarifaço. A medida beneficiaria o Brasil, responsável por abastecer 30% do mercado doméstico nos Estados Unidos.


VAI ROLAR NA SEMANA – Os investidores aguardam a divulgação da inflação ao consumidor (CPI) de setembro nos Estados Unidos, prometido pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS) para esta sexta-feira, 24, apesar do shutdown.


… O indicador, que interromperá o apagão de dados, sairá antes da reunião do Fomc da semana seguinte, no dia 29, que já impõe período de silêncio aos dirigentes do Fed. A expectativa para o CPI é de estabilidade sobre agosto, mas em patamares elevados.


… Além disso, serão divulgados na sexta o PMI de outubro da S&P e a leitura final do sentimento do consumidor de Michigan.


… No Brasil, a semana será esvaziada de indicadores, com destaque para o IPCA-15 de outubro e os dados do setor externo de setembro, ambos também na sexta-feira. Hoje, sai o Boletim Focus (8h25) e, nos Estados Unidos, as vendas de casas existentes (11h).


BALANÇOS – Netflix, Tesla e Intel estão entre as empresas que divulgarão balanços nesta semana em Nova York.


… Netflix sai amanhã (terça), junto com 3M, Coca-Cola e Western Alliance. Na quarta, tem AT&T, Alcoa, IBM e Tesla. Na quinta, American Airlines, Intel e Ford. E encerrando a semana, na sexta-feira, Procter & Gamble. Para hoje, não há resultados previstos.


… Na B3, a temporada de resultados financeiros do 3Tri tem início com Weg e Romi, na quarta-feira, e Usiminas na sexta.


… Já a Vale divulgará amanhã, terça-feira, o seu relatório de produção e vendas do terceiro trimestre deste ano, após o fechamento do mercado. O balanço do 3Tri da mineradora será reportado na próxima semana, no dia 30.


AGENDA ELEITORAL – O presidente Lula lança hoje o programa “Reforma Casa Brasil”, em solenidade no Palácio do Planalto, às 15h30, uma aposta para atrair o eleitor de renda mais baixa em 2026, após o novo modelo de financiamento de imóveis à classe média.


… A nova política pública vai oferecer crédito facilitado e apoio técnico para reformas e melhorias em moradias em todo o País, com uma linha de R$ 30 bilhões às famílias com renda até R$ 9.600 e de R$ 40 bilhões para rendas superiores a esse limite.


… No sábado, o presidente Lula anunciou para 2026 investimento de R$ 108 milhões em apoio para até 500 cursinhos populares, que preparam estudantes de baixa renda para a universidade, defendendo a universalização do programa Pé-de-Meia.


… “Nós precisamos aprovar a universalização do Pé-de-Meia para que todas as pessoas possam ter o direito de estudar. É difícil. A Faria Lima vai brigar com a gente. Os banqueiros vão reclamar. Nossa, esse governo está gastando R$ 13 bilhões com o Pé-de-Meia.”


… O presidente insistiu, no entanto, que colocar dinheiro na educação não é gasto e sim investimento.


TCU – A área técnica do Tribunal de Contas da União emitiu parecer na última sexta-feira recomendando que os ministros da Corte mantenham a decisão de obrigar o governo a cumprir o centro da meta fiscal, na hora de decidir pelos congelamentos do Orçamento.


… O documento rejeita os argumentos apresentados pela AGU, que recorreu da decisão do plenário da Corte e obteve liminar suspensiva até o julgamento do mérito. Os técnicos do TCU citam o risco de aumento da dívida bruta em “centenas de bilhões de reais”.


… “A dívida bruta se estabilizaria em 87,1% do PIB em 2035 sob a política fiscal orientada pelo centro da meta, ao passo que, sob o limite inferior, permaneceria alcançaria 89,7% do PIB em 2035, uma diferença de 2,6 pp que equivale a R$ 322 bilhões em valores de agosto.”


STF – Lula deve indicar o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal até esta terça-feira, antes da sua viagem à Indonésia e à Malásia, segundo aliados do presidente revelaram à Folha.


… Também é esperada para os próximos dias a nomeação do deputado Guilherme Boulos (PSOL) para chefiar a Secretaria Geral da Presidência.


EMENDAS PIX – O ministro Flávio Dino convocou para a quinta-feira sessão com o Congresso sobre a transparência de emendas parlamentares. Ele é o relator de diversas ações na Corte que questionam os repasses realizados sem a indicação dos nomes de deputados e senadores.


… No Estadão/domingo, em meio ao endurecimento das regras do STF, deputados e senadores aproveitaram o atraso na aprovação do Orçamento para achar brechas e turbinar suas emendas Pix, ampliando em R$ 73 milhões os repasses diretos a Estados e prefeituras.


… Embora a prática não seja ilegal, especialistas ouvidos pelo jornal avaliam que a manobra expõe uma corrida dos parlamentares por dividendos políticos, com a antecipação das transferências de olho nas eleições de 2026.


SEXTOU – Em clima de descontar riscos, os mercados globais foram invadidos por um sentimento de risk-off na sexta-feira, quando resolveram relativizaram a guerra comercial e surfar em uma onda de otimismo.


… Prevaleceu a impressão de que Trump blefou na ameaça de 100% das tarifas à China e agora opta pelos caminhos diplomáticos, em meio às reviravoltas que têm sido a marca registrada de suas táticas de negociação no tarifaço.


… Além ‘disso, o investidor se recobrou no pregão antes do final de semana do susto com as perdas dos bancos regionais norte-americanos com fraudes em empréstimo, preferindo avaliar os episódios como isolados.


… Baixada a poeira com as tensões comerciais e de crédito bancário, o índice Vix do medo devolveu quase todo o salto de mais de 20% das véspera, as bolsas em NY retomaram o ânimo e o Ibovespa recuperou os 143 mil pontos.


… O dólar caiu para a faixa de R$ 5,40 e só quem ficou de fora da onda positiva foram os juros futuros, que voltaram a encarnar os riscos fiscais. A notícia da Folha de que o Congresso quer driblar o arcabouço acendeu o alerta.


… Os parlamentares querem aprovar uma medida que do arcabouço parte das despesas com educação e saúde financiadas com dinheiro do Fundo Social do Pré-Sal e gastos bancados com recursos de empréstimos internacionais.


… A iniciativa foi incluída em um projeto de lei já aprovado pela Câmara e agira tramita no Senado.


… A manobra articulada em Brasília se soma ao desconforto com o populismo do governo, de olho no ano eleitoral.


… Especialmente a ponta longa da curva do DI incorporou prêmio de risco fiscal, descolada do alívio do câmbio.


… Com leve viés de alta, o contrato de juro para Jan/29 terminou a 13,330% (contra 13,320% na sessão anterior); Jan/31 subiu a 13,605% (de 13,582%); e Jan/33, a 13,745% (de 13,726%).


… O vencimento para Jan/26 (14,897%) ficou perto do ajuste de 14,895%; e o Jan/27 caiu a 14,010% (de 14,023% no pregão da véspera), mais relaxados com Trump.


… A suavização do seu discurso, admitindo ser inviável uma tarifa extra de 100% sobre a China e dizendo acreditar que “tudo ficará bem”, desarmou pressão no dólar à vista, que engatou queda de 0,69%, cotado a R$ 5,4055.


… Na semana, caiu quase 1,8%. A moeda americana opera na banda de baixo do intervalo de R$ 5,40 a R$ 5,50, com a reconciliação de Washington com Pequim e, mais do que tudo, diante do carry trade atraente do momento.


… O BC realiza hoje dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra), para rolagem do vencimento de novembro. Os leilões, de até US$ 1 bi no total, ocorrerão de forma simultânea, das 10h30 às 10h35.


SR. SIMPATIA – Apesar da convicção (só para não dizer certeza absoluta) de que o Fed vai promover cortes acumulados dos juros, uma queda do DXY na sexta-feira foi neutralizada pelo tom amistoso de Trump com a China.


… No pano de fundo, também entrou na conta o menor estresse com o sistema financeiro americano. Antes do período de silêncio, o Fed boy Alberto Musalem disse que as condições de crédito estão “muito boas” agora.


… Sobre os juros, disse que pode apoiar reduções adicionais, caso os riscos para o mandato de emprego se materializem, os riscos para a inflação se mantenham contidos e as expectativas continuem ancoradas.


… Praticamente estável, o DXY fechou em leve alta de 0,09%, a 98,433 pontos. Com Trump mais manso, o iene caiu para 150,50/US$ e o euro recuou 0,31%, a US$ 1,1669. A libra esterlina pouco oscilou (-0,06%), a US$ 1,3432.


… Com o encontro entre Trump e Xi Jinping de pé e a reprecificação dos riscos bancários, o investidor desfez o apelo de proteção nos Treasuries e o yield da Note-10 anos voltou a 4,000%, um dia após ter furado esta marca (3,978%).


WISHIFUL THINKING – O investidor vendeu segurança e comprou risco: o Dow Jones subiu 0,52%, aos 46.190,61 pontos; o S&P 500 teve alta de 0,53%, aos 6.664,01 pontos; e o Nasdaq avançou 0,52%, aos 22.679,97 pontos.


… No embalo de Nova York, o Ibovespa fechou em alta firme de 0,84%, reconquistou os 143 mil pontos (143.398,63) e registrou volume financeiro melhor, de R$ 26,5 bilhões, impulsionado pelo exercício de opções sobre ações.


… No contexto de maior apetite por risco, os bancos exibiram fôlego e agora acionam a contagem regressiva para a temporada dos balanços, na semana que vem. O lucro das maiores instituições deve crescer, em média, 3% (UBS BB).


… Bradesco ON subiu 1,10%, a R$ 15,05; Bradesco PN, +0,68%, a R$ 17,68; Itaú, +0,35%, a R$ 37,49; Santander unit, +0,68%, a R$ 28,20; e o papel do BB saltou 2,60%, negociado no fechamento na máxima intraday de R$ 20,90.


… A sensação de que o Ibama está prestes a anunciar o sinal verde à exploração da Margem Equatorial contagiou as ações da Petrobras (PN +0,95%, a R$ 29,73; e ON +0,48%, a R$ 31,64), que faturaram ainda a alta do petróleo.


… O Brent para dezembro avançou 0,38%, a US$ 61,29, com os sinais de entendimento de Trump com a China.


… Ainda entre as commodities, o minério de ferro caiu de leve (-0,19%) e levou a Vale junto (-0,28%), mas a ação resistiu acima de R$ 60, cotada a R$ 60,13, no melhor patamar em quase dois anos. Na semana, avançou 2%.


COMPANHIAS ABERTAS – O aval do Ibama para a licença ambiental de exploração da Margem Equatorial pela PETROBRAS, na bacia da Foz do Amazonas, é esperado para a qualquer momento. O processo está próximo de ser analisado de forma conclusiva, apurou o Broadcast.


AMBIPAR. O prazo para a empresa entregar um pedido de recuperação judicial começa a ser contado nesta segunda-feira, após a cautelar que deu proteção contra credores ter vencido neste fim de semana. O pedido pode ser entregue qualquer dia, inclusive hoje.


BRASKEM informou que Camex decidiu manter por mais um ano, até outubro de 2026, a alíquota do imposto de importação de 20% para as resinas polietileno (PE), polipropileno (PP) e PVC.


SUZANO anunciou a precificação de uma emissão e oferta de panda bonds em duas tranches, voltadas para o mercado chinês. O valor total é de US$ 196 milhões, com vencimento até 2030.


REDE D´OR abriu negociações com Aliança e Dasa, após discordar de preço pedido por Fleury. (Lauro Jardim/Globo)


ASSAÍ. O Citi manteve a recomendação de compra, mas reduziu o preço-alvo do papel R$ 13,60 para R$ 11,80.


IGUATEMI. Radar reduziu participação na companhia de 10,2% para 9,91% do total de ações preferenciais, passando a deter 43.159.600 de papéis do tipo.


EZTEC lançou dois empreendimentos no terceiro trimestre, somando um valor geral de vendas (VGV) de R$ 475 milhões, considerando apenas a participação da companhia nos projetos…


… Esse valor representa queda de 31,6% na comparação anual e de 3,1% na base trimestral.


IRANI PAPEL E CELULOSE. O conselho de administração aprovou a realização da sexta emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em série única, no valor de R$ 120 milhões.


ENERGISA e a controlada direta Energisa Transmissão de Energia (ETE) informaram que energizaram o reforço da subestação Oriximiná, no Pará, para aumento da potência instalada.

Leitura de domingo

 *Leitura de Domingo: W. Street prevê lucro mais fraco com tarifas de Trump e fareja gastos com IA*


Por Aline Bronzati, correspondente


Nova York, 13/10/2025 - Analistas em Wall Street esperam que o crescimento do lucro das empresas de capital aberto nos Estados Unidos desacelere no terceiro trimestre, à medida que se esgotam as estratégias para conter os efeitos do pacote de tarifas do presidente Donald Trump. Por outro lado, também procuram sinais de investimentos em inteligência artificial (IA), que têm impulsionado o rali no mercado ao longo do ano, apesar das turbulências provocadas pelas constantes mudanças nas políticas de Washington.


O lucro por ação (EPS, na sigla em inglês) das empresas listadas no S&P 500, que reúne as maiores companhias do mundo, deve apontar crescimento de 8% no terceiro trimestre deste ano, projeta a casa de análises americana FactSet. Trata-se de uma desaceleração em relação ao avanço de 11% apontado no segundo trimestre.


Apesar disso, Wall Street está mais otimista que o normal com os resultados trimestrais. Os analistas elevaram as estimativas de lucros para o terceiro trimestre de 2025 nos últimos três meses. "Em um trimestre típico, os analistas geralmente reduzem as estimativas de lucros durante o trimestre", diz o vice-presidente e analista sênior da FactSet, John Butters.


Um deles é o Bank of America, que espera que o lucro por ação do S&P 500 seja 4% maior que as expectativas de Wall Street. "O crescimento econômico, os primeiros balanços sólidos, orientações positivas e o suporte de um câmbio mais fraco apoiam uma recuperação mais ampla dos lucros, mas a última reviravolta tarifária representa riscos para o futuro", diz a analista de estratégia de ações do Bank of America, Savita Subramanian.


O principal motor para lucros maiores virá do setor de tecnologia. O Morgan Stanley estima que o avanço do lucro líquido da trupe das 'Sete Magníficas' seja de 24,3% contra 2% das demais companhias listadas no S&P 500. No entanto, o que analistas anseiam é quanto aos gastos das empresas com IA, o que pode tornar investidores mais céticos em um momento que crescem alertas quanto ao risco de correção das ações americanas diante dos excessivos valutions e um ambiente repleto de incertezas.


A temporada de balanços em Wall Street ganha tração nesta semana, com a divulgação de resultados dos grandes bancos americano. JPMorgan Chase, Bank of America, Wells Fargo, Goldman Sachs e Citigroup, além da BlackRock, divulgam números do terceiro trimestre amanhã (14).


A expectativa de analistas é de que os grandes bancos americanos continuem apresentando melhores resultados em áreas como bancos de investimento e tesouraria, como ocorreu no segundo trimestre. Dados do mercado já divulgados apontam para números melhores tanto na renda fixa quanto na variável, com mais emissões ocorrendo em Wall Street no terceiro trimestre, e também mais transações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês).


Analistas estão, porém, em sinal de alerta depois quanto aos riscos de uma guerra comercial global em meio à mais nova deterioração na relação entre os EUA e a China. O presidente Donald Trump ameaçou impor tarifas de 100% a produtos chineses em retaliação às restrições de Pequim à exportação de terras raras na última sexta-feira, dia 10. Mas, ontem, abrandou o tom e disse que "tudo ficará bem" com a China.


"Grandes cortes de estimativas são inevitáveis se a ameaça de tarifa adicional de 100% da China se mantiver, o que é improvável em nossa visão, dado seu potencial de paralisar o crescimento dos lucros", alerta Subramanian, do Bank of America.


Nesse sentido, o JPMorgan anunciou hoje que vai investir até US$ 10 bilhões em indústrias críticas para a segurança econômica e resiliência dos EUA. A ofensiva faz parte da iniciativa de Segurança e Resiliência do banco, um plano de US$ 1,5 trilhão, com duração de 10 anos. "Ficou dolorosamente claro que os EUA permitiram que se tornassem excessivamente dependentes de fontes não confiáveis de minerais críticos, produtos e manufatura - todos essenciais para nossa segurança nacional", disse o presidente do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, em nota à imprensa.


Investidores também vão monitorar o sentimento do empresariado americano em meio à paralisação das máquina pública americana, o chamado shutdown, e o vai e vem tarifário. "O otimismo dos executivos das empresas do S&P 500 nas teleconferências de resultados do segundo trimestre caiu para seu nível mais baixo em dois anos", observam os estrategistas da XP, Raphael Figueredo e Maria Irene Jordão, em relatório a clientes.


Mas, ao menos por ora, as primeiras divulgações de resultados têm indicado melhora no ânimo. A Delta Air Lines sinalizou que a recuperação geral da demanda nas últimas seis semanas deve se manter à frente. Por sua vez, a Pepsico viu suas receitas trimestrais crescerem a despeito da queda do volume de vendas no terceiro trimestre, e o sentimento passado a analistas e investidores foi de "otimismo" com o que vem pela frente. Quanto ao shutdown, a Delta Air Lines estima impacto de menos de US$ 1 milhão por dia, descartando um "efeito material".


Contato: aline.bronzati@estadao.com


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Leitura de domingo

 *Leitura de Domingo: com tarifaço, café do Brasil corre risco de perder espaço nos EUA*


Por Isadora Duarte


Brasília, 15/10/2025 - Com o tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos importados brasileiros, o Brasil corre o risco de perder espaço no maior mercado consumidor de café do mundo a partir das próximas safras e ser substituído por outros fornecedores. O alerta é do diretor executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos. "O grande receio é perder o maior mercado global, onde estão as principais empresas. É um prejuízo enorme perder o acesso ao maior mercado global para seus concorrentes", afirmou Matos, em entrevista exclusiva ao Broadcast nas Redes. Veja a entrevista completa aqui.


Diante da sobretaxa que atinge o café brasileiro, outros países, como México, Honduras e Colômbia, passaram a exportar maior volume aos Estados Unidos. "Levamos muito tempo para conquistar o primeiro lugar no mercado americano. Com novas safras vindo e perspectiva de maior colheita em importantes players, o grande risco é o Brasil ser o maior fornecedor e depois ir para o fim da fila e perder espaço nos blends deste grande mercado, quando a produção mundial de café aumentar. O caminho é resolver isso o mais rápido possível", observou Matos. O Brasil, por sua vez, redirecionou parte do que deixou de vender aos EUA para países europeus, árabes e asiáticos, minimizando efeitos sobre a balança comercial do setor em movimento de realocação no mercado mundial. No acumulado de janeiro a setembro, o Brasil exportou 29,105 milhões de sacas, queda de 20,5% em relação aos nove meses de 2024, enquanto a receita gerada saltou 30%, para US$ 11,049 bilhões.


Com a aplicação da alíquota , os Estados Unidos saíram de principal destino do café brasileiro em julho, antes da vigência da sobretaxa, para o terceiro destino em setembro, perdendo o posto de maior importador de cafés do Brasil para a Alemanha. Segundo o Cecafé, os impactos para os exportadores de café são "incalculáveis". "Há um prejuízo enorme com custo de postergação de contratos e suspensão e cancelamento de contratos, por isso, não temos outra estratégia se não a isenção total aos cafés brasileiros. Se não resolvermos isso o mais rápido possível, além dos exportadores, os impactos chegarão aos produtores", apontou o CEO do Cecafé.


Dados do conselho apontam para queda de 52,8% nos embarques do grão ao mercado norte-americano em setembro, adquirindo 332.831 sacas. No ano passado, a exportação brasileira de café para os EUA somaram 8,1 milhões de sacas e US$ 2 bilhões, 16% de tudo o País exportou. "O aumento de 40% no preço internacional do café somado à tarifa de 50% sobre o grão brasileiro inviabiliza os embarques", apontou. O Brasil responde por 34% de tudo que os Estados Unidos consome de café. "76% dos americanos consomem café diariamente. São dois países insubstituíveis no comércio de café", pontuou o diretor-executivo do Cecafé.


O setor exportador defende que o café seja incluído na lista de exceções ao tarifaço. As sinalizações dos importadores é de que o produto é o item número 1 na lista, segundo Matos, para potenciais novas exceções. A abertura de diálogo entre os países, que começou com a conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos EUA, Donald Trump, e a missão diplomática brasileira ao governo americano, pode contribuir nesse movimento, segundo Matos. "Talvez seja factível a suspensão geral da tarifa ou a ampliação da lista. O importante é virar a página das tarifas", defendeu o CEO do Cecafé.


O impacto inflacionário do encarecimento do café, que registrou em agosto a maior alta no varejo americano desde 1997 nove vezes superior à média, bem como os efeitos já sentidos pelos consumidores e o fim do estoque da indústria local influenciam ainda no convencimento das autoridades e na pressão da opinião pública para isenção do café, avalia o Cecafé.


Em paralelo, o setor busca também a diversificação de mercados. Para Matos, os movimentos de preservação de mercados consolidados, como Estados Unidos e Europa, e a abertura de novos destinos são pautas distintas que não devem se sobrepor. China e Austrália despontam entre os países em crescimento do consumo do grão brasileiro. Nesse cenário de escalada tarifária, estoques mundiais baixos e incertezas quanto à nova safra, os preços do grão tendem a seguir elevados no mercado internacional pelo menos até o fim do ano.


Contato: isadora.duarte@estadao.com


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Diário de um economista de mercado

 Diário de um economista de mercado 30 anos de mercado - algumas lições São quase 30 anos de mercado, entre idas e vindas. Destes anos todos...