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Leitura de domingo

 *Leitura de Domingo: Janela dos minerais críticos pode impulsionar economia em R$ 243 bi*


Por Eduardo Laguna


São Paulo, 12/09/2025 - O solo brasileiro guarda uma riqueza cujo impacto econômico é estimado em até R$ 243 bilhões nos próximos 25 anos. Do lítio ao níquel, passando pelas terras raras, o Brasil tem alguns dos maiores depósitos do mundo de minerais que terão na economia do futuro um papel parecido com o que o petróleo tem na economia do presente.


Numa lista vasta que inclui baterias de carros elétricos, redes de transmissão de energia, motores de turbinas eólicas, semicondutores, mísseis teleguiados, tevês de LED, smartphones, placas de energia solar e, até mesmo, fármacos usados no tratamento paliativo de câncer, são inúmeros os produtos e tecnologias que dependem desses minerais. Por serem indispensáveis, mas também vulneráveis, eles ganharam o nome de "minerais críticos".


Ao mesmo tempo em que são essenciais ao funcionamento da economia, à segurança nacional e à transição para uma economia de baixo carbono, os minerais críticos tem a oferta sujeita a dificuldades de extração, instabilidades geopolíticas e concentração em poucos países. Assegurar o fornecimento desses materiais se tornou vital a governos, abrindo uma grande oportunidade ao Brasil, onde estão alguns dos minerais críticos mais importantes.


"Nós perdemos algumas janelas tecnológicas ao longo do tempo, como a janela de inteligência artificial. Mas na janela da sustentabilidade, onde entram os minerais críticos, um de nossos principais recursos, o Brasil tem a chance de ser protagonista", comenta o engenheiro Felipe Pozebon, que chefia a área do escritório Simões Pires voltada a políticas públicas de inovação.


Um estudo produzido pela Deloitte prevê que R$ 243 bilhões poderão ser acrescidos ao Produto Interno Bruto (PIB) até 2050 se o Brasil conseguir avançar em direção a uma indústria de refino dos minerais críticos que estão em suas reservas. Pelos investimentos mapeados pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), US$ 18,5 bilhões estão previstos para esses minerais até 2029, pouco mais de um quarto (27%) dos US$ 68,4 bilhões programados pelo setor no período.


O Brasil é dono da maior reserva mundial de nióbio e da segunda maior tanto de grafite quanto de terras raras. Além disso, tem a terceira maior reserva de níquel do mundo. Mobilizar capital e transformar todo o potencial em realidade exigirá, no entanto, que o País supere desafios regulatórios, ambientais, tributários e tecnológicos.


Hoje, há um abismo entre o tamanho das reservas e o que é de fato extraído delas. O Brasil tem mais de 25% das reservas de grafite, porém menos de 5% da produção mundial - China, Madagáscar e Moçambique extraem mais. Em níquel, são 12% das reservas e apenas 2% da produção global, atrás de sete países, com Indonésia, Filipinas e Rússia encabeçando a lista.


Geopolítica a favor


Nos minerais de terras raras (23% das reservas globais), existem pesquisas, em diferentes estágios, em mais de 3 mil minas cadastradas na Agência Nacional de Mineração (ANM). Apenas uma, contudo, está em operação, no município de Minaçu, em Goiás.


Quase 70% da produção de terras raras no mundo está nas mãos da China. A posição foi estrategicamente construída ao longo de décadas, e agora permite ao gigante asiático restringir o fornecimento de insumos de difícil substituição. É uma "arma" que já foi usada na guerra comercial contra os Estados Unidos, tendo como consequência a busca, não apenas dos EUA, por fornecedores alternativos à China.


O contexto geopolítico faz dos minerais críticos, em especial as terras raras, uma carta na manga dos negociadores brasileiros na tentativa de reverter as tarifas de até 50% impostas pelo presidente Donald Trump. O governo americano, por meio de um encarregado de negócios, já demonstrou discretamente o interesse em acessar minerais críticos do Brasil.


As fontes de energia renováveis, que aliviam o impacto ambiental de uma indústria intensiva em eletricidade, assim como a distância dos conflitos armados na Ucrânia e no Oriente Médio, o que significa rota livre pelo Atlântico, são algumas das vantagens a favor do Brasil nessa janela de investimento.


Contudo, especialistas alertam que faltam mais investimentos em estudos geológicos - apenas 35% do território brasileiro é mapeado em termos de potencial mineral -, um novo marco regulatório e um licenciamento ambiental mais ágil.


São obstáculos a serem superados para que o País não seja apenas um exportador de minérios em estado bruto. Nos minerais em que o País tem reservas relevantes e que são considerados críticos pelos Estados Unidos - cada país tem uma lista -, o Brasil responde por apenas por 3% da produção global. Os dados são do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês).


Sócio-líder do segmento de metais e mineração no escritório da KPMG no Brasil, Juan Padial diz que um dos obstáculos é que a exploração de minerais críticos depende muito da Vale. Na última quarta-feira, a mineradora reduziu de US$ 2 bilhões para US$ 1,7 bilhão os investimentos deste ano em metais relacionados à transição energética.


"O mercado de mineração no Brasil ainda é muito concentrado. Tem um gigante, que é a Vale, que capta muito das receitas, e as demais mineradoras acabam ficando para trás. Quando se olha para as junior minings [mineradoras menores], onde a atividade é muito mais de prospecção e de maior risco, o Brasil é menor em relação a outros países", observa Padial.


Contato: eduardo.laguna@estadao.com


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