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Cristiano de Oliveira, Banco Pine

 Primeiro, Trump anunciou uma forte política de corte de tributos para empresas americanas, acompanhada de uma escalada nas tarifas de importação para produtos estrangeiros. Tal medida visa estimular o crescimento interno, mas pode prejudicar as exportações de diversos países. Além disso, há uma grande probabilidade de que se inicie um novo conflito comercial com a China, visto que essa tensão marcou seu primeiro mandato. O protecionismo americano tem repercussões importantes para o comércio global.

Nesse contexto, um confronto renovado entre Estados Unidos e China pode criar uma oportunidade para o Brasil ampliar suas exportações ao gigante asiático, como já ocorreu anteriormente. Com um mercado chinês menos abastecido pelos produtos americanos, o Brasil tende a ser favorecido, especialmente no setor de commodities. Isso pode significar um alívio para o setor de grãos, que vem enfrentando dificuldades com o excesso de oferta internacional e a consequente queda dos preços.

No entanto, essa expansão comercial vem acompanhada de um efeito colateral: combinada com uma política fiscal expansionista deve manter os juros americanos elevados, afetando a taxa de câmbio e criando pressões inflacionárias sobre o Real. Para o Brasil, que já lida com uma desvalorização do câmbio por questões internas, isso pode significar uma intensificação da alta do dólar e uma pressão adicional sobre os juros domésticos.

Em segundo lugar, essa combinação de fatores externos pode colocar o governo brasileiro em uma encruzilhada fiscal. Com um dólar forte e juros americanos em patamares elevados, manter o equilíbrio fiscal se torna essencial para evitar uma crise econômica.

O cenário exige um ajuste fiscal rigoroso, com cortes reais de despesas e uma disciplina orçamentária que evite o aumento explosivo da dívida pública e suas consequências. Sem essa resposta, o Brasil corre o risco de ver uma crise econômica se acelerar, tal como já ocorreu no governo Dilma, com uma recessão acompanhada da perda de poder de compra da população.

A vitória de Trump, portanto, não representa uma ameaça à democracia nem por lá e nem por aqui, mas tampouco é um evento isolado. Ela reforça a urgência com que o Brasil precisará enfrentar uma série de desafios econômicos.

Bom, as peças estão no tabuleiro e, agora, cabe ao governo brasileiro decidir como irá jogar. Será que jogará para vencer ou para perder?

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