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Fabio Alves

 FÁBIO ALVES: A ESTRATÉGIA É DEIXAR LULA SANGRAR ATÉ 2026?


A leitura dos investidores, ontem, da derrubada do decreto do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo Congresso foi a de que o presidente Lula está fraco politicamente e de que aumentou a probabilidade de uma troca de governo a partir de 2027. Com isso, sem minimizar o impulso de ventos favoráveis do cenário externo ontem, o Ibovespa subiu 1% e o dólar recuou para abaixo de R$ 5,50. Mas qual a leitura política da derrota esmagadora e surpreendente do governo Lula na votação do projeto de decreto legislativo (PDL)? Pode-se colocar na conta já do ciclo eleitoral do pleito presidencial de 2026 a maneira abrupta e um tanto traiçoeira que se deu essa derrota? Qual a estratégia do Centrão, esse bloco heterogêneo de partidos de centro e de direita, em relação ao presidente Lula e ao seu governo daqui em diante? “O Centrão já está mirando 2026 e está deixando Lula sangrando”, diz o jornalista Marcelo de Moraes, titular da coluna “Jogo Político”, do Broadcast Político. Para ele, além de um claro aborrecimento por parte dos partidos do Centrão com a questão do atraso no pagamento de emendas parlamentares (até agora um valor muito pequeno de um total de R$ 50 bilhões previstos em 2025), há também a percepção dos líderes desse bloco do desgaste político do presidente Lula, com a queda nos índices de popularidade e de aprovação do seu governo. “É bom lembrar que o Centrão não aposta em cavalo perdedor e está sempre mirando o futuro”, diz Moraes. “Como o Centrão tem muitas alternativas sem ser apenas o Bolsonaro, há um meio que um desembarque dessa turma do bolsonarismo.” Ou seja, os líderes desse bloco querem manter o voto dos apoiadores do bolsonarismo, mas calculam que podem transformar, por exemplo, o governador paulista Tarcísio de Freitas para ter a “cara” do Centrão e limpar a “cara” pesada do bolsonarismo, que tem desgaste no eleitorado. “Assim, o Centrão está vendo, neste momento, uma janela de oportunidade e está aproveitando para fazer sangrar o governo Lula”, explica o jornalista. Tanto que, de forma praticamente inédita, o Centrão abriu mão de ocupar um Ministério, quando o deputado federal Pedro Lucas (União-MA) recusou o convite de Lula para substituir Juscelino Filho à frente da pasta das Comunicações. Moraes argumenta ainda que outra diferença no cenário atual em que Lula está bastante enfraquecido é que o Centrão não vê mais a necessidade de pressionar por um impeachment do presidente, por exemplo. “Eles preferem deixar Lula desgastado, chegar mais fraco na eleição e ser um candidato menos competitivo”, diz. Aliás, ao avaliar a derrubada do decreto do aumento do IOF pelo congresso na edição de ontem do seu “podcast”, Ricardo Ribeiro, analista político da LCA 4intelligence, diz que a maneira como o assunto foi pautado, de supetão, inesperadamente, sem dar chance de reação para o governo, “o jogo oposicionista combinado entre os presidentes da Câmara e do Senado rementem a momentos de ruptura da relação política entre o governo e o Congresso”. “Momentos semelhantes aos vividos nos períodos pré-impeachment de Fernando Collor e de Dilma Rousseff”, diz Ribeiro, acrescentando que não vê Lula sofrendo impeachment. Para Marcelo de Moraes, da coluna “Jogo Político”, a impressão que se tem é que Lula e o PT parecem estar sem rumo. “Mesmo com a entrada de Sidônio Palmeira [ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social] para turbinar a reeleição, o desgaste de Lula continua”, diz o jornalista. “Colocaram Gleisi Hoffmann no Ministério das Relações Institucionais, mas a articulação política não melhorou, com o governo sofrendo sucessivas derrotas.” Falta ainda mais de um ano para a eleição presidencial de 2026, o que na política equivale praticamente a um século. “Tudo pode ocorrer até lá, mas o relógio está correndo e parece que ainda não há nenhum sinal de que haverá uma luz ao fim do túnel para Lula”, diz Moraes. Nesse sentido, a estratégia de deixar o governo Lula sangrar até a eleição de 2026 pode ganhar contornos mais dramáticos. A ver. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista do Broadcast

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