*Rosa Riscala: STF acende alerta nos bancos*
Nos Estados Unidos, a ata do Fomc (15h) é o destaque
… A decisão do PBoC de manter os juros na China é a primeira notícia do dia para os mercados globais, que têm na agenda dados de inflação de julho no Reino Unido, Alemanha e Zona do Euro. Nos Estados Unidos, a ata do Fomc (15h) é o destaque, além das falas de dois Fed boys: Waller, candidato à sucessão de Powell, e Bostic, um dos mais notórios falcões. Em Wall St, mais uma varejista, a Target, divulga balanço. O Simpósio de Jackson Hole será aberto à noite. Nas negociações para a paz na Ucrânia, o local para o encontro entre Putin e Zelensky permanece indefinido. Aqui, tem nova pesquisa Quaest, Haddad em seminário da Fazenda, enquanto a insegurança jurídica assusta os bancos.
O FATOR DINO – A decisão do ministro Flávio Dino (STF), afastando a eficácia automática de leis estrangeiras no Brasil, causou uma onda de dúvidas e apreensão no setor bancário, em especial, nas instituições que têm operações nos Estados Unidos.
… No Ibovespa, as ações de bancos tiveram fortes quedas, enquanto juros e dólar subiram (leia abaixo em Mercados).
… Ao analisar segunda-feira decisão da Justiça do Reino Unido sobre indenização a vítimas do desastre de Mariana e Brumadinho, Dino definiu que ordens judiciais estrangeiras só valem após homologação da Justiça do Brasil.
… Embora motivada por um caso específico, a decisão protege cidadãos brasileiros dos efeitos da Lei Magnitsky, usada pelo governo americano para sancionar o ministro Alexandre de Moraes, acusado de promover uma caça às bruxas no processo contra o ex-presidente Bolsonaro.
… Em novo despacho, ontem, Dino reiterou que não há eficácia automática de leis estrangeiras em território nacional.
… Na prática, isso significa que os bancos brasileiros, todos com relacionamento com instituições e empresas americanas, podem sofrer sanções tanto dos Estados Unidos, se não cumprirem a Lei Magnitsky, ou podem ser punidos pela legislação do Brasil se cumprirem a Lei.
… A disposição dos ministros do STF fica clara na sua recusa de transferir seus recursos para cooperativas de crédito, como foram aconselhados. Segundo a jornalista Mônica Bergamo (Folha), consideram que isso representaria uma capitulação da Suprema Corte.
SEM CONSENSO – O STF está dividido sobre como reagir às sanções de Donald Trump contra Alexandre de Moraes.
… Uma ala defende represálias, como o bloqueio de ativos de empresas americanas no Brasil, enquanto outro grupo avalia que a medida poderia encerrar de vez as relações diplomáticas entre os dois países.
… A tensão aumentou com a decisão de Flávio Dino, que obrigou bancos a consultarem a Corte antes de cumprir ordens estrangeiras.
… A medida não teve apoio unânime: alguns ministros temem que ela amplie a crise internacional e coloque os bancos diante de um impasse entre descumprir normas do sistema financeiro global ou ordens do Supremo.
… Parte da Corte defende que o debate mais amplo sobre a Lei Magnitsky ocorra no processo relatado por Cristiano Zanin, aberto a pedido do deputado Lindbergh Farias (PT), que busca impedir bloqueios de contas de Moraes por bancos no Brasil.
… Zanin já enviou o caso para manifestação da PGR e aguarda a devolução para tomar sua decisão.
TARIFAÇO NA OMC – Os Estados Unidos aceitaram a consulta do Brasil na OMC, mas afirmam que parte das tarifas se enquadra em “segurança nacional”, fora do alcance do órgão. O Itamaraty vê como resposta de praxe, mas destaca que abre um canal de diálogo.
… Se não houver acordo em 60 dias, o Brasil pode pedir a criação de painel.
… O governo Lula espera que a fase de consultas permita negociação direta com autoridades americanas, mas já admite recorrer à Justiça dos Estados Unidos contra as sanções. Há temor de que o USTR fragmente medidas contra o Brasil em várias etapas.
LULA E BIG TECHS – O governo pretende enviar até a próxima semana ao Congresso o projeto de lei de regulamentação das plataformas digitais.
… A proposta segue os parâmetros fixados pelo Supremo Tribunal Federal em junho, prevendo responsabilização das empresas em caso de falhas sistêmicas na remoção de conteúdos sensíveis, como incentivo ao terrorismo, suicídio ou crimes contra crianças.
… A iniciativa ganhou força após o tarifaço de Trump, que chegou a citar a regulação das big techs como uma das motivações das sobretaxas.
… Lula também deve reunir seus ministros na próxima terça-feira (26) para alinhar o discurso do governo sobre o novo marco regulatório.
… Nesta terça-feira, o presidente almoçou com Hugo Motta, pedindo a ele que garanta “bom andamento” às matérias de interesse do Planalto na Câmara, incluindo a proposta sobre redes sociais.
A GUERRA – Líderes militares da Otan devem se reunir hoje em circunstâncias consideradas únicas para discutir garantias de segurança e o apoio à Ucrânia, impedida por Putin de ingressar formalmente na organização.
… Trump esclareceu que os Estados Unidos estão prontos para usar poder aéreo em apoio a uma força europeia no país, mas descartou o envio de tropas terrestres. A reunião desta quarta-feira deve refinar as opções militares para proteger a Ucrânia.
… Nas negociações de paz, Putin sugeriu encontro com Zelensky em território russo — proposta descartada de imediato.
… Moscou ainda indicou a China como possível garantidora, mas a União Europeia mantém ceticismo sobre um acordo de paz e prepara novas sanções contra a Rússia até setembro, segundo Politico.
… Na AFP, a Suíça afirmou que dará imunidade a Putin se ele viajar ao país para negociações, apesar do mandado de prisão contra ele. Já a Casa Branca sugere realizar a reunião trilateral em Budapeste, capital da Hungria.
… Em declaração inédita ao programa de rádio Mark Levin Show, Trump sinalizou ontem que, talvez, não participe da reunião com Zelensky e Putin. “Tive encontros bem-sucedidos com Putin e Zelensky, mas agora é melhor que eles se encontrem sem mim”.
AGENDA – A pesquisa Genial/Quaest sobre avaliação do governo (7h) e a divulgação da ata do FED (15h) são os destaques desta quarta-feira.
… No Brasil, a agenda traz ainda o fluxo cambial semanal do BC (14h30), a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em seminário sobre governança organizado pela Fazenda (14h) e a presença do governador Tarcísio de Freitas em evento do Santander (18h).
… O Tesouro deve divulgar o ranking anual de custos e o relatório resumido de execução orçamentária dos Estados e do Distrito Federal, com dados do terceiro bimestre de 2025.
… No exterior, os índices de inflação no Reino Unido, Alemanha e Zona do Euro saem na madrugada brasileira, quando a presidente do BCE, Christine Lagarde, participa de encontro do Fórum Econômico Mundial, na Suíça.
… Ainda nos Estados Unidos, as falas dos dirigentes do Fed devem trazer mensagens divergentes, com Christopher Waller (12h), mais dovish, e Raphael Bostic (16h), mais hawkish. Às 11h30, saem os dados semanais de estoques de petróleo do DoE.
… O balanço da Target sai antes da abertura dos mercados em Nova York.
CHINA HOJE – A taxa básica de juros para empréstimos (LPR) de 1 ano permaneceu em 3% e a de 5 anos, em 3,5%.
AFTER HOURS –As ações da Nu Holdings avançaram 1,37% no after hours de Nova York após nova recomendação de compra, agora do Citi, que dobrou o preço-alvo para US$ 18, sinalizando potencial de alta de 35%.
SINUCA DE BICO – No centro do fogo cruzado entre o STF e Trump, o estrago foi considerável ontem para os papéis do setor financeiro, que caíram em bloco e perderam mais de R$ 40 bilhões em valor de mercado no pregão.
… “Os bancos nacionais estão entre a cruz e a espada. Todos têm relacionamento e usam serviços de bancos e grandes empresas americanas”, resumiu ao Broadcast Marcos Weigt, da Tesouraria do Travelex Bank.
… De um lado, as instituições financeiras podem sofrer sanções dos Estados Unidos se não adotarem restrições a Moraes baseadas na Lei Magnitsky. De outro lado, se cumprirem a ordem, podem contrariar a legislação brasileira.
… As ações do BB, que vinham resistindo firmes e fortes nos últimos pregões à decepção com o balanço trimestral, entregaram os pontos ontem e afundaram 6,03%, para R$ 19,80, figurando como terceira pior queda do dia.
… Só perdeu para Raízen (-9,57%; R$ 1,04), após a Petrobras negar intenção de investimento, e para Cosan (-6,41%).
… Tombo também para Santander unit (-4,88%, a R$ 25,94), para o Itaú, que perdeu 3,04% e fechou a R$ 36,31, além do Bradesco. O papel PN registrou desvalorização de 3,43%, para R$ 15,79, e o ON recuou 3,29%, para R$ 13,54.
… Sob o peso do dia, o Ibovespa engatou queda firme de 2,10%, aos 134.432,26 pontos, com giro de R$ 22,4 bilhões.
… Só cinco das 84 ações da carteira teórica do índice à vista escaparam ontem no campo positivo: Minerva (+2,93%), Suzano (+0,78%), Hypera (+0,48%), Marfrig (+0,17%) e Vale, com ganho marginal de 0,08%, cotada a R$ 53,24.
… Junto com o petróleo, Petrobras fechou no vermelho: ON -1,37%, a R$ 32,41; e PN, -1,05%, a R$ 30,04.
… Embora sem qualquer resolução concreta para um cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia, o barril do tipo Brent para entrega em outubro apostou as fichas nas negociações de paz e teve queda de 1,21%, cotado a US$ 65,79.
… Nas bolsas em Wall Street, o pessimismo do setor de tecnologia pesou para o Nasdaq, que perdeu 1,46%, aos 21.314,95 pontos. Já o S&P 500 caiu bem menos (-0,58%), aos 6.411,45 pontos, e o Dow Jones não caiu nada.
… O índice da Nyse, negociado praticamente estável (+0,02%), a 44.922,39 pontos, recebeu suporte da Home Depot (+3,15%), que frustrou no balanço, mas informou guidance positivo para as vendas no acumulado do ano.
GUARDA ELEVADA – Além de terem queimado quase 3 mil pontos do Ibovespa, os ruídos sobre a aplicação da Lei Magnitsky contribuíram para acelerar o dólar a R$ 5,50 e disparar o DI, com o investidor redobrando a cautela.
… No câmbio, também parece estar batendo o risco de que a ata do Fed e a participação de Powell em Jackson Hole esvaziem as chances de sinalização de que o ciclo de corte dos juros nos Estados Unidos começará em setembro.
… O real encerrou ontem com o pior desempenho entre as 33 moedas mais líquidas acompanhadas pelo Valor, diante do salto de 1,22% do dólar à vista, para R$ 5,5009, revisitando o patamar em que estava duas semanas atrás.
… Esta correção deixa em stand-by as apostas de que a moeda norte-americana poderia estar pronta para furar suportes psicológicos importantes, depois de ter encerrado a semana passada abaixo da marca de R$ 5,40.
… Lá fora, o dólar teve ontem volatilidade bem menos intensa do que aqui, com o índice DXY em leve alta de 0,10%, a 98,265 pontos, e queda modesta do euro (-0,12%, a US$ 1,1649), libra (-0,12%, a US$ 1,3488) e iene (147,53/US$).
… De olho nos próximos recados do Fed e desdobramentos na Ucrânia, os juros dos Treasuries interromperam a sequência de três altas. A taxa da Note-2 anos caiu a 3,750% (de 3,770%) e a de 10 anos, a 4,303% (de 4,339%).
… Mas aqui a curva do DI descolou completamente do exterior, precificando a escalada da tensão entre o Brasil e o governo Trump, que coloca os bancos domésticos numa encruzilhada, expostos à insegurança jurídica do momento.
… Desde que o mês começou, os juros futuros longos não fechavam com tanto prêmio de risco como ontem. O vencimento de Jan/27 voltou a cruzar a barreira de 14% e saltou de 13,95% no ajuste para 14,145% no fechamento.
… Sob pressão, fecharam nas máximas do dia os contratos de Jan/31, a 13,750% (de 13,476% na véspera); e Jan/33, a 13,870% (de 13,621%). Jan/29 foi a 13,480% (de 13,194%) e, na ponta curta, Jan/26 marcou 14,910% (de 14,890%).
… O trecho de mais curto prazo do DI tem as altas limitadas pela esperança de que o Copom ainda possa mudar de conversa e dar margem à interpretação de um corte antecipado da Selic, apesar de Guillen ter indicado o contrário.
… Em relatório, o BTG Pactual avalia que a combinação recente de surpresas baixistas na inflação e na atividade econômica aumentou a possibilidade de o BC relaxar a política monetária mais cedo, já na reunião de dezembro.
… Mas o banco reconhece que uma postura menos conservadora do Copom continua condicionada à continuidade de indicações desinflacionárias e de alguma reancoragem, ainda que parcial, das expectativas para o IPCA.
CIAS ABERTAS – O Cade deve julgar hoje o mérito da operação de fusão entre a BRF e a MARFRIG.
MASTER. A Câmara Legislativa do DF aprovou, em segundo turno (14 votos a 7), projeto de lei que autoriza o BRB a comprar parte do banco. Texto segue para a sanção de Ibaneis, mas a compra ainda depende do aval do BC…
… Uma investigação conduzida pela CVM apontou, pela primeira vez, a suspeita de crimes financeiros na gestão do Banco Master, por meio de investimentos milionários fraudulentos que inflaram o patrimônio da instituição…
… Além disso, permitiram aportar recursos em empresas vinculadas à irmã do dono, Daniel Vorcaro…
… O Master manifestou surpresa com as alegações, informou que não foi formalmente solicitado pela CVM a prestar esclarecimento e considera “inadmissível a abertura de procedimentos com vazamento de informações à imprensa”.
AÉREAS. Cade adiou para a sessão de 3 de setembro julgamento sobre existência ou não de infrações concorrenciais no contrato de codeshare entre a Gol e a Azul…
… O motivo seriam novos documentos apresentados no caso, que ainda precisariam ser analisados. (fontes do Valor)
WEG. Conselho concedeu aval para contratação de financiamento pelas subsidiárias Balteau Produtos Elétricos e Weg Turbinas e Solar no valor de R$ 130 milhões…
… Contratação será feita por meio da linha BNDES Finame Materiais Industrializados, com prazo de até 18 meses…
… Adicionalmente, colegiado também concedeu aval para financiamento de US$ 50 milhões pela Weg Africa (PTY), com prazo de 36 meses.
ANEEL. Plenário do Senado aprovou nesta terça-feira a nomeação de Willamy Moreira Frota e Gentil Nogueira para duas diretorias da agência reguladora.
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