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Leitura de domingo

 Leitura de Domingo: Indústria monitora ameaças mas vê oportunidades de entrar nos EUA com Trump


Por Eduardo Laguna


São Paulo, 10/2/2025 - O vaivém das medidas tarifárias anunciadas pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos está provocando sentimentos contraditórios na indústria brasileira, já que a taxação dos produtos chineses mais as ameaças contra México e Canadá representam riscos, porém também oportunidades ao setor.


De um lado, produtos que serão barrados por Trump podem ser desovados em mercados como o Brasil. De outro, os fabricantes brasileiros entendem que terão melhor condição de competir por espaços no mercado americano, já que parcela expressiva dos concorrentes pagará impostos mais altos para entrar no país.


Por enquanto, a parte dos riscos está sendo apenas monitorada, sem desencadear uma articulação entre segmentos industriais para levar as preocupações com as ações de Trump ao governo. Já as oportunidades estão sendo mapeadas não só na maior economia do mundo, mas também nos países que vão retaliar os EUA.


Até agora, apenas as tarifas contra a China entraram em vigor. As tarifas de 25% anunciadas sobre os produtos do México e do Canadá foram suspensas após acordos com os dois países. Mas se elas forem aplicadas, as montadoras avaliam que poderão fazer frente aos automóveis produzidos no México e entrar no mercado americano, um destino sem expressão hoje na balança comercial do setor. A indústria de máquinas, por sua vez, está de olho no México, mirando a substituição dos bens de capital que o país compra dos Estados Unidos.


A ressalva é que essas oportunidades serão anuladas se Trump também decidir subir tarifas contra produtos brasileiros. A indústria, contudo,  confia que não haverá aplicação generalizada de tarifas a produtos do País, ainda que Trump possa voltar a sua artilharia contra um ou outro setor, como nos casos do aço e do alumínio.


Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, a entidade que representa as montadoras, diz que a indústria de veículos vai ganhar competitividade nos Estados Unidos se os mexicanos tiverem que pagar a alíquota de 25%.


"As marcas que estão no Brasil são, em sua maioria, as mesmas que têm fábricas no México e fornecem aos EUA. Hoje, os produtos brasileiros entram nos Estados Unidos com tributação, mas os produtos do México entram sem tributação. Quando eles também tiverem de pagar os 25%, passaremos a ter mais chances de explorar o mercado americano", comenta Leite.


José Velloso, presidente-executivo da Abimaq, a associação da indústria de máquinas e equipamentos, diz que o setor pode receber mais pedidos do México se o país, que passou por uma onda de industrialização nos últimos anos, deixar de comprar dos Estados Unidos. "Pode aparecer uma oportunidade de exportação ao México", afirma Velloso. Já em relação a substituir máquinas chinesas nos Estados Unidos, o executivo considera mais difícil, uma vez que a tarifa adicional imposta por Trump, de 10%, não foi tão alta.


Na indústria de produtos químicos, a avaliação é de que as tarifas do republicano contra a China podem abrir um canal de exportação aos Estados Unidos. André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Abiquim, a associação da indústria química, pondera, no entanto, que o produto químico americano já é muito competitivo em custo, o que dificulta a concorrência.


Desvio do comércio


Há uma preocupação crescente em relação ao excesso de produção no mercado internacional em decorrência das barreiras comerciais do governo Trump. "Haverá uma sobra de produtos no mercado internacional que, certamente, será redirecionada a mercados como o Brasil a preços bem abaixo do normal, inclusive do custo de produção", comenta André Passos. "O governo tem de ficar alerta para uma eventual elevação do volume de importações repentina, acompanhada de uma queda de preços pelo deslocamento de oferta", acrescenta o presidente da Abiquim.


Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Abit, associação da indústria de produtos têxteis, observa que os desdobramentos indiretos da política comercial de Trump são grandes. "À medida que ele restringe o comércio com a China, com outros grandes produtores de têxteis, esses países vão procurar mercados a seus excedentes produtivos. Um dos mercados, sem dúvida nenhuma, é o Brasil, que está entre os dez maiores do planeta", afirma Pimentel.


Procurada, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) disse que só vai comentar as decisões de Trump quando alguma medida afetar diretamente o Brasil. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Coalização Indústria, grupo que representa 14 entidades de setores produtivos diversos, preferem não comentar as medidas anunciadas por Trump no momento.


Contato: eduardo.laguna@estadao.com


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