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Fabio ALVES

 O movimento dos ativos financeiros ontem, especialmente os contratos futuros de juros e o Ibovespa, após a divulgação dos números do Caged de setembro mostrou que o mercado se precipitou em jogar suas fichas na precificação de um início antecipado do ciclo de corte de juros com base apenas nas surpresas para baixo do IPCA e do recuo das expectativas inflacionárias. Foi como um choque de realidade. E, hoje, os dados da Pnad Contínua, também referentes a setembro, só reforçaram a mensagem de que o mercado de trabalho segue ainda robusto o suficiente para endossar uma desaceleração mais forte da atividade econômica neste segundo semestre, puxado, entre outros fatores, pelo impulso fiscal com o pagamento de precatórios previsto entre junho e dezembro. Obviamente, é preciso destacar a ressalva que os economistas da consultoria 4intelligence: a de que, desde a divulgação do Novo Caged, setembro deste ano foi o que apresentou a maior quantidade dias úteis em relação ao mesmo mês desde 2020. Foram 22 dias úteis, em comparação com 21 dias úteis em setembro de 2024 e de 20 dias em 2023. Ou seja, no mês passado, houve mais dias úteis para o funcionamento das empresas para contratar, segundo os economistas da consultoria. “A criação líquida de 213 mil vagas em setembro afasta sinais mais fortes de desaceleração”, diz o título do relatório enviado pelos economistas da 4intelligence aos clientes ontem. Segundo eles, a projeção para o mercado de trabalho em 2025 da consultoria segue alinhada à estimativa de crescimento de 2,2% do PIB neste ano - um pouco acima da mediana das projeções na última pesquisa Focus, de uma expansão de 2,16%. Sim, a taxa Selic em 15% já está num nível restritivo, mas até a perda de fôlego nas concessões de crédito não chega a acender um sinal amarelo para o Banco Central correr a dar um balão de oxigênio para uma economia que estivesse já num quarto de enfermaria. Além disso, o recuo do dólar e a alta da Bolsa de Valores têm como consequência um afrouxamento nas condições financeiras. No acumulado do ano, até o fechamento de ontem, o dólar registrava queda de 13% ante o real, enquanto o Ibovespa apresentava alta de impressionante 23,7%. Fica difícil apostar numa desaceleração mais profunda da economia - ou uma perda de fôlego que suscite uma preocupação maior não só dos diretores do BC, como também da ala política do governo e dos integrantes do Ministério da Fazenda - com um mercado de trabalho ainda aquecido. Não somente por causa dos números de contratações, mas também pela taxa de desemprego na mínima histórica de 5,6% e dos ganhos reais de salários. No trimestre encerrado em setembro, segundo a Pnad Contínua, a massa de renda atingiu novo recorde de R$ 354,6 bilhões. Outra questão é que os números do mercado de trabalho - do Caged e da Pnad Contínua - vêm surpreendendo os analistas faz tempo na direção de maior robustez do que na direção contrária. Nesse sentido, qual o nível de confiança que se pode ter ao olhar o futuro próximo e enxergar um ponto de inflexão? No acumulado de janeiro a setembro, conforme o Caged, o número de criação de vagas de trabalho com carteira assinada foi de 1,7 milhão, abaixo do que se registrou em igual período de 2024, de 2 milhões. Sim, é uma desaceleração, mas bem menor do que se imaginaria com uma taxa Selic a 15%. O problema é que, com a desaceleração da inflação corrente e o recuo das expectativas inflacionárias, os números do mercado de trabalho tornam difícil chegar a uma conclusão mais precisa se o Copom está atrasado e precisa cortar logo ou se é melhor ir devagar com o andor. (fabio.alves@estadao.com) Fábio Alves é jornalista da Broadcast

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