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*Terras raras, big techs e sem anistia: como aconteceu o aceno Trump-Lula*
23/09/2025
Na noite de ontem, um embaixador brasileiro foi avisado: na ONU, haveria um acontecimento importante na relação entre os EUA e o Brasil. O dia de hoje mal tinha começado e, uma vez mais, diplomatas brasileiros receberam um recado de que uma aproximação ocorreria por parte dos americanos.
E, de fato, foi isso que ocorreu quando, nos bastidores das Nações Unidas, Donald Trump e Lula se cruzaram na sala que dá acesso à Assembleia Geral da ONU. Ali, o americano convidou o brasileiro para conversar e uma viagem, segundo fontes do governo, está sendo articulada para ocorrer na próxima semana, em Washington.
Nada disso, porém, aconteceu a partir de um improviso. *O gesto foi o resultado também de um intenso e silencioso lobby por parte do setor privado brasileiro na capital dos EUA*. Empresas e entidades contrataram escritórios com acesso à Casa Branca para negociar essa aproximação, *acenando para possíveis setores que poderiam ser de interesse dos dois países.*
*Sem anistia na pauta*
A ideia é de que essa conversa deixe de fora todo o tema relacionado com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e os ataques contra o STF. *O lobby brasileiro indicou que o tema da anistia não terá como estar na pauta para que o encontro possa ocorrer*, ao contrário do que bolsonaristas começaram a divulgar.
Trump, segundo fontes, também sabe que isso seria um "non-starter". Ou seja, não seria um ponto de partida para um eventual encontro com o governo Lula.
"Deve estar sendo duro estar na pele de Eduardo Bolsonaro neste momento", afirmou uma fonte que participou da negociação de aproximação.
Terras raras
O objetivo é que, na mesa, esteja um tema de grande interesse aos americanos: o acesso às terras raras no Brasil, fundamental para o setor de tecnologia dos EUA e ameaçado pela concorrência da China.
Assessores de Trump sinalizaram de forma positiva à perspectiva de uma conversa sobre o tema, principalmente depois que o Exim Bank aprovou linhas de crédito para ajudar empresas americanas a explorar esses recursos pelo mundo.
Um segundo aspecto que pode ser acertado é a criação de um grupo de trabalho entre os dois países para negociar acessos recíprocos para produtos de ambos os países. Para ambos os lados, a expectativa é de que exista uma margem para um acordo setorial.
Há, porém, uma dificuldade. Um dos apelos dos EUA é para que a pauta da regulação das redes sociais no Brasil seja adiada ou diluída. Trump marcou sua agenda política e comercial baseada na ampliação dos poderes e influência das empresas de tecnologia e plataformas digitais.
Para negociadores, esse promete ser um ponto crítico, principalmente diante da insistência do PT e do próprio presidente em defender a regulamentação das redes.
Sem constrangimentos na Casa Branca
A partir de agora, porém, o trabalho dos assessores mais próximos de Lula e de pessoas de confiança dentro do Itamaraty é de negociar os termos dessa reunião. Trump já demonstrou que pode criar profundos constrangimentos para líderes estrangeiros em seu Salão Oval.
Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, foi alvo de acusações infundadas por parte de Trump, ao aceitar a reunião na Casa Branca.
Uma humilhação ainda maior foi vivida por Volodymir Zelensky, presidente da Ucrânia. No Salão Oval, ele foi alvo de ataques, assédio e insultos por parte do governo americano.
*No governo brasileiro, a ordem é a de evitar a qualquer custo a repetição dessas cenas. A avaliação é de que, com a popularidade de Lula ganhando força, isso poderia ser um tiro no pé.* Mas, acima de tudo, uma afronta à soberania.
Já a agenda, a garantia que o governo busca é de que os temas sejam restritos ao que for pré-selecionado, sem a surpresa da inclusão de questões ideológicas ou a defesa de Bolsonaro.
Tanto o Palácio do Planalto quanto o setor privado sabem que os aliados do ex-presidente farão de tudo para reverter essa situação e convencer Trump a incluir sua pauta na agenda.
"Serão dias e dias de negociação", admitiu um diplomata brasileiro.
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