GENERAIS NÃO GOSTAM NEM APLAUDEM
Luiz Fernando Rudge
OITOCENTOS GENERAIS, QUARENTA MIL ANOS DE VIDA, dos quais mais da metade dedicada à sua pátria e à Constituição, ouviram esta semana os dois mais insultuosos discursos, arengados por dois funcionários públicos que, ocasionalmente, têm um mandato presidencial e a nomeação para um ministério.
O silêncio com que ouviram, disciplinadamente, mostrou ao mundo que são obedientes a esses funcionários, porque eles representam, naquele momento, o Poder Executivo outorgado pela Constituição que os oitocentos juraram proteger. As mãos deles não aplaudiram estes dois funcionários, que conseguiram atrair para si os piores comentários que um chefe de governo pode conseguir.
Trump, um dos arengadores, não serviu nas forças armadas. É o primeiro presidente a não ter experiência militar ou governamental, antes de ser eleito. Durante a guerra do Vietnã, Trump conseguiu ter cinco adiamentos estudantis e um médico, e nunca vestiu uma farda. Essas decisões são objeto de críticas e controvérsias ao longo de sua carreira política. Seu discurso não fugiu do costume: um papo de vendedor de aspiradores a domicílio.
Pete Hegseth, o outro discursador, mandou decorar o palco dos discursos com uma réplica da cena inicial do filme ”Patton”, e falou agressivamente, de maneira muito diferente daquela que teve nos últimos onze anos, quando apresentava na TV Fox News o programa de entretenimento Fox & Friends. Ele teve, antes, algum tempo de serviço na Guarda Nacional, sem maiores referências. Não esqueceu de criticar mulheres nas forças armadas, cuja atividade seria própria apenas de homens.
Trump já tinha sentido o mal-estar de seus generais em 14 de junho, quando exigiu uma parada militar em sua honra, e as tropas desfilaram em passo sem cadência, não atraíram público para aplaudir o desfile, mostrando nenhum apreço pela figura bolo-fofa do seu pretenso comandante geral das forças armadas.
Ambos reagiram, e administraram sua crítica num aviso de que generais considerados gordos e com formas físicas inadequadas, avaliadas duas vezes por ano, seriam afastados das forças armadas. Fixaram essa ideia ao criar o chamado “general gordo”. Antes disso, Hegseth já havia dito que as forças, no futuro, não usariam mais saias, uma indireta às mulheres que chegaram a altos postos nas forças armadas.
O quê pensar disso? As primeiras reações, já nos corredores da base de Fuzileiros em Quantico, foi a de falar em aposentadoria, porque muitos generais não querem mais servir sob as ordens de Trump – muito menos de Hegseth. Os militares americanos podem se aposentar a partir de 20 anos de serviço, com salários e benefícios proporcionais ao tempo de serviço. Quando trocarem as fardas por roupas civis, seus proventos serão de 40% a 75% do salário na ativa, dependendo da renda média do militar durante sua vida de trabalho. Generais se aposentam geralmente com 35 anos de serviço ou mais; oficiais superiores com 64 anos de idade, e capitães e oficiais subalternos com 60 anos. Estas regras podem variar, em função do tipo de atividade que tiveram na ativa: paraquedistas, rangers, pilotos, podem ter situações especiais. Os militares podem contribuir para o sistema de previdência social, que fornece benefícios com base nos créditos acumulados durante sua vida na ativa.
Estas conversas podem evoluir, mas não passa pela cabeça dos militares – por enquanto – rebelar-se, agrupar-se em busca de um golpe, ou provocar a indisciplina em seus corpos de tropa. Desde a Guerra Civil do século XIX, os americanos cuidam para que norte e sul não lutem entre si, nem republicanos contra democratas se defrontem com armas na mão.
Em suas cabeças, só vale o respeito à Constituição, a quem juraram defender.
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