ANÁLISE: BC obtém primeira vitória para domar as expectativas longas
Alex Ribeiro De São Paulo
As expectativas de inflação vêm caindo há algum tempo, mas os dados do boletim Focus desta semana registram a primeira vitória do Banco Central para domar as expectativas de inflação de longo prazo. Isso é muito importante porque sinaliza uma maior credibilidade da política monetária.
A projeção mediana de inflação dos analistas do setor privado para o ano de 2027 caiu de 4% para 3,97% na última sexta-feira, depois de ficar estável durante 26 semanas. Há quase um ano não ocorria queda da inflação esperada para um horizonte tão longo. A inflação esperada para 2026 também recuou, pela sexta semana seguida, de 4,40% para 4,33%. E as expectativas para este ano baixaram de 4,95% para 4,86%, na 13a semana consecutiva de queda. A queda das projeções para a inflação deste ano e do próximo, porém, parece estar mais ligada a fatores transitórios, como a desvalorização do dólar ante o real, que deu um alívio nos preços de bens industriais e alimentos. Portanto, reflete menos o aperto monetário, embora — deve-se reconhecer — a Selic nos atuais 15% ao ano seja um dos fatores de sustentação do real. lá a queda nas projeções de inflação para 2027 representa, possivelmente, outra história. Até lá, os ganhos da valorização cambial tendem a ter se dissipado, assim como outros fatores cíclicos que possam estar ajudando a inflação a ficar mais baixa. Uma possibilidade é que os analistas econômicos estejam apenas projetando uma inércia inflacionária mais fraca. Como a inflação de 2026 tende a ser menor que o esperado, os contratos que em 2027 seriam reajustados com base no índice de preços de um ano antes devem ter uma alta mais moderada. Mas há outros sinais de que as expectativas de inflação de longo prazo estão cedendo de forma mais consistente. Embora a inflação esperada para 2028 siga imóvel em 3,8%, quando se considera a mediana (valor mais ao centro das projeções), já há uma queda para 3,76% na média (soma dos percentuais estimados, dividida pelo número de estimativas). Olhando um pouco adiante, para o ano de 2029, a expectativa de inflação também vem apresentando recuo já há algum tempo. Em maio, atingiu um pico de 3,78% e, nesta semana, já está em 3,5%. As projeções de longo prazo são um bom termômetro da batalha para ancorar as expectativas porque, anos à frente, todos os choques que os analistas econômicos antecipam terão se dissipado. Num horizonte tão longo, o que conta basicamente é a credibilidade do Banco Central para controlar a inflação, além de aspectos mais gerais da política econômica, como a política fiscal. Apesar do recuo nas expectativas, o trabalho do Banco Central não está concluído. Todas as expectativas, em todos os horizontes, são maiores do que as projeções do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC e superam a meta oficial de inflação, de 3%. Em pronunciamentos recentes, o diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, atribuiu isso ao fato de o mercado não acreditar que a economia vai crescer abaixo de seu potencial, gerando uma capacidade ociosa que permita baixar os preços até a meta. Os dados de atividade nos próximos meses - e a manutenção dos juros altos por muito tempo - podem levar a um estreitamento dessas diferentes visões e, com isso, intensificar o processo de convergência da inflação para a meta.
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