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Leitura de Domingo: 'Boom' da renda fixa impulsiona receitas de bancos de investimento
Por Matheus Piovesana, Cynthia Decloedt e Altamiro Silva Junior
São Paulo, 10/02/2025 - A renda fixa "bombou" em 2024 e ajudou a impulsionar bancos de investimento brasileiros em um novo ano fraco para operações de renda variável. Combinados, Itaú BBA, BTG Pactual, Bradesco BBI e Santander tiveram receitas de R$ 10,2 bilhões ao longo do ano passado, um crescimento de 28,4% em relação a 2023. Esse crescimento pode ser atribuído aos volumes recordes de emissões de crédito privado e securitização, que se tornaram uma alternativa ao crédito bancário para empresas de grande porte.
O montante de R$ 709 bilhões em emissões em renda fixa, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), compensou a menor comissão média que as operações do segmento costumam render. Mas 2025 se desenha difícil, repetindo o cenário de poucas ofertas de ações e com a renda fixa mais pressionada, por conta dos juros em alta.
O presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy, disse a analistas na semana passada que espera uma queda de 30% a 40% no volume de emissões, além de não antever janelas amplas para a emissão de ações. Nos bastidores, a avaliação de executivos é a mesma: apenas operações pontuais, como a oferta de ações (follow on) da Caixa Seguridade, devem sair.
Ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) só devem acontecer mais para o fim de ano, também de forma pontual e se houver alguma sinalização de queda de juros pelo Banco Central. "Olhando as condições macroeconômicas agora, não parece o cenário-base [para ter IPO nos próximos meses]", disse o presidente do Fórum de Estruturação de Mercado de Capitais da Anbima, Guilherme Maranhão.
Os números recordes da renda fixa em 2024 contrastaram com os das ofertas de ações, que se tornaram raras com os juros em dois dígitos. Foram só R$ 25 bilhões no ano passado, o menor volume desde 2018 e grande parte disso atribuível à oferta que privatizou a Sabesp, em julho, que movimentou R$ 14,8 bilhões. A renda variável é mais cobiçada pelos bancos de investimento porque as comissões são mais altas.
O contexto levou os bancos de investimento a calibrarem equipes. O Bradesco BBI, por exemplo, praticamente dobrou o time dedicado à renda fixa, tanto nas áreas de originação de operações quanto nas de distribuição. Um dos focos foi a distribuição de papéis para pessoas físicas, em que a presença era menor. No BTG, a receita do banco de investimento cresceu 30% no ano, com contribuição recorde da área de dívida, além da forte atividade no mercado de fusões e aquisições, na qual o grupo assessorou mais de 60 negócios.
O diretor financeiro do BTG, Renato Cohn, avalia que ainda é muito cedo para prever se haverá contração ou não da atividade no mercado de renda fixa em 2025, já que janeiro é um mês de menor atividade para as companhias. "Os volumes podem vir a ser um pouco menores este ano, dado que temos um novo ciclo de juro, o qual coloca pressão nas empresas, mas é muito cedo para qualquer tipo de previsão."
A demanda por títulos privados, tanto pelos pequenos quanto pelos grandes investidores, reforçou a concorrência do mercado de crédito privado com o crédito bancário. Reflexo disso é que os bancos não têm originado empréstimos a empresas quando entendem que as margens serão baixas demais. Têm preferido assessorar captações de mercado, que não exigem alocação de capital próprio.
Nas debêntures, os bancos ficaram com 40% dos papéis nas operações que assessoraram - o número salta para 59% nas debêntures incentivadas, voltadas para infraestrutura, segundo a Anbima.
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