Pular para o conteúdo principal

Adhemar Bahadian

 Segue meu artigo de amanhã no JB digital. Voce poderá encontra-lo tambem no substack. 


Ressonâncias e Dissonâncias.

 Adhemar Bahadian

            As ressonâncias dos pronunciamentos dos chefes de Estado nas Nações Unidas não cessam de provocar considerações de imenso interesse no Mundo. As dissonâncias também.

           Se a cada dia que passa o discurso do Presidente do Brasil recebe unânimes aplausos e leitura atenta pela imprensa internacional, onde sistematicamente é classificado como um ponto de virada no clima angustiante dos últimos meses, os discursos do Presidente Trump e do chefe de governo de Israel, em contrapartida, são objeto de perplexidade um e de constrangimento o outro.

          O discurso de Trump talvez se notabilize sobretudo pelas críticas profundas à própria ONU, desfigurando seu papel no pós-guerra e os ideais dos próprios representantes dos Estados Unidos que se notabilizaram pela sempre unânime defesa da paz inscrita na Carta de São Francisco.

           Um discurso entre arrogante e inepto a tornar transparente que a política externa dos Estados Unidos da América tem muito ou quase nada a dizer, senão a ilusória pretensão de seu Presidente de receber obrigatoriamente o prêmio Nobel da Paz, sabe-se lá por quê.

              Já o discurso do chefe de governo de Israel, pronunciado diante de um plenário esvaziado pelo que talvez seja o maior gesto de repúdio, expresso  na  saída deliberada  de grande parte dos representantes governamentais  antes de o orador tomar a palavra, nada mais foi do que uma clara e desafiadora manifestação contra  o triste cenário de morticínio na faixa de Gaza.

              As conclusões  são óbvias. Tanto o MAGA de Trump quanto a hostilidade à criação de um Estado Palestino receberam  reprovação da comunidade internacional representada por seus mais altos dirigentes.

          O MAGA, em sua expressão internacional, se revela um Consenso de Washington elevado a décima casa da barbaridade geopolítica. A tentativa de destruição da ONU, tão clara e cínica, terá espantado os mais céticos diante do multilateralismo surgido pós-segunda guerra. 

          Trump simplesmente associa o crescimento dos Estados Unidos à eliminação de todos os mecanismos e regras em defesa do comércio internacional e os substitui por um jogo de cartas marcadas em que todos os baralhos são devidamente embaralhados com mão de ferro.

           MAGA é o novo nome do neocolonialismo mais retrógrado, mais agressivo e mais indiferente ao destino do planeta, às mudanças climáticas e sobretudo ao aumento óbvio dos desajustes sociais e econômicos a que estamos a assistir.

            Há porém uma outra face nesta cenografia. Por mais que se queira camuflar, a reação de repúdio internacional, densa e quase unânime, parece romper finalmente o sombrio nevoeiro de impasses sucessivos.

         O próprio Trump dá sinais, esperto que é, de que o desgaste de sua popularidade, inclusive internamente, o obriga a docemente mudar o andar da carruagem.

           Há indicações claras de que  a repercussão do discurso de Lula abre a porta de um debate ansiado faz  tempo por vozes frequentes nas Nações Unidas e fora dela. Ou se reforma e se recompõe a Carta das Nações Unidas, inclusive com a reforma de seu Conselho de Segurança, ou a remilitarização crescente  dos Estados tenderá ,mais cedo ou mais tarde, a provocar a multiplicação de conflitos regionais, o desarranjo do sistema  de finanças e comércio internacionais. 

       O movimento de reforma não será tão rápido quanto deveria. Há velhas e enrustidas ideologias que ainda se supõem verdades absolutas. Mas, como no caso do MAGA, os retrocessos evidentes se mostram insustentáveis e certamente serão prejudiciais a Estados e Mega-empresas.

        No centro do debate, os exageros e aspirações indevidas das big-tecs e a lambança da liberdade de expressão, hoje tão empobrecida nos Estados Unidos, onde até comédia dá cadeia.

           Mas é exatamente aí que vejo sucessivas correntes marinhas, sucessivas grutas povoadas de moreias. A questão da chamada liberdade de expressão é o novo nome da Torre de Babel. 

         Os Estados Unidos de Trump, embora a relativize internamente, parece opor-se a regulamentações nacionais como já vimos frequentemente. E, como se sabe, os Estados Unidos são mestres em não-aceitar jurisdições internacionais e apregoam a soberania da lei americana erga-omnes.

            Nas conversações Trump-Lula, convém recordar, agendas pre’-acordadas nem sempre são respeitadas na Casa Branca. Temo que o tema seja temível para gregos e troianos. 

             A soberania aí pode ser desacatada com argumentos jurídicos "pret-à-porter". Terreno movediço, onde ressonâncias e dissonâncias tendem a se confundir.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Livros

  " O livro de Marshall B. Reinsdorf e Louise Sheiner oferecem, em The Measure of Economies: Measuring Productivity in an Age of Technological Change, uma análise pertinente e necessária ao panorama económico contemporâneo. Este trabalho, publicado em 2024, desafia os métodos tradicionais de medição do PIB, argumentando que as práticas do século XX são inadequadas para avaliar a produtividade no contexto do século XXI, marcado pela transformação tecnológica. Com capítulos assinados por peritos em economia, a obra não se limita a apresentar os problemas inerentes às práticas actuais, mas propõe alternativas inovadoras que abrangem áreas como a economia digital, os cuidados de saúde e o ambiente. A estrutura é equilibrada, alternando entre a crítica aos métodos estabelecidos e as propostas de solução, o que proporciona uma leitura informativa e dinâmica. Um dos pontos fortes deste livro é a sua capacidade de abordar questões complexas de forma acessível, sem sacrificar a profundidad...

Já deu...

  Fernando Haddad, mais um poste criado pelo Deus Lula, disse que o cidadão é o "maestro da Orquestra". Estamos fufu. Lula não tem mais a mínima condição de ser maestro de nada, nem da sua casa, em quem manda é a Janja. É o ocaso de um projeto de poder, do lulo-petismo, que foi se transformando num culto fajuto à personalidade, nas piores personificações das ditaduras corruptas de esquerda. Lula já não consegue concatenar ideias, está cansado e sim, mto velho. Já deu.

Guerra comercial pesada