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Fabio Alves

 FÁBIO ALVES: COM VITÓRIA DE TRUMP, OS NOVOS CÁLCULOS DE LULA

Assim como Xi Jinping deve estar fazendo neste momento lá na China, aqui o presidente Lula também terá que fazer novos cálculos sobre o seu governo, inclusive o impacto político que a vitória indiscutível de Donald Trump na eleição dos Estados Unidos terá sobre a corrida presidencial brasileira até 2026. Primeiro, o impacto econômico. Na China, por exemplo, os analistas estão esperando um anúncio de um robusto pacote de estímulo fiscal ao redor de 10 trilhões de yuans a ser desembolsado ao longo de três a cinco anos. Mas essa cifra certamente será maior para amenizar o impacto que uma eventual imposição por Donald Trump de uma alíquota de 60% nas tarifas de importação de produtos chineses. Ou seja, antes do resultado da eleição presidencial americana, os números do estímulo fiscal na China eram outros. Agora, essa injeção de impulso à economia chinesa terá que ser maior. Aqui, no Brasil, o raciocínio terá que ser semelhante: o pacote de cortes de gastos, que está para ser anunciado pelo governo Lula, terá que ser crível o suficiente para recuperar a confiança do mercado em relação ao arcabouço fiscal e reduzir o prêmio de risco nos ativos brasileiros. Com a vitória de Trump e do comando do partido republicano no Congresso americano (embora até agora só confirmada a retomada do Senado), o dólar deve se valorizar ante as moedas emergentes, incluindo o real brasileiro. Além da China, Trump já prometeu um aumento geral das tarifas de importação de 20%, até como forma de financiar, em parte, o corte generalizado de impostos que ele anunciou durante a sua campanha eleitoral. Também devem subir os “yields” dos títulos do Tesouro americano. Isso porque o resultado dessa receita econômica defendida por Trump será maior inflação e também aumento mais forte do déficit orçamentário dos EUA. E, sem dúvida, a política monetária do Federal Reserve (Fed) será afetada: até onde vai agora o ciclo de cortes dos juros americanos já em curso. Exemplo: logo após ter ficado evidente a vitória de Trump na eleição presidencial, o economista-chefe para EUA da consultoria Pantheon Macroeconomics, Samuel Tombs, mudou a sua aposta para a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, em inglês) de dezembro. Ele agora espera um corte de 0,25 ponto porcentual e não mais uma redução de 0,50 ponto como era a sua projeção anterior. Para a decisão do Fed de amanhã, Tombs ainda espera um corte de 0,25 ponto. Quanto ao impacto político da vitória de Trump, é inegável que o Partido dos Trabalhadores (PT) - e a esquerda como um todo - vai ter que adotar outra estratégia para conquistar o eleitorado no pleito presidencial de 2026 do que apenas adotar políticas populistas. O PT saiu mais enfraquecido da eleição municipal. E, com a vitória de Trump, a extrema-direita no mundo ganhou um impulso. A votação de Pablo Marçal na eleição municipal já havia sido um prenúncio. Como eu havia observado na minha coluna intitulada “A eleição de US$ 1 bilhão”, o desempenho da economia já não é mais o fator de maior peso para um candidato se reeleger. Afinal, os números do mercado de trabalho e do crescimento do PIB tanto nos EUA, quanto no Brasil, ao longo dos últimos 12 meses deveriam ter garantido um desempenho melhor para o partido democrata e para o PT nos dois países. Mas não foi o que se viu tanto nas eleições municipais brasileiras, quanto no pleito americano, haja vista o desempenho não somente da Kamala Harris, como dos candidatos democratas ao Senado e à Câmara dos Deputados nos EUA. É possível ainda Lula, como tem feito desde o início deste mandato, manter uma retórica apenas para agradar ao PT e à sua base fiel, a exemplo da sua posição em relação à Venezuela e à guerra na Ucrânia? Nesses dois temas, por exemplo, Lula acabou por alienar todos os eleitores de centro que votaram nele e contra Jair Bolsonaro na defesa da democracia. Em relação à economia, não dá mais para perseguir a estratégia de que “gasto é vida”, como foi durante a gestão de Dilma Rousseff. O eleitorado de centro que votou em Lula também não aceita a falta de ajuste nas contas do governo. O fato é que, com a vitória de Trump, o cenário externo ficou mais adverso não somente do ponto de vista econômica, como também geopolítico. E Lula terá que refazer a rota caso queira ser reeleito em 2026. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista do Broadcast

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