O Rio de Janeiro,em especial a capital carioca, ha decadas se tornou um laboratorio experimental para políticas públicas de altissimo risco.
As consequências agora explodem para o mundo.
Ainda que o potencial produtivo carioca tenha sido esmagado ao longo de décadas por políticas públicas irresponsáveis, a cidade ainda é o principal foco de ressonância cultural do país.
Haja vista que a 'influencia cultural carioca' -agora -se reflete nos combates urbanos de ontem que despertaram preocupações nas demais capitais do país, temerosas de que a 'influencia' do modelo carioca de narco terrorismo,que já se expandiu para cidades do sudeste,norte e nordeste, sigam o exemplo da criminalidade carioca.
A decadencia do Estado se manifesta de diversas formas e diferentes frentes. O Rio, outrora centro financeiro e cultural atrativo onde atuavam grandes bancos,corretoras e pregões vultosos, no seu apogeu ergueu o prédio da Bolsa de Valores na histórica Praça 15. Com anos de desleixo a região tornou-se uma especie de shopping center para pequenos negócios, centenas de lojas fechadas e ruas inundadas de camelôs. Um projeto 'experimental' pretende retorna-la ao que era no passado. Com uma nova marca- Base Exchange,liderado pela Americas Trading Group e financiamento do fundo Mubadala Capital-Emirados Arabes, o predio da Bolsa surge como um foco de esperança de que a cidade volte a ser atrativa para investidores internacionais. Porém, críticos mais realistas acham que será um desafio difícil de superar pois não se trata apenas de rebatizar e reabilitar uma instituição. É importante que seu entorno reflita segurança,dinamismo e prosperidade. Hoje, o centro da cidade, com seus predios históricos,teatros,centros culturais, bares e restaurantes, após as 17:00, parece cenário de uma cidade fantasma. O atraente cinturão litorâneo, onde as clases privilegiadas se abrigam, aos poucos começa a ser rompido por turbas barbaras.Enquanto a periferia se expande, fornecendo mão de obra para serviços gerais mas,seus moradores, gente trabalhadora, só pode ter acesso aos serviços públicos e aos terminais urbanos com passaporte carimbado pelo comando narco terrorista-verdadeiros 'controladores das comunidades'- para transitar nas regiões onde ha uma tenue presença do Estado mas, nenhuma garantia real de retorno seguro. As reações irascíveis dos 'projetistas' do caos carioca à guerra urbana deflagrada ontem, se explica pelo fato de transcender suas expectativas de controle sobre as ocorrências nos seus redutos eleitorais.
O texto a seguir: "Estado de Direito sob fogo cruzado", de Leonardo Corrêa, é um testemunho pessoal e temporal do empurrão para o abismo profundo que o experimentalismo populista/demagógico vem praticando ha anos na sociedade fluminense.
* * * "A situação no Rio é complicadíssima. Me lembro, com riqueza de detalhes, de dias que me marcaram. Em um deles, voltando do escritório tarde da noite, vi balas tracejantes passarem por cima do meu carro no viaduto Paulo de Frontin. Em outro, nos escondemos no fundo do Esch Café, enquanto bandidos trocavam tiros de fuzil na Dias Ferreira — a rua mais charmosa do Leblon. Não se vê isso na Oscar Freire, nem na Faria Lima. Saí do Rio, entre outros motivos, para escapar dessa guerra urbana que transformou a rotina em trincheira. Mas quem ficou, vive hoje o ápice daquilo que o Estado preferiu ignorar: a falência da ordem.
O que acontece no Rio não é fruto de improviso, mas o desfecho lógico de uma omissão prolongada. Por anos, o Governo Federal abdicou de qualquer protagonismo na segurança pública, delegando o caos aos estados e às prefeituras, como se a barbárie fosse um problema local. E o Supremo Tribunal Federal, por sua vez, foi além da omissão: escolheu a interferência errada, enfraquecendo a ação policial no momento em que o Estado mais precisava afirmar sua autoridade.
A decisão da ADPF 635, a chamada “ADPF das Favelas”, é o marco simbólico dessa inversão. Sob o pretexto de proteger vidas, o STF proibiu operações policiais genéricas e transformou a atuação das forças de segurança em um ato quase ilícito. Como escrevi em A República e o Intérprete, o Supremo criou uma norma ex nihilo — sem base textual, sem respaldo constitucional, e com efeitos devastadores. A consequência foi previsível: o Estado recuou, o crime avançou, e o Rio virou o laboratório de um idealismo jurídico que substituiu o dever pela culpa.
Hoje, quando as forças estaduais são obrigadas a agir com contundência, é porque não há mais alternativa. O Governo Federal — que deveria coordenar políticas nacionais, controlar fronteiras e investir em inteligência — desapareceu. É um governo que prefere debater narrativas e “defesa da democracia” enquanto a democracia se dissolve nas vielas da Penha. Quando o poder central abandona o país real, o governador é deixado sozinho para enfrentar o impossível: restaurar a autoridade em meio ao desamparo institucional.
O Governo do Rio fez o que o dever impunha. Enfrentou o crime onde o Estado já havia sido expulso. Não por voluntarismo, mas por necessidade. Não é o Estado que declarou guerra — é o crime que há décadas está em guerra contra o Estado. E, diferentemente de Brasília, o Rio não tem o privilégio de fingir que essa guerra não existe.
É curioso ver agora ministros e porta-vozes federais expressando “preocupação humanitária” com as operações. Onde estavam quando as facções instalaram tribunais paralelos e cobravam pedágio do cidadão para permitir a passagem pela própria rua? Onde estavam quando a Constituição — aquela que lhes confere autoridade — foi rasgada, fuzil por fuzil, dentro das comunidades? É fácil defender “direitos humanos” de longe, na segurança dos gabinetes climatizados. Difícil é viver onde o direito humano mais básico — o de não morrer a caminho do trabalho — virou luxo.
O Estado de Direito não se preserva com retórica. Preserva-se com autoridade legítima, com coragem institucional e com o dever cumprido. O Rio, abandonado, tenta agora fazer o que o país inteiro deveria ter feito há anos: reerguer o império da lei sobre o terreno do medo. E faz isso sozinho, sem a cobertura política nem o amparo moral de quem deveria liderar a nação.
O que se passa hoje nas ruas cariocas não é uma tragédia isolada. É a imagem mais nítida do que acontece quando o Estado prefere a pose ao dever, a vaidade ao governo e a censura à autoridade. O Governo Federal e o Supremo criaram o vácuo — o Rio apenas tenta sobreviver dentro dele." Leonardo Corrêa
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