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Ata do Copom

 *Necton Markets | Ata da 270ª reunião do Copom*


*_Tão dovish quanto o comunicado_*


Após um comunicado bastante _dovish_, a ata da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom) deu continuidade ao tom empregado na decisão e deve não só impulsionar a visão de que o ciclo de aperto já teria se encerrado na ocasião, como também dar corpo às discussões sobre o início de uma distensão monetária ainda este ano, não obstante a desancoragem significativa das projeções do próprio comitê para o horizonte relevante da política monetária (4T26). Destacamos os parágrafos do documento que corroboram nosso entendimento abaixo.


*Parágrafo 6.* A mudança na ordem dos temas analisados na reunião, com o cenário internacional ficando em primeiro lugar e a inflação corrente, em último, sintetiza a prioridade que o comitê parece estar dando para cada assunto. Levada às últimas consequências, a alteração pode indicar uma mudança importante na função de reação da autoridade monetária - que pode estar mais atenta aos sinais vindos da atividade e do mercado de trabalho do que dos preços, por exemplo. Nem sempre a ordem dos fatores não altera o produto.


*Parágrafo 7.* Apesar de reforçar que o cenário internacional marcado pela maior incerteza exige mais cautela na gestão dos juros, o comitê passa a prever uma desaceleração ainda mais intensa da economia americana. A expectativa soa como uma aposta arriscada, oposta à cautela recomendada pelo próprio comitê, em um vetor de desinflação cuja materialização pode muito bem nunca ocorrer. 


*Parágrafo 8.* A exemplo do ocorrido no comunicado, o comitê se mostra mais convicto sobre a desaceleração da economia doméstica à frente, na comparação com as últimas comunicações oficiais. A maior confiança sobre a perda de dinamismo no cenário prospectivo se mantém mesmo “após vários anos de surpreendente dinamismo.”


*Parágrafo 9.* Destaque do documento, o parágrafo explicita a convicção do comitê sobre a política monetária estar suficientemente restritiva, não obstante o juro neutro com o qual o Banco Central trabalha estar bastante defasado e a inflação corrente não dar sinais claros de convergência. Ainda, crava que os efeitos dos juros contracionistas já são sentidos nos _soft_ e nos _hard data_ - uma afirmação no mínimo controversa - e indica uma aposta na continuidade de tal dinâmica. Possivelmente o parágrafo mais _dovish_ da ata.


*Parágrafo 11.* Ao analisar o cenário de crédito, o Copom passa a incorporar os efeitos do consignado privado em suas projeções, mas assume que o programa terá como efeito principal a substituição de “dívidas caras” por “dívidas baratas”, sem impulsionar o consumo - premissa bastante branda, que acaba por minimizar um dos principais riscos inflacionários presentes no cenário doméstico. 


*Parágrafo 14.* Embora ressalte que o cenário de inflação de curto prazo segue adverso, inclusive com a materialização de alguns dos riscos altistas mapeados nas últimas comunicações, a avaliação do cenário de inflação é algo mais benigna, com o comitê retirando a menção ao possível estouro da meta em junho.


*Parágrafo 16.* O destaque reside no fato de trazer poucos esclarecimentos sobre a caracterização do balanço de riscos como neutro, um dos pontos mais esperados na ata (e considerados mais _dovish_ no comunicado da decisão de maio).


*Parágrafos 21 e 25.* Como no comunicado, a decisão de abandonar o _guidance_ e retomar uma postura totalmente dependente dos dados soa _dovish_ por abrir a porta para uma manutenção da Selic na próxima reunião do Copom, de junho - que cravaria o encerramento do ciclo, não obstante uma desancoragem relevante das projeções de inflação do próprio comitê para o horizonte relevante (4T26). Mencionar o estágio “avançado” do ciclo reforça a visão de que o ciclo de aperto já pode ter sido encerrado.


*Gustavo Gonzaga*

*Necton Investimentos*

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