*COMENTÁRIO: SEM CONVENCER O BC, COMPRA DO MASTER POR FICTOR PODE TER MESMO DESTINO DA VENDA A BRB*
Por Alvaro Gribel, do Estadão
Brasília, 17/11/2025 - O anúncio da compra do Banco Master pela holding financeira Fictor pode repetir o mesmo roteiro da venda para o banco estatal de Brasília (BRB): ser recusado pelo Banco Central. O anúncio ainda é uma etapa anterior ao processo de análise e sequer houve assinatura de compra e venda entre as partes envolvidas, segundo apurou o Estadão.
O BC agora terá 360 dias para analisar a operação, prazo que começará a contar a partir da entrega de todos os documentos. Nesse meio tempo, caberá ao dono do Master, o CEO Daniel Vorcaro, continuar honrando com os CDBs que vencem, para evitar um calote e o risco de intervenção ou liquidação do banco por parte do Banco Central.
Desde o processo de análise da oferta do BRB, a possibilidade de venda de ativos do banco para um fundo árabe vinha sendo ventilada por Vorcaro, segundo pessoas próximas ao banqueiro. Por isso, ele vinha sempre alegando que os ativos do banco eram sólidos - ao contrário da percepção majoritária da Faria Lima - e que a operação era um bom negócio para o banco estatal.
No Banco Central, o diretor responsável pela análise do caso, Renato Gomes, que encaminhou voto contrário à venda ao BRB e foi seguido pela diretoria, deixará o cargo em dezembro. E ficará a dúvida se ele terá tempo para fazer uma nova análise da venda ou se isso ficará para o próximo indicado.
O ideal era que desse tempo para a análise por Gomes, que já conhece os fundamentos do Master, e para que o novo diretor não assumisse o cargo pressionado - já que sua indicação é feita pelo presidente Lula, mas depende de aprovação pelo Senado. E o Master é um banco com fortes relações com políticos em Brasília.
O anúncio também deixa o BC em posição delicada. Caso precise decretar uma liquidação do Master, o banco privado poderá alegar que tem uma proposta de compra por um fundo árabe na mesa, ainda que ninguém saiba os detalhes do negócio.
A intenção de venda também pode ser uma forma de pressionar o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) a conceder linhas de financiamento ao banco, sob argumento de que há uma saída à frente que reduzirá custos para o sistema financeiro.
No caso do BRB, o negócio não teve fundamento, pela visão técnica do Banco Central. Nada sugere que desta vez será diferente.
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